segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Todos se adestravam na arte pela imitação

Usar ideias de outrem como se nossas fossem, produzir algo com base nelas para obter produto semelhante, configura o plágio. O plágio é reprovável, estando previstas, nos mais diversos sectores em que possa surgir, sanções para quem dele se socorra. Ainda que comum, é um comportamento censurável e censurado.

Mas, como Maria Elvira Calapez aqui escreveu, nem sempre assim foi. O passado revela-nos amplas "liberdades" no uso de obra de autor, "liberdades" que hoje classificaríamos como plágio. Carolina Michaelis de Vasconcelos, na sua obra de 1910, Investigações sobre Sonetos e Sonetistas Portugueses e Castelhanos (Paris, pp-7-8) deixou-nos a sua apreciação sobre esse aspecto no que concerne à poesia.
"Todos quantos cultivaram o soneto na Península Hispânica eram discípulos dos italianos; quanto à forma, e quanto ao espírito. Quanto aos assuntos, derivavam de preferência dos clássicos e latinos. Todos se adestravam na arte pela imitação mais ou menos livre de Petrarca e de seus sucessores: quer estrangeiros como Ariosto, Tasso, Bembo, Sannazzaro, Marino; quer nacionais como Garcilaso, Boscán, Camões. Na era do Renascimento, ninguém se pejava de copiar, ou pelo menos tratar um tema já versado por outrem. Muito pelo contrário."


3 comentários:

joão viegas disse...

Ola,

"Usar ideias de outrem como se nossas fossem, produzir algo com base nelas para obter produto semelhante é, obviamente, plágio"

Discordo. Plagio é apropriar-se uma criação intelectual, o que implica apresentar como sua a obra espiritual de outrem, cuja forma especifica (e não a "ideia") leva o cunho particular da pessoa em causa, por ter sido criada por ela.

As ideias não são apropriaveis. Posso usar sem qualquer problema as ideias de Platão, de Walt Disney, ou de Agustina Bessa Luis, por exemplo como eles proprios fizeram em relação às ideias de Parménides, dos irmãos Grimm ou de Flaubert...

O que não devo fazer, por ser plagio, é publicar como sendo uma obra minha o dialogo "Parménides", o filme animado "Branca de Neve", ou o romance "Fany Owen", quando estou apenas a copiar servil e mecanicamente as obras dos autores citados.

Boas

Helena Damião disse...

Estimado leitor João Viegas
Sou tentada a concordar com a sua discordância.
Efectivamente a questão do plágio não se tem posto do mesmo modo nos campos da ciência e das artes. Aqui, a recriação é uma figura a considerar, que não pode ser confundida com apropriação de ideias ou trabalho de outrem, será antes um ponto de partida para...
Mas, tanto na ciência como na arte, esta fronteira tem sofrido alterações, sendo que nem sempre se afigura como evidente, acabando, em alguns casos, a ser o tribunal a decidir.
Cordiais cumprimentos,
MHD

joão viegas disse...

Prezada Helena Damião,

Claro. A minha observação era apenas uma precisão sobre a definição do que entendemos (hoje) por plagio. Quanto ao resto, é evidente que estamos a falar de uma matéria na qual as mentalidades mudaram substancialmente ao longo da historia, o que deveria conduzir-nos a relativizar as nossas certezas "modernas".

Boas

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