sexta-feira, 10 de maio de 2013

Não digo versos...

Porque eu não saberia escrever uma nota melhor do aquela que António José Ferreira escreveu para assinalar o centenário do nascimento de João Henrique Pereira Villaret ou, como é conhecido, João Villaret, aqui reproduzo uma parte dela.

"Não digo versos; procuro reproduzir o momento de angústia, 
de alegria, de revolta que o poeta sentiu ao escrever o seu poema. 
Recitando, encontro a plena libertação, pois dou-me esse infinito gosto 
de interpretar aquilo que amo e que me tocou profundamente."

João Villaret

"A sua vocação para a arte de dizer e de representar manifesta-se nele desde tenra idade, mas não sem enfrentar algumas contrariedades.

A primeira desilusão surge quando a directora do Anglo-Portuguese College, Miss Price, decide não o integrar na récita do colégio por manifesta "falta de jeito para representar". O sentimento que o pequeno João nutria por Miss Price era recíproco, considerando-a "uma chata". Mas admirava, com veneração, outra professora, de seu nome Amália, que sentia por ele a mesma admiração. Chamava-lhe, com muita ternura, "Frei João sem cuidados". E talvez por essa empatia, essa mútua compreensão, Villaret lia de tal maneira "Os Lusíadas" que a docente ficava rendida e nem se atrevia a sugerir qualquer alteração.

Pelo precoce entendimento que tinha da poesia, e por se considerar a sua leitura tão exemplar, o jovem, quando frequentava o 3.º ano no Liceu Passos Manuel, era enviado para as salas do 7.º ano (actual 11.º ano de escolaridade) a ensinar os colegas como se devia ler o nosso grande épico. Quando se matriculou na Secção Teatral do Conservatório Nacional de Lisboa, em 1928, aos quinze anos de idade, ninguém previa que decorridos apenas três anos, na noite de 16 de Outubro de 1931, Villaret se estrearia profissionalmente no Teatro Nacional D. Maria II, integrado na Companhia de Amélia Rey Colaço/Robles Monteiro, na reposição da peça "Leonor Teles", de Marcelino Mesquita. Assim se iniciava a gloriosa carreira do actor que, no entanto, não se confinaria ao drama e à alta comédia (Gil Vicente, Shakespeare, Molière, Almeida Garrett, Bernard Shaw, Eugene O'Neill, etc.). João Villaret também nutria um especial apreço pelo teatro de revista, onde se vem a estrear em 1941, suscitando o escândalo daqueles que consideravam o género uma arte menor (...)

Com uma sensibilidade invulgar e dotado de uma notável intensidade expressiva aliada a um inexcedível poder de comunicação, reabilitou a difícil arte de recitar poesia, prendendo a atenção do expectador, quer em sessões ao vivo (...), quer através da televisão (...).

Miguel Torga referiu-se-lhe nestes termos: «Nunca é demais agradecer a Villaret o que ele tem feito pela poesia. Os poetas devem-lhe uma espécie de requintada edição oral de alguns dos seus melhores versos; o público, esse resgata-se a ouvi-lo da preguiça que o afastava tragicamente dum convívio que nenhum oiro da terra pode suprir.»"

Ler mais aqui.

1 comentário:

perhaps disse...

Gosto de Villaret até à desmesura da minha pequena alma.
E o que melhor se diz dele é dá-lo a ouvir. Foi o que fez o meu querido professor de Português que trouxe para a aula um gravador minúsculo com esta voz de adamastor lá dentro e todos os oceanos a sumirem, pálidos, envergonhados da paixão que a sua voz por vezes atroadora, não alcança.

O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA

A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...