sexta-feira, 14 de junho de 2013

Vamos fazer um país melhor?

Parabéns ao Armando Vieira, autor deste post, que viu muito bem a raiz dos nossos males: falta de iniciativa e dependência do estado. Falta dizer três coisas importantes.

Primeiro, as economias mais saudáveis são precisamente aquelas onde há mais falências. Projectos que vão à falência fazem parte do processo económico normal, porque no mundo real aprende-se por tentativa e erro. Por isso, temos de arriscar, falhar várias vezes, e de vez em quando acertamos. Se não arriscamos por medo de dar errado, nunca descobrimos o que dá certo.

Segundo, a razão pela qual tarda em Portugal a haver uma mentalidade empreendedora (e ainda hoje há muita gente no país que concebe o mundo, economicamente, como Salazar, com o estado no centro, fazendo as vezes de mãe-galinha de todos) tem directamente a ver com a nossa história. Nos países onde há espírito empreendedor isso ocorre porque as estruturas políticas e legislativas têm desde há séculos como principal preocupação garantir que o risco e o trabalho valem a pena. Ora, a nossa história deixou-nos uma memória diferente: que o risco e o trabalho não valem a pena porque periodicamente o estado vai à falência e depois come as poupanças das pessoas (desta vez isso só não aconteceu porque estamos no euro). Isto significa que o espírito empreendedor a que agora assistimos terá um péssimo desfecho se não se reorganizar rapidamente o estado português para que deixe de ser o parasita que é, comendo a riqueza de quem a produz para alimentar outros parasitas.

Aconselho a leitura regular da revista The Economist, para se ter uma visão completamente diferente do que é vox populi nos jornais portugueses e entre os políticos, e a leitura do livro The Rational Optimist, de Matt Ridley, assim como do livro The Better Angels of Our Nature, de Stephen Pink (apesar de este último não dizer respeito directamente ao desenvolvimento económico, é iluminante para compreender o papel do estado no que respeita a este aspecto). Hoje há também vários estudos que procuram explicitar e compreender os factores que tornam uns países mais ricos e outros mais pobres, nomeadamente na peugada dos trabalhos de Jared Diamond; um dos mais recentes foi detalhadamente analisado por Diamond aqui e é uma leitura fascinante e muito informativa. (Um dos aspectos infelizes da mentalidade nacional é a ignorância do que melhor que se produz nesse mundo fora no que respeita à compreensão do desenvolvimento e da produção de riqueza; duvido que algum político ou comentador político português conheça as referências bibliográficas elementares que acabei de dar.)

A terceira coisa importante a acrescentar é esta: qual é a raiz da riqueza? Suspeito que as pessoas em Portugal pensam que a riqueza vem do céu, vem do estado, ou vem do petróleo que não temos, ou algo assim. Mas isto é falso. A riqueza vem exclusivamente da eficiência das nossas actividades económicas. Somos tanto mais ricos quanto mais formos eficientes. E o que é a eficiência? É a capacidade para fazer mais depressa e melhor (logo, com menos investimento de trabalho). Quando a principal preocupação do estado é alimentar empresas e trabalhadores ineficientes, o estado constitui-se como o mais importante obstáculo ao desenvolvimento económico. Como podemos ver de maneira muito simples que a riqueza é exclusivamente uma questão de eficiência? Pensando num modelo infantil em que duas pessoas estão numa ilha deserta, em costas opostas. Uma delas consegue ser mais eficiente a pescar: pesca o suficiente para se alimentar em apenas duas horas de trabalho, demorando a outra 4 horas. O que significa isto? Que a primeira pode, por exemplo, vender à segunda o peixe de que não precisa, pois se trabalhar 4 horas apanha mais peixe do que aquele de que precisa. Ou pode trabalhar apenas 2 horas na apanha do peixe, e dedicar as outras 2 horas que sobram a fazer outra coisa, como plantar batatas ou apanhar frutas. Isto significa que a principal preocupação de um empresário lúcido é vender o mais barato que conseguir. Pode parecer paradoxal, mas a imensa riqueza que hoje temos, se compararmos com a que tínhamos há dois séculos, resulta exclusivamente disto: hoje é tudo mais barato. Infelizmente, quando a economia funciona mal, os empresários estão o tempo todo a ver se conseguem vender as coisas mais caras, e os trabalhadores fazem o mesmo. O resultado paradoxal é que ficamos todos mais pobres. Quanto mais caro vendermos os nossos produtos e o nosso trabalho, mais pobres ficamos.

4 comentários:

Anónimo disse...

Desidério, gramava à brava de saber o que pensa das bacoradas do Fiolhais. Ou é chato pronunciar-se sobre colegas do blogue?

perhaps disse...

Talvez os nossos políticos precisem de um curso de política e actualidade mundial. Talvez precisemos ser desmamados da entidade Estado. Neste momento, deveras perniciosa.
Concordo com a definição de eficácia apresentada. Não concordo que tudo na vida tenha essa estrelinha - é verdade, o texto tb não o afirma - . A eficácia é necessária ao homem para que possa chegar além de.

Mas há coisas que se vendem caras, sim. E algumas sem preço. Por nem tudo entrar no saco da economia de mercado, a tal que gera riqueza e prosperidade, que procura vender o mais barato possível (e se para isso escraviza os empregados etc, etc, que interesse tem).
E ox-Alá

Guilherme disse...

Excelente complemento à publicação de Armando Vieira.

É uma pena que os politicos tenham conseguido afastar o debate público da verdadeira causa da crise ocidental. Esta não é mais que uma crise causada pelo desgoverno dos nossos governos, algo que em Portugal temos vindo a assistir praticamente desde a génese da nacionalidade.

Desde sempre o nosso crescimento foi travado por políticos que não se adaptaram (por não saberem ou não lhes ser favorável,) às exigências do seu tempo.

O que se espera agora do nosso país, como democracia madura, é um debate sério e informado, pondo de lado preconceitos falaciosos, acerca do futuro que queremos para Portugal e o caminho a seguir!

Chega de remendos aleatórios e descoordenados num sistema que não consegue dar resposta a uma sociedade moderna, descomplicada e em constante mudança em que os portugueses querem viver.

A verdadeira força de um país democrático é quem lá vive, não o seu governo!

Anónimo disse...

Se você não pensa nada sobre as ideias do C. Fiolhais vai ser difícil (pelo menos com a sua colaboração) fazer um país melhor.

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