SERÁ QUE AS PLANTAS PENSAM?
Não tenho nenhuma objecção à escolha do bonito conto de Teresa Saavedra para esta prova.
Despertou-me, no entanto, alguma perplexidade, o texto (despropositado nesta prova, que é de português) que pretende introduzir o tema do conto. Recordo aqui o referido texto:
“Como se espalham as sementes?
As plantas desenvolveram formas inteligentes (1) para espalhar as suas sementes e assegurar a sobrevivência da espécie.
Para sobreviverem, as plantas e os animais têm de garantir, desde o início, as melhores condições aos seres a que dão origem. Por isso, alguns animais cuidam das crias e mudam-se com elas para áreas mais seguras, enquanto outros escolhem pôr os ovos onde haja muito alimento quando as crias nascerem.
Como as plantas não podem mudar de sítio, a maior parte delas dispersa as sementes através do vento, da água, por mecanismos de mola (explosão) ou com a ajuda de animais.
Técnicas de dispersão das sementes
1 – Pelo vento
As sementes de muitas plantas têm pelos que formam «paraquedas» e que as transportam no vento para locais diferentes, onde podem germinar. Outras sementes têm vários tipos de asas que as mantêm no ar enquanto são levadas pelo vento.
2 – Pela água
Muitas plantas que crescem junto aos rios têm sementes flutuantes que são levadas pela corrente. As plantas que vivem à beira-mar usam as marés e as correntes para espalhar as sementes – é assim que os cocos percorrem grandes distâncias.
3 – Por mecanismos de mola (explosão)
À medida que os frutos de certas plantas secam, as suas paredes dilatam-se. Quando, finalmente, o fruto se abre, as suas sementes podem ser lançadas até 6 metros de distância.
4 – Por ação dos animais
Algumas sementes têm uma camada oleosa comestível. As formigas, por exemplo, levam-nas para o formigueiro, comem essa camada e deixam as sementes germinar. Já os esquilos enterram bolotas5, que lhes servem de alimento no inverno, mas esquecem-se de algumas, que acabam por germinar dando origem a uma árvore.
Quero Saber, n.º 37, outubro de 2013 (texto adaptado)”
Seguem-se perguntas sobre este texto.
Este texto, que acho um verdadeiro mimo de clareza e rigor, remeteu-me imediatamente para a emergente área científica “plant neurobiology’: há mesmo vários centros de investigação, nomeadamente um “International Laboratory of Plant Neurobiology” na Universidade de Florença (não confundir com o “European University Institute”, também em Florença).
Sem mais comentários, recomendo aos interessados, a leitura do texto “The Intelligent Plant” de Michael Pollan em “THE NEW YORKER” de 23 de Dezembro de 2013 [2].
Só para dar ideia do que se trata, deixo aqui um pequeno excerto do artigo do “The New Yorker”
“…
Backster and his collaborators went on to hook up polygraph machines to dozens of plants, including lettuces, onions, oranges, and bananas. He claimed that plants reacted to the thoughts (good or ill) of humans in close proximity and, in the case of humans familiar to them, over a great distance. In one experiment designed to test plant memory, Backster found that a plant that had witnessed the murder (by stomping) of another plant could pick out the killer from a lineup of six suspects, registering a surge of electrical activity when the murderer was brought before it. Backster’s plants also displayed a strong aversion to interspecies violence. Some had a stressful response when an egg was cracked in their presence, or when live shrimp were dropped into boiling water, an experiment that Backster wrote up for the International Journal of Parapsychology, in 1968.”
Gostaria de saber a opinião de um professor de biologia.
(1) Sublinhado e negrito meus.
Luís Alcácer
3 comentários:
Essa experiência de Backster e colaboradores deve ser uma grande anedota... Vai contra tudo aquilo que eu aprendi nas minhas dolorosas aulas de Botânica.
Caro Luis Alcácer
Escapasse-me absolutamente o propósito do Post? Pode iluminar-me pf?
PS-Alguém conseguiu ler completamente o artigo do NY Times?
Caros leitores
Creio ter falhado o meu objectivo com este post. As minhas desculpas!. A minha intenção foi a de chamar a atenção para o modo infeliz e inadequado como o texto da parte A do exame explica “como se espalham as sementes” das plantas. Uma primeira leitura desse texto e das perguntas que se seguem pode facilmente levar a concluir que os fenómenos descritos são o resultado da “inteligência das plantas” (“As plantas desenvolveram formas inteligentes…”). Na minha opinião, a palavra “inteligência” está associada a “compreensão”. Ora, eu não acredito que as plantas “pensem”!
O artigo do “The New Yorker” (NY) vem justamente a propósito da “inteligência das plantas”. Daí a minha referência. O autor, Michael Pollan, faz nesse artigo uma reportagem sobre o debate em curso nos meios científicos (e pseudocientíficos) sobre “um novo modo de compreender as plantas”. Fala do livro “The Secret Life of Plants” (A Vida Secreta das Plantas) que foi um best-seller na lista do New York Times, e que se revelou ter um cariz pseudocientífico, típico da chamada “New Age”. Fala, com uma subtil ironia que pode passar despercebida (típica do NY), de vários centros de investigação, e entrevista vários cientistas de uma nova área a que chamam de “neurobiologia das plantas”. “Neurobiologia” quer dizer “ciência do sistema nervoso”. Não creio que as plantas tenham sistema nervoso, no sentido comum do termo.
Luís Alcácer
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