quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Da FCT e da Divulgação

Como disclaimer devo dizer que a FCT me recusou uma bolsa de doutoramento (que não envolvia pagamento de manutenção, seria apenas propinas e deslocações) na base de ser um gestor com responsabilidades na empresa onde faria o doutoramento, justificação que julguei, e julgo, um absurdo num país de empresários semi-analfabetos. Por isso, a minha opinião sobre a FCT é péssima e já estou razoavelmente habituado ao fenómeno de "há dinheiro para a máquina, mas não para aquilo que a máquina faz". Se há cortes a fazer, esses devem começar pelo back-office, isto é, pela FCT e não por aqueles que justificam a existência da FCT. Esta deveria apresentar uma redução salarial substancial antes de anunciar cortes na área produtiva da sua actividade.

Isto para dizer que há uns meses fui convidado para ser o subscritor de um manifesto para a racionalização da despesa pública e eliminação dos gastos absurdos . Nesse manifesto era colocada em causa a política nacional para a investigação científica devido aos seus enormes custos de oportunidade. Subscrevi todos os pontos do manifesto tirando este em particular. A minha proximidade com o meio e algum interesse económico que tiro dele levou-me a essa "declaração de excepção", mas os argumentos do manifesto são indubitavelmente simpáticos à esmagadora maioria dos contribuintes. A verdade que a parte mais visível da política científica nacional  é a alocação dos melhores alunos a actividades de reduzidíssimo impacto económico a que se junta a imagem folclórica de um conjunto alargado de pessoas que não fazem nada de útil. Compreensivelmente, afinal quantos dos que estão a ler estas palavras sabem o que é a gestão de um fundo de capital de risco? Uma política científica não é diferente, é expectável que mais de 95% da actividade seja inútil e que produza apenas subprodutos daquilo que era o seu propósito inicial. No caso da investigação, os recursos humanos que são entregues ao país. Mas aquilo que se vê são esses 95% de insucesso que, por ignorância,  ninguém sabe fazerem parte do negócio que deverá ser pago pelos subprodutos e pelos 5% (se tanto) de projectos bem sucedidos.

A FCT resolveu começar a cortar na divulgação da ciência. Naquilo que pode angariar mais pessoas para os temas científicos, que pode justificar a quem paga os investimentos que estão a fazer e aquilo que coloca os miúdos no caminho do conhecimento mais valioso. Quem é da minha idade e viveu com dois canais de televisão, sabe da importância que o "Cosmos", a "Terceira Vaga" ou o "Liberdade para Escolher" tiveram nas nossas vidas e nas nossas opções enquanto agentes económicos. Se calhar têm uma importância ainda maior naquilo que é hoje o orçamento de custos de pessoal a FCT. Não se pede a ninguém para gastar milhões de euros em investigação científica sem lhe dizer para quê, porquê e com que resultados. Porque a consequência disso é colocar-se a investigação científica nos gastos absurdos.

Eu não consigo entender cortes na área que não está sujeita àquela regra dos 95%, naquela cujo  impacto económico é directo e não depende da estatística de ser um dos 95 que vai falhar para que 5 sejam bem sucedidos ao ponto de pagar os demais. Para mim isto significa que quem está a gerir os dinheiro públicos nesta matéria não entende a razão da sua missão. O que coincide que a opinião que tive do meu contacto com a FCT, infelizmente.

14 comentários:

Anónimo disse...

E o que dizer das despesas do ensino superior politécnico público tais como, a celebração do aniversário de uma Escola, integrada no Instituto Politécnico de Santarém, com um cruzeiro na barragem do Castelo do Bode, com almoço a bordo e transferes em autocarro ao cais de embarque, para docentes, funcionários e convidados, noticiada pelo jornal “O Mirante”, na sua edição de 18.12.2008, pág. 33, em artigo intitulado “Aniversário da Escola de Gestão celebrado em tom de discórdia”, e pelo Diário de Notícias, na sua edição de 19.12.2008, pág.13, em artigo intitulado “Um passeio à conta dos contribuintes”.

Despesas estas, que não suscitaram um reparo por banda dos órgãos do Estado.

Para os que, como eu, atribuem valor ao simbólico, a subsequente nomeação da Sr.ª Presidente do Instituto Politécnico, pelo Sr. Presidente da República, para a Comissão de Honra das Comemorações do 10 de Junho de 2009, na Cidade de Santarém, teve um significado político. Ademais, conforme noticiado, a Sr.ª Presidente do Instituto Politécnico também desfrutou deste cruzeiro idílico…

Enfim, é a FOLGOZA.

Anónimo disse...

O entusiasmo, orgulho e apoio que a Escola Superior de Desporto de Rio Maior, do Instituto Politécnico de Santarém, suscita ao Sr. Ministro da Educação, Prof. Nuno Crato, é partilhado por sucessivos titulares do Ministério com a Tutela do Ensino Superior, nomeadamente, pela Sr.ª Prof.ª Maria da Graça Carvalho, titular da pasta do Ensino Superior nos XV e XVI Governos Constitucionais, como resulta da vibrante intervenção da mesma Senhora, no dia 24 de Maio de 2013, na inauguração das instalações da Escola Superior de Desporto de Rio Maior:

http://www.gracacarvalho.eu/xms/files/ACTIVIDADE_EM_PORTUGAL/OUTRAS_ACTIVIDADES/2013/5_24-05-2013_IP_Santarem/Speech_final_site.pdf

Enfim, é a FOLGOZA.

Anónimo disse...

Num ensino superior politécnico público que já anunciava doutoramentos, em parcerias com universidades, o panorama da habilitação dos seus docentes é elucidativo, pelo menos, segundo dados divulgados pela Direcção-Geral do Ensino Superior, “Análise de todos os Docentes em 2008 por Categoria”, INDEZ2008, reportados a 31 de Dezembro de 2008, num universo de 8.181 docentes, no ensino superior politécnico, 35 tinham habilitação ignorada e os demais a seguinte habilitação: - 49 décimo segundo ano ou menos; - 30 Curso de Especialização Tecnológica; - 111 Bacharelato; - 2.796 Licenciatura; - 73 Pós-Graduação; - 3.602 Mestrado; - 1.485 Doutoramento.

Segundo dados da mesma Direcção-Geral, o REBIDES, no ano lectivo 2011/12, no ensino superior politécnico público num universo de 10.284 docentes, 104 têm habilitação não especificada, e os demais a seguinte habilitação: - 66 Bacharelato; - 3. 390 Licenciatura; - 4.255 Mestrado; - 2. 496 Doutoramento.

Ou seja, mais de 75% dos docentes do ensino superior politécnico público nem sequer são doutorados.

Acresce que, de 31.12.2008 até ao ano lectivo 2011/12, o nº de docentes do ensino superior politécnico público aumentou cerca de 26%. Não obstante ser sabido que o n.º de alunos no ensino superior politécnico há muito que tem vindo a decrescer…

A menor qualificação académica dos docentes do ensino politécnico público - em que mais de 75% dos docentes não são doutorados – mas que auferem remunerações equivalentes às dos docentes universitários, independentemente do grau académico de que sejam titulares, ou mesmo de serem titulares de um grau académico – radica no facto de no ensino superior politécnico público não ser necessário que sejam mais qualificados academicamente para ministrarem a sua oferta educativa de Licenciaturas, Mestrados e Doutoramentos.

Ainda que alguns Mestrados – e os Doutoramentos – sejam omissos da oferta educativa divulgada no site da Direcção-Geral de Ensino Superior.

Enfim, é a FOLGOZA.

Nuno Barradas disse...

Este artigo ignora o facto que há uma agência governamental dedicada exclusivamente à promoção e divulgação da ciência, o Ciência Viva. A função e vocação da FCT é o financiamento da investigação científica, e não a sua divulgação. Ter duas agências a fazer a mesmas coisa (divulgação) é uma duplicação desnecessária e um desperdício de recursos. Ou seja, não faz sentido que a FCT faça divulgação da ciência.

Para além disso, um dos aspectos considerados na avaliação de projectos científicos financiados pela FCT é precisamente a divulgação ao público em geral dos resultados dos projectos, feita pelas equipas dos projectos. Ou seja, em princípio são os próprios investigadores que devem fazer essa divulgação, e mais uma vez a FCT imiscuir-se nisso, para além da avaliação dos projectos (periódica e final) é desnecessário.

Anónimo disse...

O Nuno Barradas não está a compreender. O que eles querem é que a FCT continue a atribuir bolsas de doutoramento e pós-doutoramento em divulgação da ciência...para além, claro do ciência viva. E querem mais bolsas para a divulgação do que as que são atribuídas a certas áreas científicas. O importante para eles é a comunicação, a divulgação e não tanto a investigação científica. O "gestor" de empresas até propõe que a FCT só deveria apoiar a divulgação. Claro! Não fossem eles "agentes" directos do negócio da "divulgação científica" que há muito - tirando o Marçal, que é mais recente - não fazem ciência.
Eles estão a defender o negócio deles. A FCT fez muito bem em acabar com estas bolsas que, como diz, devem ser dirigidas unicamente para a investigação.

Anónimo disse...

O que conta é o impacto nas revistas científicas. Em que revistas com factor de impacto relevante é que a divulgação da ciência tem publicado? Nenhuma, porque não produz resultados originais. Aliás, a FCT tem financiado doutoramentos que de ciência e tecnologia têm nada.

Ao ter em tão má conta a ciência fundamental e a ciência aplicada (engenharia) o autor do texto só prova que não merece nenhuma bolsa da FCT.

João Pires da Cruz disse...

Nuno, não percebo o que é que o CV tem a ver com o assunto. É como dizer que não vale a pena investir em desenvolvimento automóvel porque já temos rodas há muito tempo. Não é isso que está em causa. O artigo não ignora isso porque não é sobre isso.

Quanto ao impacto nas revistas científicas, quer dizer às pessoas que trabalham até Junho para pagar impostos, que pagam impostos para meter a porcaria de um escrito numa revista???? Quer melhor justificação para se ter bolsas para divulgação que essa estupidez????

Anónimo disse...

Err...estou a ficar com a sensação que este Pires da Cruz não tem a mais pequena ideia do que é a actividade de investigação científica, nem a sua validação, produtividade e divulgação de resultados. Mas lá repetir, mas mais devagarinho, assim para gestor perceber: a FCT deveria financiar a investigação científica, nomeadamente através da atribuição de bolsas; a produtividade da actividade de investigação revela-se, em grande parte, na publicação de artigos em revistas científicas de impacto relevante; a divulgação e a comunicação (?!) não tem resultados ao nível de produção de artigos científicos pois não é uma actividade de investigação científica, logo não faz sentido a FCT continuar a atribuir bolsas para essa área. Mais do isto é a imoralidade de querer confundir os seus interesses pessoais com os interesses do país.

João Pires da Cruz disse...

Este Pires da Cruz não quer saber. Este Pires da Cruz paga, não quer saber o que se passa na cozinha. Papers? Quanto é que você vendeu de papers, em euros?. Esse seu projecto de investigação científica é melhor que comprar o CLA novo? Porquê? Já viu o CLA novo? É lindo... E o CLS? Se calhar se não der dinheiro para o seu projecto nem para o do Nuno Barradas, deve dar para ir buscar o CLS 350D.

Acho que tem razão, esqueça lá a porcaria da divulgação e da comunicação. Já agora esqueça também os outros, a não ser que esteja a desenvolver alguma coisa para a Mercedes....

PS: Sócio, eu faço papers nas horas livres. Eu sei perfeitamente quais são as métricas de performance científica e nas horas livres safo-me bem melhor que a maior parte da comunidade científica nacional que o faz a tempo inteiro. Não me venha com arrogâncias dessas, é ridículo...

Anónimo disse...

"[...] eu faço papers nas horas livres."

"[...] nas horas livres safo-me bem melhor que a maior parte da comunidade científica nacional que o faz a tempo inteiro"


"Não me venha com arrogâncias dessas, é ridículo..." - Pois é.

João Pires da Cruz disse...

As suas métricas, não são as minhas.

Anónimo disse...

O seu CV e o seu domínio científico falam por si.

Anónimo disse...

Era uma vez o João.
O João, um jovem português, trabalhador, até com alguma formação superior que vai trabalhando e pagando os impostos.
Do dinheiro que o Estado arrecada ao João, alguns euros vão para a FCT e esta dá bolsas de investigação.
Depois o João que até se interessa por algumas coisas que um pessoal por ai faz, vai pesquisar o que os investigadores fazem, tira a referência de um artigo e procura o mesmo, para saber onde ele se encontra.
O João acaba por descobrir desiludido que os artigos que procurava para ler estão publicados numa revista que tem um custo de mercado.
O João que paga impostos que financiam muita coisa entre elas a FCT terá que pagar a dobrar para ter acesso ao conhecimento produzido financiado em parte com os seus impostos..

Acontece que a FCT permite que os Jões deste mundo financiem investigações que à partida estão vedadas ao comum dos mortais, aos não especialistas.

Talvez uma reflexão sobre este tema nos leve a perceber o que pensa o público em geral das bolsas e da ciência em Portugal..
Comecem primeiro por este tema e depois discutam em seguida o que está no post

Anónimo disse...

Isso até podia ser verdade se não existisse o arXiv.org . Siga para http://arXiv.org e pesquise por exemplo por "j magueijo" ou "c fiolhais". Só não põe os artigos no arXiv quem tem telhados de vidro.

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