segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

A SINFONIA INACABADA DE EINSTEIN 4


Texto em português europeu:

A polémica chegou ao rubro no decorrer de uma série de discussões entre Einstein e um dos grandes defensores da mecânica quântica, Niels Bohr.

Depois da Relatividade Geral e de se ter tornado uma figura pública, Einstein torna-se muito pretensioso e pensa que consegue ler a mente de Deus. E, quando surge a mecânica quântica, acha que esta não é a maneira como Deus teria feito o Universo.
E não se coíbe de o afirmar em alto e bom som.


Era um confronto de titãs da ciência.

O debate filosófico entre Neils Bohr e Albert Einstein pode considera-se um dos maiores debates filosóficos de toda a história da ciência. O que estava ali em causa era a natureza da nossa existência.

Einstein e Bohr respeitavam-se muito um ao outro, mas eram pessoas muito diferentes.

Einstein era o paradigma da clareza.

Sentia-se tão à vontade a falar com reis e rainhas como com crianças.

Bohr era famoso por ser um mau comunicador.

Por vezes tornava-se impossível compreender o que ele dizia.

E a ciência que cada um defendia era tão diferente como as suas personalidades. Bohr acreditava que o mundo era tão imprevisível como um lance de dados. Mas Einstein rejeitou esta ideia com a sua famosa frase: “Deus não joga aos dados”.

Dr. Christopher Lehner: O que ele queria dizer com aquilo era que, a um nível fundamental, a física não pode ser probabilística.

Dr. Machio Kaku: Contudo, Niels Bohr pensava ter encontrado uma falha no raciocínio de Einstein e disse-lhe: “Pare de dizer a Deus o que Ele há-de fazer com os dados
”.

Esta era a questão fundamental. Seria Einstein tão brilhante que podia pura e simplesmente rejeitar a imprevisibilidade no centro da mecânica quântica? Ou estaria o grande génio simplesmente errado? Einstein pensava que a melhor maneira de libertar a física da sua imprevisibilidade seria desenvolver a sua maior descoberta, a Teoria Geral da Relatividade. O seu objectivo era descobrir uma nova teoria que combinasse a gravidade, a força que mantém junto os sistemas solares inteiros, com o electromagnetismo, uma força que une um átomo a outro. Einstein esperava que ao combinar estas duas forças, a imprevisibilidade na base da mecânica quântica ficasse esclarecida.

Aquilo que Einstein procurava podia realmente ser explicado através do lançar de dados. Na vida real, quando lançamos um dado, embora os resultados pareçam imprevisíveis, na realidade, em princípio, não o são. Se reconhecermos a velocidade exacta a que o dado é lançado, se soubermos qual é a resistência do ar, se soubermos tudo acerca do lançamento de dados, em princípio podemos prever como é que o dado vai cair, se num 6, num 5, num 4, ou o que quer que seja.

A ambição daquilo que Einstein se propunha levar a cabo não pode ser subvalorizada, porque, se ele fosse bem sucedido, demonstrava que todos os fenómenos se baseavam na previsibilidade, desde o movimento das estrelas e dos planetas no céu até aos elementos fundamentais do mundo. A imprevisibilidade da mecânica quântica desapareceria, a nova teoria de Einstein seria a sua Teoria Unificada.

A Teoria Unificada teria sido o Santo Graal da ciência, teria sido a pedra filosofal, teria sido a mais fantástica de todas as descobertas científicas desde que o Homem surgiu na Terra. Ele desejava uma equação não maior do que uma polegada, que lhe permitisse ler a mente de Deus.

Enfermeira: Ler a mente de Deus? Pensava que isso seria muito complicado.
Einstein: Porque teria de ser complicado? Acredito profundamente que as regras do universo serão belas e simples.
Enfermeira: Mas não é impossível conhecê-las?
Einstein: Por que seria impossível?
Enfermeira: Uma resposta para tudo. Mesmo para si, mesmo para alguém tão inteligente como o senhor.
Einstein: Não inteligente, sou meramente curioso. Acredito que se continuarmos a fazer as perguntas, as respostas surgirão. E quando a solução é simples, é Deus que responde.

Einstein trabalhou nesta sua nova teoria ao longo da década de 1920. Durante este período ficou doente, mas, longe de permitir que isso interferisse com o seu trabalho, enchia os lençóis de cálculos, e então começaram a surgir notícias na imprensa de que ele estava a trabalhar em algo revolucionário.

Em Novembro de 1928, o New York Times surge com o título “Einstein à beira de grande descoberta, incomodado com intromissões”.

O boato de que Einstein iria anunciar uma fabulosa Teoria Unificada provocou um tal frenesim nos meios de comunicação, que Einstein teve de procurar um refúgio.


E, então, ao fim de anos de trabalho, a 30 de Janeiro de 1929, publicou o seu trabalho. A notícia correu mundo. Fez tanta sensação que a Selfridges & Cª, em Londres, expôs as seis páginas nas suas montras. Se Einstein estivesse certo isto seria um enorme golpe na imprevisibilidade que existia no coração da mecânica quântica. Porém, já na altura da publicação, Einstein começou a recuar, preocupado com a possibilidade de estar errado.

Dr. Robert Schulmann: O próprio Einstein estava a começar a ter dúvidas, e os físicos, no seu conjunto, foram bastante duros com ele, em particular Wolfgang Pauli, que disse que “ele parecia ter sido abandonado pelo Senhor”.

A terrível verdade era que a sua nova teoria, não só não derrotava a mecânica quântica como contradizia a sua maior descoberta, a Teoria da Relatividade Geral.


Após a publicação do artigo, os colegas de Einstein foram muito críticos. Acusavam Einstein de se desdizer quanto a algumas das ideias fundamentais de Relatividade Geral. Einstein, por seu lado, prosseguiu ainda cerca de um ano, mas também acabou por admitir que era uma abordagem errada.

Einstein fora humilhado publicamente. Contudo, para ele a batalha ainda não estava perdida, iria durar até ao último dia da sua vida.

Para Einstein foi uma época turbulenta, e em 1932, com a ascensão do nazismo, abandonou definitivamente a Alemanha, como judeu famoso que era tinha a cabeça a prémio. Os seus trabalhos faziam parte do que era queimado nas ruas. Em 1933 chegou à América e posteriormente instalou-se no Instituto de Estudos Avançados de Princeton.

3 comentários:

Anónimo disse...

SUPREMO DILEMA

Toda a questão reside em destrinçar
se tudo o que sucede no universo
é previsível ou se, pelo inverso,
não passa de provável, ao calhar:

ou seja, se por trás das suas barbas fartas,
Deus joga aos dados ou prefere s cartas!

JCN

Anónimo disse...

A CEREJA... QUE FALTOU

Deixou-te Deus dar uma espreitadela
ao modo como o mundo arquitectou,
mas quanto às intenções com que o criou
caríssimo Einstein, Deus não te deu trela!

Anónimo disse...

Altero o dístico final do penúltimo poema para a seguinte redacção, metricamente mais correcta:

Com suas respeitáveis barbas fartas,
Deus joga aos dados ou prefere as cartas?

Obrigado. JCN

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