"Um poeta como Rilke, nos meus tempo de juventude, foi para mim muito importante.
Foi o seu poeta de eleição?
Foi. Quando apareceu na minha vida o Rilke foi um terramoto. Foi-o para alguns de nós, no meu grupo de amigos mais próximos (...)
A ciência e a poesia são compatíveis?
Vejo muitos cientistas fazerem críticas à poesia. O grande (Paul) Dirac dizia que a ciência é uma actividade em que nós, com palavras usuais, tentamos explicar coisas desconhecidas. A poesia seria o contrário: uma tentativa de explicar coisas que todos conhecemos com palavras desconhecidas.
Suponho que não partilha esse ponto de vista.
Não partilho. Ele era um homem seco demais (...)
Está dentro do nosso espírito que é possível estabelecer pontes muito próprias. A ciência é uma delas. Mas a poesia também é.
São ambas, poesia e ciência, para o mesmo território?
Para o mesmo território e também para um território sagrado, a mente humana."
sábado, 6 de fevereiro de 2010
Pontes para um mesmo território
António Manuel Baptista, físico e divulgador de ciência, em entrevista a Carlos Vaz Marques, publicada na revista Ler deste mês de Fevereiro, disserta sobre as pontes em a poesia e a ciência.
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16 comentários:
A Poesia não é incompatível... com coisa nenhuma, salvo... (a completar por quem o desejar, ao sabor do seu critério, caso o tenha, obviamente). JCN
Se até os animais... são sensíveis à poesia, como não hão-de sê-lo os cientistas?!... JCN
Essa... de os poetas dizerem coisas que todos conhecemos com palavras desconhecidas, vale pela ironia desenxabida: falta-lhe o tal "granum salis" do memorável Prof. Vacão. JCN
Agora fiquei emocionado!
Tenho 50 anos e lembro-me do prazer de ver o programa deste Senhor na televisão quando eu tinha uns 16, 17 ou 18 anos (?)
Marcou-me no gosto pela Física.
Obrigado por mo recordar Helena e obrigado também a este Professor (com maiúscula, evidentemente).
Já agora, o país não tem sabido aproveitar estes cientistas divulgadores que nos têm aparecido.
Saudações emotivas
Cruz Gaspar
Até o próprio José Djughashvilli (=filho de Diu), também conhecido por José Estaline, o mais feroz ditador dos tempos actuais, cultivou a poesia na sua juventude, o que mostra que nem com a política, na sua expressão mais brutalizada, ela é incompatível. JCN
De José Stalin (stahl=aço) apenas conheço a estátua que mandou erigir ao poeta russo Alexander Pushkin onde se representa o corpo inteiro de Stalin com um livro de Pushkin na mão.
Pessoa amiga perguntou-me intrigada qual o verdadeiro nome porque aparece como José Djughashvilli e como José Stalin.
Sem dúvida que o primeiro é o verdadeiro, mas quis ser conhecido como o homem de aço. Ao substantivo alemão Stahl=aço, acrescentou a desinência dos adjectivos russos (in) e passou a chamar-se "homem de aço" ou Stalin (<Stahl+in=Stalin).
Fica assim desfeita a dúvida.
Vê-se, logo à primeira, que vossemecê anda muito pouco informado acerca das "russidades" onomásticas do nosso homem, que este para ir desta para melhor por via da sua juvenil veia poética. Em tendo mais pachora, avançarei com mais detalhes, que entretanto pode ver no Blogue da "Serpente Emplumada", onde já me espraiei sobre a matéria para desfrute de um venerador do futuro S. José Estaline por iniciativa dos ortodoxos, que já lhe erigiram um ícone na cidade sagrada a par de Moscovo. Coisas do arco da velha, senhor João Boaventura! "Djughasvilli" - fixe bem este apelido, que tem muito que se lhe diga e nos toca de perto, a todos nós portugueses. JCN
Senhor João Boaventura, sabe que o grande poeta russo Pushkin morreu num duelo por causa da sua paixão pela nossa marquesa de Abrantes, mulher do conde da Ega e amante de Junot que, na sua retirada de Portugal, a levou consigo para França? Como tudo vem sempre dar a Portugal, tratando-se do José Djugashvilli, lenda em estátua os românticos poemas do admirador da marquesa que disputou ao seu novo marido, um príncepe russo que a conheceu na "cidade das luzes". Coisas... para contar aos netos, ao calor da lareira, se acaso for esse o caso. JCN
Este comentário não faz sentido sem a sua articulação com o anterior, que não foi transcrito, o que lamento: nele abordo a origem do verdadeiro apelido familiar do ditador, Djugashvilli, que tem a ver com a sua origem portuguesa. JCN
VERSOS VERMELHOS
"Como pode conviver a tirania homicida com a poesia?" (Dr. J. de Montezuma de Carvalho)
Não são azuis os versos que escreveram
Stalin e Mao na sua juventude,
vermelhos são de raiva por virtude
das contrariedades que sofreram.
Eivados de rancor, em dada altura,
deixaram de fazer versos aos astros
pensando só em colocar de rastros
toda e qualquer humana criatura.
Com o recurso ao envenenamento
a par da morte por fuzilamento,
fizeram perecer milhões de irmãos.
Vingando-se nos seus concidadãos,
arrancaram do peito a Poesia
incompativel... com a tirania!
JOÃO DE CASTRO NUNES
No meu comentário das 17:56, corrijo a gralha "este" por "esteve" no final da 2ª linha do texto, ou seja, "esteve para ir desta para melhor", assassinado por envenenamento, ou não fosse um patriota georgiano hostil à presença russa na sua idolatrada pátria, que ele cantou em exaltados poemas de índole nacionalista. Mudam-se os tempos... JCN
Sei do duelo e da morte estúpida.
Sei que foi perseguido como o Zeca Afonso pelas mesmas razões.
E sei que José Staline gostava da poesia de Pushkin pela mesma razão que o povo português gostava das letras de Zeca Afonso.
Mas no fundo, no fundo, não sei nada.
AMANSAR FERAS
A música possui a faculdade
de enternecer os corações humanos,
havendo casos em que a feridade
amolecer consegue dos tiranos.
Tenho presente o caso de Estaline
que, pese ao que de si se propalava
e em todos os relatos se define,
rara era a noite em que ao Bolchói faltava.
E quem não lembra o célebre episódio
do pianista... superando o ódio
do oficial nazista... que o descobre?!
A música desperta o que há de nobre
no ser humano, como se dizia
que Orfeu cantando as feras comovia!
JOÃO DE CASTRO NUNES
Quanto à ferocidade de José Stalin ele deriva do facto de ter estado preso dez anos.
A partir daí encontrou forma de liquidar quem o poderia meter novamente na prisão.
Dez anos de prisão para um amante da poesia, criou no personagem uma desconfiança vitalícia relativamente aos que o rodeavam.
Senhor João Boaventura: isso não explica tudo; o mal... estava dentro dele, agravado por diversas circunstâncias de imprecisa determinação, mas em certo modo imagináveis. Voltaremos ao tema, em melhor altura. Já relacionou o seu apelido familiar com a sua comprovada. ainda que remota, origem portuguesa? Não deixa de ser um dado culturalmente interessante. Nada mais do que isso, evidentemente. JCN
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