quarta-feira, 7 de julho de 2010
CONTINUAÇÃO DO DIÁLOGO SOBRE O EDUQUÊS
Para aumentar a visibilidade da polémica transcrevemos aqui da respectica caixa de comentários a réplica de Carlos Albuquerque à resposta que teve de Guilherme Valente e a nova resposta acabada de receber deste último (o cartoon de cima sobre o facilitismo reinante nas escolas é escolha deste blogue):
Caro Guilherme
Agradeço a sua amabilidade. Vou dividir esta resposta em três partes: esta introdução e duas partes temáticas. Para já propunha-me discutir dois aspectos: a caracterização do eduquês e os termos que apresenta no seu recente artigo do Expresso, reproduzido neste blog. Fica ainda por discutir qual a causa mais séria da falta de qualidade do ensino actual em Portugal.
1) Agradeço a disponibilidade quanto ao livro do Nuno Crato, mas na verdade já o tenho e já o li. Tenho presente o que lá está, mas vejo aquele texto sobretudo como um panfleto: um texto que pretende mover as pessoas para uma causa que se considera justa, mas em que a argumentação e a metodologia não são muito cuidadas. Daí que eu não me sinta mais esclarecido sobre o que é o eduquês depois de ter lido o livro.
2) O Guilherme caracteriza o eduquês de múltiplas maneiras, mas a primeira questão que se me levanta nesta caracterização é saber se, para que um texto seja considerado eduquês, é necessário acumular muitas das características que lhe atribui ou bastam apenas algumas.
Convém não esquecer que a tese fundamental em discussão é que o eduquês é a maior fonte dos males do ensino actual. Assim, classificar um texto de eduquês já comporta uma carga negativa grave e por isso penso que deveremos analisar esta questão com cuidado.
Vou enumerar algumas das características que lhe atribuiu:
- "gosta muito de siglas"
- "reacções irracionalistas à modernidade"
- "espírito de seita"
- "ódio ao mérito e ao «saber letrado», à liberdade, à autonomia individual, à pluralidade, à sociedade aberta, horror à avaliação, desprezo pelo conhecimento que distingue e eleva, menosprezo pelo papel do professor"
- "Rejeição e aniquilamento da escola como «ascensor social»"
- "A ideia de que todos os saberes se equivalem"
- "A ideia sempre insidiosamente glosada de que se pode aprender sem esforço. O cultivo da atrofia da memória, ignorando que só é possível pensar com informação"
- "O encorajamento irresponsável da indisciplina"
- "odeiam a inteligência e o espírito de liberdade".
Perante uma lista destas, parece-me que haverá muito poucas pessoas que se revejam num conjunto alargado de características destas. Se bastarem umas poucas destas características para caracterizar o eduquês então eu diria que quase tudo pode ser eduquês. A começar pelo criacionismo, por exemplo. Ora um termo que quase não se aplica ou que se aplica a tudo dificilmente pode ser útil para compreender o estado do ensino.
Há uma outra caracterização que me parece que inverte o ónus da prova:
- "Poderá identificar o eduquês também pela tragédia das suas consequências."
Se estamos a tentar caracterizar o eduquês para depois podermos discutir se é o responsável por determinadas consequências, não podemos começar por caracterizá-lo precisamente a partir das consequências.
Finalmente, vejamos a sua caracterização do meu comentário como "eduquês suave". Aceito perfeitamente que o faça mas pedia-lhe que o fizesse de modo fundamentado, decompondo as diversas afirmações que fiz.
Neste espírito, permita-me que, pegando na sua frase seguinte:
"quando o colocarem perante uma expressão bem sonante, mas que ao meu Amigo pareça não querer dizer nada, ou querer dizer tudo, ou dizer o que já se sabe há milhares de anos, ou que a Filosofia há muito tenha pensado, então, meu caro Amigo, anda aí o dedo do eduquês"
coloque a seguinte questão: dadas as dificuldades que referi acima, não será o termo "eduquês" um termo de eduquês?
3) Consideremos agora o "aprender a aprender" e as "competências". Trata-se de termos que podem ter múltiplos significados, alguns dos quais muito úteis ou mesmo imprescindíveis. Mesmo que esses significados tenham sido definidos por especialistas em educação e tenham depois sido usados em teorias perfeitamente desadequadas à realidade.
Nos tempos que correm a capacidade de aprender ao longo da vida é fundamental. Quando a Carris muda para autocarros a gás, a biodiesel ou a electricidade o motorista pode ter que aprender coisas novas. Então um tradutor precisa radicalmente de saber aprender. Como poderia de outro modo traduzir livros que reflectem múltiplas realidades novas?
Assim, é pertinente colocar a questão: dos diversos modos de ensinar, haverá uns que deixem as pessoas melhor preparadas para aprendizagens futuras do que outros? Não tenho respostas simples para estas questões mas não podemos simplesmente ignorar a problemática apenas porque associamos imediatamente ao eduquês quem levanta tal questão.
Algo de semelhante se passa quando falamos de competências. O termo pode ser bem definido e levanta problemas muito relevantes em educação, sem que isso nos obrigue a concordar com tudo o que os autores depois dizem sobre o assunto.
Aliás tenho dificuldade em entender esta abordagem pelos termos. Há um risco enorme de se assumir uma atitude totalitária ao não se discutir uma ideia porque se cataloga liminarmente um certo conjunto de palavras e o autor que as utiliza.
Parece-me que seria muito mais útil discutir as definições e ideias de cada autor, examinando-as e discutindo-as pelo seu valor, em vez de se criar esta espécie de cruzada anti-eduquês, que de tanto ser repetida ainda corre o risco de acabar como a inquisição numa caça às bruxas.
Carlos Albuquerque
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Prezado Amigo:
Afinal, o que é que me disse de substantivo? Nada. Mas vou esforçar-me, com respeito pelos leitores do blogue que nos lêem com espírito aberto, por acrescentar (sempre rapidamente, pois tenho de trabalhar) alguma coisa ao que já havia escrito.
Em primeiro lugar duas linhas para lhe pedir desculpa por ter suposto que o meu Amigo era um eduquês suave. É, afinal, um eduquês bem típico. Bem típico até porque, revelando muitos dos traços presentes no eduquês, revela um, que, pela experiência que até agora tenho, posso dizer estar sempre presente na mistura: nunca se assumem.
É que, ao contrário da leitura que fez da caracterização rápida que fiz (não exaustiva, nem hierarquizada), no eduquês, até por ser uma mistura sincrética, podem, nalgumas das suas manifestações, ser mais ou menos visíveis alguns dos traços que referi, ou faltarem mesmo alguns. Óbvio, não é? Não se trata de uma "substância simples" (não sei se é este o termo científico, mas o Carlos Fiolhais corrigirá), nem a vida, nem o eduquês são um produto de laboratório. O que fiz foi dar pistas, como convinha no âmbito e no espírito da resposta (não quis fazer uma comunicação a um congresso de «ciências» da educação…). É tudo óbvio, não acha?
Como saberá, até há dissensões no eduquês, muito significativas note-se, e cada vez mais frequentes, como procurarei explicar em próximo artigo. E o modo como essas dissensões se justificam é bem típico das seitas. O eduquês é, afinal, uma seita. E sabe porquê? Porque quando uma teoria, ou um corpo de teorias, não aceita a prova da realidade - e teve mais de trinta anos para o fazer - salta para um outro registo: o das «ciências» ocultas.
E é por causa dessa prova da realidade, dos resultados, do crime perpetrado todos estes anos, que é imoral, imoral, aproveitar este tema para jogos de palavras e filosofice (o seu jogo de palavras nem a isso chega, perdoe a sinceridade de quem, por formação, tem o dever de o dizer).
Expliquei tudo muito bem, é tudo para mim muito evidente. A sua consciência é a sua consciência; a consciência que eu tenho de enfrentar é a minha. É por isso que o mal acaba por afectar sempre mais quem o pratica do que aquele que o sofre, mais quem o inflige do que aquele a quem é infligido. Sinceramente, acho que está a querer enganar-se a si próprio, mas isso é o meu Amigo que terá de resolver. Leibniz dizia que o melhor de tudo é a inteligência, mas, quando essa, por qualquer motivo, falha ou não quer manifestar-se, que tenhamos ao menos e não resistamos aos bons sentimentos. Não posso acreditar que não sofra com os 40% de abandono escolar. E com tudo o resto que isso determina.
Então o livro do Nuno Crato é um panfleto? Com os textosinhos dos eduqueses transcritos entre aspas? Algum deles saiu a explicar que outra interpretação lhes poderia ser dada (quando os encontramos em debates, ficam sempre muito caladinhos)? Julgavam que ninguém com cérebro os leria?
E o «aprender a aprender» o que é? Sinceramente: o «aprender a aprender» é mesmo… uma estupidez. Só se aprende a aprender… aprendendo. E, como eu lhe disse e é óbvio e a ciência verificou (mas nem era preciso), quando se aprende alguma coisa aumenta a capacidade para aprender mais e aprender outras coisas (parece que surgem mesmo mais «circuitos» no cérebro, sabia?). Não há outra maneira. Pergunte ao Prof. Castro Caldas, que recentemente verificou que o cérebro de um analfabeto ou de quem aprendeu tarde a ler é diferente de uma pessoa que aprendeu a ler cedo. Quando o eduquês - sabe bem o que quero dizer com a palavra eduquês, não sabe? - condenou em todos estes anos um número intolerável de crianças ao analfabetismo e ao iletrismo, «ferrou-os» com a pior das deficiências para toda a vida, percebe?
Por isso os seus argumentos sobre os seus carros movidos a não sei quê não fazem nenhum sentido, não enfrentam nada do que avancei, muito pelo contrário até. São mesmo pornográficos. Preciso de lhe explicar mais alguma coisa?
Sinceramente, durma bem e felicidades.
Guilherme Valente
PS) Um último comentário. Se o meu Amigo estiver na situação de organizar um debate público sobre o tema (não sei quem é, qual é a sua formação, nem qual é a sua actividade profissional, se terá oportunidade e meios para o fazer), estou disponível para participar. Mas, no blogue, não vou lê-lo mais.
Aprendi com um grande Homem do meu País, o Professor A Sedas Nunes, que há cartas que não devemos abrir. Isso não significa que estejamos a julgar o seu conteúdo sem o conhecer (isso seria miserável). Significa apenas que não as queremos ler. Do mesmo modo que há sítios que não desejamos nem tencionamos visitar. Embora, se o fizéssemos, quem sabe, pudessem revelar-nos surpresas deslumbrantes.
Ah, esqueci algo, a referência que fez à inquisição. As bruxas, como devia saber, são uma criação do irracionalismo, que as inventa e, depois, as caça. O eduquês é um irracionalismo e, como devia saber, pratica mesmo a caça às «bruxas». Que o diga Nuno Crato, que foi impedido de participar num colóquio em Leiria sobre o ensino da Matemática. Tal qual. E que o digam tantos professores.
E eu irei também, em breve, revelar como, em duas circunstâncias, tentaram atingir a minha actividade profissional. Numa delas, foi-me dito claramente: «só elogias o ministro Mariano Gago…» De facto, se Mariano Gago tivesse assumido a pasta da Educação no primeiro governo de Guterres, a escola em Portugal seria hoje muito diferente. O facto de não ter complexos perante os "especialistas", de ter a inteligência que tem, de ter uma atitude científica na análise das situações, e, já agora, por ter o temperamento que tem (para o bom ou para o menos bom, que ninguém é perfeito), teria levado à erradicação do eduquês. E estaríamos hoje em melhor situação para enfrentar o cataclismo internacional que aí vem.
Outra coisa é termos a convicção (sempre aberta aos argumentos – argumentos a sério…), a consciência, de que as ideias e as soluções do eduquês (a sua generalidade, claro, as que o caracterizam e distinguem; há também no eduquês ideias que não lhe são próprias ou exclusivas, que são óbvias, como já tentei dizer-lhe, e não devia ter sido preciso) têm de ser varridas. E sê-lo-ão.
Guilherme Valente
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13 comentários:
Pela honestidade e frontalidade da sua luta, desde há tantos anos: Obrigado, Guilherme Valente.
Também eu tenho a certeza de que as ideias e as "soluções" do eduquês serão varridas. Mesmo que os meus olhos já não vejam.
Isso não remediará o mal que tem sido feito, desde há três décadas. Nem tornará o mundo perfeito. Mas tornará o nosso sistema de ensino menos falso.
E isso é desejo meu e de tantos professores...
A postura do meu prezado amigo Guilherme Valente é: (i) inconsequente; e (ii) irreflectida.
É (i) porque assume uma forma de diálogo liminarmente destrutiva (logo, nega o próprio diálogo - é daqui que vem o 'ser inconsequente') e é (ii) porque é uma mão cheia de nada, aliás, um belo exemplo de eduquês numa versão adaptada a "discurso de poucos amigos".
Começo a achar que o problema (eduquês) e a cura proposta (anti-eduquês, militante) estão bem um para o outro, devendo ser os dois metidos numa gaveta. O eduquês não sei, mas o anti-eduquês é fácil de identificar: são aqueles fulanos agressivos que dizem que tudo o que está mal na educação tem um nome, sendo ele "eduquês". Se é fácil de identificar: engavete-se.
P.S.: páre a censura, prezado amigo que modera os comentários.
Habermas nesta matérias diria, como o disse numa conferência quando um orador falou sobre um determinado tema:
- Se vamos falar de eduquês, é preciso saber de que é que se está a falar quando se fala de eduquês.
O eduquês acabou por se tornar uma etiqueta e, como todas as etiquetas, acaba por se banalizar e perder a sua força, fazendo passar para segundo plano os fundamentos que o configuraram.
Agradeço imenso a sua frontalidade, coragem e determinação.
Todos os portugueses que não têm meios para inscrever os seus filhos nos poucos colégios onde o eduquês ainda não entrou precisam de pessoas como o Caro Guilherme Valente para sonharem com a possibilidade de oferecer um futuro melhor aos seus filhos.
Esperemos que o lobby das "ciências" da educação largue as escolas, os alunos e os professores (os seus membros parecem lapas) e deixe de vender a banha da cobra aos encarregados de educação e aos políticos.
Esperemos que num futuro próximo:
1. as escolas tenham como missão a transmissão do conhecimento e da cultura conquistas pelas gerações anteriores;
2. os professores tenham como objectivo ENSINAR;
3. os alunos tenham como objectivo ESTUDAR;
4. os encarregados de educação sejam os responsáveis pela educação dos seus educandos.
Parece simples! Mas em Portugal, graças a este poderosíssimo lobby, o que é simples torna-se quase impossível devido aos interesses instalados.
Este lobby habituou-se a viver e a crescer às custas de todos aqueles que não têm condições económicas e/ou culturais para fugirem da ideologia única imposta. Este lobby tomou conta dos sindicatos, da formação de professores e de todos os órgãos de decisão deste sector de actividade.
Este lobby conseguiu convencer o povo menos letrado e até algum do letrado que era possível obter um certificado sem trabalho, esforço e disciplina. Conseguiu convencer muita gente que era possível aprender sem... aprender!
Quem sou eu para o apoiar. Só lhe posso dar a minha consideração pela coragem de ir contra esta moda que só entende o som longínquo do que é "saber".
Guilherme Valente: também estou convencido de que o eduquês será varrido. Muitas pessoas estão a ficar fartas de tanta mediocridade e começam a ficar disponíveis para a combater frontalmente por um país mais educado e com uma capacidade crítica superior àquela que é actualmente estimulada - e permitida até -.
O eduquês será varrido. Ou seja a asneira perde sempre. Ou seja o bem vence sempre. Isso é superstição ou leram na Bíblia?
Caros,
O assunto é obviamente interessante e importante. Confesso que pessoalmente - não sou docente - fico às vezes com a impressão que se mete um pouco de tudo debaixo da bandeira da luta contra o "eduquês", boas intenções certamente, mas também ausência de rigor e protestos um pouco descabidos (alguns parecem-me poder explicar-se por uma aberração que é uma consequência dramatica do funcionariato : a incapacidade de compreender que não podemos separar radicalmente as tarefas "nobres" e as tarefas "menos nobres", a "administração" por um lado, o "ensino" por outro - e que todos os professores devem estar profundamento empenhados no seu oficio, que é também administrar, da mesma forma que todos os marinheiros devem estar atentos ao andamento do navio, em vez de se concentrar unicamente na sua pequena tarefa individual e continuar a varrer o convés como se nada fosse quando o barco mete agua).
O ponto de partida parece-me ser o indicado por João Boaventura.
Ha com certeza excessos, erros, e mesmo fraudes, nas reformas da educação. Mas parece-me obvio, mesmo até na preocupação de as combater com eficacia, que devemos começar por identifica-las com rigor.
Ora, tenho muita pena mas, quiça por causa do tom polémico e da escolha de "fulanizar" (de que o autor, se calhar, não é responsavel), não vejo este rigor neste post.
Seja qual for a nossa opinião geral sobre as politicas de educação actualmente em curso, TODOS temos interesse em indentificar os erros, com rigor, medir resultados, para poder tirar conclusões.
Emfim, nesse debate mais do que em qualquer outro, deviamos todos começar por clarificar os conceitos e procurar discutir a partir dai.
Ia acabar com uma nota ironica. Mas pensando melhor não o vou fazer.
Boa continuação.
Concordo com Guilherme Valente na apreciação que faz do chamado “eduquês”, mas confesso que não partilho a fé que revela em Mariano Gago, de quem fui colega no IST.
Tenho fortes dúvidas acerca da conjectura de Guilherme Valente quando diz que “se Mariano Gago tivesse assumido a pasta da Educação no primeiro governo de Guterres, a escola em Portugal seria hoje muito diferente”, acreditando que a inteligência de Mariano Gago, “teria levado à erradicação do eduquês”. Posso estar enganado, mas não acredito nisso.
O Gago nunca teve vocação para engenheiro. Estava enganado no curso. Apenas lhe interessava a Física e outras cadeiras teóricas e revelava um solene desprezo por cadeiras de carácter prático, como as de Projecto, Laboratórios, Topografia, Oficinas... que apelidava de “engenhática”.
Claro que ninguém é obrigado a ter vocação para engenheiro, mas a verdade é que o Gago, mediante a projecção que atingiu no movimento estudantil, a que não seriam alheias as ligações políticas que já na altura possuia, acabou por influenciar o currículo dos cursos na reforma que foi efectuada naquela época, em especial o de Electrotecnia, levando à erradicação de várias das cadeiras que tanto o incomodavam e assim acentuando a componente teórica de um curso que tanto necessitava de uma componente prática.
Devemos ter presente que a inteligência que faculta excelentes classificações num curso pode resultar mais de uma memória potente do que de uma verdadeira capacidade de reconhecimento da relação causa-efeito.
De facto, há pessoas que parecem ter dentro da cabeça uma poderosa base de dados, que lhes permite armazenar grande quantidade de informação, à qual acedem com facilidade, mas isso não garante a capacidade para entender como funciona o mundo real à sua volta.
O caso de António Guterres é um dos mais dramáticos. Foi outro que tirou um curso de engenharia sem nunca ter vocação para engenheiro. Se tirasse um curso de silvicultura ou de filosofia teria igualmente notas brilhantes. Convenceram-no de que era capaz de ser Primeiro Ministro e isso custou bem caro ao país.
Jorge Pacheco de Oliveira
Caro João Viegas,
Era tão bom que o problema fosse aquele que apontou! Nem imagina como seria bom. O que se passa nas "escolas" é um autêntico pesadelo e poucos professores o denunciam por duas razões:
1. porque sentem que não vale a pena;
2. porque as represálias são enormes.
Claro está que há professores que convivem bem com este sistema que promove o laxismo, a preguiça e a indisciplina.
Concordando, de um modo geral,com as críticas que Guilherme Valente vem fazendo ao "eduquês"(e todos os que nos interesamos por estas coisas da Educação sabemos a que chama ele e chamam muitos outros "eduquês"!), dei particular atenção aqui ao comentário seguinte: "Todos os portugueses que não têm meios para inscrever os seus filhos nos poucos colégios onde o eduquês ainda não entrou precisam de pessoas como o Caro Guilherme Valente para sonharem com a possibilidade de oferecer um futuro melhor aos seus filhos."
Com algumas dúvidas quanto à possibilidade de haver ainda colégios poupados aos malefícios do eduquês, confesso que me impressiona particularmente o facto de ser a escola pública o terreno mais fértil a ideias e práticas que muito têm contribuído para o triste estado do ensino em Portugal. Exactamente porque é à escola pública que os mais desfavorecidos confiam a formação dos seus filhos, a formação que poucos tiveram para si mas que legitimamente ambicionam para os filhos, para os netos. E são essas crianças e jovens de famílias já castigadas por injustiças várias da vida e dos homens as que mais sofrem com as pseudo-modernices pedagógicas de (ir)responsáveis políticos e educativos que estimulam, ou até impõem, práticas (mal)copiadas de modelos de outros contextos sociais, culturais, económicos, etc e tal, muitas delas já abandonadas em países menos deslumbrados por modernismos da treta e assombrados por fantasmas do antigamente. E mentem descaradamente os que defendem tais práticas em nome de uma apregoada justiça social, como se os pobres fossem burros e tivessem de contentar-se com menos conhecimento, menos aptidões, menos preparação para uma vida produtiva e feliz do que os filhos dos mais ricos, dos mais cultos, dos mais favorecidos. Justiça social é dar mais a quem mais precisa e os alunos que só na escola têm quem possa instrui-los e educá-los são os que mais necessitam de uma escola que cumpra cabalmente essa função e os não condene à ignorância e à incompetência. É isso que mais dói a tantos como eu que há décadas lutam por manter a dignidade de ser professor.
Helena Rodrigues
Hoje uma colega minha foi chamada pelo director da escola onde lecciona.
Intrigada, lá foi.
Afinal era apenas para lhe ordenarem que baixasse o grau de exigência, exigia muito, demais, aos seus alunos.
Isso do «educoiso» não é uma espécie de nome feio que aqueles que acham que aprender é encher um saco de conhecimentos chamam aos que tentam compreender os complexos processos de ligar o que nos vem de fora ao que temos dentro?
E, cuidado. Se começamos a pôr entre aspas as ciências dos outros fica metade do mundo zarolho e outra metade sem os dentes da frente.
O que me parece é que há modos diferentes de aprender as mesmas coisas ou coisas distintas e, de um lado e do outro desta discussão, geralmente não se tem isso em conta. Parece-me, não tenho a certeza.
Educaraças, senhores ouvites!
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