domingo, 16 de junho de 2013

E O PRINCÍPIO DA INCERTEZA?




Na sequência de posts anteriores, perguntaram-me pelo princípio da incerteza. Eis uma muito breve exposição:

O físico alemão Werner Heisenberg formulou em 1925 o chamado "princípio da incerteza" para descrever a realidade quântica. Segundo esse princípio, quanto menos incerteza e tiver na velocidade, mais se tem na posição e quanto menos incerteza se tem na posição mais se tem na velocidade de um objecto quântico. É uma das afirmações da física que tem sido mais discutida e também mais mal compreendida.

 Em primeiro lugar, o "princípio de incerteza" não é um princípio: deduz-se dos princípios da mecânica quântica. Depois ele não devia ser chamado da incerteza mas sim da indeterminação. Prefiro, por isso, escrever "incerteza" entre aspas. É consequência da descrição de um objecto quântico por uma função de onda. O princípio de Heisenberg não tem a ver com uma perturbação causada pelo observador, ao contrário do que por vezes é dito (o próprio Heisenberg fez umas especulações sobre o papel do observador, tendo sido mal interpretado). Em certo sentido o referido princípio nem sequer é essencialmente quântico pois é uma afirmação que se aplica a todas as ondas. É como se já houvesse Heisenberg antes de Heisenberg. O principio tem simplesmente a ver com a natureza ondulatória da matéria ou da energia. Uma onda que está espalhada no espaço não está localizada num sítio; e uma onda que está localizada num sítio - chama-se pacote de ondas ou trem de ondas - não está espalhada no espaço. Julgo que isto não é difícil de perceber. A onda tem velocidade: é a razão do comprimento de onda para o período. No caso de uma onda periódica espalhada a velocidade é bem definida ao passo que a posição está indeterminada. No caso de um pacote de ondas, a posição tem bastante precisão, ao passo que a velocidade está indeterminada. Como se obtém o pacote de ondas ou trem de ondas, a tal onda concentrada num sítio? Pois somando simplesmente ondas de vários comprimentos de onda. Fazendo isso, obtém-se uma onda com posição definida, mas à custa de algum prejuízo da determinação da velocidade, pois são somadas ondas com várias velocidades.

 Na teoria quântica um electrão é descrito por uma função de onda. Se temos  precisão elevada na velocidade não a podemos ter na posição e se temos precisão elevada na posição não a podemos ter na velocidade. A descrição por uma onda, cuja interpretação é probabilística, obriga à existência desta "incerteza". Ou, melhor, indeterminação de uma grandeza, se a outra estiver determinada com alguma precisão.

3 comentários:

gestalt cuántica disse...

Mais claro impossível. Creio que não existe “principio” físico mais deturpado pelos “místicos” de turno, para apoiar suas fantasias interpretativas, que este. Até para as pessoas bem informadas é difícil de clarificar que se um observador modifica o observado não é devido ao físico de Wurzburgo. Um abraço desde Barcelona.

Anónimo disse...

Sobre o princípio da incerteza, ver também o que a propósito escreveu neste blogue o illustre physico Carlos Porra Fiolhais sobre o vernáculos dos sindicatos.

Anónimo disse...

A propósito do principio da incerteza, Einstein, Nathan Rosen e Boris Podolsky apresentaram um paradoxo: dois electrões acabados de colidir afastaram-se um do outro a uma distância de milhares de quilometros. Por conveniência chamamos 1 e 2 aos electrões. Se medirmos a quantidade de movimento do electrão 1, pelas leis da conservação sabemos o movimento do electrão 2. Assim medimos a posição do electrão 2 e saberíamos o movimento e a posição. Há outra maneira de interpretar esta experiência que foi formulada por David Bohm através do spin. Em 1965 Bell, teórico do CERN, atacou o problema com a “desigualdade Bell” demonstrando pela matemática que a teoria quântica estava completa e havia violação da Causalidade Local. Em 1983, Alain Aspect demonstrou experimentalmente que a desigualdade era violada e demonstrou que Bohr tinha razão. Assim fica demonstrado que um postulado da relatividade restritiva está errado, aquele que refere que a velocidade da luz é a velocidade máxima e absoluta. Se assim o é, porque é que a mesma teoria da relatividade restritiva continua a ser válida?

Atentamente
Ricardo Teixeira

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