quinta-feira, 14 de março de 2013

Uma revolução chamada MOOC

A Internet tem vindo a revolucionar a forma de trabalhar e comunicar. Chegou a vez de revolucionar aquele que, paradoxalmente, é dos sectores que menos mudanças tem sofrido: o ensino. O cenário é conhecido desde há cerca de 100 anos:  uma sala, um quadro, um professor, alunos, manuais e exames.

Porém os custos cada vez maiores das propinas tornam proibitivo o acesso às melhores escolas. É que o modelo de ensino tradicional tem um problema: não é escalável. Se duplicarmos o número de alunos teremos de duplicar os recursos humanos.

Porém a tecnologia veio permitir mudar radicalmente as regras do jogo. Recorrendo a vídeos de alta qualidade, tutoriais ou apresentações Powerpoint distribuídas em plataformas abertas através da Internet, o modelo de ensino tornou-se subitamente escalável, e assim acessível a baixo custo, em muitos casos gratuito, a milhões de alunos.

Um dos pioneiros, Salman Khan da Khan Academy, veio mostrar, já em 2006, como se podiam levar os melhores conteúdos a todas as partes do mundo. Neste momento já  dispõe de 4000 mini-cursos com 240 milhões de visualizações. Bem-vindo à era dos MOOC: Massive Open Online Courses.

Em vez de pagarem propinas, que podem chegar aos 50 000 euros anuais, com a plataforma Coursera, desenvolvida pela Universidade de Stanford, qualquer pessoa pode aceder aos melhores especialistas do mundo, de graça. Só para esta plataforma os números são impressionantes: 2.7 milhões de alunos inscritos em menos de um ano. Outras plataformas também muito conhecidas são a Udacity e a EdX do MIT.

A maioria das ofertas destas plataformas são adaptações de cursos já existentes, embora existam outros modelos, como o Udemy ou a Lynda, que trabalham componentes de formação específicas para áreas técnicas, como design, programação e digital marketing. Neste caso são conteúdos feitos à medida e perfeitamente adaptados ao canal de distribuição online.

No ensino há três componentes importantes: a qualidade dos conteúdos, a interacção com o professor e interacção entre alunos. A parte mais complexa nos MOOC é a interacção entre alunos e professor - claramente o elemento menos escalável. Mas existem algumas plataformas com soluções interessantes como a Grockit, onde os alunos podem desenvolver tarefas colaborativas e recorrer a tutores (pagos).

Os MOOC apresentam a possibilidade de disromper o ensino, mas existem alguns desafios. Os modelos de avaliação são imperfeitos, especialmente em temas não técnicos, e a autoria das respostas dos alunos difícil de validar. Além disso ainda não existem certificações para validar a aprendizagem nestes cursos online – embora o estado da Califórnia se prepare para o fazer.

Não espere que assistir a um MOOC numa semana lhe vai abrir as portas para um trabalho de sonho. Mas certamente que este é um modelo inovador com um grande potencial para melhorar as qualificações de milhões de pessoas e vai de certeza alterar as regras do jogo nas instituições de ensino.

Armando Vieira

1 comentário:

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Nem teria proporção este artigo.

50 ANOS DE CIÊNCIA EM PORTUGAL: UM DEPOIMENTO PESSOAL

 Meu artigo no último As Artes entre as Letras (no foto minha no Verão de 1975 quando participei no Youth Science Fortnight em Londres; esto...