segunda-feira, 17 de junho de 2013

O VERNÁCULO DOS SINDICATOS


Pasmei ao ver a primeira página do "Público" de sábado. O Sindicato dos Professores da Grande Lisboa trazia um cartaz que dizia "Deixem-nos ser professores, PORRA", assim com exclamação e tudo. Fui ao meu velho Dicionário Lello e confirmei o que sabia: "porra" é um "vocábulo obsceno que designa o órgão genital masculino". Não quis acreditar que professores empunhassem em público a palavra "porra" como sua bandeira. Mas não eram, de facto, professores, mas sim dirigentes sindicais que não ensinam há muito.

30 comentários:

Carlos Pires disse...

O uso desse género de termos é de facto lamentável, nomeadamente se é feito por um professor. Trata-se de uma maneira inadequada e ineficaz de protestar. Um auttêntico tiro no pé.
Mas, infelizmente, é verdade que é cada vez mais difícil ser professor e que em parte (só em parte) a causa disso são as medidas adotadas por uma instituição que devia facilitar e não dificultar o trabalho dos professores: o governo.
Por outro lado, acho que se está a ir demasiado longe na diabolização dos dirigentes sindicais. Julgo que sou insuspeito nessa matéria, pois nunca fui sindicalizado e é raro concordar com aquilo que os sindicatos dizem.
Estas greves e protestos estão longe de resultarem da manipulação dos sindicatos e dos seus dirigentes e o facto de nelas convergirem imensos professores com ideias muito diferentes sobre educação e sobre politica é muito significativo e devia fazer pensar o governo.

João Esteves disse...

Porra, que há mesmo quem nunca tenha dito algo em calão, nem mesmo em momento de grande revolta! Ou se calhar diz, mas só para os seus botões. Interrogo-me se esse alguém tivesse que ensinar Gil Vicente, como faria...
O problema não é o calão, mas sim a sua banalização, tomá-lo como linguagem corrente quando é muito específico de situações agressivas e violentas ou de revolta.

Albino M. disse...

Ora, ora, o C.F. está cada vez mais reaccionário (qq dia perde um leitor, aviso já, não lhe faz diferença a si, mas faz a mim, que sou esquisito)!
Não que eu seja adepto destas liberdades de linguagem que enxameiam a Web, sou até muito crítico, mas hoje por hoje e no contexto em causa a palavra censurada é quase aceitável.
Além de que essa mesma palavra tem outros significados distintos do que aponta, que aliás não quadra ao dito contexto, onde o sentido é o de 'bolas' 'poça' 'chiça', etc. (chiça, penico, berdamerda, p... dizia o hino académico da república de Coimbra 'Poynt'apau', isto há alguns anos, no tempo em que os Carlos não eram Fiolhais)...
Mas o que dói, sente-se, a C.F. é essa chatice de os dirigentes sindicais terem uma grande perdurabilidade como tais. Uma maneira de chamar burros aos colectivos que os elegem, aliás associações de direito privado, soberanas no arranjo e defesa dos seus próprios interesses.
Também aqui, pessoalmente, sem deixar de ver como positivo alguma renovação e arejamento das direcções, tenho que dar a primazia ao juízo das próprias profissões e que aceitar - como não? - o seu veredicto e as suas escolhas. Mas isto digo eu, que não sou Carlos, nem muito menos Fiolhais, sou apenas um seu leitor, transitório e pouco agradado com o seu apoio pouco crítico ao ministro Crasso, digo, Crato, e se digo 'pouco crítico' foi para não escrever 'indecoroso' numa pessoa com as suas responsabilidades.

Anónimo disse...

Porra! como é possível que professores usem essa linguagem?

Anónimo disse...

Imagino o que deverá dizer uma pessoa que ao fim de 20 ou 30 anos de trabalho é despedida.

"Mas que maçada..."

José Batista disse...

Curioso, há poucos anos, uma colega minha de português, analisava com alunos, na escola e nas aulas, uma obra de Miguel Esteves Cardoso, intitulada "amor fodido".
E, há menos de 24 horas, o Professor Marcelo Rebelo de Sousa publicitava na televisão, em "horário nobre", outra obra do mesmo autor, pronunciando bem o título, que é: "como é linda a puta da vida".

Eu também não aprecio o calão como língua comum de professores, mas há coisas que me parecem bem mais obscenas que o uso pontual do vernáculo.
E então, quem conhecer o meio rural ou os bairros pobres verifica que o calão é língua comum e, particularmente no noroeste do país, o calão "pesado" não incomoda ninguém, do pobre ao rico, do analfabeto ao letrado, do ateu ao beato...

Sofia disse...

O cartaz diz «Litoral Alentejano». No Alentejo, «porra» ouve-se centenas de vezes por dia, já perdeu todo o sentido original.

Anónimo disse...

São todos uns malcriadões. Até (alguns) catedráticos como o Professor Marcelo. A escola do Professor Fiolhais é diferente. Nunca diria uma coisa dessas mesmo se fosse despedido de catedrático. Mesmo "maçada" (como sugere um anónimo) seria impróprio de um gentleman.

Anónimo disse...

Drigentes sindicais!!! Ó Fiolhais, são mas é comunistas a soldo de Moscovo (como diria o outro Marcelo, lembra-se?)

Sílvia disse...

Eu é que estou pasmada com a sua insistência em denegrir a luta dos professores!

Anónimo disse...

Se o Doutor Carlos Fiolhais lesse uns sonetos que eu cá sei do Bocage corava até à raiz do cabelo. E concluiria aquilo não é poeta nem é merda. Cara Sílvia: quando se quer denegrir tudo serve.

Anónimo disse...

O Doutor Fiolhais proibiria o Gil Vicente pelo menos para menores. Istp na primeira fase, depois proibiria coisas indecentes para todos. Já agora é acabar com as greves, infiltra-se sempre nelas gente sem educação que diz palavrões.

margarete disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
margarete disse...

a sério? é nisto que pega agora?
caramba (perdão!), isso são exercícios para pessoas de quem se espera "intelectualidade" manipuladora a pender para o desonesto, não de si
não tenho dificuldade em separar águas, tenho amigos com convicções sociais, políticas e espirituais opostas às minhas, e da mesma forma sigo pessoas pela sua obra mas assim que lhes vislumbre este tipo de fraquezas na defesa ideológica não sou capaz de voltar a confiar
li tanta gente contra as greves, de quem discordo, mas cujas opiniões são focadas e não distractoras
aqui, a única coisa que se lê é que parece ter uma "agenda" contra os sindicatos e que, a partir daí, tudo o que de lá vier não presta
fico mesmo desiludida

Fernando Oliveira disse...

A leitura deste artigo constituiu um duro golpe para quem se habituou a ver neste blogue um local de cultura e não um local para uma atitude e uma declaração deste jaez, sobretudo vindas de um professor. O Sr. Prof. indigna-se com a "obscenidade" implícita no cartaz mas não se indigna com o verdadeiro cataclismo que varre este país, com o mais desbragado e raivoso ajuste de contas de que estamos a ser vítimas às mãos de um bando de malfeitores, cuja lista de patifarias me dispenso de enumerar por não caber neste espaço. E já agora permita-me uma sugestão: guarde o seu velhinho Lello num museu (é se calhar dos anos 50 ou 60) e consulte a mesma entrada "porra" no Dic. Houaiss de Língua Portuguesa de 2003. É que a produzir declarações como esta recorrendo a tais fontes, um dia destes vamos ler algures um artigo seu a afirmar que o Sol gira em volta da Terra citando um qualquer texto da autoria de uma qualquer ancestral e “respeitada” instituição.
Cumprimentos

Rolando Almeida disse...

Muito honestamente a desonestidade política, a falta de seriedade, a falta de humildade, a corrupção política, a malvadez engravatada choca-me muito mais que mil porras. Os professores não estão desta vez a protestar para aumentar 10€ ao salário. Estão a protestar porque legitimamente projectaram uma vida inteira dedicada a uma profissão e acabam a desesperar com o eminente desemprego para pagar negócios que matam, ao passo que um porra não mata ninguém. Nem sequer percebo qual o espanto do Carlos Fiolhais quanto à mensagem do cartaz na página do Público.

Rolando Almeida disse...

Só mais um aparte: as generalizações sobre os sindicatos são más generalizações. Os sindicatos fazem o papel deles, São corporativistas. E daí? Quem quer alinha e quem não quer não alinha. Mas a defesa corporativa é uma entre as outras possíveis. Talvez não seja a socialmente mais adequada, mas provavelmente a existência de um Estado controlador da educação também não seja a forma mais adequada de promover a educação das pessoas. E depois porque as pessoas são ou não são sindicalizadas por razões muito diferentes. Dou o meu exemplo: eu sou sindicalizado (o que não faz de mim mais ou menos suspeito para falar do quer que seja). Sou pela razão provavelmente menos invocada quando se fala nos sindicatos: é que na região onde vivo as poucas e melhores acções de formação a que sou obrigado a fazer são promovidas pelos sindicatos e os sócios tem primazia na selecção de formandos. E foi dessa forma que pude assistir no ano de 2007 à última e única formação de qualidade em filosofia que é a minha área. Depois porque, porque não tive mais oferta formativa, foi o sindicato que teve a inciativa de me ajudar a "montar" uma formação na minha área, dada por mim. Nunca tive qualquer apoio de escolas ou do ministério para apoiar a minha formação. Portanto, não percebo sequer a ira irracional (provavelmente tão irracional quanto o "porra" monstruoso) de Carlos Fiolhais contra os sindicatos. Não faço, insisto, a apologia dos sindicatos pois não faço a apologia das catedrais. Mas estou-me tão nas tintas para os sindicatos quanto estou para o Ministério a controlar os currículos e a tirar a liberdade das pessoas a aprender o que lhes apetecer.

Anónimo disse...

Dum cientista espera-se rigor e procedimento científico. Não é o caso do Doutor Fiolhais, é nítido um grande desnorte. Os meus dicionários não registam o mesmo significado para a palavra "porra!". Se registassem estariam errados (como o do Doutor Fiolhais) pois a grande maioria dos falantes não associa o órgão genital masculino a esta palavra. O Doutor Fiolhais sabe isso ou não? Quando se pretende um fim faz-se tudo, incluindo distorcer os factos. Não sei se é assim em Física. É? A sua aversão aos sindicatos não o autoriza a proceder deste modo.
O argumento é de rir (se não fosse triste). É como ser contra o 25 de Abril porque um soldado integrado na coluna que se dirigia ao quartel do Carmo dise "caralho" (termo vulgaríssimo na tropa). Eu sou bem educado, logo não alinho com esta soldadesca.
Mas suponhamos que "porra" designa de facto o órgão genital masculino. Que mal tem? Não é um órgão do corpo humano? E se fosse o órgão genital feminino? Seria pior ou melhor Doutor Fiolhais?
Olhe, caro Professor, isto é demasiado ridículo. Nem pedindo desculpa (coisa que não se coaduna com o seu feitio) o Senhor se safa.

Anónimo disse...

Indecoroso é leve. O Carlos deve ir escrever é para o Correio da Manhã, Jornal do crime, Jornal do Incrível e participar no Big Brother.

Cláudia da Silva Tomazi disse...

A minha irmã foi repetente, pois o professor de Ciências nem tolerava deboche. Bons tempos da Escola Básica Cruz e Souza.

Anónimo disse...

Devemos rir: temos mais um palhaço além do referido pelo Miguel Sousa Tavares. Vale a pena chorar com o Carlos? A intenção dele era boa: fazer rir nestes tempos tristes. E essa de que porra é a pilinha tem piada. Também há quem chame passarinha à coisinha das meninas. Se algum professor arranja um cartaz com "passarinha" lá fica o Carlos zangado, mais uma vez, com todos os professores e sindicalistas.
A sério: o Carlos tem mesmo piada.

Anónimo disse...

Deboche em que sentido? Português ou brasileiro?

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Sentido prosaico, ilustre anónimo. É facto que o Brasil assimila características portuguesas, porém a diversidade é a raspa o tacho.

Anónimo disse...

P E R F E I T O !!!

Rui Gonçalves

Anónimo disse...

Também não gostei, absolutamente nada, do cartaz mencionado. Embora educada a Norte do Rio Douro, sempre associei essa palavra a grosso palavrão . Contudo, uns km abaixo do referido rio , quando instava os meus alunos sobre o seu palavreado , eles ficavam muitíssimo admirados, aquilo não era, e não é, considerado palavrão.

Semisovereign People at Large disse...

não pá é latinização logo é o que se denomina por linguagem retro pá

vem de allium porrum com que se dava nos cornos das pessoas durante várias festividades

daí o termo porrada

que se fosse forte ....ide e segui o método scientífico

atirava líquido leitoso resultante da destruição de muitas paredes celulares

daí esporrare e porrum

porra ...

que porra ahn

obviamente devido à falocracia dominante

o allho porro foi utilizado para outros fins

cu li n´ários de Azevedo...dicciunarius craro

Nan disse...

«Que contrariedade...»

Fernando Caldeira disse...

Conta-se que uma senhora mexicana da alta-sociedade se terá sentido muito ofendida quando alguém, de nome Paco Porra-Porra, lhe foi apresentado, mas que se terá apressado a explicar que não era pelo nome... era pela... insistência.
Felizmente (?) hoje já ninguém se ofende por ouvir este ou quaisquer outros palavrões, ou mesmo outros bastante mais agressivos (julgo que o objectivo da sua utilização é precisamente, de algum modo, agredir o outro...).
Mas a sua banalização teve como consequência perversa, na tentativa de se manter o efeito, quer a insistência, quer a sua utilização a despropósito, descontextualizada, aculturalizada... De facto, se é verdade que no “meio rural ou [n]os bairros pobres [se]verifica que o calão é língua comum e, particularmente no noroeste do país, o calão "pesado" não incomoda ninguém, do pobre ao rico, do analfabeto ao letrado, do ateu ao beato...” (José Batista), a questão é que não se espera que a Escola, aparelho estatal de aculturação, venha contribuir para a reprodução do que deveria tentar superar...

augusto kuettner de magalhaes disse...

Esta greve de professores não deveria ter acontecido.

Os professores perderam credibilidade e respeito perante os alunos.

Haveria outras formas de defenderem o que acham estar a perder!

Mas............

Rui Baptista disse...

E para essa falta de credibilidade muita influência tem tido (e continua a ter) a figura de Mário Nogueira às portas das escolas a fazer comícios es+erançado de que de "pequenino é que se torce o pepino". Ainda, muito recentemente, aquando da realização do exame de Portugês do 12.º ano lá estava ele numa escola em que decorria esse exame e que ao ser interpelado por uma aluna deu-lhe como resposta um eternecedor beijinho na testa!!!

Meu caro Augusto Kuettner Magalhães, eu iria mais longe: a credibilidade de professores que se prestam a certas manifestações têm os sindicalistas que merecem sempre prontos a fazer das massas que os seguem pelas ruas a sua razão.

ROBERT HOOKE E A FORÇA ELÁSTICA

Meu prefácio ao livro Lições de Potentia Restitutiva ou da Mol a, de Robert Hooke, com introdução, tradução e notas de Isadora Monteiro, In...