Uma troika de
sucesso
Quando um
conceito que queremos transmitir colide com a nossa capacidade de compreensão, dá
jeito ter algo a que nos agarrar. Agarrar mesmo! Ver com os olhos e com as
mãos. A Matemática que o diga. E foi para explicar conceitos matemáticos que o
croché entrou em acção em 1997 pelas mãos de Daina Taimina, matemática nas horas
certas e crocheteira nas que lhe sobram. Até hoje o croché é a única técnica
que permite construir modelos tridimensionais da geometria hiperbólica.
Ora acontece que
em 2011 o matemático Jorge Buescu andava às voltas com “Casamentos e outros
Desencontros”, mais um dos seus livros editados pela Colecção Ciência
Aberta da Gradiva. E não é que vinham mesmo a calhar umas imagens originais para o
capítulo “Quando o croché ajuda a matemática”? Foi aí que esta que vos escreve
entrou em cena.
Agarrou-se aos
novelos, desatou a “pedalar” (fazer croché é como andar de bicicleta) e lá
desenrascou o amigo. Sabiam que algumas formas hiperbólicas fazem lembrar
estruturas biológicas? Corais, alfaces e certos cogumelos são só alguns
exemplos. E nem precisamos de nos esforçar muito. É bem mais fácil ver um coral
num plano hiperbólico duplo de croché, do que descobrir formas em nuvens que vagueiam
num céu de Verão, quando as olhamos
deitados numa toalha à beira-mar.
Apresentada às
colegas Cristina Aguiar e Judite Almeida do projecto de divulgação de Ciência
STOL – Science Through Our Lives (Dep. Biologia – Centro de Biologia Molecular
e Ambiental) e Antónia Forjaz do Dep. Matemática, todas elas crocheteiras de
mão cheia, a ideia foi crescendo a olhos vistos. Harmonizaram-se competências em
Biologia e em Matemática, congregaram-se vontades de transmitir Ciência de modo
lúdico e apelativo e, mesmo a jeito, no Ano Europeu do Envelhecimento Activo e
da Solidariedade entre Gerações, conseguiu-se a adesão de instituições de apoio
à terceira idade. A ideia ganhou forma. E ganhou um nome também, claro! Muito a
propósito “Ponto a Ponto enche a Ciência o Espaço”.
A seguir foi
tempo de ganhar asas. Engalanou-se de recife de coral e foi à Festa (Festa da Ciência 2012 –
ECUM). Depois embarcou de Braga a Praga para expandir horizontes (International
Conference on New Horizons in Education) e registou em memórias tamanha ousadia
(Procedia – Social and Behavioral Sciences, 55). No Verão foi a banhos... de
livros (Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva) e na rentrée associou-se ao
Projecto “A Matemática dos Nossos Avós” do Museu da Ciência da Universidade de
Coimbra onde está, virtualmente, à distância de uma tecla. Mas não ficou por aqui.
Invencível em ousadia e após algumas intervenções de cirurgia estética,
expõe-se agora vaidosa na
Invicta, até ao dia 24 de Fevereiro, sob a forma de instalação de arte (Exposição
Ciência e Arte – Museu Nacional Soares dos Reis).
Esta ideia é um
sucesso. Tem crescido a olhos vistos à custa de muitas mãos talentosas e a
agenda cresce também, sem mãos a medir. Em boa hora estamos no Ano da
Matemática do Planeta Terra. Que mais se pode pedir?
Talvez mais
crocheteiras habilidosas que queiram juntar-se à lista das 18 que acompanha o “Ponto
a Ponto... ” no seu périplo. Bem vindas!
Alexandra Nobre
(Projecto STOL –
stol@bio.uminho.pt)
(este texto não
foi escrito ao abrigo do novo Acordo
Ortográfico)
Correio do Minho
21/2/2013
7 comentários:
Belo tema!
da biologia é razão o viver,
da matemática é lógica saber.
Bem, descarto o croche.
Ora bem: há croché e croché.
E o que agora se mostra na foto é uma festa para os sentidos. E a imitação(?) de diferentes seres vivos parece muito "autêntica" e atractiva.
Viva a inovação e a diversidade do croché. Quem diria às nossas avós que o croché havia de poder vir a relacionar-se tão curiosamente com a matemática e com a biologia?
Muitos parabéns às biólogas (superiormente e belamente) crocheteiras.
Eu sei lá se pode estar aqui uma maneira bem pedagógica de ensinar muita gente a aprender a a fazer coisas interessantes em domínios múltiplos.
Quem diria?
Aprender até morrer.
Caro José Batista
Muito obrigada pelas palavras tão simpáticas e motivadoras.
Dado o seu entusiasmo atrevo-me a partilhar o link de uns álbuns onde, efectivamente, os sentidos entram em festa.
https://www.facebook.com/media/set/?set=a.364022827044185.1073741825.157428631036940&type=3
https://www.facebook.com/media/set/?set=a.335027043277097.78402.157428631036940&type=3
ou, para quem não tem Facebook
http://cbma.bio.uminho.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=265:os-qcoraisq-no-museu-soares-dos-reis&catid=102:stol&Itemid=169
Apenas um pequeno reparo... Não imitamos. Recriamos à nossa maneira. :-)
Alexandra
Habitar em saudade o hábito saudável.
Muito obrigado, Professora Alexandra Nobre
Fui ver e gostei muito. Agora só me falta estar atento à próxima exposição, para ir ver "ao vivo". E vou falar, e mostrar, aos meus alunos.
Obrigado outra vez.
Zé B.
Obrigada Alexandra por me convenceres a participar neste projecto a 3D. Os modelos multiplicam-se!
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