O que é que têm em
comum a bela distribuição das pétalas de uma rosa, as esplendorosas conchas em
espiral dos moluscos, o famoso quadro de Salvador Dali “o Sacramento da Última
Ceia”, a reprodução dos coelhos e a forma das galáxias? O “número de ouro”.
O “número de ouro”, igual a 1,6180339887…(uma dizima
infinita não periódica) é comummente identificado pela letra grega fi (ϕ),
a primeira letra do nome Fídias, escultor grego (c. 490 a c. 430 a.C.) cujas
esculturas terão sido supostamente influenciadas pela proporção indicada pelo
“número de ouro”.
Esta ligação entre a matemática e as artes é muito mais
comum e antiga do que normalmente temos presente, remontando seguramente à
civilização jónica. O “número de ouro” tem fascinado não só artistas plásticos
mas também biólogos, físicos, astrónomos, músicos, historiadores, arquitectos,
psicólogos, filósofos, místicos, entre outros. De facto, o "mistério" da
frequência com que este número aparece ao longo da vida inspirou e influenciou pensadores
de todas as disciplinas como nenhum outro na história da matemática.
O “Número de Ouro” é também o título no novo volume (n.º 195)
da incontornável colecção “Ciência Aberta, da editora Gradiva que o acaba de
publicar. Com a autoria do astrofísico Mario Livio (do Instituto de Ciência do
Telescópio Espacial Hubble), “O Número de Ouro – a história de Φ ,
o número mais assombroso do mundo”, recebeu o Prémio Internacional Pitágoras - Peano - para melhor livro de divulgação matemática. Este livro é de facto fascinante
e está escrito de uma forma muito cativante.
Mario Livio vai muito para além de descrever as propriedades
matemáticas, geométricas, associadas ao número de ouro. Ao longo de nove
capítulos (1 - Prelúdio a um número; 2 - A frequência e o pentagrama; 3 -
Debaixo de uma pirâmide a apontar para as estrelas?; 4 - O segundo tesouro; 5 -
Filho afortunado; 6 - A divina proporção; 7 - A liberdade poética também é um
direito dos pintores; 8 - Dos mosaicos aos céus; 9 - Deus será matemático?), o
autor guia-nos através da história da matemática e da humanidade, numa
linguagem sóbria e fluída, contida no entusiasmo que o número desperta
constantemente.
Mario Livio desmistifica e desmonta inúmeras associações,
forçadas, erradas, documentadas em fontes dúbias ou mesmo inexistentes, e que
existem na literatura sobre a presença do “número de ouro” em várias obras de
arte e arquitectónicas da história da humanidade. Através de uma análise
rigorosa às fontes e aos argumentos que vários autores usaram ao longo da história
do “número de ouro”, o autor deste livro eleva-nos ao interesse genuíno sobre este número de forma arrebatadora e despojada de falsa ciência.
O astrofísico escreve no primeiro capítulo do livro
(Prelúdio a um número) que o objectivo de nos ajudar a obter alguns
conhecimentos sobre as bases daquilo a chama a “numerologia de ouro” assim como
o de transmitir o lado humano que sempre esteve presente na história deste
número, norteou a sua escrita.
Para Roger Penrose, emérito matemático da Universidade de
Oxford, este livro é “um trampolim maravilhoso para o extraordinário mundo da
matemática e da sua relação com o mundo físico tal como encarado da Antiguidade
aos tempos modernos”.
Ao sabor de inúmeras histórias, e à “boleia” do
“número de ouro”, Mario Livio consegue transmitir de forma simples inúmeros
conceitos e elementos que são fundamentos de várias áreas da matemática. Ao
descrever as propriedades implícitas no “número de ouro”, faz um apelo à nossa
atenção para mundo à nossa volta e usa a matemática para salientar a sua beleza
e o fascínio, o espanto, que as coisas misteriosas sempre despertaram na mente
humana.
Recomendável, ou mesmo imprescindível, para mostrar o quanto a
matemática é útil para o conhecimento do cosmos e como ela está presente na sua
beleza.
António Piedade
Ficha bibliográfica:
O Número de Ouro - A história de Fi, o número mais assombroso do mundo
Autor: Mario Livio
Editora: Gradiva
Colecção: Ciência Aberta
Páginas: 392
Ano de edição: 2012
ISBN: 978-989-616-496-6
Capa: Brochado (capa mole)
6 comentários:
Ah, eu bem esperava por António Piedade.
Agora veja lá se, depois deste texto, fica muito tempo "ausente".
Caro José Batista
Mais uma vez muito obrigado pelas suas palavras generosas.
Encherei a ausência com escrita assim que possível.
Um abraço
António Piedade
Seria bastante conveniente a menção do nome do tradutor
(quem é, o que faz) e, se possível, um comentário sobre a qualidade
da tradução.
Gosto! Realmente gosto, quando encontra-se a palavra certa para expressar, traduzir e refletir sobre a dimensão ou, de outros, assim a bem queira da importante acolhida a ciência. É, que certamente o nível exigido atualmente para formação, reveste em primoroso princípio os cientistas, preparando-os acerca deste milênio.
Ontem teve a oportunidade de moderar sobre a América e propriamente questões do Ocidente em TV aberta, aqui no Brasil o escritor Vargas Llosa. E, fora de certa forma, conceitual; chamara a atenção e prodigioso da abertura (enfrentamento) que tivera a respeito da Royal Academia, defendendo-a através de esclarecimento e princípios, pois o escritor instigara a arte em advertência.
É claro, algo seria necessário, face a presença de valor. Esta entrevista de ontem, demarca a notoriedade e importância de assuntos que nem passam a margem do desconhecido.
Professor Augusto J. F. Oliveira, não me apercebi que o senhor era um leitor do blog DRN.
Para mim isso é motivo de enorme satisfacão.
O Senhor foi assistente dos grandes mestres Santos Guerreiro e José Sebastião e Silva.
Peco-lhe por isso que, sempre que possa, deixe-nos aqui o seu testemunho desses exemplos maiores que eles foram. O país bem precisa de bons exemplos.
Obrigado.
Por lapso não indiquei o nome do tradutor: João Nuno Torres. Revisão do texto por Helena Ramos.
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