"O que se passa hoje no ensino é um reflexo daquilo que nós vivemos também na sociedade. E o que se passa no ensino é exemplo do absurdo e do mundo às avessas.
Esta expressão do mundo às avessas é uma expressão clássica de Gil Vicente e de Luís de Camões. E porque é que eu digo que vivemos num mundo às avessas? É porque, no fundo, o professor não tem de reflectir sobre aquilo que é o seu ensino e as suas responsabilidades do acto de ensinar, mas está, neste momento transformado num servidor do estado, tem que obedecer, tem que cumprir, tem de aceitar aspectos extremamente imbecilizantes que aparecem nos programas quer do básico quer do secundário e que testemunham (…) uma grande ignorância (…) uma falta de amor pela língua portuguesa, pela cultura portuguesa, pelo património que herdámos.
E todas estas alterações são feitas com palavras que se envolvem numa capa protectora, que é o progresso e a democracia. Com elas tentam fechar todas as pessoas que querem fazer alguma crítica porque aqui estamos a ir contra o progresso e a democracia. E sabemos antecipadamente que qualquer critica que façamos não vai ter qualquer resultado."
Estas palavras são da Professora Maria do Carmo Vieira, que Mário Crespo, Henrique Medina Carreira e Nuno Crato convidaram para uma conversa sobre a Educação em Portugal no programa de televisão Plano Inclinado, que pode ser visto na íntegra aqui.
domingo, 6 de dezembro de 2009
Um "mundo às avessas"
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4 comentários:
plenamente de acordo. sem politizar, basta olhar sem demagogia para que nos governa. não temos nenhum Viriato. o nome de um filósofo que não transmite essência.
A prestação da professora Maria do Carmo Vieira no Plano Inclinado foi simplesmente excelente. Em particular no último parágrafo citado, conseguiu ir directamente ao ponto essencial do que se passa na educação.
Vi o programa todo e concordo praticamente com tudo o que foi dito. Mas tenho duas críticas/comentários (construtivos) ao programa, que talvez o pudessem melhorar (tornar mais efectivo, mais consequente) e que são válidos para futuros programas (sobretudo, sobre Educação):
1) Ter também um convidado do "outro lado", dos tais responsáveis pelas pedagogias do Ministério da Educação. Mas um verdadeiro responsável e não apenas um "bobo político" que empataria a discussão. Não sei se chegaram a convidar algum desses responsáveis. Mas acho que teria valido mesmo a pena. O "pior" que poderia acontecer era o convite ser recusado. Mas só isto já mostraria a fraqueza desses responsáveis e das suas pedagogias. (O pior mesmo era mandarem um tal "bobo político" - por favor não aceitem isso!). Bom mesmo era ver esses tais responsáveis e suas pedagogias serem desarmadas numa conversa, pelo poder dos argumentos - talvez por isto eles se recusem a aparecer!
2) Falou-se muito dos problemas mas pouco das soluções - aqui fica uma proposta de solução tirada dos Lusíadas (Epílogo, estrofe 149 do canto X):
"Os mais exprimentados levantai-os,
Se, com a experiência, têm bondade
Pera vosso conselho, pois que sabem
O como, o quando, e onde as cousas cabem."
Ou seja, que as autoridades considerem os diversos especialistas/métodos (pedagógicos neste caso) e escolham aquele que provar (cientificamente) ser o melhor; O melhor para o país e não para as suas ambições pessoais. Se não fizerem/fazem isto então o velho do Restelo terá alguma razão (Canto IV, estrofe 95):
"- Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C'uma aura popular, que honra se chama!"
E haverá ainda mais razões para ficarmos preocupados!
Para terminar os meus parabéns aos responsáveis pelo programa, em particular: à SIC porque é cada vez mais raro encontrar um programa decente na televisão portuguesa; ao Nuno Crato pela sua luta contínua pela melhoria da Educação; e à Professora Maria do Carmo Vieira que com as suas excelentes intervenções mostrou o que é ser professor (os quais muitas vezes nem sonham a influência que têm sobre os alunos - por exemplo, as minhas professoras de Português que semearam o gosto pela Poesia neste estudante de Ciências).
Esse programa foi de uma qualidade muito acima da média e os intervenientes colocaram o dedo na ferida, ou seja: o que é hoje a "escola" pública e em consequẽncia o "professor", o "aluno" e o "encarregado de educação"!
Mas não nos enganemos, a nomenklatura não permitirá, sem uma grande luta, que tudo fique na mesma!
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