Meu prefácio ao livro "Conversas com os Reis de Portugal" de Galopim de Carvalho, que acaba de sair na Âncora:
O
Professor Galopim de Carvalho é um dos nomes grandes da divulgação da
ciência em Portugal. Mais
do que ninguém foi responsável pela promoção das Ciências da Terra entre nós,
através de uma uma acção incansável ao longo de décadas que passou pelas suas
aulas e pela sua investigação na Faculdade de Ciências da Universidade de
Lisboa, pelos seus livros (ainda recentemente publicou um muito útil Dicionário de Geologia), pelas suas
palestras de divulgação por todo o país e no mundo, pelo seu diligente trabalho
à frente do Museu Nacional de História Natural (onde esteve durante mais de dez
anos) e noutros locais (ainda há pouco abriu em Viseu o Museu do Quartzo, em
larga medida da sua inspiração), e pelas suas sábias intervenções na imprensa
escrita, na Internet, na rádio e na televisão.
Ficou sobretudo famoso pela organização da exposição sobre dinossauros-robôs que, em 1992, levou à Rua Politécnica mais de três centenas e meia de milhares visitantes e pela sua denodada defesa das pegadas dos dinossauros de Carenque, às portas de Lisboa, que contribuiu decerto para que uma escola nas proximidades se passasse a chamar Escola Professor Galopim de Carvalho. Mas também é inteiramente justo reconhecer a sua visão ao fundar a Feira Internacional de Minerais, Gemas e Fósseis, que ganhou raízes em três locais, e ao dinamizar uma campanha em favor do património geológico e paleontológico nacional.
Acresce a todo este labor em prol da ciência e da cultura científica, que pede meças a outros nomes grandes da divulgação científica nacional tais como Rómulo de Carvalho (o autor da Pedra Filosofal que ele homenageou ao intiular um dos seus livros Como Bola Colorida), o autor deste livro é também um escritor literário e gastronómico, tendo-nos enriquecido com títulos como O Cheiro da Madeira, O Preço da Borrega, Os Homens Não Tapam as Orelhas, Com Poejos e Outras Ervas e Fora de Portas. Pouca gente saberá que o Professor Galopim é também artista, com obras de artes plásticas já expostas, o que mais uma vez invalida a ideia comum de que as ciências não se dão bem com as artes. Mereceu amplamente os numerosos prémios e distinções que recebeu.
Ficou sobretudo famoso pela organização da exposição sobre dinossauros-robôs que, em 1992, levou à Rua Politécnica mais de três centenas e meia de milhares visitantes e pela sua denodada defesa das pegadas dos dinossauros de Carenque, às portas de Lisboa, que contribuiu decerto para que uma escola nas proximidades se passasse a chamar Escola Professor Galopim de Carvalho. Mas também é inteiramente justo reconhecer a sua visão ao fundar a Feira Internacional de Minerais, Gemas e Fósseis, que ganhou raízes em três locais, e ao dinamizar uma campanha em favor do património geológico e paleontológico nacional.
Acresce a todo este labor em prol da ciência e da cultura científica, que pede meças a outros nomes grandes da divulgação científica nacional tais como Rómulo de Carvalho (o autor da Pedra Filosofal que ele homenageou ao intiular um dos seus livros Como Bola Colorida), o autor deste livro é também um escritor literário e gastronómico, tendo-nos enriquecido com títulos como O Cheiro da Madeira, O Preço da Borrega, Os Homens Não Tapam as Orelhas, Com Poejos e Outras Ervas e Fora de Portas. Pouca gente saberá que o Professor Galopim é também artista, com obras de artes plásticas já expostas, o que mais uma vez invalida a ideia comum de que as ciências não se dão bem com as artes. Mereceu amplamente os numerosos prémios e distinções que recebeu.
O Professor Galopim de
Carvalho é, para mim como para muita gente, uma referência. Muito do que sei
sobre dinossauros e geomonumentos aprendi com ele. Tive a oportunidade de conviver com ele nalgumas
acções em favor da ciência e fiquei a admirar a sua extraordinária bagagem
científica e cultural, assim como a memória fantástica de que dá provas na sua
obra ficcional, em boa parte ligada à vida real (o título Os Homens Não Tapam as Orelhas refere-se à sua experiência na arma de
artilharia: os graduados inibiam com ditos sexistas os artilheiros de proteger
os tímpanos, o que contribuiu para a deficiência da capacidade auditiva do
Professor). Fui espeleólogo em jovem, pelo que conheço Portugal não só por cima
como por baixo, mas confesso uma pontinha de inveja pela invulgar experiência
do Professor Galopim a calcorrear o terreno nacional. Ele é um cientista e
pedagogo com os pés não só bem assentes no chão, mas também bem assentes em
todo o tipo de chão.
A presente obra procura
combinar a História de Portugal com as Ciências da Terra, ensaiando percorrer
um novo caminho na ligação entre as humanidades e as ciências. Um jovem geólogo
nascido no Alentejo (certamente alter ego
do autor, nado e criado em Évora) fala com todos os reis de Portugal, incluindo
os que integraram a dinastia filipina, sobre temas de mineralogia, geologia e
paleontologia. Esses reis são personagem sedentas de ensinar e de aprender, que
aparecem e desaparecem por processos de misterioso teletransporte. Dos diálogos
que têm lugar em vários sítios de Portugal e do Brasil, de algum modo
relacionados com a vida dos soberanos, e que estão escritos num estilo
informal, ficará o leitor a saber tudo o que os reis transmitem sobre a sua história
e tudo o que o jovem geólogo transmite sobre a sua ciência.
É como se fosse espectador invisível dos encontros que o autor imaginou. As reuniões são ficcionais, mas o conteúdo das conversas, é, em geral, informação factual, embora, nalguns casos, intercalada com opiniões que aliviam a carga didáctica em favor da dimensão humana. Apesar do seu tamanho, justificável pela longevidade da monarquia, e porque muitos são os aspectos da geologia de Portugal que importa referir, o livro lê-se com bastante agrado. O autor tem em vista os professores de História e de Ciências da Terra, nos níveis básico e secundário, que aqui podem colher a interdisciplinaridade para a cultivarem na sua escola, mas qualquer cidadão com curiosidade pela história ou pela ciência poderá lucrar da leitura. Recomendo-o, muito em particular, dada a simplicidade e clareza da linguagem, aos jovens.
É como se fosse espectador invisível dos encontros que o autor imaginou. As reuniões são ficcionais, mas o conteúdo das conversas, é, em geral, informação factual, embora, nalguns casos, intercalada com opiniões que aliviam a carga didáctica em favor da dimensão humana. Apesar do seu tamanho, justificável pela longevidade da monarquia, e porque muitos são os aspectos da geologia de Portugal que importa referir, o livro lê-se com bastante agrado. O autor tem em vista os professores de História e de Ciências da Terra, nos níveis básico e secundário, que aqui podem colher a interdisciplinaridade para a cultivarem na sua escola, mas qualquer cidadão com curiosidade pela história ou pela ciência poderá lucrar da leitura. Recomendo-o, muito em particular, dada a simplicidade e clareza da linguagem, aos jovens.
Para abrir o apetite da
leitura, dou alguns exemplos dos diálogos, escolhendo reis que têm a ver de um
modo mais directo com a minha Universidade. D. Dinis, o fundador dos Estudos
Gerais em 1290, dialoga com o geólogo no Pinhal de Leiria. Se o rei desmente o
“milagre das rosas” (uma história nada original, pois uma tia da Rainha Santa
Isabel, Isabel da Hungria, tinha protagonizado um milagre semelhante na Europa
Central) e desmonta a lenda do cultivo do pinhal para mais tarde fazer caravelas
(“plantador de naus a haver”, conforme
escreveu Fernando Pessoa), e o geólogo explica os fenómenos da meteorização dos
solos, a propósito das dunas que os pinhais defendem. Por sua vez, D. João III,
encontra-se com o investigador no Pátio das Escolas da Universidade de Coimbra,
no sítio onde hoje uma estátua recorda a transferência definitiva da
Universidade de Lisboa para Coimbra em 1537. O monarca reconhece o seu
fundamentalismo religioso na oposição à Reforma e no estabelecimento da
Inquisição (como os espíritos dos reis são eternos, o monarca declara “aprendi
muito com as gerações que me sucederam”) e o geólogo ensina-lhe mineralogia e
alquimia.
Por sua vez, D. José, que, através do Marquês de Pombal, mandou em 1772 reformar a Universidade de Coimbra, conversa com o estudioso nas ruínas do Convento do Carmoem
Lisboa. Se o rei D. José admite, por meio de uma comparação
anacrónica, que ”fui um fraco, um pau-mandado nas mãos do
Marquês de Pombal, como acontecia com o
Presidente Américo Tomás nas mãos do Doutor Salazar”,
o geólogo ensina-lhe, como era de prever naquele cenário, a tectónica e a
geofísica que explicam grandes terramotos como o que arrasou Lisboa em 1755, contribuindo
de resto ao nascimento da sismologia. A propósito do Museu Nacional de História
Natural, hoje parte dos Museus da Politécnica pertencentes à Universidade de
Lisboa, se o rei diz que
o projecto em curso na zona “pode abrir
portas a uma previsível especulação imobiliária que nada tem a ver com a função
pedagógica e social deste complexo museológico”, o geólogo acrescenta, receando a perda de autonomia do
Museu, que “devo lembrar
que este museu é o último, na área científica, a conservar o qualificativo de
Nacional”.
Esta construção dos diálogos é uma prerrogativa do autor, que representa para o
livro o que o rei deve ser para o reino.
Se a minha opinião é permitida, acho que a Universidade de Lisboa faz muito bem em juntar museus distintos que vivem há anos debaixo do mesmo tecto, na linha aliás do que fez a Universidade de Coimbra com o seu Museu da Ciência. O nome não será o aspecto mais importante, até porque ele não garante benesses, mas chamar-lhe “Museu Nacional da História Natural e da Ciência” não me parece uma boa escolha, por dar a ideia de que a História Natural não é Ciência. Talvez um dia o novo museu se venha a chamar, tal como a escola de Carenque, Professor Galopim de Carvalho...
Por sua vez, D. José, que, através do Marquês de Pombal, mandou em 1772 reformar a Universidade de Coimbra, conversa com o estudioso nas ruínas do Convento do Carmo
Se a minha opinião é permitida, acho que a Universidade de Lisboa faz muito bem em juntar museus distintos que vivem há anos debaixo do mesmo tecto, na linha aliás do que fez a Universidade de Coimbra com o seu Museu da Ciência. O nome não será o aspecto mais importante, até porque ele não garante benesses, mas chamar-lhe “Museu Nacional da História Natural e da Ciência” não me parece uma boa escolha, por dar a ideia de que a História Natural não é Ciência. Talvez um dia o novo museu se venha a chamar, tal como a escola de Carenque, Professor Galopim de Carvalho...
O leitor tem em mãos um livro
que, obviamente, como documentam os três exemplos dados, deu muito gosto ao
autor escrever. Espero que o leitor tenha o mesmo gosto em ler que eu próprio
tive.
2 comentários:
Que raio!, hoje calhou-me fazer um "raid" por algumas livrarias de Braga, à procura do livro:a Bertrand primeiro, a seguir a Fnac e depois uma outra. Nem sinal.
Para a próxima vou apenas à primeira, para o encomendar.
Informamos que o livro "Conversas com os Reis de Portugal", de A. M. Galopim de Carvalho, ainda está em fase de produção. Só deverá chegar às livrarias entre o fim deste mês e o início do próximo.
Enviar um comentário