domingo, 19 de abril de 2015

"Aprender melhor para ter mais sucesso"

As últimas mudanças curriculares que estão a ser divulgadas na Europa - por exemplo, na Finlândia, em Espanha e em Françaparecem passadas a papel químico. Todas dependentes de orientações (leia-se, directrizes) de instâncias internacionais como a OCDE ou a UE, têm por lema a preparação das novas gerações para o mercado de trabalho.

Nessa medida, os saberes que se têm por mais teóricos, eruditos e distantes do espaço e tempo vivencial são afastados enquanto os que se têm por práticos, funcionais e próximos do espaço e tempo vivencial são reforçados.

Detenho-me na reforma do ensino francês, que será implementada no próximo ano lectivo, onde se sublinha, que é preciso garantir o sucesso escolar de todos (leia-se, esse sucesso escolar) e que, nesse sentido, se reforçam os saberes fundamentais (leia-se, esses saberes), procurando-se uma ligação entre teoria e prática. Isto para que se cumpra o slogan "aprender melhor para ter mais sucesso".


Em termos operacionais, destaca-se nesta reforma, para os vários níveis da escolaridade básica, a introdução do "ensino prático interdisciplinar" - EPI - que desloca a preocupação didáctica da abstração para a contextualização. A aprendizagem passará a ter lugar no âmbito de projectos centrados em oito temas (línguas e culturas da antiguidade; línguas e culturas estrangeiras/regionais; desenvolvimento sustentável; ciência e sociedade; corpo, saúde, segurança; informação, comunicação; cidadania, cultura e criação artística; mundo económico e profissional) que convocam saberes de diferentes disciplinas.

A reforma em geral e, de modo particular o EPI permitirá aos alunos "adquirir, mobilizar e desenvolver saberes e competências" funcionais para o mundo actual e desenvolver o sentido da cidadania. Os professores terão de trabalhar de modo colaborativo e as escolas deverão estar atentas à evolução de cada aluno e de cada turma no sentido de lhes proporcionar um acompanhamento próximo, atempado e flexível.

Enfim, diz a ministra francesa da educação:
"É uma reforma profundamente pedagógica que põe a tónica nas práticas para que os alunos aprendem melhor e tenham sucesso escolar. Uma reforma que tem por base a confiança nas equipas de ensino dando-lhes uma margem de manobra para melhor atender as necessidades dos alunos."
Nada de novo na retórica sobre a educação escolar, apenas a legitimação política o é.

Nota: Para saber mais sobre esta reforma poderão ser consultados diversos textos a partir desta noticia.

3 comentários:

Unknown disse...

Parabens H.Damiao , com informação complementar até o post tem mais valor.

Anónimo disse...

Acho que já vi este cenário em vários filmes de ficção científica, uma determinada ideia futurísta de uma sociedade quase perfeita habitada por mentes infantis.

Anónimo disse...

Claro Profa Damião. Só o saber teórico interessa, mesmo sem acordo ortográfico. E são as Metas e os Exames a boa solução, não é? Todos os outros seguem as recomendações da OCDE (brutos!) só nós, orgulhosamente sós, sabemos o que fazer? Só falta por cá tornar o latim e o grego obrigatórios! E talvez ressuscitar o Trivium e o Quadrivium! Abaixo o saber prático e interdisciplinar!

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