Na última década, Portugal tem vivido no fio da navalha no que respeita ao ensino da matriz clássica.
Em cada ano lectivo que se inicia, os números sempre mais reduzidos de escolas, turmas e alunos evidenciam uma inevitabilidade: o adeus definitivo às línguas e cultura que são a base da nossa civilização.
Com base na ideia de que as Humanidades não servem para nada e que as aprendizagens que importam são as que preparam para a «vida», extinguiu-se quase por completo, primeiro, o estudo do Grego, e, de seguida, o estudo do Latim.
Numa espiral conduzida pela «escolha entre...» (porque, como, se percebe, não se pode acrescentar mais uma e mais outra e ainda mais outra disciplina ao currículo, sob pena de ele se tornar interminável), nas sucessivas reformas, com destaque para as deste século, não houve dúvidas por parte dos decisores: entre as TIC e o Grego ou o Latim, evidentemente que se optou pelas TIC. Essas sim, servem para alguma coisa! Quem diz TIC, diz Inglês em idades precoces; ou diz as mil "Educações para..."
Há agora mais uma promissora «escolha entre...»: o mandarim. Como professora, não posso deixar de ver como importante essa aprendizagem, porque de mais uma língua se trata (e uma língua é sempre uma ponte para outro espaço, por vezes para outro tempo, e sempre para outras gentes), mas num momento em que Portugal se vai vendendo ao desbarado (nomeadamente à China, esse «oásis promissor»), tal escolha não é ditada pela sua importância e onde ela nos pode conduzir na compreensão do mundo, mas pela necessidade do seu uso em transacções comerciais, políticas e outras do mesmo teor. O seu ensino será superficial e instrumental, os alunos não irão longe, e a sociedade, em geral, não beneficiará grande coisa.
Hoje, as faculdades de letras choram (e se não o fazem, deviam fazê-lo) a impreparação dos alunos que ingressam nos seus cursos, por não deterem conhecimento prévio da língua latina, entrave a um aprofundamento da nossa língua. Isso não augura nada de bom na competência dos profissionais das línguas, que se querem (e urgem) capazes.
Os poucos (cada vez menos) que, conscientes da tragédia, foram dizendo (e até gritando) que as Clássicas deviam viver, não conseguiram fazer ouvir a sua voz. Ou ninguém os ouviu. Perderam a batalha. Agora é tarde. Julgo que não haverá volta.
O Grego e o Latim morreram em Portugal.
Alexandra Azevedo
3 comentários:
Não é só o grego e o latim. É toda a actividade intelectual, incluindo as Ciências, que não sirva para dar lucro a alguma empresa como diz o Ministro Pires de Lima. Os homens da finança é que comandam. Os políticos obedecem e não têm outro remédio.
Esta decisão estúpida dos srs. que mandam na Educação em Portugal terá sido, quiçá, uma das causas do aparecimento do "aborto" ortográfico !!!
Nunca não vamos deixar, há quem pense o mesmo do português, não vamos deixar.
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