domingo, 10 de março de 2013

A BIOLOGIA, A MATEMÁTICA E O CROCHÉ

Texto recebido de Alexandra Nobre:


Uma troika de sucesso

Quando um conceito que queremos transmitir colide com a nossa capacidade de compreensão, dá jeito ter algo a que nos agarrar. Agarrar mesmo! Ver com os olhos e com as mãos. A Matemática que o diga. E foi para explicar conceitos matemáticos que o croché entrou em acção em 1997 pelas mãos de Daina Taimina, matemática nas horas certas e crocheteira nas que lhe sobram. Até hoje o croché é a única técnica que permite construir modelos tridimensionais da geometria hiperbólica.

Ora acontece que em 2011 o matemático Jorge Buescu andava às voltas com “Casamentos e outros Desencontros”, mais um dos seus livros editados pela Colecção Ciência Aberta da Gradiva. E não é que vinham mesmo a calhar umas imagens originais para o capítulo “Quando o croché ajuda a matemática”? Foi aí que esta que vos escreve entrou em cena.

Agarrou-se aos novelos, desatou a “pedalar” (fazer croché é como andar de bicicleta) e lá desenrascou o amigo. Sabiam que algumas formas hiperbólicas fazem lembrar estruturas biológicas? Corais, alfaces e certos cogumelos são só alguns exemplos. E nem precisamos de nos esforçar muito. É bem mais fácil ver um coral num plano hiperbólico duplo de croché, do que descobrir formas em nuvens que vagueiam num céu de Verão, quando as olhamos deitados numa toalha à beira-mar.

Apresentada às colegas Cristina Aguiar e Judite Almeida do projecto de divulgação de Ciência STOL – Science Through Our Lives (Dep. Biologia – Centro de Biologia Molecular e Ambiental) e Antónia Forjaz do Dep. Matemática, todas elas crocheteiras de mão cheia, a ideia foi crescendo a olhos vistos. Harmonizaram-se competências em Biologia e em Matemática, congregaram-se vontades de transmitir Ciência de modo lúdico e apelativo e, mesmo a jeito, no Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações, conseguiu-se a adesão de instituições de apoio à terceira idade. A ideia ganhou forma. E ganhou um nome também, claro! Muito a propósito “Ponto a Ponto enche a Ciência o Espaço”.

A seguir foi tempo de ganhar asas. Engalanou-se de recife de coral e foi à Festa (Festa da Ciência 2012 – ECUM). Depois embarcou de Braga a Praga para expandir horizontes (International Conference on New Horizons in Education) e registou em memórias tamanha ousadia (Procedia – Social and Behavioral Sciences, 55). No Verão foi a banhos... de livros (Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva) e na rentrée associou-se ao Projecto “A Matemática dos Nossos Avós” do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra onde está, virtualmente, à distância de uma tecla. Mas não ficou por aqui. Invencível em ousadia e após algumas intervenções de cirurgia estética, expõe-se agora vaidosa na Invicta, até ao dia 24 de Fevereiro, sob a forma de instalação de arte (Exposição Ciência e Arte – Museu Nacional Soares dos Reis).

Esta ideia é um sucesso. Tem crescido a olhos vistos à custa de muitas mãos talentosas e a agenda cresce também, sem mãos a medir. Em boa hora estamos no Ano da Matemática do Planeta Terra. Que mais se pode pedir?

Talvez mais crocheteiras habilidosas que queiram juntar-se à lista das 18 que acompanha o “Ponto a Ponto... ” no seu périplo. Bem vindas!

Alexandra Nobre
(Projecto STOL – stol@bio.uminho.pt)
(este texto não foi escrito ao abrigo  do novo Acordo Ortográfico)
Correio do Minho 21/2/2013

7 comentários:

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Belo tema!

da biologia é razão o viver,

da matemática é lógica saber.

Bem, descarto o croche.

José Batista disse...

Ora bem: há croché e croché.
E o que agora se mostra na foto é uma festa para os sentidos. E a imitação(?) de diferentes seres vivos parece muito "autêntica" e atractiva.
Viva a inovação e a diversidade do croché. Quem diria às nossas avós que o croché havia de poder vir a relacionar-se tão curiosamente com a matemática e com a biologia?

Muitos parabéns às biólogas (superiormente e belamente) crocheteiras.
Eu sei lá se pode estar aqui uma maneira bem pedagógica de ensinar muita gente a aprender a a fazer coisas interessantes em domínios múltiplos.

Quem diria?
Aprender até morrer.

Alexandra Nobre disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Alexandra Nobre disse...

Caro José Batista
Muito obrigada pelas palavras tão simpáticas e motivadoras.
Dado o seu entusiasmo atrevo-me a partilhar o link de uns álbuns onde, efectivamente, os sentidos entram em festa.
https://www.facebook.com/media/set/?set=a.364022827044185.1073741825.157428631036940&type=3
https://www.facebook.com/media/set/?set=a.335027043277097.78402.157428631036940&type=3
ou, para quem não tem Facebook
http://cbma.bio.uminho.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=265:os-qcoraisq-no-museu-soares-dos-reis&catid=102:stol&Itemid=169
Apenas um pequeno reparo... Não imitamos. Recriamos à nossa maneira. :-)
Alexandra

Cláudia da Silva Tomazi disse...



Habitar em saudade o hábito saudável.

José Batista disse...

Muito obrigado, Professora Alexandra Nobre

Fui ver e gostei muito. Agora só me falta estar atento à próxima exposição, para ir ver "ao vivo". E vou falar, e mostrar, aos meus alunos.

Obrigado outra vez.

Zé B.

Unknown disse...

Obrigada Alexandra por me convenceres a participar neste projecto a 3D. Os modelos multiplicam-se!

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