Nick Lane transmite, de forma original, questões complexas com uma facilidade cativante. Com coragem intelectual confronta teorias concorrentes, relata episódios de como a ciência se processa e produz conhecimento, pelo que acresce a este livro uma dimensão didáctica sobre como a ciência funciona. Ao longo da leitura do livro, sentimo-nos em cima do promontório do conhecimento actual, sentados na sua fronteira a contemplar o desconhecido no horizonte que se espraia em todas as direcções do tempo (passado, presente e futuro), e sentimos a vertigem do abismo que nos atrai para o erro, que evitamos e minimizamos, nesta humanidade conscientemente falível.
terça-feira, 31 de julho de 2012
"A ESPIRAL DA VIDA"
Nick Lane transmite, de forma original, questões complexas com uma facilidade cativante. Com coragem intelectual confronta teorias concorrentes, relata episódios de como a ciência se processa e produz conhecimento, pelo que acresce a este livro uma dimensão didáctica sobre como a ciência funciona. Ao longo da leitura do livro, sentimo-nos em cima do promontório do conhecimento actual, sentados na sua fronteira a contemplar o desconhecido no horizonte que se espraia em todas as direcções do tempo (passado, presente e futuro), e sentimos a vertigem do abismo que nos atrai para o erro, que evitamos e minimizamos, nesta humanidade conscientemente falível.
O que não é permitido no comportamento do estudante
Centrando-nos na fraude académica, que tem tido destaque neste blogue, o documento afirma a importância de a instituição académica se pautar pela honestidade e determina que não é permitida a cópia, a falsificação e o plágio.
"O percurso de aprendizagem [deve ser] marcado pelo trabalho honesto, esforçado, perseverante e promotor das suas próprias capacidades” e, nessa medida, não é permitido “falsear os resultados de provas e trabalhos académicos, nomeadamente através da utilização de práticas de plágio, obtenção fraudulenta do enunciado da prova a realizar, substituição e obtenção fraudulenta de respostas, simulação de identidade pessoal ou falsificação de pautas e enunciados".
Esta explicitação de regras é positiva porque constitui um instrumento que, se divulgado, prevenirá e deterá comportamentos fraudulentos, apoiando também decisões em caso de prevaricação.
Mas há algo no documento que me incomoda... Efectivamente, ele decorre da necessidade que se foi acentuando de tratar casos concretos, e, em sequência, do reconhecimento que alguns (muitos?) alunos do ensino superior não integraram no seu percurso escolar o valor da honestidade académica.
DE COMO UM DOS "DEUSES DO DARDO”, DO SÉC. XXI, DE CARLOS FIOLHAIS, ATINGIU MORTALMENTE UM ATLETA NO SÉC. XX,
E DE COMO NO SÉC. V a.C., ANTIFÃO NOS ESCLARECE, NAS SUAS TETRALOGIAS, AS CONSEQUÊNCIAS FILOSÓFICO-JURÍDICAS
por João Boaventura
Após a leitura do memorável trabalho, em epígrafe, do Professor Carlos Fiolhais, de imediato o associei a um acontecimento raro, o da morte do atleta sueco Bo Larsson, no Estádio Johanneshov de Estocolmo, quando participava numa corrida de estafetas, por ter sido atingido acidentalmente por um dardo lançado por outro atleta, durante um torneio de atletismo nocturno, segundo informava então o “Diário Popular”, de 29.08.1959.
E nesta sequência, sem vislumbre de qualquer consequência filosófica ou jurídica, resultante de tão infausto acontecimento, no século XX, o único recurso foi o de recorrer a um texto de debate fictício, do séc. V a.C., da autoria de Antifão, professor de eloquência e de direito, autor das referências, “Da verdade”, “Da concórdia”, e das “Tetralogias”, onde os seus discursos judiciários, constituíam modelos de argumentação, para factos que poderiam ocorrer, e serem pleiteados. Os três títulos eram os textos através dos quais Antifão transmitia os seus ensinamentos aos alunos, e assim se formariam os homens do direito desportivo.
Nas “Tetralogias”, esquematicamente, agrupam-se 4 discursos, cabendo dois ao advogado de acusação e dois ao de defesa:
- Exposição da acusação
- Argumentação da defesa
- Resposta
- Réplica
No caso presente os acusadores e os defensores são os pais do filho atingido pelo dardo e do do lançador do dardo mortífero, e cujos pleitos se reproduzem:
ANTIFÃO 1.
In Anthologie des Textes Sportifs de l'Antiquité
Recueillis par Marcel Berger et Émile Moussat
Grasset, 3 ème Édition, Paris, 1927, pp 92-95
João Boaventura
"A mais linda história de um amor universitário"
Começa assim esse programa:
Em 1924 uma judia alemã de nome Hannah Arendt matriculou-se na universidade de Marburg. Na cadeira de filosofia dava as suas aulas o carismático e já relativamente famoso professor Martin Heidegger. Heidegger tinha 35 anos e estava então a acabar a obra mestra que o projectaria para os mais altos cumes da filosofia do século XX... "Ser e Tempo", a publicar em 1927. Era um homem casado e tinha dois filhos pequenos, além de casado era um homem muito sério, austero, rígido, seguia princípios católicos, filho de camponeses e dedicado ao trabalho científico mais do que a tudo o resto (...). Hannah Arendt tinha 18 anos. Martin Heidegger era o professor mais popular de Marburg, dizem que as aulas dele eram hipnotizantes, que o pensamento dele era espantosamente inovador (...).
segunda-feira, 30 de julho de 2012
A propósito da educação física e do desporto na escola
Embora não seja hábito nosso republicar artigos de opinião saídos na imprensa fazemos uma excepção para este, da autoria do ex-responsável pelo Instituto Português de Desporto, José Manuel Constantino, a propósito da educação física nas nossas escolas, tema já aqui abordado. Além do mais é oportuno por estarmos em altura de Jogos Olímpicos:
Constituem um verdadeiro retrocesso no ensino público. São um produto de gente culturalmente analfabetizada, para quem saber ler, escrever, contar e falar inglês é suficiente. E são um teste ao valor das declarações retóricas do Governo sobre a importância das atividades físicas e desportivas. E sobre as preocupações relativamente aos modos como os jovens constroem os seus estilos de vida.
A decisão é do Governo. Mas o terreno foi-lhe preparado. Nada disto é filho de pais incógnitos. Para perceber o que se está a passar é preciso voltar atrás. E recordar que há cerca de três décadas, e quando se começaram a acentuar as teses de retorno à matriz identitária do início do século - a pureza da educação física contra os malefícios do desporto e da competição -, houve, nessa altura, quem alertasse para o problema que consistia em desvalorizar a principal matéria de ensino, o desporto, em nome de uma certo purismo académico da educação pelo movimento e da aptidão física sem conteúdo normativo. E sobretudo sem uma prática escolar que correspondesse à retórica argumentativa dos seus profissionais. Houve quem denunciasse aquilo a que conduzia a disciplina, ao mimetizar os tiques de pedagogismo que invadiram o sistema de ensino público, arrastando-a por força da contaminação das chamadas "ciências da educação", para uma lógica de verdadeiro descompromisso social quanto ao carácter prático e utilitário dos saberes e das competências que devia fornecer aos alunos. A obsessão didática assente em crenças de suposto valor científico fizeram com que a educação física e o desporto na escola perdessem a sua alma. E a formação de professores de Educação Física, sobretudo nas ESE, foi qualquer coisa de aterrador. A prazo o resultado só podia ser um: algo facilmente descartável. Porque se pretendia justificar e defender uma disciplina através de uma narrativa de utilidade social que os factos não sustentavam. Ninguém nos podia levar a sério. E com isso se perdeu o caráter conspícuo da educação física e do desporto na escola, enquanto, cá fora, aumentava a procura de atividades físico-desportivas.
A resposta à situação, agora criada, não está na ciência. Ou em enunciar um conjunto de vantagens de que os alunos supostamente beneficiariam e que perdem com a medida anunciada. Bem podem acumular-se objetivos salutogénicos, como a luta contra sedentarismo e a obesidade, que qualquer observação atenta e séria sabe que o contributo concreto da disciplina tal como é ministrada é perfeitamente inócuo. Chegámos aqui, em parte, precisamente por causa deste tipo de boa ciência servida por uma má prática. A resposta a este problema está na política e na capacidade corporativa dos profissionais de educação física perceberem por que razão se chegou a este ponto. E baterem o pé. Mas para isso precisam de mudar de estratégia. E entenderem o que está em jogo. Desde logo para que serve a educação física na escola. E o mal que lhe faz, se a levarmos para algo que não seja o trabalho e o investimento corporal dos alunos orientado para a condição físicomotora, para uma educação corporal com conteúdos culturalmente significativos de que o desporto, o aperfeiçoamento e a performance desportiva são um dos seus elementos preferenciais. Que é o contrário de uma espécie de recreio animado com a presença do professor, que foi aquilo em que muitas aulas se transformaram. O discurso do deixar-andar e do facilitismo, de que a escola, mais do que um local de trabalho, de esforço e de superação, em torno das condutas físico-motoras, devia ser um espaço de ambiente agradável, não constrangedor, facilitador das aprendizagens, respeitando as "necessidades" e "personalidades" dos alunos, não foi um contexto organizacional muito estimulante para respeitar a educação física. Sobretudo quando no clube desportivo ou no health club a coisa, para muitos técnicos, alunos e pais, passou a fiar mais fino.
E onde era preciso apresentar trabalho e resultados. Sei que ao dizer isto me exponho a que caia o Carmo e a Trindade. E que mil razões, científicas e outras, esgrimirão contra estes argumentos. E não sobrarão as críticas. Paciência.
É o que penso e não tenho vontade de o silenciar. É evidente que nestas coisas sempre houve exceções: a de muitos docentes que deram o melhor de si aos alunos e à profissão e que não merecem esta desvalorização. A de instituições de formação que se recusaram a alinhar na moda. Uns e outros têm autoridade moral para falar e denunciar o atropelo ministerial. Mas este é o resultado de muitos que, na ausência de qualquer controlo e exigência profissionais, desvalorizaram o seu objeto de trabalho e com ele a profissão. E esses são, junto da comunidade, os melhores aliados desta decisão governamental. Por muito que digam o contrário. E que agora a contestem.
José Manuel Constantino
Público, 2012-07-28
domingo, 29 de julho de 2012
sábado, 28 de julho de 2012
OURO E PRATA PORTUGUESA NAS OLIMPÍADAS
O capitalismo não é ético
Teresa Forcades nasceu em 1966, é médica, teóloga e monja. E é uma mulher extraordinária. Muito corajosa, fala claro e sem complexos.
Numa entrevista a um canal catalão defende que o capitalismo não é ético e faz a sua denúncia de uma forma desassombrada. Segundo ela, o mercado "foi sempre regulado a favor de certos interesses: da realeza, interesses protecionistas, da classe dominante, do parente dos governantes de turno." Mercado livre é "uma hipocrisia, uma falácia".
Retenho um exemplo que me parece lapidar. Teresa exemplifica que "no mosteiro, temos uma pequena empresa de cerâmica e há uma pessoa de fora que lá trabalha; se lhe pagarmos um euro e ganharmos mil, o capitalismo dirá: que bem! Mas isto é indigno, pois vai contra a dignidade do trabalho." As diferenças matam a democracia, "talvez esteja bem que eu ganhe um e tu ganhes quatro ou até dez, mas mil não pode ser de modo nenhum".
Isto tem muito significado.
Eu disse coisas semelhantes numa Tedx Talk em Abril de 2012. E isto não é uma revolução (grande música de Tracy Chapman).
A ética, a responsabilização e o mérito são valores basilares de qualquer sociedade democrática justa e saudável.
Nota: este texto foi originalmente publicado em http://www.re-visto.com
sexta-feira, 27 de julho de 2012
A MORTE DE JOSÉ
Um Calor corrosivo inundou o seu corpo, para depois esfriar sem consciência num último suspiro.
Notar bem: Nesta estação balnear, não se exponha durante períodos prolongados ao sol, principalmente entre as 11h00 e as 16h00, mesmo que tenha aplicado um protector solar adequado ao seu tipo de pele. Não provoque o melanoma.
António Piedade
Yscope: uma invenção portuguesa!
Esta tecnologia, resulta da visão de um dos médicos do serviço de neurocirurgia do Hospital de Santa Maria. Para a desenvolver, foi estabelecida uma parceria com a empresa YDreams, e este é o resultado. O projecto começou há nove meses. Agora, há outros produtos concorrentes, de empresas estrangeiras. Mas este foi o primeiro! Entra agora em testes no bloco operatório e tem boas probabilidades de ser o primeiro a chegar ao mercado. E, segundo dizem os responsáveis pela sua concepção: é o melhor!
OS DEUSES DO DARDO
Manuel Alegre: Pintar a Cor do Vento
A Educação Física Escolar na Perspectiva de um Fisioterapeuta
Um plano nacional para ensino da Informática
Texto recebido de Armando Vieira, físico e empresário:
O sector das tecnologias da informação está a fervilhar e a revolucionar o mundo. Numa economia deprimida, milhares de vagas no sector da informática estão por preencher, por falta de candidatos, em Portugal e por quase todo o mundo. O sector da tecnologia deve crescer muito acima de todos os outros até 2020 e com salários muito competitivos.
Se a tecnologia é o futuro, a escola está a fazer um trabalho lamentável na preparação dos jovens. Apesar da alta empregabilidade, o número de licenciados em informática não tem acompanhado a procura, e este, está longe de ser o curso mais desejado pelos alunos.
Pior, a nível do ensino secundário, praticamente não existe formação nesta área, e quando existe, basta um olhar de relance para perceber que os conteúdos rotulados de “ciência da computação” ou TIC, não mudaram nos últimos 10 anos. A maioria limita-se a aprender a usar o Microsoft Word e o PowerPoint.
Resultado? A maior parte dos alunos acaba o ensino secundário sem nunca ter aprendido conceitos básicos de programação ou de redes de computadores. Pior, adquirem ideias preconceituosas, quase todas falsas, sobre o mundo da informática: que é só para geeks, que é muito complicado, que é aborrecido… Na verdade, a informática é talvez das áreas mais criativas, abertas e ricas (em todos os sentidos da palavra) de se explorar.
A Informática oferece várias vantagens em relação, por exemplo, à matemática. Os alunos recebem um feedback imediato do seu esforço e normalmente ficam empolgados com o que conseguem fazer. Basta aprender uns comandos de HTML e já podem apresentar uma página web ao mundo.
A Informática não é considerada uma competência nuclear como a matemática ou as ciências, mas sim opcional e muitas vezes marginalizada. Porque não é a Informática uma competência nuclear nos curricula do ensino secundário? Porque não ensinamos os nossos jovens a programar e expressar a sua criatividade através da infinita gama de linguagens e plataformas disponíveis? Em Silicon Valley milhares de startups estão a reinventar o mundo e a tecnologia graças às possibilidades da informática e a investimentos agressivos de investidores privados. Porque não podemos fazer o mesmo em Portugal e apostar fortemente nas competências informáticas?
Talvez o maior problema seja o de encontrar professores qualificados e certificados. Mas não é uma tarefa impossível se for lançado um plano ambicioso e competitivo para formar e cativar esses talentos. Israel conhecida como a nação Start-Up tem a maior densidade de startups tecnológicas do mundo. Na década de 90 o governo lançou um ambicioso plano para por a informática em pé de igualdade com outras áreas nucleares. Resultado, o número de estudantes do ensino secundário que aprenderam a programar é praticamente o mesmo dos que estudaram física.
Mas lançar um plano ambicioso de ensino da informática não é sinónimo de povoar a sala de aulas com “Magalhães” ligados à Internet. Se este hardware não for complementado com programas curriculares rigorosos e bem estruturados a seu efeito pode ser mais noviço que benéfico.
Está na hora de lançar um audacioso plano de aprendizagem de informática nas escolas secundárias de forma a motivar e preparar os alunos para o futuro e não para o passado. Paralelamente, reforçar o número de vagas no ensino superior e profissional para satisfazer a procura do mercado de trabalho. Finalmente, será necessário incentivar que muitos licenciados, sem competências especializadas em informática, possam realizar algum tipo de reconversão rápida e possam aprender algo que possa fazer a diferença na altura de procurar emprego. Estamos a perder oportunidades únicas e não nos podemos dar ao luxo de o fazer.
quinta-feira, 26 de julho de 2012
“O Primeiro Alquimista – A Idade do Bronze em Portugal”
Sofia Martinez (n. 1977, Lisboa) é licenciada em Línguas e Literaturas Modernas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Colaborou no suplemento literário juvenil DN Jovem entre 1992 e 1995. Participou com dois contos na recolha "Mosaico", dedicada a Manuel Dias pelos autores dessa obra coletiva. Em 2006 publicou um primeiro romance, "O Caçador e a Curandeira". Tem contos e poemas em várias gavetas. Vive em Bruxelas desde 2007, com o marido e os dois filhos.
quarta-feira, 25 de julho de 2012
EU is sleepwalking toward a disaster
Um conjunto de professores de Economia do Institute for New Economic Thinking produziu um documento que recomendo que vejam. E dizem, logo a arrancar: “We believe that as of July 2012 Europe is sleepwalking toward a disaster of incalculable proportions. Over the last few weeks, the situation in the debtor countries has deteriorated dramatically.”. Mas todos os partidos portugueses atuam como se não fosse nada com eles, ao bom estilo da banda do Titanic.
Leiam e pensem por vocês mesmos.
Recensão Crítica a “Por que Choramos Quando Cortamos uma Cebola?”
ROBERT HOOKE E A FORÇA ELÁSTICA
Meu prefácio ao livro Lições de Potentia Restitutiva ou da Mol a, de Robert Hooke, com introdução, tradução e notas de Isadora Monteiro, In...
-
Perguntaram-me da revista Visão Júnior: "Porque é que o lume é azul? Gostava mesmo de saber porque, quando a minha mãe está a cozinh...
-
Usa-se muitas vezes a expressão «argumento de autoridade» como sinónimo de «mau argumento de autoridade». Todavia, nem todos os argumentos d...
-
«Na casa defronte de mim e dos meus sonhos» é o primeiro verso do poema de Álvaro de Campos objecto de questionamento na prova de Exame de P...