Quando os exploradores portugueses e espanhóis descobriram o continente americano, no início do século XVI, contaminaram o novo mundo com microrganismos. Sem o saber, levaram consigo vírus e bactérias que, desconhecidas dos povos nativos, causaram nestes inúmeras mortes. De regresso à Europa também trouxeram consigo microrganismos do novo mundo.
Agora novos exploradores robotizados desvendam novos
horizontes em solo marciano. E, apesar de todos os cuidados em os esterilizar
antes de os enviar para Marte, há indícios de que estes engenhos
tecnologicamente avançados poderão ter contaminado com bactérias o planeta
vermelho.
De facto, e segundo o divulgado nesta semana que passou na
reunião anual da Sociedade Americana de Microbiologia, investigações recentes
mostram que o robô Curiosity, que chegou a Marte em Agosto de 2012, poderá ter
transportado consigo bactérias do género Bacillus.
Há evidências de que esporos destas bactérias conseguem resistir aos processos
de esterilização usados nestas naves de exploração espacial. Para além disso,
amostras da superfície do Curiosity recolhidas antes do seu lançamento,
revelaram estarem contaminadas com 65 espécies de bactérias!
Por outro lado, experiências realizadas na Estação Espacial
Internacional mostram que há bactérias (e.g., Bacillus pumilus) que conseguem sobreviver pelo menos durante 18
meses nas condições extremas de temperatura, vácuo e radiações existentes no
espaço! Isto sugere que não se deve excluir que as eventuais bactérias, ou
esporos delas, que tenham seguido com o robô Curiosity na sua viagem de quase
dois anos até Marte, tenham conseguido sobreviver às agruras do ambiente
espacial.
Na reunião científica referida em cima, também foram divulgados
resultados de experiências que mostram que bactérias de vários géneros
(incluindo bactérias metanogénicas como as da espécie Methanothermobacter wolfeii) podem sobreviver e reproduzirem-se em
condições semelhantes às que se julgam existir nas camadas mais superficiais do
solo marciano.
Assim, e resumindo, podemos dizer que muito provavelmente o
robô Curiosity, que hoje explora Marte, pode ter levado consigo bactérias, que
estas poderão ter sobrevivido nas condições da viagem espacial e que, uma vez
chegadas ao solo marciano, podem ter encontrado condições não só para a sua
sobrevivência mas também à sua reprodução. Na hipótese de estes factores todos
se terem verificado, podemos estar a colonizar Marte com bactérias terrestres.
Por outras palavras, a nossa tecnologia está a semear vida pelo sistema solar!
Recorde-se que uma das missões científicas do robô Curiosity
é a de procurar indícios de vida em Marte. Ironicamente, esta missão poderá
estar votada ao fracasso. Não porque a vida não exista em Marte, mas porque
nunca poderemos afirmar que uma eventual descoberta não esteja desde já contaminada
pela própria vida transportada da Terra para Marte, a bordo do Curiosity e de
outras missões.
Este aspecto terá de ser devidamente acautelado em todas as
futuras investigações e eventuais notícias relacionadas com a existência de
vida em Marte.
António Piedade
2 comentários:
Falta então descobrir a superbactéria que resiste ao processo de estesterilzação, às condições extremas da viagem e à superficie de Marte. O seu "muito provavelmente" é um pouco arriscado, embora, admito, seja emocionante.
Eu admiro as bactérias.
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