sexta-feira, 28 de março de 2014
EXPERIÊNCIA ARTÁRCTIDA
Acaba de sair na colecção Ciência Aberta da Gradiva, que dirijo, um livro sobre um dos cientistas polares portugueses mais activos e conhecidos, José Xavier, investigador das Universidades de Coimbra e de Cambridge. Publico aqui um extracto da Introdução, felicitando o autor que agora se encontra na Nova Zelândia, nos antípodas:
"Nunca esperei vir a escrever este livro. Mas ele aqui está. Incrivelmente, nasceu, por um processo natural, da experiência que mais me marcou na vida: a experiência do meu trabalho de investigação na Antárctida. Por um lado, tinha o registo feito na altura, sob a forma de blogue, da minha vida quotidiana nesse lugar extremo do planeta. Por outro lado, proferi, a convite, numerosas palestras em escolas básicas, secundárias e superiores, no nosso país e no estrangeiro, durante o Ano Polar Internacional, um programa científico e educacional realizado em 2007-2009 sob a égide do Conselho Internacional para a Ciência (International Council for Science, ICSU) e da Organização Meteorológica Mundial (World Meteorological Organization, WMO), na sequência de outros anos internacionais semelhantes realizados desde 1882. No decurso dessa actividade de divulgação, foi a certa altura óbvio para mim que me estava a repetir quando respondia às mesmas questões, sempre eivadas de curiosidade, de muitas pessoas, especialmente jovens, a respeito da região antárctica.
O meu projecto de livro foi-se tornando claro: era necessário deixar escrito, para todos os possíveis interessados, como é viver na Antárctida e como é fazer ciência polar, na perspectiva de um cientista português que lá viveu durante nove meses seguidos. Eu acredito que a vida se torna bem mais interessante se soubermos o que se passa à nossa volta para além do pequeno círculo da nossa vida quotidiana, como dizia o meu supervisor e mentor da Universidade de Cambridge, Professor Martin Wells.
Muitas vezes ouvi expressões de admiração, espanto e mesmo fascínio quando falava da Antárctida (região que reúne a parte continental da Antárctida e o oceano que a circunda, o Oceano Antárctico). Diziam-me: «A Antárctida deve ser fantástica!» E, não duvidem, é mesmo! Esta é a conclusão que eu gostava que os leitores extraíssem do livro. Gostaria que tomassem consciência de que existe uma região muito especial do nosso planeta, uma região que nos proporciona muitas emoções assim como vários enigmas para resolver. Os leitores agiriam provavelmente como eu, se tivessem vivido a minha situação de explorador nas frias paragens do extremo sul: não só tentariam tirar o máximo proveito desta experiência pessoal, como procurariam comunicá- -la ao maior número possível de pessoas.
Este livro pretende documentar a mais longa expedição científica de sempre realizada por um português na região antárctica. Não só relata os objectivos científicos dessa expedição, abordando questões actuais e pertinentes sobre as regiões polares, como também dá conta do quotidiano na Antárctida. Vivi lá ao longo de um período total de nove meses em 2009, numa expedição que começou com um cruzeiro científico no Mar de Scotia a que se seguiu uma estada numa ilha antárctica (biologicamente é uma ilha antárctica, mas geograficamente é considerada subantárctica), a Bird Island. O livro baseia-se em grande medida nas crónicas diárias ou semanais que escrevi e divulguei na internet durante essa expedição e que fui depois editando por vários sítios do planeta, mas principalmente nas cidades de Cambridge, São Francisco, Paris e Coimbra. Pretendi que o livro contivesse várias facetas, oferecendo aspectos diferentes conforme a maturidade do leitor. Quero que os leitores adultos obtenham, a partir das minhas palavras, uma visão de um mundo que não lhes é imediatamente acessível e que é bastante diferente do mundo do seu dia-a-dia. Para esses, os conteúdos desta obra poderão servir de tema de conversa no círculo de amigos ou no seio da família. Desejo também que os jovens se sintam inspirados ao conhecer a vida de um cientista num sítio estranho, de modo que dêem sempre o seu melhor na escola, qualquer que seja o ramo dos seus estudos e, portanto, a profissão que vierem a escolher. Oxalá este livro possa ser alvo de um aproveitamento didáctico em escolas, museus e centros de ciência. E desejo ainda que os mais pequenos possam ler ou escutar algumas das histórias aqui contadas, enquanto vêem as fotografias de interessantes animais longínquos. Na verdade, espero que todos, de uma maneira ou de outra, se possam rever neste livro e dele beneficiem.
Boa leitura e bem-vindos à experiência antárctica!"
José Xavier
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1 comentário:
Muito obrigado Carlos ! Forte abraço com saudades Jose
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