O termo ciência (do latim “scientia”,
conhecimento) significa tanto o corpo sistematizado de conhecimentos acerca do
mundo, estando o homem evidentemente incluído no mundo, como o método que
permite adquirir esses conhecimentos, o chamado método científico. A ciência
pode ser fundamental ou aplicada conforme a sua motivação seja apenas a
curiosidade ou também a necessidade de resolver um problema humano de ordem
prática. Falamos de tecnologia ou técnica (do grego “techné”, arte ou ofício) quando
nos referimos a aplicações da ciência com implicações na vida humana. A tecnologia precedeu a ciência, mas hoje
praticamente toda a tecnologia deriva da ciência. A história da ciência e
tecnologia ensina que as aplicações da ciência surgem por vezes quando e de
onde menos se espera, desde que a investigação fundamental seja cultivada.
Modernamente, usa-se a palavra inovação para expressar o impacto económico da
ciência e tecnologia.
A ciência tem raízes na Antiguidade
Grega, já que assenta nas primeiras tentativas feitas nessa época de
racionalização do mundo. Contudo, só nos séculos XVI e XVII ocorreu a chamada Revolução Científica, à
qual associamos grandes nomes como Galileu, Descartes, Harvey e Newton, um período no qual foi desenvolvido o método
científico, que continuamos a usar hoje, baseado na observação (em geral,
baseada em instrumentos), na experimentação (que é uma observação em condições
controladas) e no raciocínio lógico (assente na matemática). A validação dos
resultados dos cientistas pelos seus pares e a sua comunicação alargada são
características muito importantes do método científico. Para facilitar esses
processos existem associações, encontros e revistas científicas. Percebeu-se na Revolução Científica que o mundo funciona de uma
forma regular e uniforme, traduzida por leis científicas, que são enunciados
simples com base nas quais podemos efectuar previsões. O êxito da ciência tem
sido, em lerga medida, o sucesso dessas previsões. Embora haja uma histórica
tendência reducionista na ciência, isto é, a tentativa de reduzir o todo às
partes, sabe-se hoje que muitos sistemas são eminentemente complexos, isto é,
neles o todo excede a soma das partes. Embora nesse caso as previsões sejam
mais difíceis e, em parte, incertas, elas revelam-se ainda possíveis.
A Revolução Industrial, que mudou a
economia humana, seguiu-se, no século
XVIII, à Revolução Científica: as máquinas começaram a substituir o trabalho
humano. Embora de início essas máquinas tenham surgido para responder a
necessidades empírcas logo se percebeu que eram precisos conhecimentos
científicos para optimizar equipamentos e processos. Às máquinas a vapor
sucederam-se as máquinas eléctricas e a estas as electrónicas, que hoje são
ubíquas no mundo, estando ligadas entre si no nosso mundo global. O nosso mundo
de hoje deriva, em larga medida, da extraordinária expansão da ciência e
tecnologia. Os modernos meios de saúde, a habitação, os transportes, as
comunicações, etc. estão em todo o lado impregnados de ciência.
A ciência, realizada por uma comunidade
científica à escala internacional, divide-se em várias disciplinas, como, no
lado das ciências e naturais, a matemática, a física, a química, as ciências da
vida e as ciências da Terra e do Espaço, e do lado das Ciências Sociais e
Humanas, a história, a economia, a psicologia, a sociologia, etc. Uma marca
muito forte da ciência contemporânea é a necessidade de interdisciplinaridade,
isto é, de ligação entre as disiciplinas, dada a complexidade de muitos
problemas que a ciência hoje enfrenta. Por sua vez, a tecnologia também se
divide em vários ramos: as engenharias civil, mecânica, electrotécnica,
informática, química, ambiental, biomédica, etc. A ciência e a tecnologia são estudadas pela
filosofia, pela história e pela sociologia. Existem várias teorias filosóficas
que tentam compreender o que é a ciência: um dos mais influentes dos filósofos
contemporâneos de ciência é Karl Popper, um autor para quem a ciência “não é a
busca da certeza.... Todo o conhecimento humano é falível e portanto incerto”.
Contudo, a aplicação do método científico permite-nos reduzir progressivamente
a incerteza. A ciência é cumulativa, no sentido em que o novo conhecimento tem
de encaixar no conhecimento anterior, ao mesmo tempo que o alarga. A ciência interage
com outras dimensões humanas, como a ética, a política, a religião e a arte,
estando por isso consciente dos seus limites. Por exemplo, coloca desafios que
exigem respostas que não podem ser dadas por ela. Estando a ciência inscrita na
cultura não admira que um dos grandes debates da actualidade seja acerca da
relação entre ciência e sociedade, quer dizer a procura da melhor compreensão
da ciência pelo público para que este possa participar na tomada de decisões
que tenham a ver com a ciência e mesmo na definição e resolução de questões
científicas. Afinal a ciência não é da comunidade científica, mas sim um
empreendimento da sociedade como um todo.
Hoje em dia, boa parte do
empreendedorismo assenta em ideias e meios científicos e técnicos, quer dizer,
a criação de novas empresas ou a transformação de empresas já existentes parte
de possibilidades oferecidas pelo conhecimento científico e tecnológico. Basta
olhar para empresas relativamente recentes baseada nos computadores ou na
Internet como a Microsoft, a Apple, a Google e a Amazon, para percebermos o extraordinário impacto da ciência
na sociedade actual. A educação para o empreendedorismo, seja qual for a forma que tomar, tem portanto de incluir a ciência
e a tecnologia. Essa educação deve começar por ser uma boa educação científica,
uma educação que permita desenvolver elementos essenciais da ciência como a
criatividade, a persistência, o trabalho de equipa e a comunicação.
Em suma: a ciência e a tecnologia que
hoje lhe está intimamente associada constituem a base sobre a qual assentam
hoje muitos ensaios de empreendedorismo, alguns deles muito bem sucedidos do
ponto de vista económico e social.
Carlos Fiolhais*
*Professor de Física da Universidade de Coimbra
*Professor de Física da Universidade de Coimbra
REFERÊNCIAS:
- João Caraça, “O que é a Ciência”,
Lisboa, Difusão Cultural, 1997.
-
Jorge Calado, “Os Limites da Ciência”, Lisboa: Fundação Francisco Manuel
dos Santos, 2014.
- Manuel Mira Godinho, “Inovação em
Portugal”, Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2013.
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