Centenas de filhotes de pinguins têm sido encontrados mortos nas praias do Rio de Janeiro nas últimas semanas. De acordo com Eduardo Pimenta, superintendente da agência de protecção ambiental da costa estadual, mais de 400 pinguins foram encontrados mortos nas praias do estado nos últimos dois meses. Os números da catástrofe podem ser ainda mais avassaladores uma vez que nem todos os pinguins que morrem nas praias são contabilizados.
A notícia surge pouco depois de um artigo de Dee Boersma ter feito a capa da edição de Julho/Agosto da revista BioScience. No artigo, a especialista em Biologia de Conservação da Universidade de Washington lança um alerta para o declínio das populações de pinguins. Estas estão a desaparecer mais rapidamente do que se podia prever, registando-se em muitas espécies um declínio na ordem dos 50 por cento nas últimas décadas.
Boersma conta como visitou Dumont d'Urville, a base francesa na Antárctica onde o filme «A marcha dos pinguins» foi filmado. Os pinguins imperador estudados no filme incubam os ovos no meio do inverno antárctico e os filhotes deixam o ninho no verão, em Dezembro, princípio de Janeiro. As alterações climáticas nesta zona do globo traduzem-se no facto de em finais de Setembro já não existir gelo numa altura em que as penas das crias ainda não desenvolveram a camada hidrofóbica que permite a sobrevivência da espécie nas águas geladas. Para além disso, nos últimos tempos o verão antárctico tem sido marcado por chuvas torrenciais que encharcam os filhotes. Como referiu este mês o National Geographic, as crias congelam durante a noite e muitos milhares estão a morrer.
Boersma estuda a maior colónia de procriação de pinguins-de-Magalhães em Punta Tombo, na costa atlântica da Argentina há cerca de 25 anos. Para além das alterações climáticas, a colónia é ameaçada por redes de pesca, turistas, e, principalmente, pela fome. As alterações nas correntes marinhas e a pesca desenfreada têm forçado os pinguins a deslocarem-se mais 60 km dos seus ninhos para encontrarem comida. Assim, de acordo com Boersma, a colónia, que tinha perto de 400 mil pares há pouco mais de vinte anos, está hoje reduzida a metade.
O padrão repete-se ou é ainda mais assustador noutros pontos do globo. Por exemplo, os pinguins da África do Sul, que utilizam dejectos de pássaros para fazerem os ninhos, diminuíram de 1.5 milhões de pares há um século para os actuais 63 mil pares devido à recolha do guano para fertilizante.
Nas Galápagos, onde existe a única espécie do hemisfério norte, um El Niño mais frequente está a empurrar a alimentação dos pinguins para longe da costa e a matar à fome a colónia. O número de pinguins decaiu para cerca de 2500, um quarto da população existente no arquipélago quando Boersma os estudou pela primeira vez na década de 70.
Muitas das espécies conhecidas de pinguins estão a ser afectadas, mais concretamente, de acordo com a União Internacional pela Conservação da Natureza, 12 espécies estão em algum tipo de perigo.
A organização lista três espécies como ameaçadas de extinção e sete como vulneráveis, o que significa que «enfrentam alto risco de extinção», e duas mais como «próximas da ameaça». Há apenas cerca de 15 anos, apenas entre cinco a sete espécies eram consideradas vulneráveis.
No artigo publicado este mês, Boersma alerta para o facto de os pinguins serem o proverbial canário na mina de carvão, isto é, podem servir de «sentinelas das mudanças radicais do planeta» e especialmente são sentinelas das «doenças» que afectam os nossos oceanos. A cientista considera que os 43 «pontos quentes» dos pinguins devem ser vigiados muito mais de perto já que as populações de pinguins permitem aferir a variabilidade e viabilidade dos ecossistemas oceânicos.
Boersma considera ainda que há uma necessidade urgente em determinar o impacto do crescente número de pessoas a viver em áreas costeiras nos habitats marinhos. De facto, a cientista considera que para além das alterações climáticas, a actividade humana está a hipotecar a sobrevivência dos pinguins devido a factores como a pesca comercial, os derrames de petróleo e o desenvolvimento desordenado das zonas costeiras. Isto é, «Este problema levanta uma questão, será que os humanos estão a fazer com que seja demasiado difícil que outras espécies coexistam?»
A cientista explica melhor o que pensa: «À medida que os peixes que os humanos tradicionalmente comem se tornam mais escassos, começamos a pescar o resto da cadeia alimentar e a competir mais directamente com organismos mais pequenos pela comida de que eles dependem», acrescentando que «Os pinguins são daquelas espécies que nos mostram que estamos a alterar profundamente o nosso mundo. O destino de todas as espécies é a extinção, mas há algumas espécies que se extinguem antes do tempo e estamos a encarar essa possibilidade com alguns pinguins».
Na opinião da cientista, o rápido aumento da população mundial, de 3 mil milhões de habitantes em 1960 para 6.7 mil milhões em 2005, com a perspectiva de um crescimento para 8 mil milhões em 2025 indica que:
«Nós esperámos muito tempo. É claro que os humanos mudaram a face da Terra e mudámos também a face dos oceanos mas não o podemos ver. Nós já esperámos demasiado tempo».
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3 comentários:
De facto, o mais assustador é o verificarmos como a situação se tem agravado tão rapidamente.
Se consultarmos o sítio da IUCN, várias das espécies aqui referidas, como o pinguim-imperador e o pinguim de Adélia, ainda estão sob o rótulo «Least Concern». Mesmo o pinguim de Magalhães só em 2000 passou para «Lower Risk/near threatened». Creio que apenas o Pinguim do Cabo, hoje numa situação a caminho de desesperada, está classificado como vulnerável.
Arrepia-me dizer isto, mas não creio que exista grande esperança para as aves marinhas. Há uns anos atrás conseguiu-se pôr cobro a alguns fortes declínios populacionais protegendo os locais de nidificação. Mas contra alterações climáticas e escassez de cardumes, que se pode fazer?
Ontem, estive naveguei em águas oceânicas adjacentes a Salvador da Bahia (15 Graus de latitude sul) e, infelizmente, encontrei inúmeros pinguins mortos.
Nesse período do ano, há uma intensificação da contra corrente norte brasileira, que poderia eventualmente trazer alguns pinguins á esse latitude...
A quantidade encontrada porém é assutadora (Atenção, não falamos me Rio de janeiro mas em Salvador).
Estou Presisando de qual a importancia do processo observado para os pinguins
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