sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

VENTO DE CAUDA


Minha crónica saída hoje na revista "Tabu" do semanário "Sol":

Sei que o Sol é cada vez mais lido em Angola por mensagens que de lá me chegam. Uma das últimas veio de um engenheiro português a trabalhar em Luanda numa empresa de construção, que me informou que, no seu grupo de trabalho, havia uma grande discussão sobre os tempos de voos de longa distância. Como fazem essas viagens várias vezes ao ano, tinham concluído que demoram praticamente o mesmo as viagens aéreas Lisboa - Luanda e Luanda - Lisboa, portanto quer se vá de norte para sul quer se vá de sul para norte, atravessando o equador em qualquer um dos casos. Mas a dúvida era sobre os tempos dos voos mais ou menos paralelos ao equador. Perguntava-me o leitor se demoraria o mesmo a ir de este para oeste, de Lisboa para Nova Iorque, digamos, ou de oeste para este, de Nova Iorque para Lisboa? Teria a rotação da Terra (que se faz de oeste para este, no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio) alguma influência sobre o tempo de voo?

Na sua opinião, um avião deveria demorar menos se voasse no sentido contrário ao da rotação da Terra. Não era essa, porém, a opinião de alguns dos seus amigos. Discutiam acaloradamente conceitos físicos como os de velocidade absoluta e de velocidade relativa, velocidade angular, efeito da força centrífuga, etc. Havia já apostas de jantares e tudo. Sendo eu físico, pedia-me a resposta certa, dando razão a quem a tinha.

A resposta certa é que, à latitude de Lisboa, os voos de oeste para este demoram menos do que os voos de este para oeste. É mais rápida a viagem de Nova Iorque para Lisboa (7 horas) do que de Lisboa para Nova Iorque (8 horas e 20 minutos, que é mais ou menos o mesmo que demora a viagem de Lisboa a Luanda ou vice-versa). A rotação da Terra não desempenha aqui nenhum papel até porque se ganha tempo quando se vai no mesmo sentido que o da rotação da Terra. A razão para a irrelevância do factor rotação é que a atmosfera se movimenta com a Terra, quer dizer, é arrastada pela Terra quando esta roda. Se não fosse assim, sentir-se-ia um vento terrível à superfície da Terra: no equador seria de cerca de 1700 km/h e, em Lisboa, de cerca de 1300 km/h.

A ajuda vem do vento. À latitude de Lisboa, os ventos dominantes são de oeste para este. E o facto de o vento bater de cauda em vez de bater de frente ajuda a encurtar o tempo de viagem. Entre os 30 e os 60 graus de latitude norte (a latitude de Lisboa é de 38 graus norte) e à altitude das rotas dos aviões comerciais, os ventos podem ultrapassar os 200 km/h (é o chamado “jet stream”). Trata-se de uma ajuda significativa para um avião, como um Boeing 777, com uma velocidade de cruzeiro de 900 km/h.

Lá terá o estimado leitor de pagar o jantar de muamba. Bom apetite para todos!

2 comentários:

Augusto Küttner de Magalhães disse...

Bom que publica também aqui, NESTE EXCELENTE BLOG, para eu ter o gosto de o conseguir ler.

um abraço amigo do

Augusto Küttner de Magalhães

Augusto Küttner de Magalhães disse...

Gostei muito de ser possivel ler aqui neste seu Excelente Blog, este seu excelente artigo
um abraço

Augusto Küttner de Magalhães

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