Sophia Andresen e Jorge de Sena (o poeta que foi aluno de Rómulo de Carvalho (e que prefaciou a poesia reunida de António Gedeão) nasceram no mesmo ano, 1919. Jorge em 2 de Novembro em Lisboa e Sophia a 6 de Novembro no Porto. Foram amigos, estando publicada alguma da correspondência que trocaram. Mas Sophia viveu mais tempo, morreu com 84 anos, pelo que soube da morte em 1978 de Jorge de Sena, com apenas 58 anos. Escreveu este poema ao Amigo:
I
Não és navegador mas emigrante
Legítimo português de novecentos
Levaste contigo os teus e levaste
Sonhos fúrias trabalhos e saudade;
Moraste dia por dia a tua ausência
No mais profundo fundo das profundas
Cavernas altas onde o estar se esconde
II
E agora chega a notícia que morreste
E algo se desloca em nossa vida
III
Há muito estavas longe
Mas vinham cartas poemas e notícias
E pensávamos que sempre voltarias
Enquanto amigos teus aqui te esperassem —
E assim às vezes chegavas da terra estrangeira
Não como filho pródigo mas como irmão prudente
E ríamos e falávamos em redor da mesa
E tiniam talheres loiças e vidros
Como se tudo na chegada se alegrasse
Trazias contigo um certo ar de capitão de tempestades
— Grandioso vencedor e tão amargo vencido —
E havia avidez azáfama e pressa
No desejo de suprir anos de distância em horas de conversa
E havia uma veemente emoção em tua grave amizade
E em redor da mesa celebrávamos a festa
Do instante que brilhava entre frutos e rostos
IV
E agora chega a notícia que morreste
A morte vem como nenhuma carta
in Ilhas, 1989
Sem comentários:
Enviar um comentário