Outro post de Norberto Pires:
É comum ouvir-se que a Universidade e a Indústria em Portugal estão de costas voltadas. Isso não é verdade. Existem muitos e interessantes exemplos que demonstram o que afirmo. E, infelizmente, outros tantos que o desmentem. Mas devemos fixar-nos nos bons exemplos, certo?
Neste post tentei justificar que a actividade de I&D com a marca portuguesa é um esforço estratégico para Portugal, pois só assim faremos a diferença e poderemos inverter o nosso crónico atraso relativamente à Europa e ao mundo. Argumentei ainda que esse esforço deve ser feito em cooperação com empresas, para que tenha consequências de médio e longo prazo na economia e na sociedade.
Como exemplo, vejam o pequeno vídeo abaixo: mostra um protótipo que construímos em Coimbra para a empresa IVO Cutelarias (exporta 100% da sua produção, porque apostou em design e em qualidade - os robôs ajudam). É o resultado de uma tese de mestrado (2007), do aluno Gabriel Afonso. Em que é que isto ajuda? Se repararem os produtos da IVO têm um design próprio, idealizado por um famoso designer sueco. A produção manual é quase impossível, com a qualidade que se exige. O que fizemos foi usar os desenhos do arquitecto (feitos usando software CAD, ou seja, na ferramenta que o designer usa para criar as suas peças) para programar directamente o robô sem intervenção humana: programar um modelo novo leva 5 a 10 minutos e não precisa de ajuste.
Veja um exemplo na figura abaixo (clique na figura para aumentar):
Para além disso, o robô está equipado com sensores de força-momento, isto é, aplica a força correcta para uma lixagem e polimento eficaz (estes sensores, com o nosso software, também foram usados pela NASA na missão STS121 e outras - veja as fotos aqui). Com isso, compensa ainda o desgaste da lixa e dos restantes componentes. Pode trabalhar sozinho, dia e noite. Tecnologia usada no espaço para produzir facas: quem diria!
Link para vídeo: mms://www.dem.uc.pt/ivo2_low.wmv
A universidade deve fazer as coisas arriscadas, porque são essas que podem constituir mais valias consideráveis. É por isso que as universidades e as empresas são complementares: umas podem fazer I&D de risco, trabalhar na fronteira da ciência (é essa a sua MISSÃO), colocando o foco na realidade e preocupando-se em fazer o caminho todo; as outras, as empresas, podem
ajudar nessa fase final que conduz a um produto que tem de ser mantido, etc. Só com RISCO, com I&D de risco, é que podemos ultrapassar a situação em que estamos. Ora RISCO e INVESTIGAÇÃO não são sinónimos, mas uma coisa não existe sem a outra.
As universidades e empresas devem aproximar-se para partilhar objectivos e fazer desenvolvimentos em consórcio. Isso irá melhorar o I&D universitário dando-lhe uma maior objectividade e sentido prático, ao mesmo tempo que permitirá às empresas a partilha de conhecimentos e experiências que normalmente não estão à sua disposição.
Dá que pensar, não é?
J. Norberto Pires
Outros Exemplos:
ENIGMA - Uma Cadeira de Rodas Inovadora - vídeo aqui.
RAPOSA - Um robô para operações de salvamento - vídeo aqui
domingo, 2 de setembro de 2007
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
"A escola pública está em apuros"
Por Isaltina Martins e Maria Helena Damião Cristiana Gaspar, Professora de História no sistema de ensino público e doutoranda em educação,...
-
Perguntaram-me da revista Visão Júnior: "Porque é que o lume é azul? Gostava mesmo de saber porque, quando a minha mãe está a cozinh...
-
Usa-se muitas vezes a expressão «argumento de autoridade» como sinónimo de «mau argumento de autoridade». Todavia, nem todos os argumentos d...
-
Cap. 43 do livro "Bibliotecas. Uma maratona de pessoas e livros", de Abílio Guimarães, publicado pela Entrefolhos , que vou apr...
4 comentários:
Excelente, adorei este post.
wow!
:)
I'm impressed!
james
caro senhor- seguramente Professor-
J. Norberto Pires:
Criatividade X Criacionismo. Julgo-me um criativo. N�o criacionista - soube agora - que me parece um movimento recente que pretende retirar ao Homem uma das sua caracter�sticas mais pr�ximas dos deuses: a sua capacidade de CRIAR.
Passei- julgo que de forma original- a designar o movimento por Cria(N)cionismo.
Para lhe dizer que a minha "criatidade"filol�gica tem correspond�ncia na capacidade de fazer colagens pr�ticas (juntar objectos para conseguir novas fun�es - que � isso que julgo seja ao que vulgarmente se chama inventar)
Sugiro-lhe, como exerc�cio pr�tico,
pegue os seguintes dois equipamentos:
1 - um carreto de pesca
2- um "aparafusador" el�ctrico
A� nas Vossas oficinas, onde criam, montam, p�em a trabalhar rob�s sofisticados, ensaiem substituir a manivela do carreto de pesca pela referida maquineta de aparafusar.
N�o ser� ideia para a cria�o (quem sabe original!) de um carreto de pesca "el�ctrico"?
N�o deve haver Universidade em Portugal que eu n�o tenha contactado - mesmo para pedir apoio
t�cnico/cient�fico para testar as minhas pequenas "descobertas".
Sabe que nehuma delas se dignou sequer acusar a recep�o? Contrariamente ao que tenta fazer passar no seu "esfor�ado" e bem intencionado artigo, as Universidades Portuguesas come�am por enfermar de uma defic�ncia b�sica: a falta de �tica.
Creia que admiro a sua boa-vontade
e honestidade de prop�sitos. Mas olhe que a minha experi�ncia pessoal me indica que essa rela�o
Universidade/Empresas ainda "d� muito que pensar"
:-)
Em muitas situações responde bem, cria valor e junto ciência a produtos novos.
jnp
Enviar um comentário