sábado, 31 de maio de 2014

Amado Nervo (1870-1919)

Yo te bendigo, vida


Dois poemas deste poeta mexicano:

Ultravioleta
Há problemas que têm claridades de lua
e outros que têm  esplendores de uma manhã de abril.
O meu problema: luz derramada, muito macia e pontual:
Não é o obscuro, é uma
Claridade mais subtil...
Clareza para olhos crepusculares, para
Olhos contemplativos, habituados a ver
Esse pressentimento de luz tão ténue e rara
Que palpita nos ortos antes do amanhecer...
Nota: as estrelas pequenas emitem radiação ultravioleta

O Castanheiro Não Sabe…
O Castanheiro não sabe que se chama Castanheiro;
mas, ao aproximar-se o término do ano,
dá-nos o seu nobre fruto  de fragrância outonal;
e Canopus  não sabe que Canopus se chama;
mas a esfera colossal envia-nos o seu nome,
e é, dos universos, o sideral eixo.
Ninguém olha para a rosa que nasceu no deserto;
mas, ela, arrogante, ereta, mostra o cálice aberto
como se enviasse um ósculo perene ao domínio.
Ninguém semeou a espiga na orla do caminho,
nem ninguém a colhe; mas, ela, em divino
silêncio, dará grãos aos pássaros esfaimados .
Muitos versos, oh, pensei que nunca os escrevi,
cheios de ânsias celestes e de amores infinitos,
carecendo de nome, que ninguém lerá!;
mas, com a árvore, a espiga, o sol, e a rosa
unidos, desde agora, dando a sua expressão harmoniosa
à Essência Inefável que é, foi e será!

Nota:
As estrelas mais brilhantes são, em ordem decrescente: Sirius, Canopus,  α do Centauro (Rigil Kent.), Vega, Capella, Arcturus, Rigel, Procyon, Achernar, β do Centauro (Hadar), Altair e Betelgeuse.
Canopus é a segunda estrela mais brilhante do céu, apesar de se encontrar a 310 anos-luz do sistema solar. Esta estrela supergigante está situada na Constelação de Carina e é 20 000 vezes mais brilhante do que o Sol. No hemisfério norte pode-se vê-la, indicando a direção aproximada do Sul.
A estrela Sírius encontra-se apenas a 9 anos-luz do sistema solar. 

2 comentários:

Tosco disse...

Os negativos desta foto são falsos. Plano inclinado.
É feio.

Carlos Ricardo Soares disse...

A poesia como contemplação tão simples e livre quanto possível, descomprometida de razões, ou vontades, da realidade percepcionada e pensada/sentida/pensada, emergindo à consciência harmonias e tranquilidades/inquietudes, em aberto, indefinidas, para quem se detiver a reconhecer a grandeza/milagre do que nos rodeia...E da inteligência que nos é requerida para vermos que todas as formas de regeneração do nosso habitat dependem da vida.
O poeta não "trabalha" nisto, acredita e ama isto. Sejamos poetas, amemos, cantemos e respeitemos a vida!

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