quarta-feira, 1 de junho de 2011

A UNIVERSIDADE DE COIMBRA E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES (1)


“Depois do 25 de Abril, tenho-me sentido tentada a escrever uma peça que se chamaria ‘Auto dos Oportunistas’, mas que é impossível de escrever porque há sempre mais um acto” (Sophia de Melo Breyner, 1919-2004).

Finalizei o meu último post, intitulado “Raios e coriscos ameaçam cursos universitários de formação de professores”(29/05/2011), com este parágrafo: ”Voltarei, brevemente, ao assunto pois é o futuro dos nossos jovens do ensino secundário que está em risco e, com ele, a Universidade Portuguesa que corre o risco de ver fechar grande parte da meia centena dos seus cursos, alguns deles já com escassa frequência de alunos, pelo desvirtuamento inicial da função das escolas superiores de educação: a formação de educadores de infância e docentes do 1.º ciclo do ensino básico”.

E, como o prometido é devido, eis-me a cumprir a minha promessa, com a transcrição de um meu artigo de opinião, publicado no Público (17/12/1996), que, infelizmente, em vez de perder a oportunidade, se tornou mais actual pela tentativa já não só de estender às Escolas Superiores de Educação a formação dos professores do 2.º e 3.º ciclos do ensino básico como, passada quase década e meia, tornar essa formação extensiva à docência do ensino secundário. Transcrevo esse meu artigo:

“É natural que na complexa e extensa informação sobre a luta dos estudantes universitários e politécnicos, o leitor dos jornais comece a confundir os tiros disparados por cada um dos lados da barricada. Parece-me, portanto, a altura de fazer o ponto da situação.


Numa alteração à Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE), que permita às Escolas Superiores de Educação formar professores para o 3.º ciclo do ensino básico, em concorrência com as universidades que detêm esse exclusivo, não deve ser esquecido que os universitários jogam à defesa e os politécnicos ao ataque. Os primeiros defendem posições conquistadas; os segundos querem-nas tomar de assalto. Uns são os invadidos; outros os invasores.

Acresce que a acreditação desta alteração conduziria a uma descaracterização das características de cada um destes sistemas de ensino superior, que seriam igualados através do abaixamento do nível do ensino universitário. Em 16 de Novembro último, em notícia intitulada “Cada macaco no seu galho”, ficou-se a saber que ‘os comunistas (pela voz de Carlos Carvalhas) querem acabar com as alterações à LBSE e apoiam as pretensões do Conselho de Reitores’, que, obviamente, estão contra e não se têm escusado em denunciar publicamente a sua posição, que nem sempre tem tido a audição conveniente.

Prova-o um ‘suelto’ de António Barreto: ‘No meio da agitação com greves e manifestações, quase se não tem reparado no comportamento dos reitores das universidades e dos politécnicos, assim como dos dirigentes científicos das escolas. Com ressalva das excepções habituais, têm-se portado com toda a cobardia possível. Revelam duplicidade e esperam passar entre as gotas de água’ (Público, 24 de Novembro de 1996).

Como que antecipando-se a esta acusação, que surgiria pela pena crítica deste cronista do Público, o Senado da Universidade de Coimbra, em reunião ordinária de 6 de Novembro passado, não se exime de declarar que ‘as propostas do Governo subverteriam as missões e objectivos dos Institutos Politécnicos e das Universidades traduzindo-se numa inaceitável degradação da qualidade do ensino’. E aduz este importante órgão de cúpula, representado por professores e estudantes, sem lugar a qualquer dúvida ou sinal de tibieza, ‘a sua frontal oposição ao sentido das propostas do Governo’.

Meses antes, em 30 de Junho passado, em Coimbra, num debate promovido pelo Sindicato Nacional dos Professores Licenciados que, pela sua importância e pioneirismo, mereceu um título à largura da primeira página do Diário de Coimbra (“Professores ‘chumbam’ alterações”), os catedráticos da Universidade de Coimbra Lélio Quaresma e Francisco Sobral
[idêntico convite foi endereçado a Jorge de Alarcão, catedrático de Letras], respectivamente, presidente do Conselho Científico da Faculdade de Ciências e Tecnologia e presidente da Comissão Científica do Curso de Ciências do Desporto e Educação Física, rejeitaram liminarmente a alteração da LBSE no que concerne à possibilidade de leccionação no terceiro ciclo do ensino básico por parte de docentes formados pelas ESE".

(CONTINUA)

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