sábado, 12 de julho de 2008

A controvérsia da hóstia

Em 1298, devido a uma acusação de profanação da hóstia, toda a população judaica de Röttingen foi queimada. Os massacres dos judeus continuaram por toda a Alemanha e também na Áustria. De acordo com as estimativas, 100.000 pessoas foram assassinadas e cerca de 140 comunidades judaicas foram dizimadas, incluindo as comunidades de Wurzburgo, Ratisbona, Nuremberga, Augsburgo e Heilbronn. Este foi apenas um incidente entre muitos outros análogos...

A comunidade científica da blogosfera norte-americana, especialmente PZ Myers no Pharyngula, tem-se agitado nos últimos dias com as consequências do caso da hóstia. O caso, inicialmente com reminiscências medievais, foi despoletado por um estudante na Universidade da Flórida Central . Webster Cook participou numa missa no campus da universidade no dia 29 de Junho. Depois de receber a hóstia, Cook, que fora à missa com um amigo não católico, em vez de a consumir imediatamente decidiu mostrá-la ao amigo que continuava sentado e nunca vira uma. Ainda não tinha dado três passos, quando foi agarrado e uma senhora lhe tentou abrir a mão à força. O jovem não gostou da violência e intimidação física que se seguiu e resolveu levar a hóstia para casa e devolvê-la apenas depois de receber um pedido de desculpas da igreja pelo sucedido.

Caiu o Carmo e a Trindade na comunidade católica norte-americana com este «crime de ódio» como nunca se viu, o jovem foi repetidamente ameaçado de morte, recebeu uma quantidade assombrosa de «hate mail», mesmo depois de se ter assustado com as proporções que o incidente assumiu e ter devolvido a hóstia «raptada» (sem pedido de desculpas).

Bill Donohue, o presidente da Liga Católica, não se conformou com a devolução do «refém» e organizou imediatamente uma campanha nacional contra o estudante que tinha cometido algo tão abominável, exigindo consequências para o acto que incluem a expulsão de Cook da Universidade.

O incidente indignou PZ Myers que escreveu um post denunciando a inanidade da reacção católica em relação á profanação de uma «bolacha». O problema é que no final Myers, provavelmente sem saber que para um católico a hóstia é mesmo uma pessoa e a sua profanação é, como confirmou o presidente da Liga Católica, o acto mais vil e criminoso que existe, pediu para lhe enviarem pelo menos uma hóstia para profanar. Como consequência, para além das expectáveis ameaças de morte e afins, decorre neste momento uma campanha católica exigindo a demissão de Myers da Universidade. Para além disso, a segurança na Convenção Republicana que decorrerá em Twin Cities no Minnesota será reforçada - para garantir a segurança das hóstias, certamente.

No post que originou a controvérsia, PZ Myers sugeria que um leitor roubasse uma hóstia, o que para mim é completamente errado. Aliás, mesmo que especificasse que pretendia adquirir na internet a(s) hóstia(s) para profanação, o acto seria no mínimo infantil e gratuito.

Carl Sagan escreveu, «The suppression of uncomfortable ideas may be common in religion or in politics, but it is not the path to knowledge, and there's no place for it in the endeavor of science.» Para mim, esta máxima de Sagan aplica-se também a pessoas, isto é não suprimo ideias desconfortáveis em relação a pessoas que admiro. Assim, PZ Myers continua a ser um dos meus bloggers de ciência favoritos, partilho a sua indignação em relação às ameaças de morte dirigidas ao estudante (que por sua vez demonstrou uma certa falta de bom senso mas tem a desculpa da idade), acho descabida a reacção da comunidade católica em toda a história mas considero a resposta de Myers um verdadeiro tiro no pé.

Alguns seguidores de religiões fazem destas uma identidade tribal o que se traduz em considerarem a religião não uma prática mas uma causa para a qual vale tudo de forma a assegurar a dominância da tribo. Para mim, os últimos parágrafos de Myers no post em causa aproximam-se perigosamente do comportamento tribal que critica.

21 comentários:

Unknown disse...

Man, desta vez o PZ Myers meteu mesmo a pata na poça, ou antes, desceu ao nível da beatada.

Pior, deu-lhes munições para o desporto favorito: a cristianovitimização. Agora nunca mais se vão calar com ululações de "perseguição" e patetadas do género.

As ameaças de morte, as cartas de ódio e coisas no género são expressões de fé perfeitamente admissíveis e desejáveis mesmo, agora «raptar» uma hóstia é um crime de ódio do piorio!!!

Outra palermice como a história das caricaturas, agora com católicos em vez de muçulmanos...

Anónimo disse...

Myers sugeriu mais:

«Can anyone out there score me some consecrated communion wafers? There's no way I can personally get them — my local churches have stakes prepared for me, I'm sure — but if any of you would be willing to do what it takes to get me some, or even one, and mail it to me, I'll show you sacrilege, gladly, and with much fanfare.»

Ele queria uma hóstia consagrada.

Se fosse com muçulmanos não pediam expulsão...

Anónimo disse...

Porque não dizer que já que é o corpo de cristo, ele ia fazer uma sequenciação do genoma.

Isso sim, seria interessante.

Mais tarde podia-se clonar e tudo.

Vitor Guerreiro disse...

Somos confrontados com este triste espectáculo de irracionalidade, de pessoas que passam a vida a exigir a submissão silenciosa aos outros sob o pretexto do "respeito pelas crenças" (uma confusão entre tolerância morale tolerância epistemológica que tem consequências morais terríveis), mas somos mais lestos a criticar a falta de bom senso nas pessoas que se limitam a reagir de acordo com as suas emoções, a fazer o mesmo que os boçais da igreja fazem, mas invariavelmente sem ferir ninguém, ao contrário destes cordeiros de deus que tanto gostam de uma boa pancadaria e gestos de intimidação e histeria gratuita.

Não é que eu ache que a reacção de Myers e do estudante têm algo de particularmente interessante. Contudo, custa-me censurá-los porque isso é dar um tiro no pé. Ou queremos ter liberdade de expressão e aceitamos que as pessoas podem gozar umas com as outras e até fazer figuras tristes se assim entenderem, ou entao defendemos honestamente a submissão silenciosa aos fanáticos que nao queremos espicaçar.

O único modo de defender o direito à liberdade de expressão é exercê-lo. Para melhor ou para pior. Se os cristãos podem dar-se a espectáculos daqueles, acho que um pequeno circo softcore por parte de quem é constantemente alvo dos insultos desta gente que, contraditoriamente, tão insultada fica com tudo e mais alguma coisa que se diga ou faça, nada tem de mal. Haja mais palhaçada. As pessoas quando ficam muito tempo sem ser confrontadas com o ridículo e o choque da diferença começam a ficar obtusas, provincianas, intolerantes. A palhaçada faz bem.

Unknown disse...

Caro Vitor:

Não sei se alguma vez esteve nos Estados Unidos mas a perseguição de ateus é um facto.

Já muitos filhos foram tirados aos pais por estes serem ateus, outros pais foram obrigados pelo tribunal a dar educação cristã aos filhos, há estados em que ateus não podem assumir determinadas funções, há quem diga que não deviam ter direito a voto, são de facto cidadãos de segunda.

Uma coisa que irrita solenemente os beatos americanos é que os ateus americanos são cidadãos exemplares: os crimes de ódio são cometidos exclusivamente por tarados religiosos, a percentagem de ateus nas cadeias é quase zero, a taxa de divórcio, aborto, gravidezes na adolescência, etc.. atingem os valores mais baixos entre ateus.

Isto não tem nada de especial: os ateus nos Estados Unidos são normalmente pessoas de um nível social elevado, com educação superior e essas taxas são as taxas do seu estrato social.

Mas é uma pedra no sapato da beatada que até obrigou um relatório que indicava isto a ser retirado porque a verdade «corrompia» a juventude.

Para a beatada mais vale ser um facínora ou um assassino que um ateu.

Por outro lado, a beatada tem séculos de experiência em manipulação, em fazer merda e fazer das vítimas dessa merda os verdadeiros culpados. Já está nos genes do cristianismo a invenção de pseudo mártires como um dos santinhos do Pio IX, um inquisidor que assassinou e espoliou um monte de judeus e foi morto pelo familiar de uma das vítimas.

Coisas como esta são aproveitadas até à medula pela beatada, manipuladas para se passarem por vítimas e para apresentarem os ateus como uns intolerantes. Parece que o Vítor não sabe o que a casa gasta e não conhece a hipocrisia da beatada...

O Bento XVI diz que são os ateus os culpados pelo terrorismo religioso, que se não existissem ateus não havia bombistas suicidas, estava à espera de quê nesta treta da hóstia? De racionalidade?

Uma pessoa racional percebe perfeitamente a reacção do PZ Myers, especialmente se considerarmos todo o escândalo da pedofilia na padralhada americana, mas a beatada é irracional e isto passa-se nos Estados Unidos onde a beatada controla os meios de comunicação.

A Fox já aconselhou os espectadores a fazerem queixa do estudante que cometeu o "crime" de rapto da hóstia, o Myers não vai ter descanso para o resto da vida com os católicos que nem cães às canelas.

Unknown disse...

Eu sei que a história, como todas as histórias que metam religião, irrita o mais pacífico.

Mas a mim o que mais me chateia nos religiosos é a mania que estes têm de invadir o meu espaço. Que pratiquem canibalismo ritual, fustiguem-se, ciliciem-se, saturem as pituitárias com incenso onde e quando lhes der na telha.

Mas não admito que invadam o meu espaço nem o espaço público nem que ululem que o dinheiro dos meus impostos deve pagar os rituais e patetadas deles. Muito menos que achem que têm direito de me impor essas patetadas.

Mas eu tb não invado o espaço deles, aliás quero é milhas de distância dessas patetadas. ora o PZ Myers sugeriu que ateus invadissem o espaço da beatada para roubar um troféu.

A emancipação (no Ocidente) do poder arbitrário e absoluto da Igreja custou a vida a muita gente mas não é uma conquista irreversível. A beatada está sempre à espera quais abutres para forçar a barra e recuperar nem que seja um bocadinho de poder. Este é um excelente (falso) pretexto para isso.

Armando Quintas disse...

Mais uma da padralhada, essa gente mete-me nojo.
Rita disse...

"Uma coisa que irrita solenemente os beatos americanos é que os ateus americanos são cidadãos exemplares: os crimes de ódio são cometidos exclusivamente por tarados religiosos, a percentagem de ateus nas cadeias é quase zero, a taxa de divórcio, aborto, gravidezes na adolescência, etc.. atingem os valores mais baixos entre ateus."

pois isso tb se deve à formação civilizacional dos ateus, é mt facil ser-se cristão ou muculmano ou outra religião qualquer, ah e tal nasci numa familia (religião) que pratica o culto e vou à missa e acredito porque sim, porque foi o que me ensinaram e tal..
Os ateus são completamente diferentes, a maioria provêm de familias à partida religiosas que desaprovam a sua opção, são pessoas qeu aprofundam os seus conhecimentos sobretudo na área cientifica já que não têm os olhos tapados por tretas como pecado e n sei que, não vivem a pressão de palermices do pecado, do inferno, tretas que levam à depressão, à esquizofrenia e a outras doenças mentais, são pessoas com atitudes modernas porque não têm medo de verem a sua crença destruida pelas modernices, já que nenhuma crença tem a proteger nem a reclamar tretas medievais, e não impõe nada aos outros porque em tempos lhes tentaram fazer o mesmo e detestaram, isso e muito, muito mais.
Os fanáticos julgam que sabem o que é ser-se ateu mas não sabem, nem fazem a minima ideia.
Esta escumalha religiosa, neste caso os católicos, querem passar uma borracha pela história, pelos progressos da revolução americana, francesa, lutas liberais, laicização das sociedades, separação de poderes, querem pura e simplesmente voltar à saudosa idade média, ao periodo da esquizofrenia colectiva alimentada pela padralhada que alimenta o estomago sem fazer 1 porra que seja para o desenvolvimento da sociedade.
Resta às pessoas que não se incluem neste grupo de esquizofrénicos e fanáticos deter esta gente, é preciso obrigar-los a vestir as camisas de forças, a tomar os anti depressivos e a fecha-los nas respectivos celas do respectivo hospicio.

E antes que venha alguem a defende-los a dizer, ha e tal está a humilhar as nossas crenças e blá blá blá, essa pessoa que pense primeiro que raio é a fantasia em que acredita, a ilusão dos deus, do jesus, dos anjinhos e infatilidades afins, porque essas coisas não existem, nem nunca existiram, incluido o moço pendurado na cruz e um historiador que me diga o contrário aprensentanto finalmente provas históricas irrefutáveis da sua existencia.

Os religiosos são como as pequenas crianças, não têm mentalidade suficientemente desenvolvida para perceberem que o harry potter é ilusão, assim como os seus deuses da treta, e que estes não existem na realidade, apenas no mundo de fantasia, a diferença é que a crença das crianças é inofensiva e com o tempo desvanece-se

Anónimo disse...

«Já muitos filhos foram tirados aos pais por estes serem ateus, outros pais foram obrigados pelo tribunal a dar educação cristã aos filhos,»

Referências por favor.

Unknown disse...

Okay, algumas referências:

Um artigo muito bom:

"Eugene Volokh has just written a law article (PDF file here) on how atheist fathers and mothers are routinely discriminated against in child custody cases. He cites over 70 recent cases across the country - and these were only the ones which were appealed, so they probably represent a fraction of the actual cases. Volokh recalls how Percy Byshe Shelley was the first father to be denied custody because of his atheism - but his dilemma doesn't belong to a different time and place:"

Atheists Discriminated Against in Child Custody Cases

Can Atheists Be Parents?

entretanto ficam outras referências com piada :)

Societies worse off 'when they have God on their side

atheists and agnostics have the lowest divorce rate of all

Esta acho divertida e explica porque os católicos americanos acham que se justifica as ameaças de morte a seres desprezíveis como os ateus :)
Americans, especially Catholics, approve of torture

Rui leprechaun disse...

Esta é nova para mim, mas parece outra tempestade em copo de água e nada mais. Com o tempo, dissolve-se, evapora e desaparece! :)

Seja como for, é sem dúvida um acto desrespeitoso para com a crença alheia, esse parece-me ser o ponto principal a salientar.

É claro que o conceito de "blasfémia" é essencialmente religioso, já que neste caso, como no outro das caricaturas, o alvo não foi nenhum ministro religioso - o qual deve naturalmente merecer o respeito devido a qualquer pessoa - mas o próprio símbolo da religião ou o seu profeta fundador.

Enfim, não me parece motivo para grandes parangonas! ;)

De resto, este blog tornar-se-ia bem mais interessante se também desse a conhecer as dissidências no interior da própria ciência, isso sim é que era um pratinho!!!

Vide "aquecimento ou arrefecimento global" e as novas teorias bem revolucionárias do físico Ruggero Santilli ou do químico Myron Evans, só para citar dois casos mais mediáticos.

Aliás, também entre nós temos o Prof. José Croca, que até já chegou a ser citado aqui, mas cujas ideias não foram discutidas, que eu tenha visto.

Pessoalmente, creio que um tal debate seria muitíssimo mais interessante e produtivo do que estes clamores cíclicos contra os "inimigos exteriores" da religião e pseudo-ciência... seja lá o que isso for!

É que não pode existir unanimidade na ciência, pela sua própria natureza e porque a sede de conhecimento é crescente e infinita.

Logo, como distinguir novas ideias que pode representar fantásticos avanços e notáveis "breakthrough" em relação a velhos paradigmas ou serem apenas interpretações incorrectas de dados experimentais ou terem afinal insuficiente suporte físico ou matemático, por exemplo?!

É que ideias e teorias excitantes por aí não faltam e aquilo que tanto Santilli como Evans afirmam relativamente a novas formas ou fontes de energia é de fazer aguçar o dente, ó minha gente! :)

Crítica à teoria ECE (Einstein-Cartan-Evans)

Dr. Santilli and MagneGas

Unknown disse...

E prontos! Tinha de vir o gnomo New Age com os seus comentários patetas :)

Como eu disse logo no primeiro comentário, para os que têm as meninges obliteradas pela religião, as pessoas não merecem o mínimo respeito o importante é respeitar "crenças" (não ideias, toda a gente sabe que as ideias dos ateus não merecem o mínimo respeito).

Por isso não admira que ele ache que o ponto principal a salientar da história seja o acto "desrespeitoso" do jovem estudante...

As ameaças de morte, as cartas de ódio e coisas no género são expressões de fé perfeitamente admissíveis e desejáveis mesmo e quem diz o contrário é um intolerante ateu, que tem a mania que ateus têm direitos, sei lá, à vida, à integridade física.

Unknown disse...

Também não espanta que um New Ager que acredita em vibrações místicas, homeopatetices e que tais venha falar de pseudo-ciências como as tretas do Santilli e do Evans.

Ambos se passaram dos carretos, endoidaram como diz a minha avó, mas como têm dinheiro em vez de estarem num manicómio estão entretidos a inventar disparates.

Ora esses disparates fazem as delícias dos supersticiosos anti-ciência como o gnomo que não percebem raspas de nada mas gostom dos queixumes dos passados dos carretos de que são «perseguidos» pela ciência main-stream (o que como é óbvio para todos os que têm dois neurónios funcionais não é verdade).

Assim podem usar como «argumento» que também é perseguição dos malvados dos cientistas não aceitarem as suas patetadas New Age.

Haja paciência!!!

Vitor Guerreiro disse...

Rita: de facto, estava a pensar aqui no nosso contexto. É fácil perder de vista as maluqueiras que acontecem nos EUA. Contudo, o que eu queria dizer é que a atitude do Myers, comparada com o barbarismo a que se permite a beatada, é insignificante em termos de dano moral. Repara: só se levanta esta questão da "ofensa" quando um ateu abre a boca para dizer seja o que for acerca do rebanho. Mas se são os gajos a fazer raides verbais e físicos, o pensamento imediato é: o que podemos fazer para que eles não nos façam mal ou não se enraiveçam mais? Porra pá, estamos no recreio da C+S com medo de arrear no rufia? O que é isto? As pessoas não têm o direito de ser livres só porque a liberdade ofende a meia dúzia de labregos que se acham senhores do mundo e da vida dos outros por procuração divina?

Outro assunto:

Há uma coisa que é preciso esclarecer, uma confusão que vai pela mente das pessoas e que parece cola-tudo:

O "respeito pelas crenças" é apenas uma forma sublimada de defender o lápis azul é consiste numa confusão entre duas coisas diferentes: a tolerância moral e a tolerância epistemológica.

A minha ideia é a de que a democracia precisa de duas coisas: tolerância moral e intolerância epistemológica. Porquê?

A tolerância epistemológica resume-se a uma coisa, ao silêncio. Não estou a ver outro modo de praticar a tolerância epistemológica. Mas em que sentido é que isto é bom? A teoria em que Zé Manel acredita torna-se mais verdadeira só porque Manel Zé se abstém de a comentar? É que ao nível das crenças estamos a falar da verdade. Atacar epistemologicamente uma crença priva o crente da sua humanidade? Não me parece. Mas ninguém se lembra que impor o silêncio ao incrente o possa privar da SUA humanidade. Tal como o crente na ideia y não controla todos os aspectos da sua crença, isto não é como ir ao supermercado. Não podemos esperar de umas pessoas que exprimam abertamente as suas convicções e de outras que as reprimam só para que o tal rufia irracional no recreio da C+S, a que parece que qeuremos reduzir a nossa vida social, não se chateie e nos desate a esbofetear.

Se o cristão quer liberdade, essa liberdade tem de ser extensiva a todos. Claro que em liberdade corremos e risco de gozarem connosco. E daí? Somos adultos ou miúdos rufias à porrada na C+S?

Não é possível respeitar crenças, apenas pessoas. É uma barbaridade a ideia do "respeito pela crença". Mas por que raios haveria eu de respeitar crenças que desprezo? E por que raios podem os cristãos afirmar todas as beatices que quiserem acerca de crenças não religiosas, acerca do ateísmo, da ciência e da filosofia enquanto eu tenho de ficar respeitosamente calado para não chatear os rufias?

É simplesmente nojento que as pessoas sejam obrigadas a raciocinar como uma vítima de violência doméstica que pensa assim: deixa-me lá calar a boca porque senão ainda levo mais! É nojento que isto seja considerado "razoabilidade" na vida pública e na sua gestão.

Vitor Guerreiro disse...

Um pequeno reparo, Rita:

A questão de os ateus terem menos divórcios... eh pa. Não entendo esta paranóia dos últimos anos com os divórcios. Eu acho que é bom sinal. Sinal de que as pessoas são mais livres. Afinal para que raios se andou décadas a lutar pelo direito ao divórcio? ESsa boca parece-me cometer o erro de aceitar a linguagem moral dos católicos.

Unknown disse...

Olá Vítor:

Não, a boca não tem nada da linguagem moral da beatada, a boca recorda um dos momentos em que me ri mais na vida: eu estava nos Estados Unidos quando saiu o relatório do Barna Group, um grupo cristão que iniciou a investigação para provar que cristãos são o supra sumo da batata e os ateus uma cambada de depravados que deviam ser expulsos dos EUA.

Quando saiu o relatório, foi um sururu até ele ser retirado e a beatada poder voltar à hipocrisia do costume. Tipo abominável: ai Jesus que os ateus e laicos estão a fazer ataques à família e coisas do género :)

Mas até a beatada ter esquecido a verdade e voltar às mentiras que lhes dão superioridade "moral" foi um gozo:

Ron Barrier, Spokespersonn for American Atheists remarked on these findings with some rather caustic comments against organized religion. He said:

"These findings confirm what I have been saying these last five years. Since Atheist ethics are of a higher caliber than religious morals, it stands to reason that our families would be dedicated more to each other than to some invisible monitor in the sky. With Atheism, women and men are equally responsible for a healthy marriage. There is no room in Atheist ethics for the type of 'submissive' nonsense preached by Baptists and other Christian and/or Jewish groups. Atheists reject, and rightly so, the primitive patriarchal attitudes so prevalent in many religions with respect to marriage." 2

StopTheReligiousRight.org had some scathing comments as well:

"We hear an awful lot from conservatives in the Bible Belt and on the TV about how we all should be living. Certainly a culture that teaches the conservative religious values of the Christian right must have clean living written all over it. And lots of ripe fruit from their morally superior lives abounding."

"It doesn't. Far from it. People that talk the loudest may be the ones walking the slowest. Joining its history of Biblically correct bigotry and discrimination, it is an area with the highest divorce, murder, STD/HIV/AIDS, teen pregnancy, single parent homes, infant mortality, and obesity rates in the nation.

Unknown disse...

Vitor:

Esqueci-me de dizer que adooorei o comentário das 11:41. É exactamente o que eu penso.

"É simplesmente nojento que as pessoas sejam obrigadas a raciocinar como uma vítima de violência doméstica que pensa assim: deixa-me lá calar a boca porque senão ainda levo mais! É nojento que isto seja considerado "razoabilidade" na vida pública e na sua gestão."

Infelizmente é isso que acontece, a beatada, seja muçulmana, evangélica ou católica faz a merda mas quem tem de se calar e arcar com as consequências são os ateus.

E se não se calam lá vem tudo rasgar as vestes para a praça pública que os intolerantes dos ateus estão a atacar a religião.

Basta ver o que aconteceu por aqui com a história das caricaturas de Maomé.

Já agora, sabia que até os cientologistas são ouvidos pela UE, há lá representantes de todas as "crenças", por mais estapafúrdias que sejam, mas os ateus e agnósticos, que representam uma percentagem da população superior à maioria das confissões, não só não têm como são sistematicamente recusados os pedidos de audiência por parte de associações humanistas, ateias, laicas, etc..?

artur figueiredo disse...

Esta peripécia do jovem Cook vem mostrar como nada mudou na religião. Hoje, tal como antigamente, os principais ingredientes e a receita das crenças e do pensamento religioso mantêm-se: o receio e a insegurança individual devidamente misturados servem de base, a irracionalidade e a intolerância na medida certa são o recheio ideal e, para melhorar o aspecto nada como ameaças e perseguições quanto baste. Sofrimento e auto culpabilização são as formas convenientes para servir o repasto.

Na verdade, se a bolachinha simbólica tivesse algo de sagrado não era necessário os humanos preocuparem-se com a sua profanação. Como os crentes sabem desta verdade e lhes falta convicção, vá de agitar as águas. A proliferação de crenças variadas e segredos descobertos é, mais do que tudo, resultado da constatação generalizada de que a religião falha os objectivos básicos a que se propõe, sendo a sua prática insuficiente para preencher os vazios da nossa compreensão.

Tendo o PZMeyers com pessoa racional e consciente é difícil perceber a sua atitude como um descuido. Não terá ele concluído que não é possível resolver o grave problema das religiões com falinhas mansas e palmadinhas nas costas? Como temos o privilégio de estar a assistir ao inicio da saga "PZMeyers e a busca do biscoito profanado" vamos ver o que os próximos episódios nos reservam :)

Fernando Gouveia disse...

Uma correcção pouco importante, mas aqui fica: a tradução correcta do nome da universidade é Universidade da Florida Central e não Universidade Central da Florida. Pelo menos se a universidade em causa for a UCF (University of Central Florida), situada em Orlando.

alf disse...

Muito interessante isto tudo

Eu, como sou extraterrestre, não distingo entre religiosos e ateus. Para mim, são tudo humanos e manifestações das caracteristicas dos humanos - que dependem de caracteristicas individuais e circunstanciais.

Um Ateu tornar-se-à, pelo que vou percebendo dos humanos, tão agressivo na defesa da sua «crença» como o são os católicos americanos, desde que comecem a organiza-se em sociedades ateistas e ganham força de maioria.

Começo a perceber melhor porque os humanos são tão crentes - acreditam naquilo que lhes convem. Acreditam numa religião, que lhes assegura que são imortais, como acredita no aquecimento global porque isso corresponde a alguma ansia profunda do seu inconsciente, como acredita no que lhe foi ensinado na escola porqu equestionar isso seria regressar ao princípio e isso não lhe convinha.

Mas os humanos também não me parece que saibam funcionar sem crenças. Os seus cérebros entram em curto-circuito com a dúvida, não têm solução para ela a não ser a violência ou o riso.

Talvez por isso a crença seja tanto mais forte quanto maior é a ignorância. O que não quer dizer que os sábios não sejam igualmente crentes.

Noto a violência do ataque da «Rita» ao Leprechaun - parece-me idêntica à dos católicos e o Leprechaun não violou nenhum simbolo sagrado.

Misteriosos estes humanos...e bem interessante este post e esta discussão, fica a saber muito mais do que sabia

(não estranhem eu pôr-me no papel de «extraterrestre» - temos de pôr distância de nós próprios para nos conseguirmos ver, não é?)

Palmira F. da Silva disse...

Obrigado, Fernando Gouveia. Já emendei o nome da Universidade.

Entretanto o jornal Minnesota Independent entrevistou PZ Myers

Unrepentant science-heathen PZ Myers still intends to prove "this cracker is nothing"

mm disse...

por favor, diga-me o quer respeita, ama e venera para que eu, quando tiver uma portunidade, lhe possa escarrar em cima.
obrigado

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