quarta-feira, 9 de julho de 2008

Biocombustíveis e aumento de preços


Um relatório confidencial do Banco Mundial conclui que os biocombustíveis são responsáveis por 75% do aumento dos preços dos alimentos a que temos assistido a uma escala global.

No relatório a que o Guardian teve acesso, foi feita uma análise exaustiva por um especialista do BM que indica sem sombra de dúvidas a ligação entre biocombustíveis e o aumento exponencial do preço dos cereais. Segundo o economista do BM, as razões para este aumento assentam no desvio de cada vez mais terra e cereal para a produção de biocombustíveis e na especulação financeira provocada por esta nova utilização dos cereais. O relatório menoriza as razões apontadas por alguns responsáveis políticos, nomeadamente G. W. Bush, para o aumento dos preços, como sejam o aumento do consumo em países em desenvolvimento, na China e na Índia, ou problemas nas colheitas devido a factores ambientais, a seca na Austrália, por exemplo.

E de facto, nos últimos tempos o Banco Mundial tem sido fértil em avisos sobre os riscos dos biocombustíveis, nomeadamente no encontro do G8 que decorre no Japão, onde o tema figura proeminente na agenda. Também o Inter-Governmental Panel on Climate Change (IPCC) se tem debruçado sobre estes riscos, nomeadamente nos sues efeitos a nível de alterações climáticas em consequência da desflorestação decorrente da produção massiva de etanol e óleo de palma.

De acordo com o Guardian, o relatório, que está pronto desde Abril, não foi publicado para não embaraçar o presidente norte-americano e não colocar pressão sobre o seu governo, que pretende incorporar 10% de biocombustíveis na gasolina e gasóleo até 2020. De igual forma, o relatório pressionaria os governos europeus já que é igualmente meta da UE ter em 2020 10% do combustível obtido de fontes renováveis.

Espera-se para breve o relatório britânico sobre o impacto dos biocombustíveis, o Gallagher Report que, novamente de acordo com o Guardian, obrigará os países desenvolvidos a repensar as respectivas políticas em relação aos biocombustíveis de primeira geração. Podemos apenas esperar que com todos estes avisos os responsáveis mundiais despertem para os efeitos dramáticos, há muito previstos, destas políticas. E esperemos que esta consciencialização permita remediar pelo menos os efeitos do que a FAO (a agência da ONU para a alimentação) chamou «o tsunami silencioso» que empurrou para a fome mais de 100 milhões de pessoas.

Posts sobre o tema no De Rerum Natura:

Biocombustíveis e Sustentabilidade
Ecologia e biocombustíveis
Biocombustíveis podem agravar aquecimento global
Ler os outros: Um futuro menos verde do que se pensa
Biocombustíveis e o aumento do preço dos cereais
SEPARAR O TRIGO DO DIESEL

Adenda: O relatório Gallagher sobre biocombustíveis já está disponível (formato pdf) assim como um relatório do International Institute for Environment and Development, (formato pdf). Ambos os relatórios são muito críticos do que Jeremy Hobbs, director executivo da Oxfam International, apelida de queima de alimentos nos motores de carros.

3 comentários:

JSA disse...

Confesso que não gosto muito dos biocombustíveis, mesmo que venham de algas ou da cana do açúcar (os meios sustentáveis). A forma como o bioetanol me foi convencendo inicialmente foi se obtido a partir de resíduos orgânicos, não se obtido a partir de colheitas específicas para o efeito. Isto porque eu tinha asensação que se estava apenas a fechar o círculo de CO2, não necessariamente a eliminá-lo.

A opção deverá passar precisamente pelas energias alternativas que permitam a produção de energia eléctrica e/ou hidrogéni. Os meios de transporte deverão depois passar a utilizar pilhas ou células de combustível. Meios que continuem a basear-se em combustão interna não me convencem de todo.

alf disse...

Este é um caso idêntico ao relatado no post seguinte. Os relatórios confidenciais a que só uns iluminados têm acesso são sempre invenções.

O aumento do preço dos alimentos tem a mesma causa do aumento dos preços dos combustíveis. A pergunta correcta não é porque aumentam. Porque não deveriam aumentar?

Quanto ao problema da fome, não é um problema agrícola mas de controlo de natalidade - a população mundial aumenta uns 70 milhões de pessoas todos os anos. E aumenta exactamente onde já há fome. Ou seja, todos os anos há mais 70 milhões de esfomeados.

jpt disse...

Obrigado pelo post. E pelo filão de documentação

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