O activismo político é incompatível com a honestidade intelectual, ou pelo menos o convívio entre os dois é difícil. Tudo começa com a necessidade de apresentar raciocínios e factos de um modo que sejam realmente persuasivos para as pessoas, tal como elas são, e não tal como deveriam ser.
Quando defendemos ideias correctamente, num contexto académico, fazemo-lo, pelo menos idealmente, tendo em mente um leitor imparcial, atento, inteligente e capaz de objectivamente e com cuidado analisar os raciocínios e factos que apresentamos. Infelizmente, a maior parte das pessoas estão longe de ter estas qualidades, deixando-se mais facilmente persuadir por uma tirada memorável do que por um raciocínio cuidadoso, por um factóide caricatural, do que por um facto complexo. Ora, o objectivo do activismo não é a verdade, nem o debate sobre o que é ou não verdadeiro, mas antes a mudança política, social, económica ou outra. O objectivo do activismo é engrossar as fileiras dos que gritam em prol de algo, pois sabe-se que quando muita gente grita em prol de algo, os bananas dos políticos vão logo atrás dizer que sim, que é isso mesmo que querem (porque é isso que dá votos). Ora, não se engrossa fileiras com raciocínios complexos e factos difíceis de apreender. Daí que a ciência e o activismo, a honestidade intelectual e o activismo, tenham um convívio difícil, para dizer o mínimo.
O mais recente caso de atropelo da verdade e conduta intelectualmente reprovável por parte de um cientista em prol do seu activismo foi o de Jane Goodall, figura simpática que ninguém quer criticar nem pôr em causa. Do muito que já se escreveu sobre o caso, o mais honesto e informativo foi o artigo de Michael Moynihan, no The Daily Beast. Vale a pena ler, discutir e reflectir.
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