sábado, 31 de março de 2012

Quintas do Conservatório: Cantos à Morte

Informação chegada ao De Rerum Natura:

No dia 5 de Abril às 21h30, no Conservatório de Música de Coimbra.
CONFERÊNCIA CANTOS À MORTE, POR LUÍS DO AMARAL ALVES

A entrada é livre.


Revisitam-se grandes obras dos compositores Johannes Ockeghem, Tomás Luis de Victoria, Heinrich Schtuz, Henry Purcell, Johann Sebastien Bach, Wolfang Amadeus Mozart, Robert Schumann, Johannes Brahms, Giuseppe Verdi, Gabriel Fauré, Kurt Weill, Benjamin Britten, Gyorgy Ligeti. De comum entre elas, a celebração da morte através da música.
A acompanhar ilustrações da apropriação da morte pelas artes plásticas contemporâneas e sinopses históricas da evolução da cultura ocidental nos domínios da literatura, dot eatro, da ciência, da geopolítica.

A importância da globalização da educação e da pesquisa


O processo de internacionalização da educação superior, iniciado há uma década, tornou-se irreversível e exige o engajamento das grandes universidades, sejam elas públicas ou privadas.
Atualmente, 3 milhões de estudantes estão fora do seu país de origem, e a expectativa é que em 2025 esse número suba para 8 milhões. Assim, a internacionalização deixou de ser apenas uma atividade acadêmica para se tornar um negócio. Singapura, que pratica um programa emblemático de atração de estudantes, extrai desse contingente 1,9% de seu PIB – o que não é desprezível – e no Reino Unido 30% dos estudantes de pós-graduação são de fora do país.
Agora, como diferenciar uma instituição de um país que pratica um programa de atração de estudantes estrangeiros sério das oportunistas? Essa é a equação que devemos resolver.
O primeiro sintoma de uma instituição séria é que ela permite a reciprocidade e enxerga a instituição brasileira como uma parceira, e não como um cliente. Para tal, as instituições devem negociar projetos e não quantidade de alunos. Tais projetos devem envolver trocas de estudantes e professores para que a integração seja completa. Vários programas de agências de fomento facilitam essa relação, mas, no entanto, se restringem à pesquisa e não contemplam a mobilidade de alunos de graduação.

Com o programa Ciência sem Fronteiras, do governo federal, podemos desenvolver projetos conjuntos, multidisciplinares, com um grupo de alunos de graduação oriundo das duas escolas em igual número, orientado por dois professores, um de cada instituição. O grupo realiza um projeto previamente discutido entre os orientadores, sendo uma fase executada no Brasil e outra no exterior. Esse projeto deve assegurar a paridade no intercâmbio e estimular relacionamentos mais profundos na área de pesquisa.

Devemos pensar também naqueles alunos que não podem sair do País. Como inseri-los no processo de internacionalização? Ninguém pensa nisso, pois entende-se a internacionalização como um processo que exige a mobilidade estudantil, o que não é verdade. Uma alternativa interessante consiste em convidar professores de universidades estrangeiras para ministrar, na sua língua nativa, seu curso no Brasil. O Ciência sem Fronteiras contempla essa modalidade. Como é difícil a permanência de um professor por longo período, poderíamos utilizar o período de férias escolares para essa atividade. Nosso aluno teria um curso de uma universidade estrangeira, com certificação da instituição de origem, que poderia eventualmente ser utilizado para equivalência com disciplinas de seu currículo.

Comparado com as universidades de classe mundial, temos muito a fazer para nos integrarmos, como se deve, no processo de internacionalização. A quantidade de professores estrangeiros em nossas universidades é desprezível, apesar de haver um bom número de publicações em parceria com professores do exterior. No entanto, nosso país apresenta, no momento, condições de atrair jovens talentos para cursarem nossas universidades e para isso precisamos de um projeto de Estado para viabilizar essa proposta. A Austrália, cuja população é menor que a região metropolitana de São Paulo, absorve mais de um décimo dos estudantes estrangeiros em intercâmbio com políticas semelhantes.

Enfim, sendo audaciosos, devemos tentar seguir o exemplo dos Estados Unidos e da Suíça, os quais atualmente são os maiores importadores per capita de sua elite científica, e nos tornar, com facilidade, um hub latino-americano de destino dos jovens talentos.

sexta-feira, 30 de março de 2012

A culpa é da universidade.

A fraude académica deve ser tão antiga quanto... os trabalhos académicos. Não quero como isto dizer que seja uma coisa natural com a qual se tem de ser complacentes. Na verdade, as Escolas, seja de que nível forem, não podem aceitá-la e muito menos alimentá-la.

No caso das Universidades, tenho observado que passam por momentos de maior tolerância à fraude a que se seguem momentos de menor tolerância. Parece-me que, felizmente, caminhamos para um momento destes.

Instituições prestigiadas, sem demonstrarem receio do impacto na opinião pública, contabilizam casos e tomam medidas correctivas; investigam e tomam medidas preventivas.

Isto a propósito duma notícia recente que, entre nós saiu no Público: Pál Schmitt, antigo campeão olímpico de esgrima doutorou-se há dez anos, em Educação Física, por uma universidade prestigiada da Hungria. Eleito Presidente desse país, vários olhos se terão direccionado para a sua vida e obra. Pelo menos um par deles viu aí uma grandessíssima nódoa: a tese que apresentou era, pelos vistos, plagiada de outros textos. Melhor: integralmente plagiada!

Reunida a entidade académica que investigou o assunto decidiu, por maioria, retirar-lhe o grau.

Mas, afirma essa entidade, nesta situação o plagiador é o menos culpado, pois a culpa máxima é da universidade que  "cometeu erros profissionais por não ter descoberto a identidade desses textos a tempo, possivelmente dando a entender ao autor que a sua dissertação preenchia os requisitos”.

Uma decisão que, na minha modesta opinião, é muitíssimo acertada. O exemplo vem de cima, são as instituições que, em primeira instância, têm obrigação de defender o valor do conhecimento e de impedir, por todos os meios, que esse valor seja vilipendiado.

Crianças e jovens nas Vidas de Plutarco

Informação chegada ao De Rerum Natura.


A biblioteca Classica Digitalia tem o gosto de anunciar uma nova publicação da Série Ensaios.

Carmen Soares: Crianças e jovens nas Vidas de PlutarcoCoimbra, Classica Digitalia/CECH, 2011). 137. 
PVP: 10 € / Estudantes: 8 €

Os volumes dos Classica Digitalia são editados em formato tradicional de papel e também na biblioteca digital. OeBook correspondente (cujo endereço direto é dado nesta mensagem) encontra-se disponível em acesso livre. O preço indicado diz respeito ao volume impresso.

Onde está a sabedoria?

O livro é de 2004 e saiu em Portugal em 2008, mas só agora, em 2012, o pude ler. Isso não tem qualquer importância porquanto se trata de um livro sem data, do passado para o futuro.

É um livro sobre livros, mas não sobre quaisquer uns: é sobre uma mão cheia daqueles que marcam a ocidentalidade, mais precisamente sobre símbolos em que se detém o nosso olhar para o mundo e que o direccionam, que orientam a maneira como pensamos e nos pensamos no recanto da individualidade.

Um livro “para leitores comuns” sobre livros, ou melhor, sobre pessoas, algumas desconhecidas, que têm escrito de modo “sapiencial” (página 16), porque reúnem sabedoria, ensaiam-na, firmam-na e transmitem-na: “O ensaio pertence a Montaigne, a epopeia a Homero e o romance para sempre a Cervantes” (página 111).

Quem escreveu esse livro foi Harold Bloom quando convalescente duma doença que quase o matou, o que faz toda a diferença na pena recta, objectiva, deste leitor, crítico literário e professor em Yale.

Trata-se, pois, dum testemunho, à beira do pessoal, sobre o absolutamente essencial entre o essencial, sobre a palavra que deve ficar no fim duma vida de leituras, que confessadamente se orientou por três critérios: “o fulgor estético, a força intelectual e a sabedoria” (página 15).

É preciso (talvez) ter lido os livros de que Bloom fala para se perceber exactamente do que fala, mas, percebendo-se a leitura flui, mostrando linhas de sabedoria que conhecemos ao ponto de orientarem a nossa vida, sem termos consciência de que as conhecemos. Logo, é um livro que ilumina.

Sendo um livro sobre livros onde está sabedoria seria de pensar que Bloom subliminar ou explicitamente recomendando a leitura, num tempo em que todos a recomendam e para todos os males. Não é o caso, escreveu ele: "Eu penso que lemos para reparar a nossa solidão, embora no plano pragmático quanto melhor lermos, mais solitários nos tornamos. Não posso considerar a leitura um vício, mas a leitura também não é uma virtude (página 95).

Referência completa:
- Bloom, H. (2008). Onde está a sabedoria? Lisboa: Relógio D´Água.

quarta-feira, 28 de março de 2012

O PRAGMATISMO DO MINISTRO NUNO CRATO


“Atingir o ideal écompreender o real “ (Jean Jaurès, 1859-1914).

Dobram a rebate os sinos da catedral da ignorância perante a anunciada decisão ministerial sobre a realização de exames nacionais destinados a avaliar o aproveitamento dos alunos do 1.º ciclo do ensino básico.

Aliás, em hábito que lhe corre em veias contestatárias, a voz teatral da ex-secretária de Estado da Educação do Partido Socialista, Ana Benavente, embora, como diria Eça, "a luz do gás não lhe faça reluzir o louro esplendor dos seus cabelo
s", não tardou em ecoar pelo país fora a anunciar a heresia das reformas do Ministro Nuno Crato “como um golpe de estado na educação”. Aplaudo a sua clarividência em reconhecer tratar-se de um golpe de estado contra uma ditadura igualitária, isso sim, entre estudantes aplicados e alunos cábulas, mercê de um passado de facilitismo que tanto tem contribuído para o atraso cultural e científico da juventude portuguesa tendo, inclusivamente, um antigo ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do XVII Governo Constitucional, Mariano Gago, declarado que a Literatura Portuguesa representava um funil para a entrada de alunos em determinados cursos profissionais (mais adiante se fará destacada referência a esta verdadeira boutade!).

Mas aproveitando a “bucha”, como se diz em linguagem do teatro, antes, gostaria de recordar que no antigo ensino técnico, referindo-me em particular às escolas industriais, esta disciplina era ministrada com exigência assinalável. Digo-o com conhecimento de causa por ter iniciado a minha docência na Escola Industrial Mouzinho de Albuquerque da então Lourenço Marques. Ainda hoje recebo mails de antigos alunos que bem justificam a qualidade desse aprendizato em contraste com os nossos dias em que, por exemplo, indivíduos aspirantes ou possuidores de diplomas do ensino superior dão erros de concordância gramatical que levariam ao chumbo na antiga 4.ª classe do ensino primário. Por um certo pudor (que, todavia não me exime desta constatação) não apresento casos concretos por serem do domínio público e copiosamente denunciados.

Para não correr o risco de ser considerado como fazendo coro tardio com esta medida de Nuno Crato, já em anos anteriores apareci a gritar a nudez de um ensino que não ensina e a que é passada agora, a ainda que tardia, certidão de óbito. Competindo-me, ipso facto, o ónus da prova, colho, obedecendo a critérios de cronologia de publicação, excertos de três posts por mim publicados neste blogue e que o testemunham. Assim:

1.º excerto:Só por absurdo, pode passar pela cabeça de alguém conceber um treinador de atletismo a adestrar um atleta para uma maratona olímpica sem que o resultado dos treinos seja sujeito à avaliação de uma cronometragem rigorosa. Pois é precisamente isto que acontece no nosso sistema educativo em que o aluno, por vezes, sai mal preparado por não terem sido avaliadas, em exames nacionais, as suas performances que atestem os conhecimentos adquiridos nos diversos e sucessivos patamares até ao 9.º ano de escolaridade. Desta forma, e a partir daí, é o aluno lançado nas pistas da exigente competição do ensino secundário (antecâmara de acesso ao ensino superior) em que corre o risco de cortar a linha da meta nos últimos lugares com os bofes do desânimo a saltarem-lhe da boca para fora. Outras vezes, nem sequer termina a prova, desistindo a meio e engrossando, assim, as percentagens do insucesso escolar (" “A resistência do ‘eduquês’ aos exames nacionais”, 10/08/2007).

2.º excerto: “No início de cada ano civil, é uso as casas comerciais fazerem o balanço do respectivo stock para prover necessidades futuras. Desgraçadamente, o sistema educativo nacional tem prescindido deste útil balanço, apesar de ter sido confrontado, no derradeiro mês de 1996, com estudos internacionais denunciantes do seu descalabro. Ou melhor, da sua vergonha: ‘Portugal, o pior da Europa” (Público,21/11/96).

Mesmo sem entrar em pormenores, mais ou menos polémicos, sobre as hossanas cantadas pela 5 de Outubro sobre as melhorias no PISA/2009, estudos emanados, em 2010, do próprio do Ministério da Educação e relatados na primeira página do Jornal I (31/12/2010), dão-nos conta de que:

" a) ‘Estudantes não sabem raciocinar nem escrever’; b) ‘Relatório demolidor: Alunos do 8.º ano ao 12.º ano de 1700 escolas não conseguem estruturar um texto encadeado, explicar um raciocínio com lógica, utilizar linguagem rigorosa ou articular conceitos."

Passando ao miolo da notícia (pp. 28-29), detenho-me numa coluna intitulada ‘o melhor e o pior’, referenciando umas tantas disciplinas curriculares dos diferentes anos dos ensino básico e secundário. Assim:

‘Língua Portuguesa (9.º ano):

- Só 11% dos alunos conseguiram transformar uma frase passiva numa frase activa e apenas 26% identificaram a que classe pertencia determinada palavra.

- Leitura e escrita de textos informativos são os domínios em que os alunos tiveram melhores resultados, com uma média em relação à cotação final de 74%. A leitura de um texto poético não foi tão bem sucedida.
Matemática (8.º e 9.º anos).

' Matemática (8.º e 9.º anos):

- As grandes fragilidades são detectadas nos exercícios que implicam percorrer sucessivas etapas até à resolução final ou então nos exercícios que exigem leitura, interpretação e definição de uma estratégia.

Biologia / Geologia(10.º, 11.º anos):

- Dificuldade em construir textos com rigor científico, em usar linguagem adequada ou em articular informação fornecida nos textos com os próprios conhecimentos.

Física / Química A (1º.º e 11.º anos):

-Usar e interpretar informação contida nas provas (textos, gráficos ou tabelas); expressar por escrito os conhecimentos; usar a calculadora para resolver problemas simples foram os embaraços dos alunos.

De forma utópica, determinou, em tempos recentes, em anúncio jubiloso, urbi et orbi, o Ministério da Educação que o 12.º ano se tornasse obrigatório. Desta forma, transformou, do dia para a noite, como escreveu Francisco de Sousa Tavares, ‘Portugal não num país de analfabetos, como até aqui, mas num país de burros diplomados’.Ou seja, em genuflexão perante a diplomocracia’, assim havida, por José António Saraiva (Diáriode Notícias, 31/08/1979), ao referir-se à profusão de diplomas atribuídos a torto e adireito.

O Ministério da Educação, com pós de perlimpimpim em retortas de alquimia, não tardará muito em caminhar na vanguarda de um mundo alfabetizado com a maior percentagem de população escolar com estudos secundários completos ou equivalentes. Um ensino profissional mal clonado e as Novas Oportunidades darão uma mãozinha ‘preciosa’ para que essa percentagem nada ou pouco acrescente para a melhoria profissional de quem as frequenta, desiderato louvável se fosse essa a sua intenção. Ou seja, não contribuindo para o descrédito do esforço daqueles que muito suaram para obter, sem ser por vielas esconsas e mal iluminadas, o diploma do 12.º ano. Torna-se necessário, portanto, em prosa pessoana, ‘violentar todo o sentimento de igualdade que sob o aspecto de justiça ideal tem paralisado tantas vontades e tantos génios,e que, aparentando salvaguardar a liberdade, é a maior das injustiças e a pior das tiranias’” (‘Os Esqueletos no Armário dos Ensinos Básico e Secundário’, 02/01/2011).

3.º excerto: Perante o desastre que foram os resultados dos exames de Português, quer no 9.º ano de escolaridade, quer no 12.º ano do ensino secundário, dei comigo a folhear um conjunto de pastas onde tenho centenas de artigos de jornal meus. Em boa hora o fiz ficando de bem com a minha consciência por não estar a chorar sobre o leite derramado por vasilhas do estado caótico a que chegou o ensino nas nossas escolas não me tornando, portanto, arauto, ‘a posteriori’, de uma situação por mim nunca criticada.O meu primeiro grito de alarme soou num extenso artigo de opinião publicado no 'Jornal do Sindicato Nacional dos Professores Licenciados' (Nov./Dez. 2005), na altura em que presidia à sua assembleia geral, intitulado “A Literatura Portuguesa, um funil social?”. Retiro do que aí escrevi o seguinte:

‘Em tempos de mudança de uma complexa e cuidada adaptação ao Processo de Bolonha foi publicada a recente entrevista do ministroda Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, de que destaco a criação de cursos de ensino superior curto’ (Público, 07/11/2005).

Surge, assim, num horizonte de plúmbeas nuvens de cursos superiores a granel a criação de cursos superiores de especialização tecnológica no ensino superior curto (tendo já sido aprovados 70) ‘através de formações curtas e de acesso fácil’ porque para o acesso a estes cursos será abolida a prova de Língua Portuguesa, no dizer de Mariano Gago ‘um funil social’ (sic.)! Aliás, cursos com a duração inicialmente estabelecida para o ensino politécnico (dois anos) que rapidamente se sentiram capacitados, com o apoio de ruidosas pressões sindicais de rua, para conceder mestrados e que, apesar disso, esperneiam, qual criança birrenta, por lhes não sido dado acesso à atribuição de doutoramentos!’ (A Literatura Portuguesa, um funil social? 16/07/2011).

Perante factos aqui documentados sobre o estado desastroso do nosso ensino (que me coagiram à necessária extensão deste post ), com esta corajosa medida, o Ministro Nuno Crato, de forma pragmática, passou da teorização das medidas que sempre defendeu em textos escritos (v.g., o bestseller : “O Eduquês” ) para a sua aplicação prática. Condição bastante para merecer o aplauso dos portugueses porque, citando Albert Camus, “a verdadeira generosidade para com o futuro consiste em dar tudo ao presente”. E haverá maior generosidade do que uma entrega completa à formação dos nossos jovens ao serviço de Portugal para o retirar do atoleiro de anos de criminoso facilitismo em que alunos nada sabendo e sem quase frequentarem as aulas transitavam de ano? Para mim, “that is the question”!

terça-feira, 27 de março de 2012

ON MARCH 27, 1899 THE FIRST WIRELESS MESSAGE WAS TRANSMITTED

TEATRO CIENTÍFICO: OXIGÉNIO

Oxigénio - Carl Djerassi - Roald Hoffmann



No Dia Mundial de Teatro não podia faltar uma peça de teatro científico representada em Portugal: "Oxigénio", de Carl Djerassi e Roald Hoffmann, na versão da Seiva Trupe (direcção de Júlio Cardoso). Depois disso, o mesmo grupo já repreesntou "Falácia", do mesmo autor.

TEATRO CIENTÍFICO: A DANÇA DO UNIVERSO



No Dia Mundial do Teatro apresentamos um excerto de "A Dança do Universo", uma peça baseada no livro com o mesmo nome do físico Marcelo Gleiser e que foi encenado pelo grupo brasileiro Arte e Ciência em Palco, que já esteve em Portugal.

TEATRO CIENTÍFICO: VIDA DE GALILEU



Hoje, Dia Mundial do Teatro, publicamos o início de um filme de 1975 do realizador norte-americano Joseph Losey baseado numa das peças de teatro mais famosas baseadas num personagem da ciência: "A Vida de Galileu", de Bertold Brecht. O resto do filme pode ser encontrado no YouTube.

HUMOR: GENOMA 3

HUMOR: GENOMA 2

HUMOR: GENOMA 1

- Até que enfim! Enconteri o gene que faz as pessoas preocuparem-se coma ética na genética.

Um dever profissional

Na sequência de textos anteriores aqui e aqui):

A investigação pedagógica indica muito claramente que, quando confrontados com comportamentos perturbadores dos alunos – indisciplinados ou violentos –, a tendência dos professores, mesmo que sejam competentes e responsáveis (e, sobretudo, se o forem), é omitirem isso mesmo junto dos seus pares e da escola.
.
As razões são diversas (sentimento de incapacidade para controlar sujeitos que seria de esperar que controlassem e sem esforço; receio, fundamentado ou não, dos juízos de colegas; preocupações com a imagem junto da direcção; apreensão com a avaliação do seu desempenho; etc.) e, em geral, conjugam-se para darem forma a circunstânciasa dversas para os professores e para os alunos: nem uns conseguem ensinar, nem outros conseguem aprender.

.
Ora, é isto que, sob o ponto de vista do “dever profissional” não pode acontecer: o professor deve ensinar para que os alunos aprendam. Se não estiver a cumprir este dever, que constitui um referencial de actuação explícito e consensual nas mais diversas e actuais abordagens deontológicas, cometerá, um erro.

Assim, não pode guardar problemas de tal ordem para si e só para si: tem de comunicá-los a quem tem igual e/ou mais responsabilidade, bem como envolver-se e solicitar o envolvimento de outros na sua resolução.

.
Tais problemas mesmo quando protagonizados por um professor, não são só desse professor: são da escola onde ele pertence e assim devem ser perspectivados.
.
E for alguma coisa que um professor não estiver a fazer bem? Ainda assim é um problema da escola, pois ele é um elemento da escola, tendo esta a responsabilidade máxima de o atender e, se for o caso, ajudar e/ou orientar.
.
É preciso ter coragem para seguir esta lógica? Sim, é. Em certos casos, é preciso ter muita coragem. Mas há que a ter. Porque ela está certa.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Ciência com Todos


Deixo informação vinda de João Pedro Calafate sobre um interessante projecto de divulgação de ciência, com o qaul me mostrei solidário:

Ciência com Todos é um projeto de educação/divulgação de Ciência, que apresenta como principal finalidade melhorar a literacia científica dos cidadãos portugueses e outros interessados.

Este projeto apresenta um sítio na Web - http://cienciapatodos.webnode.pt - onde o utilizador poderá "dar asas" à sua curiosidade e imaginação (acerca da vida, do mundo e do universo que nos rodeia) colocando questões, relacionadas com a Ciência e a Tecnologia, para as quais não encontra uma resposta ou não encontra uma resposta cientificamente adequada e acessível e vê-las respondidas por especialistas de diversas áreas da Ciência e da Tecnologia.

O projeto conta atualmente com 167 colaboradores de várias áreas da Ciência, que constituem a sua comissão científica, sendo maioritariamente docentes doutorados de instituições universitárias portuguesas e/ou investigadores das mesmas ou de centros de investigação científica. Alguns destes colaboradores pertencem a instituições universitárias estrangeiras.

Um dos objetivos chave deste projeto é a indagação científica tanto por parte de alunos, de todos os níveis de ensino, como por parte dos professores de Ciências destes níveis.

Neste momento, o leitor poderá encontrar no sítio do CcT uma quantidade razoável de questões/respostas, de uma variedade de áreas científicas e temas, que apelam à curiosidade de cada um.

Chico Anysio: viúva criará instituto para combater o tabagismo


A empresária Malga Di Paula, viúva de Chico Anysio, quer criar um instituto para combater o tabagismo. Ela antecipou que a família abrirá o Instituto Chico Anysio. "São planos para manter a memória de Chico e ajudar na pesquisa do tratamento das doenças bronco-pulmonares. Vou abrir este instituto porque são 250 milhões de pessoas que sofrem desse mal no mundo. O Instituto Chico Anysio dará apoio a pesquisas sobre doenças bronco-pulmonares, com ênfase no enfisema pulmonar, e já há negociações para financiar os estudos de um cientista paulista. Além disso também tem o intuito de consciencialização contra o tabagismo", disse ela, lembrando que Chico sofria de enfisema pulmonar. A morte de Chico foi causada por complicações provocadas por um enfisema pulmonar, culminando com a parada cardiorrespiratória.

domingo, 25 de março de 2012

Chico Anysio: Mais uma vítima do cigarro


Veja:
http://dererummundi.blogspot.com.br/2012/03/cigarrovicio-que-mata.html

A responsabilização do sistema educativo português

“A ambição universal dos homens é colherem aquilo que nunca plantaram” (Adam Smith, 1723-1790).

Neste extremo ocidental de uma vetusta e tradicional Europa, já pouco ou mesmo nada me devia espantar. Seja mesmo quando um ex-primeiro ministro, José Sócrates, pôs em cheque a dignidade do seu cargo depondo-a aos pés de um diploma de Engenharia não reconhecido pela Ordem dos Engenheiros, em escândalo público que fez correr rios de tinta nos meios de comunicação escrita, levando inclusivamente ao encerramento da instituição de ensino superior privado que o outorgou.

A contrario sensu, exigências sobre a qualidade dos diplomas académicos é afiançada, agora, pelo actual Governo, em cerimónia de pompa e circunstância, com a notícia que reproduzo abaixo:
“O primeiro-ministro disse hoje que o Governo quer uma qualificação profunda, real, abrangente dos portugueses, anunciando que vão arrancar em 2013 programas de bolsas de doutoramento com patrocinadores empresariais e de apoio à inserção de doutorados em empresas.

Pedro Passos Coelho discursava durante a sessão solene do Dia da Universidade do Porto, que marcou o 101.º aniversário e o encerramento oficial das comemorações do centenário daquela instituição, tendo afirmado que "um dos eixos fundamentais da estratégia do Governo para preparar a prosperidade do país" consiste "na capacitação e no aumento da qualificação real dos portugueses. Tem sido insistentemente reafirmado pelo Governo que queremos uma qualificação profunda, real e abrangente. Se, por um lado, queremos aumentar o número de diplomados, por outro, queremos garantir que quem acede ao Ensino Superior tem todas as condições educativas e pedagógicas para aproveitar a educação que aí recebe. Isso só será possível se elevarmos a cultura de exigência e de responsabilidade em todo o sistema de ensino', defendeu” (Lusa, 22/03/2012).
Entendo, todavia, que o saneamento do sistema educativo português, qual “cadáver adiado”, como diria Pessoa, andando a reboque de interesses e pressões sindicais e políticas, mormente da Fenprof, promovendo, até, v.g.,a perigosa promiscuidade entre os ensinos universitário e politécnico, se não deve querer repetido, processando-se, finalmente, com total independência de fins eleitoralistas e estatísticos.

Torna-se evidente, também, a necessidade de que o edifício que preside à Educação não seja começado pelo telhado sujeito, como tal, ao perigo de ruir por falta de caboucos sólidos construídos a partir dos ensinos básico e secundário. Ensino básico que, muitas vezes, tem primado por uma atribuição desregrada de diplomas que não garantem conhecimentos, apenas anos de frequência e certificados de competências (equivalentes até a diplomas do 12.º ano) sancionados por experiências de vida redigidas nem sempre pelos próprios, mas romanceadas por terceiros por amizade ou a troco de metal sonante: as chamadas Novas Oportunidades e as “Provas de Acesso ao Ensino Superior para maiores de 23 anos” (feitas em sigilo dentro de portas da própria instituição escolar que delas venham a beneficiar em vil metal) podem substituir as sérias e exigentes provas nacionais dos Exames Ad-Hoc, conferindo a entrada, pela porta do cavalo, ao ensino universitário estatal a quem nem sequer passaria no exigente exame da 4.ª classe do antigo ensino primário, no qual a sigla LEC obrigava os seus diplomados a bem saberem Ler, Escrever e Contar. Só num ensino mercenário e sem vergonha deve ser consentido que “autodidactas” (verdadeiros ignorantes por conta própria, como diria Mário Quintela) impeçam, com os seus subsídios, que entrem em falência escolas politécnicas e até universitárias, públicas e privadas, sem qualquer intenção da minha parte em misturar o trigo com o joio. O ensino tornou-se numa actividade económica, a exemplo de uma qualquer mercearia de bairro em que o dono investiu uns cobres mas tem sempre com a corda na garganta de uma possível falência pelo aparecimento de supermercados com um melhor e mais eficiente sistema de qualidade e melhores preços.

Mas se é de lamentar que semi-analfabetos entrem no ensino superior mais de lamentar é que de lá saiam com doutoramentos mesmo que obtidos em colaboração com universidades estrangeiras de duvidosa qualidade. O respeitado sociólogo e professor universitário italiano, Francesco Alberoni, critica o ensino do facilitismo neste excerto que bem convida a uma reflexão (ou mesmo a um exame de consciência) dos seus defensores:
“Na verdade a pedagogia que nivela tudo por baixo no intuito de esbater as diferenças tem como consequência tornar ignorantes milhões de pessoas e não privilegiar aqueles que podiam ir para a universidade e para escolas de excelência e programas rigorosos; é por esta razão que há cada vez mais pessoas a quererem uma escola mais séria, mais rigorosa, com professores preparados e mais respeitados."
Segundo Aristóteles, "a pior forma de desigualdade é tentar fazer iguais duas coisas diferentes". As responsáveis e responsabilizantes declarações do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho fazem renascer a esperança que nada ficará como dantes no sistema educativo português. Mas pior que um mau passado seria um futuro frustrante!

sábado, 24 de março de 2012

Atirei o pau ao gato

Uma das palavras de ordem da educação escolar, sobretudo quando a matéria em causa toca o campo da axiologia é a “neutralidade”: não se podem impor valores aos alunos, pois cada um tem de descobrir ou construir os seus próprios valores, em função do contexto em que está integrado.

Isto está errado e certo.

Está errado porque certos valores, os universais, têm de ser ensinados e/ou consolidados, pois não há outra maneira de as novas gerações os conhecerem e acolherem, sendo que a escola não pode demitir-se dessa tarefa.

Fernando Savater ilustra a ideia com a impossibilidade desta instituição ser neutral em relação à democracia:
“Seria suicida que a escola renunciasse a formar cidadãos democratas, inconformistas mas em conformidade com o que o modelo democrático estabelece, inquietos pelo seu destino pessoal mas não desconhecendo as exigências harmonizadoras do público. Na desejável complexidade ideológica e étnica da sociedade moderna (…) fica a escola como o único âmbito geral que pode fomentar o apreço racional por aqueles valores que permitem a convivência conjunta aos que são satisfatoriamente diversos. E essa oportunidade de inculcar o respeito pelo nosso mínimo denominador comum não deve, de modo algum, ser desperdiçada."
Mas está errado porque, adverte este filósofo, a indispensabilidade de educar em valores “pode converter-se, muito facilmente, em doutrinamento” quando se orientam os sujeitos para opções que são do foro individual, e resultantes da escolha esclarecida, ponderada e livre de cada pessoa.
“Daqui que alguma «neutralidade» escolar seja justificadamente desejável, face às opções eleitorais concretas, oferecidas pelos partidos políticos, face às diversas confissões religiosas, face a propostas estéticas ou existenciais que surjam na sociedade. E aqui o autor a que recomenda grande precaução por parte do professor “porque não pode recusar a consideração crítica dos temas do momento (que os próprios alunos, frequente-mente, irão solicitar e que o mestre competente terá de fazer … fomenta a exposição razoável…)”
Ora, foi esta subtileza que uma escola portuguesa não teve em consideração, orientando as opções... futebolísticas das crianças.

Um pai não gostou de ver a sua a criança a cantar uma cantiga tradicional adaptada para, em determinado passo, se davam vivas a um clube adversário do seu e não esteve com meias medidas: apresentou directamente queixa ao Ministério da Educação.

É claro que teve todo o apoio do clube que ocupa lugar no seu coração, o qual em comunicado "condena este proselitismo feito em escolas públicas, que em vez de ensinarem os valores da liberdade de escolha ou de opinião preferem ser uma espécie de ayatollahs das suas próprias preferências."

Com excepção do exagero a análise filosófica coincide com a de Fernando Savater.

Literatura e Ciência

Informação chegada ao De Rerum Natura:

Colóquio «Literatura e Ciência»

No Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro (sala 2.0.3), na tarde do dia 27/3 (terça-feira).

O Departamento de Línguas e Culturas e o Centro de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro, no âmbito do projecto Dioscóridese o Humanismo Português: os Comentários de Amato Lusitano”, uniram esforços com o objectivo de proporcionar uma reflexão alargada sobre as relações entre Literatura e Ciência, a partir da organização de um ciclo de conferências dedicado a este tema.

A concepção primitiva do papel do poeta e da poesia, originária de um tempo em que a prosa não tinha ainda sido inventada, está presente desde os alvores da civilização helénica. Esta perspectiva reflecte-se nos primeiros textos, com particular incidência nos poemas de Homero e de Hesíodo. Julgava-se que os poetas possuíam inspiração divina e acesso privilegiado a qualquer área do saber. A concepção da autoridade dos poetas nunca desapareceu por completo, se bem que a crença na inspiração divina foi sendo gradualmente substituída pela noção do ingenium, do talento individual de cada poeta.

A Literatura e a Ciência nascem, de facto, de mãos dadas. No século XVI, autores como Amato Lusitano ou Camões recuperam nas suas obras, cada um à sua maneira, esta ligação tão antiga como a arte de escrever, manuseando, com mão diurna e nocturna, os autores greco-latinos de referência, inspirados pelos ideais do Renascimento e pela recém-descoberta de um mundo completamente desconhecido e grandioso.

Das plantas e dos perfumes do mundo antigo, tratados por Teofrasto, Plínio ou Dioscórides, até aos versos inspirados de Camões ou aos amplos comentários de Amato Lusitano à matéria médica há um longo caminho percorrido, feito de avanços e recuos, mas tendo sempre a matriz clássica como uma referência incontornável. Mais tarde, no século XIX, graças à pena de Júlio Verne, Literatura e Ciência entrecruzam-se sob novíssimas perspectivas, ou nem tanto, se pensarmos, por exemplo, na História Verdadeira de Luciano, dando forma a uma sedutora criação literária em que, tantas vezes, a ficção antecipa a realidade.

César Lattes

Há 32 anos pude ver uma palestra de um dos maiores cientistas que o Brasil já teve!Veja também matéria que produzi sobre César Lattes!

http://dererummundi.blogspot.com.br/2012/02/cesar-lattes.html

sexta-feira, 23 de março de 2012

"Não tenho medo de morrer, tenho pena", Chico Anysio (1931-2012)


Veja matéria abaixo:

A História do Aperfeiçoamento Humano - Sábados com Ciência


Mais uma sessão de "Sábados com Ciência", neste sábado dia 24 de Março, subordinada ao tema "A História do Aperfeiçoamento Humano". A palestra vai estar a cargo de João Lourenço Monteiro, biólogo e comunicador de ciência no Departamento das Ciências da Vida da UC.

A sessão decorrerá entre as 17h30 e as 19h00, no auditório da Livraria Bertrand (Dolce Vita - Coimbra) e é dirigida a todos.

Em 23 de Março de 1927: Princípio da incerteza de Heisenberg


Veja matéria abaixo:


"A conspiração do silêncio"

Na continuação de texto anterior, um extracto duma obra fundamental para compreender a indisciplina em contexto escolar, da autoria de Maria Teresa Estrela (páginas 98 e 97).
“(...) a indisciplina (...) ao quebrar as normas da aula e da escola, interfere altamente no processo pedagógico, pois, para além de afectar a aprendizagem do aluno, tira tempo útil ao professor, compromete a sua performance e obriga-o a desempenhar papéis que ele não gostaria de desempenhar. Daí a fadiga e outras perturbações psicossomáticas, daí os sentimentos de impotência, frustração, irritação e desejo de fuga à tarefa que afectam muitos docentes. Como já tem sido notado, ao sentimento de fracasso profissional junta-se o sentimento de fracasso do adulto que se vê ultrapassado por um grupo de miúdos, o que não pode deixar de se reflectir na auto-imagem profissional e explica a «conspiração do silêncio», na expressão de Lawrence e colaboradores (1985), que leva o professor a ocultar ou a negar as suas dificuldades no campo disciplinar (...). O desgaste provocado pelo trabalho num clima de desordem, a tensão provocada pela atitude defensiva, a perda de sentido da eficácia e a diminuição da auto-estima pessoal levam a sentimentos de frustração e de desânimo e ao desejo de abandono da profissão.”
Referência completa:
Estrela, M. T. (1992). Relação pedagógica, disciplina e indisciplina na aula. Porto, Porto Editora.

A consciência amarga de que sou um péssimo professor

“Aulas más são as que os rapazes não querem ouvir. Mas então - poderia eu defender-me - que culpa temos nós de os rapazes serem barulhentos, desinquietos e desatentos? É verdade é que às vezes a culpa não é nossa: é toda deles, a quem mais apetecia estar na rua que na escola. Mas justamente para isso é que serve o bom professor - e o meu drama resulta  de que só me interessa ser bom professor. Ser bom professor consiste em adivinhar a maneira de levar todos os alunos a estarem interessados e não se lembrarem que lá fora é melhor. E foi o que ontem não consegui... fiquei tão doente que parti o giz que tinha nas mãos e não fui capaz de continuar a aula... quem devia ir para a rua era eu ... consciência amarga de que sou um péssimo professor” (Sebastião da Gama, in Diário).

A frase do professor, também poeta, que abre este texto, firma uma ideia antiga: que não há comportamentos perturbadores – burburinho, indisciplina, violência – em sala de aula sem responsáveis directos e, dependendo das opiniões, aponta-se o dedo a um aluno ou aos alunos; ao contexto, em particular, ao escolar; e, claro, a um professor ou aos professores.

Detenhamo-nos nos professores.

Em diversos estudos pedagógicos está identificada a crença que aqueles que são “bons”, mesmo “bons”, organizam a vida da turma de tal modo que tais comportamentos ficam à porta. E dando-se o caso de se confrontarem com um, por mais difícil que ele se afigure, sabem como agir eficazmente.

Esta crença que o “bom professor é aquele que mantém os alunos disciplinados e em silêncio” (Gonçalves, 1988) pode ter efeitos devastadores.

Tais efeitos começam, talvez, na culpa que se condensa em cada um: os colegas, os pais, os alunos culpam-no, ele assume a culpa, culpa-se ou rejeita culpar-se… O que se segue? Seguem-se pensamentos («não consigo motivar os alunos» ou «nada interessa os alunos», «nada há fazer com alunos assim»...), sentimentos («não sou capaz», «odeio aquele aluno, a turma», «tenho medo», «só quero fugir«...) e actuações (desinvestimento, diminuir a exigência...) destrutivos, tanto em termos profissionais como pessoais.

E em grande segredo, em grande silêncio. Um dia, outro, meses, anos, com a consciência amarga a roer a alma.

Tudo isto está errado.

O desempenho docente, ainda que evidencie falhas, não pode nem deve ser descontextualizado da escola e do sistema educativo. O que toda a gente sabe! Toda a gente sabe, mas não deixa de impedir a comunicação entre professores (implicando a confrontação solitária com os problemas); de alicerçar o sentimento de fracasso profissional (é desgastante o confronto com situações com as quais não consegue lidar eficazmente) e implicar a demissão dos responsáveis institucionais (cada problema é de ordem individual, cada um tem autonomia e responsabilidade pela sua área de trabalho).

Assim se compreende que os problemas comportamentais só se revelam quando tomam proporções incontroláveis e, em certos casos, saltam para a televisão. Nesta circunstância – torna-se irónico! – não é raro os professores admitirem – porque saber já sabiam – que, afinal, o problema era antigo e comum.

Mas, nem mesmo nestes casos é certo que o sistema educativo e as escolas tomam medidas informadas, razoáveis, coerentes e consequentes, sendo que o seu desfecho pode não ser o mais desejável… muitas são as situações em que a «corda parte pelo lado do mais fraco».

Sai o professor para outra profissão, para reforma antecipada, ou pior... Abandona o ensino porque, apesar das condições adversas em que está, não viu apoio dos colegas, da escola, de ninguém. E alguns dos que saem são bons, muito bons, ainda que não perfeitos ou mágicos – quem o É? Ficam os alunos, a sociedade a perder.

Referências completas:
GAMA, S. (s.d.).
Diário. Lisboa, Ática.
GONÇALVES, O. (1986). Contruições para uma perspectiva cognitivista na formação de professoes. Jornal de Psicologia, vol. 5, nº 1, 21-25.

PALESTRA SOBRE IMUNOLOGIA: O NOBEL DE 2011


Hoje, dia 23 de Março, às 21h15min, realiza-se no Centro Ciência Viva Rómulo de Rómulo de Carvalho, no Departamento Física da Universidade de Coimbra, a palestra "Imunologia", pelo Doutor Manuel Santos Rosa, Professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, no âmbito do Projecto Quark! Escola de física para jovens. A entrada é livre, condicionada ao tamanho da sala.

O SEGREDO DOS STRADIVARIUS





Minha crónica no semanário "Sol" de hoje (nno vídeo Eric Grossman toca Bach num Stradivarius):


O violino mais caro do mundo é um Stradivarius, que foi leiloado em Junho passado para ajudar as vítimas do grande tsunami do Japão ocorrido há um ano. O instrumento, conhecido por Lady Blunt, por ter pertencido a Anne Blunt, uma neta de Lord Byron, foi arrematado pela espantosa quantia de 11,2 milhões de euros. Os Stradivarius, do nome do seu construtor, o italiano Antonio Stradivari (1644-1737), com oficina em Cremona, no norte de Itália, são hoje violinos lendários. Só Giuseppe Guarneri, contemporâneo e conterrâneo de Stradivari, fabricou instrumentos assim tão caros. Porque são tão preciosos esses instrumentos? Que “não sei quê” os faz tão especiais? Não se tratará apenas da sua raridade (há apenas 600 Stradivarius em todo o mundo), mas sobretudo da magnífica qualidade do seu som. Nas mãos dos melhores intérpretes eles produzirão melodias que, segundo os entendidos, são incomparáveis.

Mas serão? De facto, podem-se comparar, e da comparação efectuada concluiu-se que, afinal, a superioridade dos Stradivarius pode ser um mito. O segredo dos Stradivarius parece inexistir. Um estudo publicado há pouco nos Proceedings of the National Academy of Sciences, cujo primeiro autor é Claudia Fritz, cientista francesa da Universidade Pierre e Marie Curie de Paris, revelou, que, ao contrário do que se esperava, excelentes músicos são incapazes de identificar instrumentos antigos no meio de instrumentos modernos. Num quarto escuro de um hotel, foi dado a músicos virtuosos que participavam no Concurso Internacional de Indianapolis, nos Estados Unidos, dois violinos, um moderno e outro antigo, muito mais caro, pedindo-lhes para tocar e dizer qual preferiam. Preferiram, em geral, o violino moderno. Numa segunda parte da experiência os investigadores pediram aos músicos para indicar o melhor instrumento num grupo de seis, dando-lhes vinte minutos para ensaios. Só oito dos 21 músicos participantes seleccionaram um violino antigo, apesar de haver dois Stradivarius e um Guarnerius. Esta experiência faz lembrar uma prova de vinhos, às cegas, na qual os provadores não conseguiram distinguir um vinho caro de um vinho barato...

Ficaram em causa algumas teorias sobre os instrumentos de cordas, pois havia quem dissesse que o que distingue os Stradivarius é o tipo da madeira, enquanto outros defendiam que é o seu tratamento e outros ainda os vernizes utilizados na cobertura. O debate continua pois são precisas mais experiências. Por exemplo, Earl Carlyss, violinista do famoso quarteto de cordas Juillard, não ficou impressionado com os testes de acústica. Respondeu que testar violinos num quarto de hotel numa experiência de olhos fechados era como escolher entre um Ford e um Ferrari sem sair do parque de estacionamento.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Germana Tânger

No dia mundial da poesia expresso o meu reconhecimento a Germana Tânger que tem dado a conhecer e (mais do que isso, muito mais do que isso) a sentir tantos poemas a tanta gente. E tem-na dado de cor, de coração.

CARTA A MEUS FILHOS

Francisco Goya Os fuzilamentos de 3 de Maio de 1808,
c.1814. Museu do Prado (Madrid)

No dia mundial da poesia o leitor Álvaro José Ferreira recordou-nos duas belíssimas obras poéticas, uma em forma de quadro - de Francisco Goya - outra em forma de texto - de Jorge de Sena.

.
Carta a meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya

.
Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.

É possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isto, nem sequer isto
o que vos interesse para viver. Tudo é possível,
ainda quando lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo.
Um dia sabereis que mais que a humanidade
não tem conta o número dos que pensaram assim,
amaram o seu semelhante no que ele tinha de único,
de insólito, de livre, de diferente,
e foram sacrificados, torturados, espancados,
e entregues hipocritamente à secular justiça,
para que os liquidasse com «suma piedade e sem efusão de sangue».
Por serem fiéis a um deus, a um pensamento,
a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas
à fome irrespondível que lhes roía as entranhas,
foram estripados, esfolados, queimados, gaseados,
e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido,
ou suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória.
Às vezes, por serem de uma raça, outras
por serem de uma classe, expiaram todos
os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência
de haver cometido. Mas também aconteceu
e acontece que não foram mortos.
Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer
aniquilando mansamente, delicadamente
por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus.
Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror,
foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha
há mais de um século e que por violenta e injusta
ofendeu o coração de um pintor chamado Goya,
que tinha um coração muito grande, cheio de fúria
e de amor. Mas isto nada é, meus filhos.
Apenas um episódio, um episódio breve,
nesta cadeia de que sois um elo (ou não sereis)
de ferro e de suor e sangue e algum sémen
a caminho do mundo que vos sonho.
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
vale mais que uma vida ou a alegria de tê-la.
É isto o que mais importa – essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez
alguém está menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos e virá.
Que tudo isto sabereis serenamente,
sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
e sobretudo sem desapego ou indiferença,
ardentemente espero. Tanto sangue,
tanta dor, tanta angústia, um dia
– mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga –
não hão-de ser em vão. Confesso que,
muitas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objecto
que não fruíram, aquele gesto
de amor, que fariam «amanhã».
E, por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é só nossa, que nos é cedida
para a guardarmos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor que
outros não amaram porque lho roubaram.

Lisboa, 25-06-1959.
(In
Metamorfoses, 1963; Antologia Poética, Porto: Asa, páginas 108-111.

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...