Resumo da minha intervenção antes da Orquestra Metropolitana de Lisboa (formação de percussão) interpretar os "Os Planetas" de Gustav Holst. É já amanhã, 19 de Março, 14h30, no Instituto Politécnico de Leiria e na próxima semana em Beja e Faro, nos dias 28 e 29 de Março:
No século XVII o astrónomo Kepler
falou da “música das esferas”, procurando ligações entre a arte musical e os
planetas do sistema solar, mas a música e os astros nunca estiveram tão perto
como em “Os Planetas,” a suíte em 7 andamentos que é a mais célebre composição do
inglês Gustav Holst (1874-1934). Escrita durante a 1.ª Guerra Mundial, entre
1914 e 1916, o seu motivo são os 7 planetas do sistema solar conhecidos na
época, além da Terra (Plutão, descoberto em 1930, foi planeta até 2006, quando foi
relegado para planeta anão). A estreia da composição, para uma audiência
privada, ocorreu em 29 de Setembro de 1918, no Queen’s Hall, em Londres, a lendária
sala que haveria de ser destruída na 2.ª Guerra Mundial, mas a primeira
execução pública foi há cem anos, em 27 de Fevereiro de 1919. As composições de
Holst, influenciadas por autores seus contemporâneos como Stravinsky e
Schoenberg, são associados ao modernismo: Tal como as pinturas de Kandinsky, procuravam
distanciar-se de formas clássicas de beleza. A harmonia é, nas peças de música
modernistas, toldada pela dissonância, transmitindo emoções de um modo forte e
por vezes surpreendente.
A abordagem musical de Holst
aos planetas teve raízes na astrologia e não na astronomia. Segundo a astrologia, os planetas, que exercem
supostas influências sobre os seres humanos, estão associados a certos traços psicológicos. A música procura ilustrar esses traços. O 1.º andamento
é Marte, o “mensageiro da guerra”, o 2.º é Vénus, o “mensageiro da paz”, o 3.º
Mercúrio, o “mensageiro alado”, o 4.º Júpiter, o “mensageiro da alegria”, o 5.º
Saturno, o “mensageiro da velhice”, o 6.º Urano, o “mágico”, e o 7.º Neptuno, o
“místico”. Alguns dos temas são tão expressivos que bandas de rock tocaram
adaptações de “Os Planetas”, John William escreveu a banda sonora de Star Wars bebendo nessa fonte, e o
andamento sobre Marte foi usado por Carl Sagan na sua famosa série Cosmos.
Hoje, após termos enviado
diversas sondas a todo o sistema solar, sabemos muito mais sobre os planetas do
que se sabia no tempo de Holst. Mas a sua poderosa música continua merecedora da
nossa atenção, já que as emoções
veiculadas pela arte são intemporais.
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