quarta-feira, 29 de junho de 2011
UMA INADIÁVEL DIFERENÇA
Artigo de opinião publicado hoje no "Jornal das Letras" por Guilherme Valente, editor da Gradiva, :
“Se fizermos as mesmas coisas não poderemos esperar resultados diferentes.” (Albert Einstein)
Um Primeiro-ministro novo venceu o «amiguismo», esse cancro da vida política portuguesa. Uma primeira e decisiva diferença.
Nuno Crato, homem livre, uma inteligência analítica brilhante e um grande carácter, era para mim a melhor escolha para o desafio que é inadiável assumir na educação: serena e sustentadamente, fazer uma escola para a reconstrução do País. Dum País mais igual, mais justo e realizado, que, para isso, não poderá continuar a prescindir todos os anos de 40% da sua inteligência, atirada, pela anti-escola que temos tido, para a desqualificação e a ignorância, a exclusão e a miséria.
Perda essa numa pequeníssima parte atraída para o que é, na sua documentadíssima generalidade, a ilusão das «novas oportunidades», que são um expediente, em vez de serem a solução de recurso temporária que poderiam ter sido. Solução que poderão, de facto, vir a ser se forem a sério e se for travada a tragédia do sistema educativo que, não oferecendo as vias de formação com a qualidade e a dignidade que devia oferecer, todos os anos as alimenta.
Libertar o sistema de ensino da irracionalidade e da brutalidade, do obscurantismo que o afoga, refundando-o no conhecimento e na qualificação, na inteligência e na cultura -- que são a fonte da verdadeira liberdade -- na exigência, na responsabilidade e solidariedade. É este o desafio, tão gigantesco quanto empolgante, que Nuno Crato deverá ajudar o Primeiro-Ministro a vencer.
Com os professores -- como em muitas circunstâncias dissemos e escrevemos. Com os professores que é absolutamente imperativo reerguer, libertando-os da pressão burocrática, da desautorização e das humilhações com que – apesar da estatura e dos propósitos de dois ou três Ministros - a ideologia que dominou todos estes anos o Ministério da Educação quis apagar e foi apagando a sua função inestimável. Porque sem os professores no lugar que é o seu, sem o seu trabalho e empenho, sem a auto-exigência que certamente assumirão, sem a auto-confiança e o reconhecimento que os fará superarem-se, sem a sua dignidade justamente recuperada, não haverá escola, nem ensino. Eles são o plantel fechado com que Nuno Crato terá de alcançar vitórias.
Se assim se fizer, os pais, os portugueses livres e lúcidos, não deixarão de o apoiar.
Guilherme Valente
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15 comentários:
Infelizmente eu sou um português que não é livre e muito menos lúcido. Tenho consciência disso, daí a minha tendência para a asneira.
"... Aí temos o pórtico da pública governação com os seus ministros dentro.
- Truz truz truz!
- Quem é?
- Está em casa o Governo?
- Que lhe há-de querer? Se é peditório, pode entrar: se traz problema, S. Ex.ª saiu neste mesmíssimo instante para o palácio.
Ficamos sabendo (...) de uma boa vez para sempre, que o Governo se não ocupa das questões. É inútil sugerir-lhas, expender-lhas, propor-lhas, explicar-lhas, amenizar-lhas, impor-lhas na ponta de um cajado, ou mandar-lhas a casa numa travessa com ramos de salsa à roda e com limão em cima. O Governo o que não tem é tempo. Bem! Não se fala mais nisso. O tudo é haver quem explique as coisas! ..."
[Ramalho Ortigão, in As Farpas]
Espero que Ramalho Ortigão, desta feita, se engane.
A esperança será a última a morrer.
um sistema tende a ter a sua inércia contra
revoluções ou mudanças bruscas
em qualquer tempo
qualquer que seja o ministro
mesmo que Nuno Crato fosse um Agostinho de campos do XXI
e infelizmente tem umas ideias de díficil concretização
com 50% do pessoal docente no quadro desde 1975 a 1985 reformar será....trabalho de décadas
- Truz truz truz....al cá truz a menos?
- Quem é?
- Está em casa o Governo?
- Que lhe há-de querer? Se é peditório, pode entrar: se traz problema, S. Ex.ª saiu neste mesmíssimo instante para o palácio.
Ficamos sabendo (...) de uma boa vez para sempre, que o Governo se não ocupa das questões. É inútil sugerir-lhas, expender-lhas, propor-lhas, explicar-lhas, amenizar-lhas, impor-lhas na ponta de um cajado, ou mandar-lhas a casa numa travessa com ramos de salsa à roda e com limão em cima. O Governo o que não tem é tempo. Bem! Não se fala mais nisso. O tudo é haver quem explique as coisas! ..."
e Nuno Crato worden verzonden naar não convence
nem explica só complica
Senhor G. Valente:
Miguel Relvas, Miguel Macedo, Paula Teixeira da Cruz, Aguiar Branco, Marques Guedes, Carlos Moedas, Marco António Costa é tudo gente desconhecida do PM e do PSD, senão mesmos inimigos de Passos Coelho.
Mota Soares, Assunção Cristas, tudo gente desconhecida do PM e do CDS.
E já não vou aos restantes 32 secretários de Estado, em que, pelo menos, «33» são inimigos do PM.
Este PM foi longe de mais, não só não nomeou ninguém por amiguismo como se rodeou de inimigos.
Espero que a coisa resulte.
O entusiasmo das hostes é normal, e até saudável, mas deve ser acompanhado de alguma lucidez e bom senso.
Segundo um ditado popular: «Quem feio ama bonito lhe parece».
Por sua vez, o nosso grande poeta popular A. Aleixo dizia: «P'ra mentira ser segura e atingir profundidade tem que trazer à mistura qualquer coisa de verdade»
Ah grande Aleixo, tu é que a sabias toda.
espero mesmo que o que deseja se concretize. nestes últimos anos andaram a "preparar" as pessoas para a facilidade , mas parece que a vida , quando menos se espera , se torna mesmo difícil. é tão estranho ter umas gerações mais novas que não me ensinam nada que nem lhe conto. é suposto os mais novos abrirem-nos horizontes ,ensinarem-nos coisas , e esses cromos do eduquês roubaram-me isso. e , bem mais grave do que as minhas carências de novidades sociais e culturais , é que eunucaram milhares de jovens.
Para começar, as qualidades deste novo governo estão exemplificadas com a avaliação de professores. Antes das eleições era um modelo cuja suspensão imediata era uma medida urgente e higiénica, mas que depois de terem os meios para o fazer... deixam tudo a apodrecer.
Remover o lixo legislativo de sócrates nesta matéria seria uma medida sem qualquer impacto financeiro, com enormes benefícios na motivação dos bons profissionais. Mas parece que não é essa a opção.
Enquanto tal não acontecer, permanecerá apenas a imagem de uma traição monstruosa aos professores. Um circo grotesco que afunda ainda mais a credibilidade dos governos e que tira toda a vontade a quem tem de os suportar.
Maria (e para os restantes também):
Quanto às inúmeras deficiências e insuficiências da Educação que temos actualmente, nem vale a pena embrulharmo-nos em discussões gratuitas, tão evidentes são essas deficiências e insuficiências.
Mas o que me irrita verdadeiramente é a simplificação (não ingénua, marcada por razões ideológicas – afinal o que se critica aos arautos do chamado eduquês – e em tantas cabeças também por uma agenda escondida) que atribui as razões dessas a uma única causa – o eduquês, com as variantes em que se desdobra – quando as razões das deficiências e insuficiências são múltiplas.
É como estarmos numa floresta frondosa e fixarmo-nos apenas numa árvore, por mais imponente que seja: deixamos de ver a floresta.
Não acha curioso que, precisamente no momento em que, num país miserável, que nunca teve a Educação como desiderato, que em todos os índices educativos – a começar pelo mais básico, a alfabetização – tenha ocupado sempre o último lugar no contexto europeu, precisamente neste momento em que finalmente todos estão na Escola e em que temos tantos alfabetizados, licenciados, mestrados e doutorados como nunca, em que já damos cartas na investigação científica, precisamente neste momento as críticas têm a generalização e a violência que conhecemos?
E a comparação é sempre com a excelência de um tempo passado que nunca é devidamente balizado, e no qual a Educação era de excelência, mas em que a maioria da população era analfabeta apesar de ir à Escola ou nem sequer lá ia.
Uma pergunta lhe deixo (com a resposta à maneira das charadas nos jornais, no rodapé): Sabe atribuir a autoria e a data às frases seguintes?
A reposta certa será a), b), c) ou d)? (Estas frases, aliás, explicitam uma crítica recorrente ao longo dos tempos e que por vários autores foi sendo deixada).
1.ª – «A maioria dos estudantes […] desfalece perante o mais rudimentar trabalho analítico; raciocina errado, se raciocina; não sabe classificar; deduz mal, induz pior»;
2.ª – «Em Portugal, o aluno sai da escola primária um verdadeiro ignorante»;
3.ª – «Verifica-se nas respostas de muitos examinandos uma ignorância absoluta de certas matérias e lêem-se em muitas delas os disparates mais fantásticos»;
4.ª – «O nível mental da maioria dos alunos do ensino liceal é muito baixo».
Respostas:
a) Nuno Crato
b) Carlos Fiolhais
c) Guilherme Valente
d) 1.ª – Decreto de 1894; 2.ª – Albano Ramalho (1909); 3.ª – Alves de Moura (1939); 4.ª – Fernando Pinho de Almeida (1955).
Resposta certa: d)
Caro Guilherme Valente,
Desejo as maiores felicidades ao novo Ministro do Ensino e espero que resista aos lobbies que todos os dias se sentam à mesa do Orçamento de Estado para este sector...
Caro Manuel,
Estas suas expressões dizem quase tudo:
"precisamente neste momento em que finalmente todos estão na Escola"
A questão não é estarem todos na escola, a questão é o que lá andam a fazer. Se a escola fosse apenas sua e se o dinheiro por lá gasto fosse apenas o seu, acho que me entendia perfeitamente...
"e em que temos tantos alfabetizados, licenciados, mestrados e doutorados como nunca"
Estão alfabetizados? Será mesmo? Experimente solicitar aos tais alfabetizados para dividir 560 por 10... e depois diga qualquer coisa...! Isto se perceberem o que pretende dizer com "solicitar".
"em que já damos cartas na investigação científica"
Em que áreas? Nas áreas dos textos muito bonitos e pós-modernos ou nas áreas onde se produz investigação que se pretende patentear? E não me venha, por favor, com as excepções!
"E a comparação é sempre com a excelência de um tempo passado que nunca é devidamente balizado, e no qual a Educação era de excelência, mas em que a maioria da população era analfabeta apesar de ir à Escola ou nem sequer lá ia."
A ideologia, sempre a ideologia. O tempo da outra senhora para assustar... Estamos em 2011. Esse discurso está tão ultrapassado. A maioria até podia não ir à escola, mas aqueles que a frequentavam aprendiam de facto! Ou será que quer comparar o que se aprendia na altura com "as competências" que se adquirem hoje? Como diz um amigo meu "no tal tempo da outra senhora, aprendia-se a fazer contas, a ler e a escrever nos primeiros anos da escola, hoje "adquirem-se competências" na educação para o ambiente, para a saúde, para a sexualidade, para as relações interpessoais, intrapessoais e extrapessoais, para a energia, para o aquecimento e/ou o arrefecimento global, etc., etc.! E se houver um tempinho livre entre uma destas inúmeras educações, projectos e actividades aprendem-se umas coisinhas de língua portuguesa e matemática, mas nada de muito complicado e abstracto porque senão, os "aprendentes" podem ficar traumatizados para o resto da vida."
Sabe qual é o problema deste ensino? É que há muitos países onde se aprende mesmo e para azar dos nossos pecados, as nossas empresas cometem com as empresas desses países... porque acha que estamos muito perto da bancarrota? Será porque "todos estão na Escola e em que temos tantos alfabetizados, licenciados, mestrados e doutorados como nunca, em que já damos cartas na investigação científica", ou será porque perdemos imenso tempo e energia a enganar gerações? Sabe quanto oferecem as nossas empresas que competem nos mercados externos a recém licenciados? Parece que são 500 euros e a recibos verdes...
Que bela escola, a geração do 25 de Abril criou para as gerações seguintes!
Caro Fartinho da Silva:
Eu tive o cuidado de dizer «num tempo passado que nunca é devidamente balizado», não falei de senhoras, nem desta nem da outra.
Ideologia mete o meu caro a rodos, pois afirma que não há investigação de ponta em Portugal, que só há textos pós-modernos, que quer que lhe responda? Contra tantas certezas não vale a pena contrapor.
Veja o «Education at a Glance» e compare todos os países, veja o que se passa em cada um.
As comparações só são válidas entre o que é comparável, meu caro: não vale comparar as elites com a totalidade, nem o que se sabe aos 50 ou 60 anos com o que se aprendeu na escola, que é um erro recorrente.
Olhe que eu não inventei aquelas frases que transcrevi. Mas há às carradas ao longo dos tempos. O que me diz?
E os preâmbulos das milhentas reformas de ensino? Já leu o que se diz do estado da educação e da ignorância reinante que cada reforma resolveria, desta vez?
Eu nunca neguei os problemas que temos, conheço a Arte e não sou cego nem sectário ideologicamente.
Mas devemos conhecer bem aquilo de que falamos, senão, caimos no «achismo» (eu acho, tu achas, ele acha), pecha tão portuguesa.
A ideologia, sempre a ideologia. Sim, sim, nos homens a ideologia comanda tudo. Nos animais é a biologia.
Há-as, há-as...
Eu acho, tu achas é pecha portuguesa. Aqui acertou em cheio. Os ingleses não dizem isso mas I think, you think etc. O que é uma forma superior de achar. Para nem falar nos alemães que nem ao think descem, preferem Ich glaube. Há outras mas chega de exemplos, acho eu.
"Ideologia mete o meu caro a rodos" O Manel, não mete ideologia. O que ele diz é científico, exacto.
Eu metia cidadãos como o Manel a dar umas aulinhas porreiras ao básico. Ia adorar.
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