O já clássico antagonismo entre "avaliação formativa" e "avaliação sumativa" tem, de quando em vez, acessos delirantes em favor da primeira, com condenação da segunda.
Mas isto só na aparência porque a prática corrente é esquecer-se (ou ignorar-se!) a origem das duas designações, bem como o seu significado e pertinência pedagógica. Rapidamente se retorcem os procedimentos da avaliação formativa (ou, numa terminologia mais recente, "formadora", expressão, que, de resto, desvirtua o seu sentido) para se obterem pontuações cujo fim é tomar decisões de classificação, transpostas para pautas.
E para se obterem essas pontuações, avalia-se o que é escolar e o que não é, o que se sabe avaliar e o que não se sabe; o que é quantificável e o que não é; o que é legítimo avaliar e o que não é...
As acrobacias avaliativas são, de resto, um tema riquíssimo a que alguém deveria prestar a devida atenção, na certeza de que o seu estudo seria de grande interesse...
Uma coisa é certa, no actual discurso pseudo-pedagógico instalado nas escolas, muito derivado do ex-designado projecto MAIA, a avaliação sumativa (essa que, em geral, implica testes e exames em determinados períodos do ano lectivo com fins de prestação de contas e de atribuição de notas, certificados e diplomas) não tem boa fama.
Porém... na sequência do anúncio, por parte do Ministério da Educação, de que os exames vão ser retomados para efeitos de entrada no ensino superior, um Secretário de Estado da Educação [explicou que]
Havia instituições onde os exames nacionais podiam ter um peso de cerca de 45% e a ideia é subir para um mínimo de 50% e um máximo de 60 para 65%, no sentido de reforçar um bocadinho aqui o peso dos exames (...) os exames têm um “papel regulador e introdutor de alguma comparabilidade, alguma justiça social”, uma vez que estão a concorrer alunos de todo o país e todo o tipo de escolas, onde as avaliações podem ser muito díspares. “O que nós observamos é que nas disciplinas em que há exame, o comportamento padrão das notas é mais próximo entre si, quer entre diferentes regiões do país que quer entre escolas públicas e privadas”, acrescentou (ver aqui).
Não quero com isto dizer que o Secretário de Estado em causa esteja errado, o que quero dizer é que o mesmo Ministério da Educação que tem tão mal tratado a avaliação sumativa, quer, agora (voltar?) a valorizar "um bocadinho" uma das suas expressões: os exames.
2 comentários:
Quando acabaram com os verdadeiros exames nas escolas básicas e secundárias, a qualidade do ensino e das aprendizagens caiu a pique. Tiveram de recorrer à filosofia ubuntu, à flexibilidade avaliativa, à estatística a martelo, em suma, à manietação dos professores, destituindo-os da autonomia técnica e científica, que a lei lhes confere, para que os resultados escolares da atualidade pareçam os melhores de sempre. Mas não são os melhores, porque são falsos!
É necessário e urgente que os exames a sério regressem ao sistema de ensino em Portugal. Se insistirem na ideia peregrina de que os exames não servem para nada, dado que a escola ideal é aquela em que os professores não ensinam quase nada para que todos os alunos aprendam tudo o que as grelhas flexíveis e inclusivas avaliam, então pouco mais temos a esperar do que um tempo muito próximo em que seremos todos muito iguais e muito medíocres, relativamente aos estrangeiros mais desenvolvidos no campo da educação e cultura.
Prezado Leitor,
A avaliação com fins de classificação (na forma de testes, provas, exames), desde que bem feitos (tendo em conta critérios de validade e fidelidade), permitem obter uma "súmula" da aprendizagem conseguida por cada aluno, turma, escola... Mesmo com tendo em conta os factores adversos, conhecidos (alguns dos quais sabemos controlar) e desconhecidos, é uma avaliação que os sistemas de ensino (felizmente) de massas não devem dispensar.
Essa avaliação, enquadrada na função social dos sistemas, permite perceber se eles estão a cumprir a sua função e em que medida o estão.
MAS, e isto é fundamental, a avaliação em causa, não pode estar desvinculada das finalidades de tais sistemas: se elas forem pertinentes e legítimas a avaliação sumativa, por princípio, também o é; caso contrário não. Exemplifico: em sistemas orientados para a "produção" de "capital humano", será avaliado se essa "produção" está a ser bem conseguida; o critério de sucesso é esse. Acontece que esse critério não é educativo.
Entendo que se os professores estiverem bem consciente desta ideia não se deixarão influenciar pelas derivas que bem refere.
Cumprimentos, MHDamião
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