Escrevo estas linhas a convite do meu amigo e colega Armando Vieira
numa altura em que o país vive um momento algo atribulado no que diz respeito à
educação produzida por funcionários do estado e que deu origem a alguns posts
por aqui.
Ninguém, de seu juízo perfeito, ignora que a educação tem uma
importância fundamental na economia. Mais que a importância que tem para cada
uma das pessoas individualmente, ela tem uma importância no colectivo. Aquilo a
que se chama de “redistribuição” é, na realidade, um conjunto de serviços que é
prestado pelo colectivo a cada um dos indivíduos para que contribuam para a
economia desse colectivo e um dos serviços fundamentais é a educação. É o
ingrediente fundamental para que se possam criar nova “escassez”, o ingrediente
fundamental do desenvolvimento económico. Com mais educação vêm novos produtos
e novos consumos que geram novas necessidades que criam novos recursos, etc...
A educação é parte integrante do crescimento económico.
Neste sentido, a existência de um sistema colectivo dedicado educação
não é uma opção real. As sociedades que
não o fizeram tornaram-se economicamente inviáveis e, ou estão num qualquer
poço do desenvolvimento humano, ou foram absorvidas por outras num processo
natural de optimização. No entanto, qualquer sistema colectivo dedicado à
educação serve os propósitos de entregar educação aos seus destinatários
finais.
Abstracto? Talvez. A verdade é que a vida de gestor(*) me faz trazer os
problemas a um nível de abstracção ligeiramente acima daquilo que os dados nos
mostram, para depois podermos tomar as decisões mais acertadas possível, dentro
daquilo que são os recursos que temos disponíveis e os objectivos que queremos
alcançar. E aquilo que escrevi nos parágrafos
anteriores estabelece o fundamental da equação que queremos resolver quando
falamos em educação pública. Repare-se
que em nenhum local se falou em professores, em escolas, em ministérios, em
“públicos” ou “privados”. Na verdade, nenhum destes factores são variáveis a
ter em conta na resolução da equação em si mesma, no sentido em que podemos
idealizar um sistema educativo sem que aqueles factores estejam envolvidos.
Matematicamente, já que estamos num blog com preocupações de divulgação
científica, esses factores serão
constrangimentos que vamos adicionar ao problema para atingir um solução para a
equação inicial que é, repita-se, levar educação aos cidadãos para aumentar as
trocas na sociedade, por outras palavras, ter crescimento económico. Aquilo que
os matemáticos fazem quando têm mais variáveis que equações para as determinar
é juntar constrangimentos, i.e. novas equações, para solucionar o problema no
seu conjunto .
Portanto, o problema que se deve colocar a um ministro da educação
enquanto gestor da vontade popular expressa em eleições livres, que é o caso do
Prof. Nuno Crato, deve estar fechado com a equação e com uma combinação livre
dos demais factores envolvidos para construir novas equações que levem à
materialização da solução final. É preciso dinheiro para pagar a recursos
educativos que possam ensinar numa qualquer infraestrutura. Como um problema com menos equações que
variáveis é resolvido por mais que uma solução, a tarefa do gestor é encontrar
soluções para esse problema, fazer combinar os vários factores envolvidos. E o
problema está, basicamente, colocado.
Estando eu no lugar do Prof. Nuno Crato estaria a fazer a introspecção
que é necessária a qualquer gestor. Escola? É preciso um edifício? Há 10 anos a
resposta seria sim, e hoje? Com a quantidade de recursos online que estão
produzidos e podem ser produzidos, é precisa uma escola com um prédio, limpeza,
casas de banho? E professores? Porque é que não usamos esses recursos para
escolher apenas um professor por disciplina e fazemos como no tempo da tele-escola? Será que aquilo que era visto como um plano B no meu tempo não será a
solução óptima no tempo dos meus filhos? A verdade é que colocado o problema,
as soluções surgem em moldes que não são
necessariamente aqueles com que estamos habituados a lidar, surgem
oportunidades de inovação.
Hoje foi um dia de greve de professores aos exames. Sendo os exames uma parte considerada importante para a entrega da educação, senão não eram realizados, a conclusão que se pode tirar (a acreditar nos dirigentes sindicais) é que a solução do nosso problema com a materialização que temos hoje não é uma solução do problema. A combinação de factores envolvidos não leva à solução do problema em que, na realidade, não há nada que obrigue a que a combinação de factores seja essa. O que a greve de hoje mostrou é que a vontade colectiva de ter um sistema educativo que possa atingir os objectivos públicos esbarra na combinação de factores que foi encontrada, particularmente no facto de existir um quadro nacional de professores que hoje levou a que o objectivo público não fosse cumprido.
Devemos tirar algo positivo de tudo, incluindo de uma greve como a de
hoje, que traz ensinamentos muito interessantes para quem quer ser um ministro
da educação marcante, como deve ser o caso do Prof. Nuno Crato. O primeiro é
trazer a oportunidade de formular o problema da educação como deve ser
formulado, pelos objectivos e não pelos constrangimentos. Se ter um quadro de
professores é um constrangimento então acabe-se com ele.
(*)sou físico, consultor, gestor e até investigador, nas horas
vagas
14 comentários:
Este texto só poderia ter sido escrito por um gestor daqueles que resumem tudo a números. Só que alunos não são números, são pessoas e no caso dos ensinos pré-primário, básico e secundário pessoas em fases cruciais da sua formação como serres humanos
Não sei se alguma vez terá lido o Diário de Sebastião da Gama. Se o não leu aconselho a leitura , se o leu, deve relê-lo. Mas, se preferir uma opinião anglo saxónica, poderá ler o escritor Frank McCourt, que foi professor.
“Numa sala de aula dum liceu o professor é ao mesmo tempo um sargento instrutor, um rabi, um ombro amigo, um disciplinador, um cantor, um erudito de baixo nível, um funcionário administrativo, um árbitro, um palhaço, um conselheiro, um controlador de vestimentas, um maestro, um defensor, um filósofo, um colaborador, um dançarino de sapateado, um politico, um terapeuta, um louco, um polícia de trânsito, um padre, um pai-mãe-irmão-irmã-tio-tia, um contabilista, um crítico, um psicólogo, o último reduto."
(in Teacher man)
Assim poderá ficar a perceber que a escola não é redutível a um qualquer modelo matemático.
Mas onde é que está o modelo matemático? O texto resume-se a considerações genéricas e vagas baseadas em noções gerais de álgebra linear ao nível do meu 12º ano de 1986... De uma pobreza fransiscana... Nem vale a pena perder muito tempo, porque tenho mais que fazer.
Não me diga isso a mim, regina. "Eu" preciso de um valor económico entregue aos alunos (educação) para que possa entregar um valor económico aos professores(dinheiro). Os professores bloquearam a entrega da educação porque os números para eles não lhes agradam. Não há outra hipótese senão voltar a reduzir a coisa a números para perceber se os números requeridos pelos professores para que a educação seja de facto entregue são viáveis. E devemos, nessa circunstância, avaliar alternativas, exactamente como a regina faz com tudo na sua vida.
Quem reduziu tudo a números foram justamente os sindicatos que decretaram a greve, e os professores que a fizeram! Mas então os defensores da greve podem deitar mão a qualquer argumento, e os que se lhes opôem não?!...
De onde é que pensa que vem o dinheiro para o ensino? Por geração espontânea a partir do vazio? Que o saco não tem fundo?
Perguntas igualmente interessantes para ajudar a encontrar uma solução:
1. quanto é que custa ensinar um aluno no privado e um no público?
2. porque razão é que os professores no privado não fizeram greve?
José
recursos online + 1 professor a cada disciplina.
será possível elaborar que recursos são estes que complementam o professor? Estamos a falar de livros e manuais?
Post indigente e, a meu ver, indigno de ser publicado num blogue que aspira ao rigor no debate de ideias.
O autor limita-se a propôr (como se tivesse descoberto a polvora) a substituição dos professores por um serviço de tele-escola. Nos anos 50, o escritor Raymond Queneau gozava com o que era visto, ja na altura, como um perfeito disparate, no seu imprescindivel "Zazie dans le métro".
So quem não teve bons professores é capaz de escrever tais dislates.
Disclaimer : não sou professor e sou bastante critico em relação a muitas das acções colectivas da classe nos ultimos anos em Portugal. Mas considero que ha limites para o disparate...
O blogue desceu varios graus na minha consideração...
Boas
Não foi defendida tal coisa. Foi colocado como hipótese entre uma infinidade delas, sendo que aquilo que se sabe é que manter um quadro de professores não funciona.
Desconhece a forma como o ensino é ministrado na Austrália, ou pensa que eles por serem ricos metem os meninos em helicópteros para irem à escola? E não é por causa de terem ensino a distância que são mais atrasados do que nós. Por cá uma solução de valor indiscutível foi o Ano Propedêutico, como era a telescola, mas que convém diabolizar para justificar legiões de funcionários, incluindo professores, necessários para manterem a «máquina» a funcionar.
Já agora nos anos 50 não havia computadores nem internet... e podia continuar com uma lista interminável de outras coisas que não existiam, e de que o Sr. provavelmente não está disposto a abdicar.
O Sr. (e na generalidade todos os que partilham a sua opinião) tem uma reacção de virgem ofendida, de quem se considera dono da verdade absoluta, e reage muito mal quando são pedidas satisfações pela forma como é gasto - ou espatifado - o dinheiro que não lhe pertence.
Era até de sugerir, por esta lógica, um só professor em Lisboa, em sistema data-show, a leccionar para todos os alunos do imenso Portugal, com um outro funcionário, a recibos verdes, a vigiar as salas e a conferir o trabalho dos alunos
Muito piadético... vou guardar no congelador, e quando me apetecer rir abro, espreito, e ficarei logo bem disposto.
Infelizmente já não consigo rir com os sucessivos gastos em educação, e os resultados - absolutamente pífios - obtidos.
E a minha disposição ainda piora mais quando constato que o estado nunca parou de me roubar, cada vez mais e mais, para alimentar o elefante.
Concedo que se estivesse do lado dos que recebem o dinheiro - como será o seu caso - não pararia de ter «ideias» para fazer crescer o bicho...
Aos professores malandros paga o Estado, com o dinheiro que esbulha aos trabalhadores honestos do sector privado através dos impostos.
E a si quem lhe paga para dizer estas baboseiras num tom arrogante e agressivo?
O partido?
O seu patrão?
Faz isto enquanto devia estar a trabalhar?
Ou arranjou este passatempo para se distrair enquanto vive da reforma que o abominável Estado lhe paga?
Vou regar as flores do meu jardim!
nada no comentário acima sugere que foi defendida tal coisa. pode muito bem estar a referir-se a uma hipótese colocada (que aparentemente foi mesmo colocada).
parece apenas uma pergunta, como por exemplo, como se sabe que manter um quadro de professores não funciona?
estes assuntos são engraçados. as pessoas ficam defensivas com simples questões. pensava que só acontecia aos professores.
estou de férias, mas a sua pergunta é tão boa que lha devolvo: a ler e responder a posts às 14:12? é professor?
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