segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Mitos educativos da actualidade

Vitorino Magalhães Godinho, Ministro da Educação e Cultura, por poucos meses, em plena Revolução de Abril (de 18 de Julho de 1974 a 29 de Novembro de 1974) detém-se, de modo lúcido e muito perspicaz, em vários mitos educativos da actualidade: a "criatividade natural da criança", a "eficácia dos meios informáticos, por si mesmos", "a escola activa, o aluno activo, a aprendizagem activa" (no sentido físico, interventivo, não no sentido intelectual), "a perversidade da exposição ou de qualquer explicação do professor" que implicará desatenção automática do aluno, "a autonomia na aprendizagem" (leia-se, dispensa do ensino do professor, o "afastamento da memorização" por, supostamente, impedir a compreensão...

"... tende a enraizar-se a ideia de que o grande progresso na actividade criativa virá de cada aluno dispor de computador, e de as sessões (não ousamos dizer: de aprendizagem, nem sequer de trabalho) se desenrolarem em diálogo entre os alunos e estes e o professor através do computador. Julga-se que assim teremos uma escola activa. Nada mais errado (…) os [alunos], para se desenvolverem, têm de agir em meio social e com a realidade física da presença dos outros. Insistamos neste ponto: estar frente a frente com os colegas e o mestre (…) é completamente diferente delhes falarmos ao telefone ou pela Internet. E se pela Internet se pode aprender muito, nada substitui o contacto com (…) as pessoas; o excesso de uso do ecrã cria o artifício da "realidade virtual" e a reticência a mover-se no mundo real (…). O fascínio do ambiente virtual e o receio do meio físico estão a tornar-se doentios (...) não se está afeito a lidar com a presença corpórea dos demais (as expressões do rosto, os gestos das mãos...).
No Secundário e até no Básico instalou-se o mito da criatividade. Acha-se que a débil atenção dos alunos não suporta a exposição feita pelo professor, e que aliás não estão na escola para aprender mas sim para realizarem as suas capacidades criativas. Dispensou-se a memorização da tabuada ou das regras da gramática, como das datas mais importantes da história de Portugal. E de modo geral receia-se que recorrer à memória afecte os frágeis cérebros infantis ou juvenis. Ora memorizar não é acto mecânico e resposta cega a uma dificuldade; é acto de inteligência, requer arte no seu manejo, selecção do que se memoriza; um software (mental) bem organizado é que permite um trabalho intelectual eficaz. Não se confunda com a prática antiga de aprender de cor numerosos conhecimentos para depois os debitar a fim de mostrar que se sabe."

A entrevista completa pode ser lida aqui.

22 comentários:

José Batista da Ascenção disse...

Sim, o nosso sistema educativo tornou-se num mar de equívocos quando não de meras aldrabices. O caso da desvalorização da memória cai no domínio do escabroso. Basta reparar que o ser humano é basicamente memória. Os nossos raciocínios e as nossas acções só são possíveis com recurso constante à memória. Veja-se o caso dramático das pessoas que sofrem de alzeimer. A um certo nível o que estamos a fazer com os nossos jovens é condená-los a uma espécie de "escolarização do alzeimer". O simples acto de apertar um botão da camisa só é possível com a mecanização (repetição) desse acto, o qual depende da memorização das respectivas condicionantes. Mas que digo eu? Os neurologistas que esclareçam o assunto. É pena que não pareça haver em Portugal um António Damásio. O organização do nosso ensino institui e obriga à mais fera e mais vera estupidez. E o que acontece a seguir é sempre pior do que o que existia antes. E às vezes apresentado como inovação. Temos mesmo um instituto de inovação educacional! E nunca confrontamos os "inovadores" com as consequências das suas "inovações". Porque será?
Ainda voltando à memória, porque será que até as máquinas informáticas de que nos tornámos dependentes a não dispensam? O que vale um computador sem memória?
E sobre a criatividade podia dizer-se outro tanto. Funcionamos como se a escola pudesse aumentar a criatividade dos alunos. E aceitamos que as formas escultóricas (?) que inundam as nossas rotundas são manifestações de criatividade. Como aceitamos que espaços nobres (casa de Serralves, Porto), pagos com os nossos impostos, façam exposições dedicadas a imagens do "olho do cu". Grande arte! Grande criatividade! Para onde caminhamos? Para onde conduzimos as gerações jovens?

Fartinho da Silva disse...

Mas uma excelente reflexão!

Todos aqueles que afundaram o nosso sistema público de ensino e o transformaram num enorme centro de entretenimento e guarda de crianças e jovens, onde todas as baboseiras burocrático-pedagógico-ideológicas são permitidas, onde os professores trabalham para justificar o emprego de terceiros, onde os alunos são cobaias dos maiores disparates do lobby das "ciências" da educação e os encarregados de educação são olhados com desprezo e como agentes passivos na responsabilidade que deveriam ter na educação dos seus filhos, deveriam colocar a mão na consciência e meter marcha atrás o mais depressa possível.

João de Castro Nunes disse...

Vozes sábias, como a do Prof. Magalhães Godinho, nunca deviam ter sido caladas ou menosprezadas, para dar lugar à vacuidada reinante em nossos dias. JCN

Carlos Pires disse...

Vale a pena comparar a lucidez do Prof. Magalhães Godinho com a vacuidade de pessoas como Daniel Sampaio. Este repete há anos as mesmas tretas acerca do carácter desmotivador de toda e qualquer exposição e das virtualidades mágicas do "trabalho cooperativo", como se fosse impossível um aluno pensar criticamente ao ouvir uma exposição do professor e como se os alunos ao trabalhar em grupo fossem necessariamente criativos e autónomos.
Um aluno que acha desmotivadora uma explicação de 10 ou 15 minutos acerca do problema do livre-arbítrio, das causas da revolução francesa ou das hormonas sexuais é simplesmente preguiçoso. E não mudará magicamente de atitude se lhe propuserem um Trabalho de grupo, perdão, cooperativo.

Rui P. Guimaraes disse...

Sou normalmente um internauta passivo. Gosto de ler este e outros blogges sem intervir. No entanto, o que agora aqui se discute é demasiado importante para levar com ligeireza. Eu própio ouvi muitos argumentos vindos dos meus professores, ha 15 anos atras, sobre o tópico criatividade vs memorizacao. Aqui, o ilustre Sr. Vitorino Godinho fala sobre o assunto em termos gerais e num contexto em que fala de muitos topicos sem realmente aprofundar nenhum.
A criatividade aqui em causa, nao é a de um artista num desvario mental sobre os efeitos de uma qualquer droga à procura de expor sentimentos profundos. Trata-se da habilidade de combinar. O poder de, após a intepretacao de um problema, conseguir combinar conhecimentos, técnicas, modelos, casos base para produzir uma solucao nova. Utilizando a metafora da informática do texto acima, os alunos nao podem ser meras bases de dados. Precisam de um software que interprete esses e outros dados para os utilizar com sucesso em novas situacoes. É isto que se pretende num ensino que valorize a capacidade criativa indespensavel numa sociedade altamente competitiva onde a inovacao e o progresso se torna, cada vez mais, a base da economia. Claramente nao está em causa que se deixe de utilizar a memoria de todo, mas que esta nao seja o fim último do ensino. Assim, o historiador saberá as datas mais importantes da história de portugal e saberá descrever o que se passou nessas datas. Mas mais importante, saberá interpretar um acontecimento presente à luz dessas datas e saberá combinar este conhecimento para formular previsoes das possiveis consequencias. Assim, o aluno da lingua portuguesa nao tera que aprender apenas as regras da gramatica portuguesa mas saberá utiliza-as para transmitir as suas ideias com clareza. Assim, o estudante de matemática nao será apenas o ostentador de uma inúmera lista de formulas que andou anos a repetir e que agora saberá canta-las de trás para a frente, mas saberá também utilizar tecnicas para descobrir novas formulas. O aluno criativo será investigador, critico e proactivo. Qualidades indespensaveis da sociedade moderna. E pretende-se ainda mais, e este é o grande desafio da actual educacao, que sejam estas mesmas qualidades que obriguem à memorizacao dos conhecimentos e nao que se obrigue o aluno a memorizar algo na esperanca que, um dia num futuro distante, saiba utilizar criativamente. É o facto de muitos agentes da educacao nao compreenderem esta subtileza que levam ao insucesso da aplicacao dos principios que regem a educacao que se critica no texto acima. A criatividade e a memorizacao deverao estar doseadas de maneira equilibrada e será sempre mais eficiente quando, tanto quanto possivel, se utlize a primeira para requerer a segunda.

Anónimo disse...

Meu caro Rui P. Guimarães:
Felicito-o pela lucidez da sua análise. Identifico-me completamente com ela.
Gostaria de sublinhar que a Professora Helena Damião é especialista em deixar entradas como esta que os apóstolos do "anti-eduquês" respondem de forma pavloviana. Um deles vai ao ponto de de criticar o Instituto de Inovação Educacional, instituição já extinta, como se fosse um anátema inovar no plano de educação e fosse um sacrilégio procurar estratégias educacionais alternativas às propostas tradicionais cientificamente validadas.

PJ

Carlos Pires disse...

Rui:
Apóstolos encontram-se entre os defensores do "eduquês", que à falta de melhores justificações elevam as suas ideias ao estatuto de dogmas religiosos.
O que escreveu sobre a capacidade crítica e a criatividade é também defendido pelos críticos do "eduquês", que não defendem de modo nenhum um ensino dogmático nem alunos meramente passivos. O que esses críticos sublinham é que a capacidade crítica e a criatividade não se conseguem sem trabalho árduo, sem exercício, sem estudar conteúdos científicos relevantes (considerados secundários pelos apóstolos do "eduquês") - e é nesse contexto que a memorização tem o seu papel.
P.S. Não tive tempo de ler os outros comentários.

Fartinho da Silva disse...

Os dois últimos comentários demonstram de forma clara como a doutrina de tomar como base de raciocínio aquilo que o outro nunca defendeu continua a reinar neste país mais preocupado com a forma que com o conteúdo.

Para estes dois últimos comentadores, o autor em questão e a Helena Damião, afirmam neste texto, que a memória é o fim último do ensino. Agora desafio os mesmo a explicitarem onde é que tal ideia está escrita!

O comentário do não coloca nada em questão antes deixa questões e tenta afirmar que quem luta contra o lobby das "ciências" da educação é contra a inovação e até confunde o Instituto de Inovação Educacional (seja lá o que isso for) com a Direcção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular.

O Comentário de Rui P. Guimarães, é deveras interessante porque tenta misturar bases de dados com sistemas de conhecimento. Não diz é que os tais sistemas de conhecimento necessitam de bases de dados de excelente qualidade e que funcionem MUITO BEM. O ser humano também necessita de exercitar a sua memória para poder inovar. Como pode alguém inovar sem dominar os conceitos base?

Estes dois comentadores escondem a realidade da "escola" pública dos dias de hoje, tentando colocar na boca dos outros aquilo que nunca afirmaram. É, aliás, a técnica habitual nos seminários dos "cientistas" da educação. Quando alguém levanta a voz é apelidado de conservador, autoritário, salazarento bolorento e tais epítetos são justificados com base nas afirmações que os doutos julgam ter ouvido.

Meus caros, chega de conversa mole e de ideologias utópicas.

Muita gente avisou em 1989 que a economia portuguesa iria parar de crescer assim que apanhasse com mais concorrência externa porque, as reformas inovadoras que entretanto nasceram e se multiplicaram no ensino público iriam fazer com que o aluno médio português não tivesse qualquer hipótese de competir com os alunos médios dos nossos concorrentes. Muitos "cientistas" da educação fizeram troça, olhem agora para a nossa economia. Desde 2000 que não crescemos e posso acrescentar que enquanto não arrepiarmos caminho neste sector, a economia portuguesa não crescerá acima de 2% ao ano. É só fazer as contas...

Até acrescento mais, quem vai pagar as vossas reformas?

Fartinho da Silva disse...

Para se perceber onde chegou o completo e absoluto disparate basta ver aquilo que um aluno do 7º ano de escolaridade tem pela frente:

DISCIPLINAS E ÁREAS CURRICULARES Não DISCIPLINARES 1. Língua Portuguesa 2. História 3. Língua Estrangeira I — Inglês 4. Língua Estrangeira II — Francês 5. Matemática 6. Ciências Naturais 7. Físico-Químicas 8. Geografia 9. Educação Física 10. Educação Visual 11. Tapeçaria ou outra (oferta da escola e obrigatória) 12. Educação Tecnológica 13. Educação Moral e Religiosa .... 14. Estudo Acompanhado 15. Área Projecto 16. Formação Cívica É ISSO – CONTARAM BEM – SÂO 16 (dezasseis) Carga horária = 36 tempos lectivos Não é o máximo ensinar isto tudo aos filhos de toda esta gente? De todo o Portugal? Somos demais, mesmo bons!

Mas não ficamos por aqui! A Escola ainda:

- Integra alunos com diferentes tipologias e graus de deficiência;
- Integra alunos com Necessidades Educativas de Carácter Prolongado de toda a espécie e feitio;
- Integra alunos oriundos de outros países que, por vezes não dizem uma palavrinha de Português;
- Tem o dever de criar outras opções para superar dificuldades dos alunos como:
- Currículos Alternativos;
- Percursos Escolares Próprios;
- Percursos Curriculares Alternativos;
- Cursos de Educação e Formação;
- Cursos profissionais.

MAS AINDA HÁ MAIS…

A escola ainda tem o dever de formar os alunos nos mais variados domínios:
- Educação sexual;
- Prevenção rodoviária;
- Promoção da saúde;
- Higiene;
- Boas práticas alimentares;
- Preservação do meio ambiente;
- Prevenção da toxicodependência;
- Etc, etc…

E depois de todos este infernal disparate ainda vem quem ajudou a criar tamanha utopia afirmar que o sistema por eles criado é fantástico, os professores é que são fracos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Caros "cientistas" da educação, em Portugal mora a melhor escola do mundo... no papel! Como é evidente, nenhuma escola pode fazer tudo isto bem, sem custar uma fortuna...

Anónimo disse...

Eu ainda acrescentaria à lista do Fartinho da Silva, a obrigatoriedade que os professores têm de desenvolver projectos muito floridos e animados que envolvam alunos.
Ainda que aqueles que frequentam um curso de empregado comercial não consigam fazer um troco de €10. Isso não interessa, desde que estabeleçam empatia com os clientes!!

Anónimo disse...

Eu sou um leitor assíduo deste blog e o tema da educação é algo que me diz muito.
Tendo sido há bem pouco tempo aluno do básico e secundário e sendo agora aluno universitário numa área que nada tem a ver com a educação julgo estar confortavelmente fora da guerra do eduquês VS não eduquês. Não que me desinteresse, pelo contrário, mas sofrerei poucos tipos de bias (peço desculpa mas não me surge um sinónimo) na análise aos argumentos.
Assim e pela minha própria experiência em escolas e faculdade públicas gostaria de notar os seguintes pontos:

1) Como é referido por Fartinho da Silva a carga horária principalmente no ciclo básico é absolutamente incomportável. Torna-se contra-producente ter tantas disciplinas e prejudica claramente a aprendizagem. Nenhum aluno de 13 ou 14 anos, ou seja de que idade, chega ao fim de um dia com mais de sete disciplinas diferentes com capacidade de reter seja o que for. Acaba por ser desmotivante e exaustivo para além de grande parte das disciplinas serem inseridas sem o mínimo nexo. Após vários anos ainda não sei que raio andei a fazer em muitas aulas.
2) Quanto ao tema memória VS criatividade há uma metáfora que costuma guiar a minha posição. A criatividade, tanto artística como científica, aparece num campo de milho por exemplo em que ela é a planta, é o que se colhe, porque na realidade sem ela não avançamos, não criamos lá está, não se anda para a frente. No entanto de onde provem essa criatividade se não de um conjunto de conhecimentos previamente cultivados, guardados e analisados? Assim nessa minha visão "agrícola" do ensino a memória é o próprio chão, o húmus que alimenta a planta e sem a qual ela não cresce. Porque é isto que acontece quando a memória é desprezada, como quando um campo não é cultivado, a criatividade, e porque não a tão falada cidadania e o espírito crítico, não brotam ou pelo menos não tão saudáveis. O mesmo acontece se os alunos forem embrutecidos com memorizações inúteis, qual solo compactado. Só sabe criticar e mudar, só sabe infringir a regra quem a domina, aqui sim se encaixa bem a imagem do anão aos ombros de gigantes! Na minha opinião, caminhamos cada vez mais num caminho onde procura o novo sem conhecer o antigo.

Anónimo disse...

3) Quanto à abordagem que Vitorino Godinho (devo dizer que li a entrevista toda e fiquei com uma boa impressão desta figura totalmente desconhecida para mim) faz do ensino através do computador tenho que concordar com a importância do ensino “real” na medida em que o contacto entre alunos e professores é imediato e sem barreiras digitais, mas não posso deixar de destacar a importância que a internet e os meios digitais terão no futuro do ensino. E a questão é que isso pode ser bom ou mau, depende de muita coisa. É bom, ou melhor pode ser se for visto como uma oportunidade a agarrar e não um problema a abater. Nunca como agora houve uma biblioteca tão grande, aberta e acessível, tão grande que o risco já não é a de falta de informação mas sim o excesso. É aí que a escola tem de aparecer a dar as ferramentas, as capacidades entenda-se, aos alunos, a ensiná-los a pesquisar, escolher, analisar, compor e, no fim, conseguir de milhares de entradas do Google extrair algo que não apenas um copy-paste (sobre isto a Notícias Magazine trouxe há pouco uma reportagem). Na minha experiência como estudante do secundário muitos professores utilizavam a estratégia dos trabalhos que é coisa que eu acho bastante bem, pelo menos até certo ponto. Mas a um docente quando solicita um trabalho sobre determinado tema pede-se que faça um mínimo de pesquisa ele mesmo para ver se houve realmente trabalho ou apenas cópia da primeira ou segunda entrada do Google. É fácil mas enquanto estudei no secundário nunca vi isto ser feito (como eu saberia avaliar os meus professores, enfim...). Pouca gente se esforçará se souber que um ctrl + C/ ctrl V resolve tudo.
4) Já me alonguei bem mais do que queria, mas num último comentário penso que o que se exige dos especialistas e dos professores é um padrão de exigência elevado em tudo. Acaba por ser contagioso, assim como a mediocridade é. Equilíbrio precisa-se, não basta ser original para ser bom nem basta ter conteúdo para ser óptimo.
Miguel Teixeira, 19, Porto

Anónimo disse...

Eu sou um investigador de carreira. Pois posso dizer que a memória foi sempre para mim de primeira importância. Só com muitos factos na memória e bem presentes (não semi-recordados)eu consegui, nalguns casos, escolher e juntar coisas que me levaram a descobertas científicas. A minha experiência diz-me que com a memória quase vazia ou com recordações nubladas não se consegue ser activo intelectualmente nem chegar a nada salvo repetir, e mal, factos desconchavados que flutuam na mente com pouca nitidez. Pôr a memória em segundo plano equivale a defender a passividade intelectual. Quanto ao papel da memória vejam o que diz o Professor Castro Caldas: não dá base nenhuma para as concluisões de muitos dos nossos pedagogos. Mais, segundo Castro Caldas, a memória treina-se e fortalece-se, sabem como? Empinando muitas coisas.

Rui P. Guimaraes disse...

Fartinho da Silva disse...
"Os dois últimos comentários demonstram de forma clara como a doutrina de tomar como base de raciocínio aquilo que o outro nunca defendeu continua a reinar neste país mais preocupado com a forma que com o conteúdo."

@ fartinho da silva:

Julgo que me estava a incluir nesta afirmacao.
Sem querer entrar em dialogo, para nao polarizar a discussao do texto, so quero clarificar a minha posicao e sublinhar as frases que levaram ao meu comentario. No texto do Sr. Vitorino Godinho diz-se que ja nao se obriga à memorizacao: " Dispensou-se a memorização da tabuada ou das regras da gramática, como das datas mais importantes da história de Portugal. E de modo geral receia-se que recorrer à memória afecte os frágeis cérebros infantis ou juvenis. Ora memorizar não é acto mecânico e resposta cega a uma dificuldade; é acto de inteligência, requer arte no seu manejo, selecção do que se memoriza". Como se fosse esta a finalidade do ensino. No meu comentario fui mais longe e disse que isto de memorizar nao chega e por isso devem -se procurar outras formas de ensino que levem o aluno mais longe e vez de o fazer repetir vezes sem conta uma certa lenga lenga.

O sr. Fartinho da Silva disse:

"O Comentário de Rui P. Guimarães, é deveras interessante porque tenta misturar bases de dados com sistemas de conhecimento"

Nao misturar, mas sim separar. Ironico como parece cair precisamente no vicio de que me acusou no inicio do seu texto.
A memorizacao a que se estava habituado a muitos anos atras na educacao consistia em criar as tais bases de dados nos alunos. Hoje requere-se muito mais. Que alem de estes serem sistemas periciais, consigam adquirir por iniciativa propria mais dados e mais pericia. Para concluir, perdoem me se me repito, sao sim os dados a suportar a pericia mas é a pericia que requer os dados e nao sao os dados que constroem a pericia. É fundamental que o aluno tenha isto patente. Algo que me pareceu nao estar bem esclarecido no texto do Sr. ex-ministro.

Leonardo disse...

Muito bom post. Creio que aí em Portugal como aqui no Brasil deveríamos simplesmente pensar na volta do trivium e quadrivium para uma educação básica, cada vez acho mais necessário. Esses dois ciclos, se analisados minuciosamente, ainda são a base para tudo o mais que se queira, já adulto, aprender. É o que tenho insistido deste lado do oceano!

Rui P. Guimaraes disse...

"memória treina-se e fortalece-se, sabem como? Empinando muitas coisas."
Interessante, tambem sou investigador de carreira e discordo do metodo. A memoria treina-se e fortalece-se sim, mas é quando sao colocadas situacoes que requiram o seu uso eficaz e nao enfiando dados intragaveis pela goela do aluno.

Marta Morais disse...

Caro José Batista da Ascenção,

A propósito da sua intervenção de 8 de Fevereiro de 2010 às 11:17, venho desmentir categoricamente que a exposição a que se refere esteja ou tenha estado alguma vez em Serralves. A informação referente a essa exposição (sem qualquer fundamento) anda a circular por e-mail já há algum tempo, apesar dos nossos repetidos esforços para a desmentir.

Cumprimentos,
Marta Morais
Assessora de Imprensa
Fundação de Serralves
m.morais@serralves.pt

José Batista da Ascenção disse...

Caríssima Marta Morais:

Que alívio, o seu esclarecimento.
A informação que referi chegou-me por e-mail. Interroguei-me e interroguei várias pessoas sobre se seria verdadeira. Fui ao google associar o nome da suposta exposição à casa de Serralves e, conforme se pode confirmar, aparecem vários sítios, com abundantes imagens que parecem confirmar a veracidade da coisa. Felizmente não é assim. E eu volto a ter pela Fundação de Serralves a mesma estima que antes tinha (e que tinha simplesmente perdido). Vou agora enviar às pessoas com quem tinha trocado e-mails (e que foram poucas) o seu desmentido.
Naturalmente, apresento à Casa de Serralves, através de si, as minhas sinceras desculpas por ter acreditado numa mentira, não obstante ser uma mentira bastante "bem embrulhada". E como os tempos que correm são os que são...
Aceite porém que me regozige.
Aceite igualmente os meus cumprimentos.
Sou: José Batista da Ascenção

Anónimo disse...

Podem discutir durante quanto tempo aguentarem, mas nunca descobrirão a melhor receita para todos os alunos, porque ela não existe. A riqueza da educação só pode vir da variedade, onde cada um poderá encontrar o melhor para si. Compete à República garantir essa variedade: de um lado, a liberdade de oferta; do outro lado, a liberdade de escolha.

Anónimo disse...

SEnhor Rui P. Guimarães:
Não se trata de concordar ou discordar (nem se propões nenhum método): há uma afirmação de Castro Caldas baseada em experiências. Agora trata-se de confirmar ou infirmar as conclusões com novos argumentos e experiências. Provavelmentew exprimi-me mal: resulta do à pressa com que se escrve nos blogues.

Anónimo disse...

Sim, sim é verdade que a memória se fortalece enfiando dados intragáveis pela goela do aluno. Ele gostar é outra história. A memória de qualquer um treina-se decorando. Há até técnicas com mnemónicas muito eficazes e com resultados surpreendentes. Algumas técnicas são ensinadas nos cursos de Dale Carnegie com resultados que deixam qualquer um de boca aberta, sendo mesmo utilizados para exibições públicas de feitos de memória inacreditáveis. Eu já assiti e experimentei e nem queria acreditar. Mas é empinando que se fortalece a capacidade de empinar.

Rui P. Guimaraes disse...

Sr. Anonimo investigador de carreira:

Exprimiu-se mal, mas nao foi por escrever à pressa, foi por escrever fora do contexto. O que está em causa é um metodo, defendido pelo Sr. ex-ministro, do qual se pode discordar. Se o seu comentario nao se relaciona com o texto em causa, entao está tudo esclarecido.

Mas é bom que se exprima, pois permite-me dar um último exemplo.

Se um anonimo investigador de carreira, com uma memoria treinada, trabalhada arduamente durante anos a fio, sobredotada ao "estilo" Kim Peek, viesse aqui fazer comentários iria encontrar dois problemas:

- como relegou a boa compreensao e o rigor da analise para segundo plano, iria fazer comentários que nao se enquadravam no problema. Pois é o própio Sr. Vitorino Godinho que afirma "Não se confunda com a prática antiga de aprender de cor numerosos conhecimentos para depois os debitar a fim de mostrar que se sabe", ou seja, ninguem quer por os alunos a "empinar coisas"

- Como dá pouco relevo ao espirito critico basta-lhe dizer "Isto é assim, foi o Sr. Prof. que disse" sem se preocupar em citar com precisao as fontes, mostrar como as fontes sao relevantes ao problema em causa e nem sequer admite as colocar em questao. O Sr. Professor disse, está tudo dito. Acabou.

Mas por esta altura já terá memorizado, além de tudo o que disse o Sr. Prof. Castro Caldas, também o texto do Sr. ex-Ministro. Faca bom proveito, vá para Dale Carnegie e impressione as pessoas. Ha-de haver quem fique de boca aberta com as suas capacidades inacreditaveis.

Agora, colocando a brincadeira de lado, pergunto, áqueles que terao tido a coragem de ler os comentarios ate aqui, haverá algum lado em Portugal ou na internet Portuguesa, um sitio onde problemas e principios pedagogicos sao devidamente debatidos com objectividade, transparencia e construtivamente? Certamente nos comentarios a bloggues ou em foruns mal geridos comenta-se com pouca preocupacao. Mas é possivel que haja um sitio qualquer que represente um verdadeiro esforco colectivo portugues para documentar principios e problemas do ensino. Admite-se a discordia, mau era se nao tivessemos liberdade de opiniao. Mas que fiquem documentados argumentos a favor e contra, exemplos, estudos, fontes. Digamos um esforco colectivo para fazer uma wikipedia do ensino com um forum de discussao como base, onde a comunidade poderá auto gerir a qualidade da contribuicao e os interessados poderao se associar ou votar nos comentarios que vao sendo inseridos. Será que os professores que saem formados vou ter que cometer os mesmos erros que cometeram professores mais experientes ou terao uma platforma onde se celebra a entreajuda entre os agentes do ensino? Por favor, alguem, isto já existe ou será possivel?

NOVOS CLASSICA DIGITALIA

  Os  Classica Digitalia  têm o gosto de anunciar 2  novas publicações  com chancela editorial da Imprensa da Universidade de Coimbra. Os vo...