terça-feira, 18 de junho de 2013

Da Greve

Muitos artigos de opinião têm sido escritos sobre a recente greve dos professores. Acolhemos aqui, com a devida "vénia", o artigo da jornalista Helena Matos (que tem experiência de professora do ensino secundário) no Diário Económico:

Esta greve dos professores parece-me o menor dos desmandos a que a classe docente ou alguém em seu nome se tem entregue na luta que diz travar pela "escola pública", "educação" ou outras designações metafóricas a que recorre na hora de tratar da sua condição laboral.

Ou será que já esquecemos o sucedido em 2008, na cidade de Fafe, quando alguns professores acompanhados de vários alunos nem deixaram a então ministra Lurdes Rodrigues sair para fora do carro, atirando-lhe ovos? E também ninguém recorda a ausência de contestação sindical à portaria através da qual o governo regional da Madeira avaliou com "bom", no mesmo ano de 2008, todos os professores em exercício no arquipélago? Ao pé destes tristes exemplos esta greve é um acto de civilidade.

As greves existem. Existe o direito de as convocar e também existe o direito de não as fazer. Noutros tempos eram os alunos que faziam greves aos exames. Agora com os alunos infantilizados e a viverem pedagogicamente num mundo de algodão em rama, pedagogos vários a par das confederações das associações de pais essas entidades cuja existência é mais enigmática que a vida sexual das criaturas marinhas nas fossas abissais - acham que os infantes poderão precisar de apoio psicológico porque vão fazer exame e os 'sotôres' não estão lá.

Enfim nos tempos anteriores ao apoio psicológico uma sala de exame sem examinadores era um escândalo ou uma festa, consoante o ponto de vista. Agora é um trauma e um sinal de falta de equidade, seja lá isso o que for.

Ora tal como me parece inquestionável o direito à greve também me parece inquestionável o direito à escolha da escola por parte das famílias: no dia em que os pais puderem escolher a escola pública ou privada em que querem colocar os seus filhos - entregando o Estado a essa escola o valor que gastaria com ela em média numa escola pública - então poderemos começar a falar de ensino.

Pelo contrário, enquanto se identificar direito ao ensino com obrigatoriedade de frequência da escola pública e dentro desta nem sequer se puder escolher a escola que se quer, a mediocridade continua protegida por decreto e o senhor Nogueira e os seus clones continuarão a restringir toda a discussão sobre o ensino à agenda dos partidos que têm por trás.

Fui professora do ensino secundário e quer nessa qualidade quer enquanto encarregada de educação nunca encontrei estes auto-proclamados defensores da escola quando os professores mais jovens eram colocados tardiamente e os colegas efectivos entretanto lhes tinham retalhado o horário segundo as suas conveniências.

Muito menos quando se deixavam para os professores com menos experiência - logo nos lugares abaixo das listas - as turmas que davam mais problemas. Encontrei professores sinceramente devotados e preocupados. Mas essa era uma atitude individual.

A escola em si não existia e muito menos se discutia. Aliás a única coisa que une o senhor Nogueira aos professores é o discurso anti-Ministério da Educação, entidade bem mais longínqua e fácil de contestar que os abusos, as irresponsabilidades, as discricionariedades e incompetências dos colegas ou dos dirigentes escolares.

Mas convém que se sublinhe: nem o Ministério nem os sindicatos estão sós neste diferendo. Como disse reconheço ao senhor Nogueira o direito a convocar esta e todas as greves que entender. Mais claro ainda me parece que Nuno Crato é um dos melhores ministros que passou pela 5 de Outubro. Mas recuso-me a que ministério e sindicatos restrinjam esta polémica a si mesmos.

Quero saber como faço valer os meus direitos a escolher a escola que quero para os meus filhos e que já pago com os meus impostos.

Se é pública ou privada, perto ou longe de casa é algo que só a mim diz respeito. Como é óbvio enquanto contribuinte acho que tenho o direito a um debate esclarecedor sobre os horários zero e a mobilidade reivindicados pelos professores pois trata-se de um regime excepcional que como tal tem de ser muito bem justificado. E por fim mas não por último também não aceito que me imponham o dever de pagar o ordenado com respectivas progressões a professores eternamente destacados nos sindicatos.

Com trauma ou sem ele e se quiserem com muita equidade vamos ter de discutir a escola.

Helena Matos

Diário Económico 2013-06-18

9 comentários:

Sílvia disse...

Antes pagar o ordenado a professores destacados nos sindicatos do que os carrões e outros luxos aos grupos GPS deste país!

Desidério Murcho disse...

Qual é a diferença, exactamente? Em ambos os casos se paga para que os outros zelem pelos nossos interesses. Outra coisa é saber se zelam bem ou mal, ou se zelam antes pelos seus próprios interesses.

Joachim disse...

Essa "jornalista" de extrema direita é uma nódoa.
O De Rerum Natura te vindo a descer muito de nível.

José Fontes disse...

Joachim:
Pior do que a acusação que lhe faz de ela ser de extrema-direita, que acho injusta, é o facto de ela ser desonesta intelectualmente.
Ela, de facto, não é de extrema-direita no sentido clássico desta definição política, ela agora «surfa» na onda da moda, a do neoliberalismo, depois de, na sequência dos anos da brasa do PREC, ter «surfado» na onda do esquerdismo. É preciso estar-se sempre atento à onda que em cada momento dê o melhor «swing».
E digo que é desonesta intelectualmente porque escreveu um post no Blasfémias em que afirmava que a vigarice da licenciatura instantânea do Relvas era muito menos grave do que a vigarice da licenciatura do Sócrates, pois era legal.
Teria sido tudo feito dentro da legalidade, ao passo que na do Sócrates houve um exame ao Domingo e os registos não conferiam nas datas.
Como se entre a peste e a sarna fosse possível escolher.

José Fontes disse...

Voltando ao post da senhora Matos:
Disse ela: «no dia em que os pais puderem escolher a escola pública ou privada em que querem colocar os seus filhos - entregando o Estado a essa escola o valor que gastaria com ela em média numa escola pública - então poderemos começar a falar de ensino.»
Foi esse caminho que a Suécia, que foi um país pioneiro na erradicação do analfabetismo ainda nos finais do século XIX, e que teve durante quase todo o século XX um sistema de ensino de referência para muitos países, encetou no início da década de 1990, através das Escolas de Contrato. Houve «vouchers» distribuídos generosamente, mas os resultados foram tão «espectaculares» que estão a recuar a todo o vapor. O PIRLS e o TIMMS de 2001 (os últimos publicados) mostram bem os resultados. Consultem-nos se duvidarem do que digo.

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Certo dia, recebi uma carta de atribuição jornalística... E, lá da oportunidade, agradeci a Sra. Laus da bondade.

Anónimo disse...

Também concordo que o blogue está a perder qualidade! Opiniões um bocado ...retrógradas... tacanhas...

Albino M. disse...

O Rerum Natura passou-se, só pode...
A Helena Matos? Com franqueza, que disparate!...
A menos que, para ressalvar o contraditório e o equilíbrio da discussão, dêem agora aos leitores uma perspectiva de esquerda pura e dura...
Vamos a isso, ó Naturas?

augusto kuettner de magalhaes disse...

Esta greve de professores não deveria ter acontecido.

Os professores perderam credibilidade e respeito perante os alunos.

Haveria outras formas de defenderem o que acham estar a perder!

Mas............

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