“... mais importante que saber a data da Batalha de Aljubarrota, é dar a conhecer aos nossos jovens os problemas do mundo”, bem como fomentar “os valores de cidadania, democracia, igualdade, liberdade e fraternidade” (aqui).A desvalorização do conhecimento, ou de um certo tipo de conhecimento (no caso conhecimento declarativo de tipo factual) é uma tragédia para a aprendizagem. Sem informações dinamicamente integradas e guardadas na memória é impossível compreender "os problemas do mundo", ter uma atitude crítica em relação a eles e encontrar possibilidades criativas para os enfrentar.
Sem esse conhecimento aliado ao conhecimento declarativo de tipo conceptual não haverá também possibilidade de saber o que são e quais são os valores de cidadania, nem de interiorizar valores como a "democracia, igualdade, liberdade e fraternidade".
É, para mim, muito claro que aquilo que a educação deve almejar é chegar ao conhecimento metacognitivo (o que permite pensar sobre o conhecimento que temos), mas para que isso seja possível é preciso adquirir conhecimento estruturante (declarativo e procedimental).
Quando leio afirmações como a que acima reproduzi, a minha preocupação aumenta:
por um lado, a frequência com que chegam aos professores, os meios diversos que as veiculam, a variedade de pessoas que as proferem, faz com que se vão enraizando no seu pensamento, traduzindo-se em práticas de ensino. Não pode ser de outra maneira;
por outro lado, muitas das pessoas que as veiculam têm responsabilidade directa no sistema de ensino público, entre elas estão académicos e "estrategas da inovação", mas estão, igualmente, representantes da tutela e professores.Como pode a, agora, representante da tutela que, antes, foi professora de História (área disciplinar onde o conhecimento factual é nada menos do que fundamental) fazer a afirmação objecto deste apontamento?
16 comentários:
Isto já vem de longe. Há uns anos largos estava a jogar Trivial com uns amigos, entre os quais uma professora de História. Alguns raciocinavam alto, como é normal. E dei-me conta, a propósito de uma pergunta qualquer, que a senhora (então uma jovem recém-licenciada) não sabia se as invasões bárbaras eram antes ou depois da dos Romanos. Com algum jeitinho, apurei que pura e simplesmente não se localizava no tempo, nem aquele nem outros. É no que dá não aprender datas. Tinha-se licenciado com 15 e, claro, dá aulas. De História.
Poderia aqui passar inúmeros exemplos de professores que sabem responder a perguntas dessas e outras que não constam do currículo.
Que feio!
A secundarização do ensino secundário é um facto!
Noutros tempos, os liceus e as escolas industriais eram lugares privilegiados onde os jovens cidadãos se cultivavam. Foi lá que os professores me ajudaram a alargar horizontes, tanto nos vastos campos das humanidades como nos das ciências. Ainda hoje, pedi aos meus alunos do secundário que me calculassem a massa da Terra! Isto é quase a mesma coisa que pedir que me pesassem o Sol sem balança! Ensinar o método científico que está na base de raciocínios que nos permitem determinar a massa do Sol é maravilhoso! A desgraça é que, agora, a disciplina de Física é facultativa, não sendo necessária para ingressar num qualquer curso superior! Pretender que se podem formar bons cidadãos sem educação e cultura é uma barbaridade!
Em rigor, se alguém conhecesse a História conheceria tudo, porque tudo, na História, acontece, no espaço e no tempo.
Quem soubesse a história da química ou da literatura, ou da religião...seria um cientista tão exímio que nem existe, porque só em teoria é concebível.
A História é tudo, não esqueçamos.E, sem História, não sabemos grande coisa, para não arriscar dizer coisa nenhuma.
Mas esta esmagadora grandeza da História é empolgante e vivificadora, porque permite os voos mais ousados, incríveis e triunfantes do pensamento e do sentimento que o pensamento provoca. As datas são, quase, a essência da História e o "mecanismo" que, quando menos esperamos, faz luz sobre um documento, uma inscrição, permitindo-nos conferir-lhe conexões imprevistas e reveladoras, como se estivéssemos num jogo de xadrez que se transfigura, ou, inopinadamente, uma chave abrisse a porta que nunca esperaríamos, pelo simples efeito do pensamento e da imaginação.
Diria que a História está para o pensamento e para a imaginação como o futuro está para a ignorância.
"Porquê gastar tempo a aprender, se a ignorância é instantânea?!"
Ser sábio será sempre uma circunstância rara; ser dr. é uma questão de políticas ideológica, social e de educação.
De entre as raras circunstâncias, um indivíduo doutorar-se em Física Quântica significa, quase sempre, que sabe muito! Já um indivíduo doutorar-se em ciências da educação, na Galiza, pode ser apenas uma estratégia para deixar de dar aulas em Portugal, ou, na pior das hipóteses, subir alguns degraus nos escalões da carreira única dos professores do ensino básico e secundário e dos educadores de infância.
As abóboras voam nas asas de um avião, mas as pessoas conseguem viajar no tempo, para lugares onde os aviões talvez nunca cheguem.
Não percebo nada de Física Quântica mas, pelo significado sugerido, podem as Educações estar descansadas, que os sábios Quânticos chegam e resolvem tudo.
Tudo o mais são redundâncias, como ter de comer todos os dias...
Os sábios Quânticos até acabam com tudo, por mera desnecessidade.
E fica a Quântica sem fazer nada.
Só o "homo transcendentis"; o "homo sapiens sapiens", não! Certo?!
Mas, a História não é um "género literário"?!
Atualmente, a "Quântica" está assoberbada de trabalho com os telemóveis, os computadores, o GPS, os raios laser, etc. Evidentemente que qualquer físico quântico é, por inerência de formação académica, também um historiador, mas a sua especialidade não são as histórias da carochinha!
A ser assim, os sábios Quânticos, afinal, já chegaram e estão a resolver tudo. Não percebo tanto alarido em torno das Educações. Os jovens estão mesmo "voluntariamente sequestrados" pela "Quântica", não? Deixem as coisas a quem sabe, mas depois não se queixem.
Sem papas na língua, Carlos Soares é contra ou a favor do ensino com exames, aprovações e reprovações?
A escola é o lugar do ensino e das aprendizagens, ou o recinto onde se acantonam, na ociosidade e malcriadez, todos os meninos da escolaridade obrigatória que ainda não têm a idade legal para entrar na Universidade?
Como é óbvio e imperativo, não posso deixar que não sejam os sábios quânticos a responder a essas e a outras questões.
Não amue! Veja o Prof. Sampaio da Nóvoa - doutor em Ciências de Educação, e que "não sabe dizer se é católico" -, por onde andou, o que poderia ter sido e o que já é. Por favor, congratule-se!
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