terça-feira, 18 de junho de 2013
Porque é que existe economia?
In the search for the ‘guilty men’ responsible for the collapse of the global economy, one obvious group has escaped blame: the economists.... It may be true that all bankers are greedy, all politicians venal, all regulators blind and all accountants stupid. But such personal failings do not explain their behavior in the past few years. (...) We are where astronomy was when Copernicus realized that the Earth revolves around the Sun. The academic economics of the past 20 years is comparable to pre-Copernican astronomy, with its mysterious heavenly cogs, epicycles and wheels within wheels or maybe even astrology, with its faith in star signs.
Anatole Kaletsky, Editor-at-Large, The Times, Fevereiro 5, 2009
Pergunta básica, não é? Porque é que existe uma economia deveria ser uma pergunta respondida muitas vezes. Ou não. Na verdade, ninguém sabe porque é que existe uma economia. E fazendo uma pesquisa por essa net fora não existe uma única página, um artigozinho da wikipedia que defina economia (o sistema, não o ramo do conhecimento que o estuda, esse escreve-se "Economia") sem recorrer a conceitos internos à economia, como bens, serviços, produção,etc. A pergunta é bastante mais fundamental, é porque é que o homo sapiens evoluiu criando um sistema de troca?
Tal como os físicos não dão uma explicação para o porquê de existir um universo - explicam a origem mas não o porquê dessa origem - os economistas também não se dedicaram muito à explicação do porquê da existência do sistema. Manda a lógica que o porquê da origem do sistema esteja no domínio da biologia, do animal que é o único que formou um sistema de trocas. E, nesse domínio, já se consegue encontrar alguma coisa (*) sem certezas, mas um homem económico é muito mais eficiente que uma besta dum primata que só se preocupa com aquilo que vai comer logo. Porque o homem económico vai procurar matar um bicho para comer enquanto o outro lhe constrói o abrigo, sabendo que o que constrói o abrigo vai conseguir comer e o que matou o bicho vai estar abrigado durante a noite, trocando o trabalho. Esta especialização faz com que os dois homens valham mais que a soma de dois primatas auto-suficientes em termos de capacidade de vencer o ambiente que os rodeia. Já os dois homens têm abrigo e comida, ainda os primatas auto-suficientes andam a lutar por um pedaço de carne.
Isto explica alguma coisa, mas não explica tudo. Não explica porque é que depois de eu ter levado o bicho para casa, ainda quero comprar mais coisas. Explica porque conseguimos comida mas não porque saímos do alojamento para ir para uma fila de noite para ver se somos os primeiros a ter um iPad. Como é que de trocarmos um trabalho básico por outro trabalho básico andamos hoje a trocar modelos matemáticos, programas de computador, espaço de processamento, arte, etc. A verdade é que se os nossos "irmãos" primatas andam a projectar fezes uns aos outros fisicamente e se nós o fazemos de forma higiénica através da internet, é por causa de termos uma economia.
Uma explicação plausível é a existência de um instinto económico. Algo gravado no nosso processamento biológico que nos deu a vantagem competitiva de ter uma economia e que, passadas as necessidades de sobrevivência, nos continua a atormentar para continuarmos a consumir e a produzir para consumir. Os economistas chamam-lhe "escassez", algo que não tem nada a ver com raridade natural, mas com o sentimento de necessidade de qualquer coisa que não temos. Um campo que atrai as partículas do sistema económico a ligarem-se de forma a trocar trabalho que ainda não têm. Diversos animais trocam trabalho, mas não têm uma economia porque trocam sempre o mesmo tipo de trabalho. As formigas, as abelhas, os lobos e outros animais sociais trocam sempre o mesmo tipo de trabalho para o qual nasceram. Para o homem, trabalho que tem que ser sempre novo e tem que fazer escolhas livres para que tenha escassez de coisas novas. E pode ter sido este instinto adicional que nos trouxe ao domínio esmagador do meio ambiente que nos rodeia.
Tal como a criação do universo, não é possível reproduzir a experiência. Conseguimos ter algumas evidências que corroboram esta teoria deste Big Bang económico como temos da teoria do Big Bang do universo, mas na realidade não é possível reproduzir aquela mutação que trouxe o instinto económico da mesma forma que não é possível reproduzir o início do universo ou a mutação que nos trouxe o instinto sexual. A verdade é que todas as evidências apontam nesse sentido.
Porque é que isto é importante? Bem, para a esmagadora maioria dos economistas parece ser irrelevante. Mas, usando o brilhante parágrafo de Kaletsky que transcrevi lá em cima, isso não deve ser estranho para todos os outros que não são economistas. A maior parte das pessoas aborda a explicação de um problema começando pela razão pela qual o problema existe. Mas na altura em que nasceu a Economia como ramo do saber, não havia internet, não havia dados, não havia comunicações, não havia forma de saber que se estava errado. A altura de saber que se estava errado aconteceu há menos de 10 anos em que a maior crise económica global da história rebenta com toda a gente "certa" no que estava a fazer(que converge para a única forma de estarem todos errados ao mesmo tempo).
Eu, por mim, gosto desta explicação do porquê de haver uma economia. E diz-nos muito dos mecanismos da dita e de algumas características que são autênticas "fases de Vénus" na explicação de um sistema tão misterioso para nós que o compomos, mas para isso terei tempo...
(*) R. Lipsey and P. Steyner. Economics. Harper & Row, 2005.
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2 comentários:
hum.. eu diria , na sequência desse estudo que diz que a menopausa é por causa dos homens , que a economia/acumular nasceu por causa das mulheres : um homem rico nunca é feio :)
O porquê de haver economia? O porquê de chover? O porquê de só o homem e não os outros animais descobrir a agricultura, a criação de gado, as artes e a linguagem? Pois, nunca ninguém me disse. O para quê de haver economia, etc., toda a gente me diz, mas não é isso que me interessa numa perspetiva post mortem.
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