As
aptidões sociais, plasmadas no gesto e na palavra com regras convencionais
relativas a determinada cultura, criam forte vínculo entre os indivíduos da
mesma comunidade. A vida em sociedade requer a aprendizagem de certas normas de
comportamento com a função de possibilitar boas relações interpessoais e de
evitar conflitos, o que influencia significativamente o êxito académico e
profissional e o próprio bem-estar. Por outro lado, há correlação entre défice
das habilidades sociais e perturbações ansiosas, depressivas, de autocontrolo
ou mesmo aditivas. Embora tais normas pragmáticas não compartilhem a ideia da
universalidade dos princípios éticos, representam a forma externa de respeito
ao próximo. Trata-se dum estádio decisivo do desenvolvimento humano, em que se
aprende a ser autêntico na expressão dos próprios sentimentos e sensível aos
sentimentos dos outros.
Os principais contextos para cultivar a
competência social são a família, a escola, o grupo de amigos e o ambiente
virtual criado pelo progresso tecnológico. No presente, a perda do medo à
autoridade obriga a privilegiar outras modalidades educativas orientadas para a
aprovação e a ordem sociais.
A família, como primeiro agente
socializador da criança, tem cada vez menos tempo para transmitir noções
elementares de civilidade e preparar a inserção na sociedade. O crescente
alheamento dos pais leva a que as relações entre pares e o ambiente digital relevem
demasiado na formação dos filhos, que deste modo correm maiores riscos de
apresentar problemas de comportamento.
A escola, como local de socialização
secundária, reúne as condições necessárias para minorar as falhas da família
(muitas vezes, disfuncional) na transmissão dum código de relacionamento que
proporcione um convívio agradável, aproveitando circunstâncias específicas da
vida escolar quotidiana. Sem prejuízo da área curricular da educação para a
cidadania (garante dos direitos e deveres do cidadão), os professores podem
desenvolver as aptidões sociais dos alunos, reforçando comportamentos adequados
e agindo como modelos significativos. A aprendizagem opera-se naturalmente, sem
recurso a qualquer programa particular, por reforço social e observação do
comportamento do modelo, em situações humanas concretas. Atos gentis provocam
reações semelhantes no Outro com benefício mútuo.
A educação do trato social, de suma
importância para a realização do projeto de vida pessoal, deve promover um
estilo comunicativo assertivo através sobretudo de aprendizagem em espelho e
prática diária, o que supõe necessariamente um cuidado acrescido do professor e
mesmo dos demais funcionários da escola, com a desejável participação do núcleo
familiar.
Nuno
Pereira (psiquiatra)
Sem comentários:
Enviar um comentário