sexta-feira, 24 de maio de 2013

Finalmente um país de falhados mas não um país falhado.

A propósito do estudo do D&B que refere um aumento ímpar do número de empresas criadas no primeiro semestre deste ano, tem-se debatido a onda de empreendedorismo que parece ter-se instalado em Portugal.

Durante muitos anos, o termo empreendedorismo vivia apenas em livros e trabalhos académicos. Porém, nos últimos anos, muita coisa mudou no panorama nacional. Ser-se empreendedor tornou-se quase uma moda. Foram criadas incubadoras, aceleradoras e parques de tecnologia por quase todo o país, algumas com enorme sucesso como o caso da UPTEC e o Instituto Pedro Nunes. O financiamento começou também a ser uma realidade, quer nas sociedades de business angels, quer nos programas QREN e mais recentemente no programa Portugal Ventures.

Começam a aparecer empresas lideradas por jovens talentosos e ambiciosos, que tiveram ousadia de sair da sua zona de conforto e criar projectos já com projecção  internacional, como a Modelo 3, que no Reino Unido se chama Simpletax.

Mais importante, a mentalidade mudou. Há uns anos eram raros os jovens que mostravam vontade de criar um projecto próprio. Hoje os melhores alunos já não ambicionam apenas trabalhar numa multinacional ou um lugar na carreira académica (tarefa quase impossível nos dias de hoje). Eles querem inventar os seus próprios empregos e mudar o mundo.

Muitas destas empresas vão falhar? Muitos destes empreendedores estão impreparados e vão perder muito dinheiro e tempo das suas vidas? O nosso mercado é pequeno para tantas empresas? O empreendedorismo tornou-se quase uma religião onde se criou a ilusão que qualquer pessoa com um computador pode ser milionária? Sim, tudo isso é verdade. Estatisticamente sabe-se que a maioria destas empresas falham com grandes prejuízos financeiros e morais para os empreendedores.

Mas, e este é um grande mas, este frenesim à volta do empreendedorismo é um sinal que, finalmente, o país está a sair da crise. Que há pessoas que acreditam, que lutam, que abdicam de um salário certo ao fim do mês por algo que dentro de uns anos as pode tornar milionárias. Finalmente perdemos o medo de correr riscos. Estamos a perder o medo de falhar e isso é um sinal de vitalidade e esperança.

Apenas há meia-dúzia de anos, acreditava-se que eram as grandes obras financiadas pelo Estado (com recurso a dívida) que iriam projectar o nosso país na senda da modernidade. Hoje já percebemos onde nos levou esse caminho. E nisso o povo português é extraordinário, já aprendemos rapidamente que somos capazes de atingir esses objectivos por uma outra via. Uma via orgânica e sustentada, não uma via feita de auto-estradas mas de pequenos carreiros e veredas que vão crescendo e um dia se hão-de tornar grandes. Mas por mérito próprio.

Individualmente podemos falhar, mas no seu todo o sistema, neste caso o país, vai tornar-se mais forte, mais inovador, mais dinâmico e muito mais rico. Assim como se honram os mortos em combate, devíamos nós também honrar os empreendedores que falharam nas suas lutas e fazer dessa “morte” uma força para que outros continuem a sua missão. Uma missão nobre de tornar o mundo um local melhor, de apostar nas possibilidades e não nos lamentos, de todos os dias, fazer com que a palavra impossível fique cada vez mais pequena.

7 comentários:

João Pires da Cruz disse...

Umas ligeiríssimas correcções/acrescento de quem, um dia, fez isso tudo sem nenhum programa de alojamento, incubação, aceleração etc...

Empreender é querer fazer por si. Por definição, está certo. Se o passo é bem dado ou mal dado são os outros que determinam ao consumirem ou não aquilo pelo qual empreendemos. Mas, à partida, estamos todos certos. Isto para dizer que alguns vão ser milionários, outros (como eu) apenas mais confortáveis, mas no fim a vitória é ter razão. Fizeste o que querias e os outros concordaram contigo.

Para quem ainda não percebeu, o mercado português morreu há 10 anos. Hoje o nosso mercado tem 300 mios de consumidores e caminha rapidamente para ser de 10^9. Aquele pensamento de que "há empresas portuguesas que vendem no estrangeiro" até pode estar na cabeça das pessoas do anterior regime (pré-euro) mas isso hoje é próximo do ridículo.

Finalmente, houve quem sempre negasse que autoestradas fosse sinónimo de crescimento ou que isso fosse, sequer, economia. Felizmente a revolução fez-se e esse tempo não vai voltar nunca mais.

De resto, 5 * para o post!

António Lucena de Faria disse...

Estou totalmente de cordo com este texto excelente do Armando e com o comentário do João Pires da Cruz. O nosso país está a mudar. São cada vez mais as pessoas que resolveram fazer parte da solução e não do problema. Pessoas que perceberam que são elas que podem fazer a diferença. Que o mundo de hoje não é o mesmo do mundo do seculo XX. Que as oportunidades são imensas. Que podemos hoje chegar a qualquer parte do planeta. Que podemos fazer o que gostamos e, desde que seja realmente bem feito, que tenha qualidade, conseguiremos encontrar quem estejam interessado em ser nosso cliente, mesmo que seja um habitante da Mongólia. Este não é um discurso politicamente correcto. Assusta muitas pessoas. Coloca em causa muitas crenças. Não dá jeito nenhum aos partidos. Mas é a verdade. Somos nós, cada um de nós, que pode e deve contribuir para uma sociedade melhor. Somos nós que temos de acrescentar valor. E todos, sem execpção, de diferente maneiras, o podemos fazer. Esta é a verdadeira revolução que já está a acontecer. A revolução do empreendedorismo.

Fernando Correia de Oliveira disse...

Permita-me discordar num único ponto, já que concordo com o conteúdo restante do texto. Diz: "Apenas há meia-dúzia de anos, acreditava-se que eram as grandes obras financiadas pelo Estado (com recurso a dívida) que iriam projectar o nosso país na senda da modernidade." Na minha opinião, não foi a ingénua crença de que o investimento público seria a solução para a modernidade. O investimento público, nos moldes em que foi desbaratado, era e continua a ser a maneira mais rápida, segura e avultada de alimentar redes de corrupção que continuam a manter este pobre país refém. Poucos se atrevem a dizê-lo, no quadro parlamentar, já que comem todos da mesma gamela - uns, o lombo; os outors, as migalhas. E vão alternando.

José Batista disse...

Será?
Eu tomara que o autor do texto e os comentaristas anteriores tenham razão.
Desejo-o do fundo do peito.
Mas, confesso, tenho receio. Ou é Portugal que é como é ou sou eu que o vejo assim: há oitocentos e setenta anos que o meu país vive no "gume" da espada, sem morrer nem viver (bem), sendo uma espécie de "improbabilidade" constante (e definitiva, por essa razão?!...)
Por que raio não me entusiasmo com a ideia de que "há pessoas que acreditam, que lutam, (...) por algo que dentro de uns anos as pode tornar milionárias"?
Mas simpatizo com o entusiasmo aqui patente. Sim, temos que dar a volta por cima, não é assim que se diz?
E agradeço aos que me fazem sentir céptico. Por favor não desistam.
Que a vida é cair e levantar, porfiar e andar.
Estimo-vos, por serem positivos. Muito bem haja(m). A sério.

por que raio nã te entusiasmas? estás velho pá.... disse...

já que tu és o pessimismo feito gente

adevia ser: há apenas meia-dúxia d'annes disse...

mas há canes e cannes

ai este antóino corrêa de oliveira do século xixi

Anónimo disse...

O seu texto é um retrato perfeito de um futuro desastroso. Vai no seguimento da propaganda utilizada pelos grandes regimes tanto esquerda como da direita. A isso de resume esta vaga de empreendedorismo a que assistimos e pouco tem a ver com coragem ou visão por um futuro.

Grande infelicidade.

...abraço

O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA

A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...