domingo, 10 de março de 2013

A família humana

Quem somos? De onde viemos? Estas duas perguntas são geralmente o primeiro passo da hipocrisia comum que tem duas partes. Primeiro, a pessoa finge ter um interesse genuíno pelas perguntas, quando na verdade só lhe interessa exibir o que considera a sua superioridade cultural. Segundo, a pessoa não tem em mente uma investigação séria que vise responder às perguntas, mas antes um discurso heróico e reconfortante que nos diga que os seres humanos são superiores.

Contudo, para quem se interessa genuinamente por estas perguntas, o livro Last Ape Standing é uma excelente leitura. O autor, Chip Walter, não é cientista; mas informou-se sobre os últimos desenvolvimentos científicos quanto à nossa origem e apresenta-nos esses dados e especulações numa prosa simples e divertida. Ficamos não apenas a conhecer a diversidade de hominídeos (bastante maior do que se sabia há 15 ou 20 anos), mas procuramos também respostas a esta pergunta dolorosa: por que razão só uma espécie de hominídeos sobreviveu até hoje? Afinal, há várias espécies de símios, por exemplo, ou de canídeos. Por que razão só o Homo sapiens sobreviveu?

9 comentários:

José Batista disse...

Humildemente, estou em crer (é uma crença, portanto) que a razão por que só o "Homo sapiens" sobreviveu foi porque, enquando espécie, é o resultado das miscigenações possíveis (por exemplo com os neandertais) e do extermínio dos que, sendo (algo) diferentes, tenham também sido mais frágeis, quer às mãos dos "Homo sapiens" quer à acção da Natureza. Obviamente, os antropólogos dirão o que for cientificamente mais correcto. Estou a pensar, por exemplo, na Professora Eugénia Cunha da Universidade de Coimbra.

Sobre perguntas como "quem somos?", "de onde viemos?", "que fazemos aqui?" digo que me impressionam sobremaneira, e não me sinto (é de sentimento que se trata...) incluído na generalidade que Desidério Murcho refere. É claro que não li, nem poderei ler, o livro que Desidério sugere (?), porque mo impede o meu fraco(te) domínio do inglês. Agora, para fazer legitimamente aquelas perguntas, assertivamente afirmo que não é preciso ler nenhuns livros especiais. E não, não é por eu alimentar a ideia de que os seres humanos são [(os) seres] definitivamente superiores. Aliás, sendo obra do acaso, somos o que somos, mas podíamos ser diferentes, mais ou menos "superiores". Que é como quem diz, se a Natureza conduziu a evolução biológica ao "topo de gama" que é o ser humano, não se pode dizer, em toda a acepção da palavra, que tenha atingido a "perfeição"! Pelo menos a avaliar pelas condições em que vive a maioria das pessoas. Mas esta é questão que nem os políticos, nem os filósofos, nem os cientistas, nem os economistas, nem as sociedades em geral parecem capazes de resolver.

Unknown disse...

O Desidério faz uma pergunta, "Quem somos?" (e aqui cabem uma série de outras, tais como "de onde viemos?". Estas são das inquietações que mais me fascinam pessoalmente. A este respeito a observação da humanidade, a partir da nossa perspectiva pessoal enquanto seres sociais, se conseguirmos ter algum sucesso numa presumível neutralidade e, tentando abstrair-nos da nossa própria subjectividade, conseguimos ter algum sucesso nesse exercício e, talvez, consigamos aprender alguma coisa sobre nós mesmos na observação dos outros, começando pelos nossos progenitores e os outros que os antecederam (e até nos nossos filhos), mas também nos conseguimos ver nos nossos amigos mais próximos, e nos mais afastados, e naqueles com quem aparentemente não temos nada em comum e até com aqueles que abominamos.

Outra aproximação também interessante, e que me enche de curiosidade, é tentar vislumbrar o homem enquanto espécie biológica, nas suas diversas facetas e imaginar quão diferentes seriam as outras espécies de hominídeos (que supostamente têm algum grau de parentesco com o homo sapiens), aqui tentamos sustentar a nossa imaginação no pouco que vai sendo desvendado. E procuramos preencher o imenso desconhecimento que há com o que sabemos de nós mesmos.

Mas isto tudo para dizer que fiquei com curiosidade e fui procurar alguma informação sobre o livro que o Desidério recomenda, "Last Ape Standing" e o autor (Chip Walter). Encontrei um excerto do livro e o que li não me deixou bem impressionado. Este excerto tem o título sugestivo "Can humans survive themselves?"

um pouco mais adiante após uma breve reflexão aparece um parágrafo curtinho (igualmente sombrio) que não resisto a transcrever

"We won’t, though. Instead, we will come to an end, and rather soon. We may be the last apes standing, but we won’t be standing for long."

bom mas esse excerto, que alguém escolheu dá uma visão bastante sombria e pessimista (e algo delirante) do homem (coisa, com que eu não posso deixar de embirrar e apenas fico com vontade de dizer mal do autor, o que não vou fazer, porque apenas tive um vislumbre das suas ideias e não gostei).

Apesar da má impressão que eu fiquei do autor estou certo que a parte do conhecimento dos nossos antepassados e outras espécies relacionadas deve ser fascinante. Aqui fica o link com o tal excerto (espero que alguém aprecie mais do que eu):

http://www.popsci.com/science/article/2013-01/the-human-race-will-come-to-an-end

Guilherme de Almeida disse...

Já Carl Sagan dizia ser provável que a humanidade se auto-aniquilasse por uma guerra letal.

Esse era, par Sagan, um dos vários destinos possíveis da humanidade. E a eventual descoberta de outra civilização mais adiantada do que a nossa, na Galáxia, podia ser reconfortante na medida em que seria um argumento (e uma prova) a favor da sobrevivência da humanidade.
Além da eventualidde de uma guerra mundial devastadora, outros argumentos têm sido traçados para o fim da humanidade: queda de enorme asteróide, doença altamente contagiosa e mortífera, supernova relativamente próxima, etc. etc. Ou a simples evolução a longo prazo.

Mas não podemos também, enquanto espécie, aspirar à eternidade. Nem as espécies são eternas, mesmo que não haja cataclismos...Porque haveria de ser diferente com o "homo sapiens".
Por outro lado, o ritmo a que estamos a degradar o planeta, a enveredar por taxas de degradação superiores às taxas de regeneração e caminhando para um ponto de não-retorno, cegamente e sem pensar (na generalidade das pessaos),parece não prometer nada de muito melhor do que aquilo que VG critica.

O último parágrafo transcrito por Vasco da Gama (VG pode ser pouco animador. Mas não é motivo para se ficar com má impressão do autor Chip Walter. É um dos desfechos possíveis, gostemos ou não de o ler.

Até parece aquela história em que um poderoso rei do passado longínquo fez uma pergunta ao seu conselheiro (que poderia ficar sem cabeça se essa fosse a vontade do seu rei perante uma resposta que lhe dsagradasse). A pergunta era deveras embaraçosa e o conselheiro, astuto e receoso de uma possível vingança real, perguntou humildemente: "Senhor, quereis saber a verdade ou desejais uma resposta agradável?" Um parágrafo menso optimista não é motivo para "queimar" o autor...

Guilherme de Almeida

Unknown disse...

É um facto que, do pouco que consegui ler de Chip Walter, não fiquei com boa impressão dele, parece-me um pouco doentio, outros poderão apreciar as suas ideias.

Podemos fazer um pequeno exercício e imaginar que o dia está quase a começar e enquanto ainda estamos na cama vamos antecipando o nosso dia, pensamos um pouco nesse novo dia que temos pela frente, as coisas que temos para fazer, as pessoas que vamos encontrar, podemos antecipar um pouco o que de bom e menos bom nos espera nesse novo dia. Pela perspectiva sombria de Chip Walter,talvez começassemos a pensar nas desgraças que nos podem acontecer, será que estaremos tão saudáveis como na véspera?, ou teremos o entretanto contraído uma doença terrível, que iremos descobrir da próxima vez que formos ao médico, bom, mas para isso teremos de ir ao médico, e admitido que conseguimos levantar-nos, tomar banho, vestir-nos comer, que riscos encontraremos ao sair de casa, onde nos sentimos protegidos (sabe-se lá porquê), será que conseguiremos atravessar a estrada sem cair ou ser atropelados por um carro, que vá a passar, não sabemos, será que o carro funciona? (senti-mo-nos optimistas e, com alguma irracionalidade acreditamos que sim) e, ao meter-nos no carro não estaremos a apressar-nos para uma morte mais que certa, e a entrar para o nosso caixão... , bom, como se vê pode-se continuar, cheios de coragem, pelo dia fora a imaginar todos os enormes riscos que corremos, pelo simples facto de estarmos vivos, até concluirmos que talvez o melhor seja sucumbir ao medo e ao desespero, para concluir que o melhor é não nos levantarmos da cama, isto se quisermos continuar a viver e não optarmos por uma saída mais rápida deste inferno.

Como é claro, o pouco que conheço das ideias do Chip Walter, leva-me a concluir que as suas ideias são um pouco doentias, ainda que possam ser abençoadas pelo Carl Sagan, ou pelo Desidério Murcho, ou por outro qualquer.

De tudo o que conhecemos da espécie humana há uma coisa da qual podemos ter toda a garantia e essa é a extraordinária resiliência da raça humana, da qual a história é fértil em nos dar exemplos da nossa extraordinária vontade de sobreviver às situações mais adversas (aqui podemos lembrar-nos dos judeus que conseguiram sobreviver nos campos de extremínio nazis ou à quase extinção humana à 60 ou 70 mil anos quando a população humana foi reduzida a cerca de algumas centenas de indivíduos), sendo certo que temos uma habilidade extrema em criar (e inventar) situações complicadas (a este respeito podemos ver a sucessão de cenários catastróficos e apocalipses que foram anunciados para a espécie humana ao longo da sua história). O que é certo é que apesar de todo o pessimismo dos profetas da desgraça, nunca a raça humana viveu tão bem como na actualidade. Será que podemos viver estes tempos com algum optimismo, bem sei que devemos ter alguma prudência, ainda assim ganhamos alguma coisa em ter uma postura pessimista, apenas porque a vida é contingente?

Anónimo disse...

Os meus pais estão a ler um livro russo mágico. O título não sei citar mas é muito aproximado de "Quem somos nós?". Sempre que podemos eu e meus irmãos pedimos para eles nos contarem e é fascinante. Sem dúvida o melhor livro até hoje. É mesmo mágico e explica tudo de forma tão fácil e entusiasmante que a escola o que nos tem contado é tudo uma farsa.

Guilherme de Almeida disse...

É verdade que a espécie humana já sobreviveu a crises terríveis. Mas isso é numa escala de milhares ou dezenas de milhares de anos. Á escala planetária e evolutiva, isso é pouco tempo.
Como é sabido, se se definir uma escala temporal em que toda a história da Terra (desde a sua formação) é comprimida em um ano. o Homem (nessa escala) surgiu às 18:00 de 31 de Dezembro.
Nada nos garante a sobrevivência a longo prazo. Nem podemos ter a arrogância de nos considerarmos uma espécie imortal e eterna.

Apesar do verniz civilizacional bonito que nos cobre, é nas situações de angústia e desespero que o bicho-homem emerge, saindo rapidamente dessa capa cruel, animalesco e impiedoso, como tempos visto nas guerras do passado recente. E essa facilidade em sair da capa de verniz, pode ser a nossa perdição como espécie. È que se há poucos milénios e até à poucos séculos, as armas disponíveis matavam um indivíduo, ou dez ou até 100 ou 1000 pessoas, houve a capacidade de extermínio acessível ao alcance de um botão é imensa e poderosa, podendo atingir todo o planeta e até mesmo, or redundância bélica matar mas de 10x a população existente no planeta... E não temos (enquanto espécie) juízo suficiente...(eu não confio neste "verniz" pouco aderente). Basta um louco, um desesperado, um acesso de fúria e pode ser o fim da espécie humana. Essa é, infelizmente a ameaça mais preocupante, para além de podermos envenenar o planeta: essa capacidade de envenenar rapidamente era praticamente nula há 250 anos...
Portanto, o aparente sucesso da espécie 20 ka, 200 ka, não nos permite extrapolar esse "sucesso" para prazos ainda maiores, de 500 ka e muito menos prazos da ordem de Ma...E a Terra existe há cerca de 4,6 Ga.
Legenda 1 ka=1000 anos; 1 Ma=1 000 000 anos; 1 Ga=1 000 000 000 anos.
GA

Guilherme de Almeida disse...

O "demónio das gralhas" não perdoa e Murphy não dorme: emendo aqui por baixo e reformulo.

É verdade que a espécie humana já sobreviveu a crises terríveis. Mas isso é numa escala de milhares ou dezenas de milhares de anos. À escala planetária e evolutiva, isso é pouco tempo.
Como é sabido, se se definir uma escala temporal em que toda a história da Terra (desde a sua formação) é comprimida em um ano, o Homem (nessa escala) surgiu às 18:00 de 31 de Dezembro.
Nada nos garante a sobrevivência a longo prazo. Nem podemos ter a arrogância de nos considerarmos uma espécie imortal e eterna.

Apesar do verniz civilizacional bonito que nos cobre, é nas situações de angústia e desespero que o bicho-homem emerge, saindo rapidamente dessa capa, cruel, sanguinário e impiedoso como tempos visto nas guerras do passado recente. E essa facilidade em sair da capa de verniz, pode ser a nossa perdição como espécie. É que se há poucos milénios e até à poucos séculos, as armas disponíveis matavam um indivíduo, ou dez ou até 100 ou 1000 pessoas numa batalha, actualmente a capacidade de extermínio acessível ao alcance de um botão é imensa e poderosa, podendo atingir todo o planeta e até mesmo, por redundância bélica, matar mais de 10x a população existente no planeta... E não temos (enquanto espécie) juízo suficiente...(eu não confio neste "verniz" pouco aderente). Basta um louco, um desesperado, um acesso de fúria, uma precipitação, e pode ser o fim da espécie humana. Essa é, infelizmente a ameaça mais preocupante, para além de podermos envenenar o planeta: essa capacidade de envenenar rapidamente era praticamente nula há 250 anos...
Portanto, o aparente sucesso da espécie ao longo de 20 ka, 200 ka, não nos permite extrapolar esse "sucesso" para prazos ainda maiores, de 500 ka e muito menos prazos da ordem de Ma...E a Terra existe há cerca de 4,6 Ga.
Legenda 1 ka=1000 anos; 1 Ma=1 000 000 anos; 1 Ga=1 000 000 000 anos.

GA

Unknown disse...

Infelizmente, o homem está apegado a essa escala (humana) que é extremamente reduzida face à escala planetária e evolutiva. E esta perspectiva da realidade:

"We won’t, though. Instead, we will come to an end, and rather soon. We may be the last apes standing, but we won’t be standing for long."

não nos leva a nada de bom, é um delírio pessimista e sombrio, sem nenhuma aderência à realidade (apesar de pretender ser um apelo esclarecido). Sendo que essa perspectiva acaba por ser um perigo em si mesma, por a coberto de uma clarividência arrogante, pretender remover toda a esperança e difundir um medo sem sentido (e esse medo, sim pode abrir caminho a toda a espécie de loucuras).

Anónimo disse...

Quem somos? Seres eternos... De onde viemos? Da eternidade...
Acredito cada vez menos na aula de história. O que nos contam bate cada vez menos com o que lemos e ouvimos fora dela. P.ex.Na Rússia foi descoberto um mecanismo complexo com centenas de milhões de anos! E não foi o único. E depois na sala de aula contam a treta de que viemos dos macacos e vivíamos nas cavernas? Tirem-me deste filme de Hollyood (Fabricante de enganos).

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