sábado, 11 de junho de 2011

O PROFESSOR DE CIÊNCIAS FÍSICO-QUÍMICAS: UM FÓSSIL DO NOSSO SISTEMA DE ENSINO



Artigo do professor de Físico-Química Guilherme de Almeida que ele agora nos enviou. Foi publicado na "Gazeta de Física" em 2001 mas mantém-se actual:

Em tempos idos havia licenciaturas em Ciências Histórico-Filosóficas, em Económico-Financeiras e, claro, em Físico-Químicas. Depois de uma licenciatura que só englobava componentes científicas (5 anos), os professores faziam as "pedagógicas". Todas estas licenciaturas acabaram, desdobrando-se nas suas componentes. Ninguém vai hoje convencer um licenciado em História a ensinar Filosofia, nem vice-versa. Mas espera-se que um licenciado em Física ensine Química e que um licenciado em Química leccione Física no ensino secundário. O professor de Ciências Físico-Químicas é pois um fóssil de tempos idos, de quem se espera a versatilidade imensa, a sabedoria ciclópica, a prática laboratorial dupla e a técnica do camaleão.

As matérias são vastas e diversificadas, mesmo só na Física. Quantos tópicos diferentes ensina um professor de Física? E os programas tendem para maior profundidade e flexibilidade. Quem não acreditar volte a ler a velha Física de José A. Teixeira (antigos 6º e 7º anos dos liceus). Será viável, agora, vir juntar-lhe a Química? No ensino básico, ainda podemos admitir a dupla valência, pois os programas são menos profundos e o professor ainda pode tentar ensinar a componente que não é a da sua formação. No entanto, no ensino secundário tal já não é admissível. O mesmo problema também se verifica se pedirem (obrigarem) um geólogo a ensinar Biologia no ensino secundário ou vice-versa.

AS LICENCIATURAS PARA O ENSINO

Nas licenciaturas em Física ou em Química do Ramo Educacional (anos 70 e 80), o aluno tinha a primeira disciplina "não científica" só no 4.º ano. Até aí todas as disciplinas eram científicas (ligadas à Física, à Química e à Matemática), com particular destaque para a área que dava o nome à licenciatura.

Embora claramente empobrecidas na sua bagagem científica, quando comparadas com as licenciaturas no ramo científico, as licenciaturas no ramo educacional davam uma formação científica de base razoável, em Física ou em Química, a que se seguiam depois, na continuação do curso, as disciplinas das áreas psico-pedagógicas, didácticas e metodológicas, culminando no Estágio Pedagógico (referidas como disciplinas "não científicas" apenas para as distinguir das outras directamente ligadas à Física, à Química e à Matemática). Estas licenciaturas, com a duração de 5 anos, preparavam efectivamente o futuro professor para o ensino da Física ou da Química (e também para Biologia, licenciatura que não referirei por se encontrar fora do contexto deste artigo).

As licenciaturas no Ramo Educacional, em Física ou em Química, tinham uma formação mínima da componente contrária (formação em Química para os físicos e vice-versa), intensificando a variante científica respectiva. Por exemplo, na licenciatura em Física havia duas cadeiras de Química, como os Elementos de Química-Física e a Química Inorgânica Geral (sendo possível não incluir Química Orgânica). Pode dizer-se aproximadamente o mesmo, com as devidas adaptações, relativamente à licenciatura em Química do ramo educacional. Para simplificar designarei estas licenciaturas como "licenciaturas 2 em 1", sem qualquer sentido pejorativo, querendo com isto dizer "Física+componente pedagógica" ou "Química+ componente pedagógica". Actualmente as licenciaturas "2 em 1" já não se chamam Licenciatura em Física—ramo educacional e Licenciatura em Química—ramo educacional, mas a concepção "2 em 1" foi preservada sob a designação de Licenciatura em Ensino de Física e Química—Variante Física (ou Variante Química). O seu carácter "2 em 1", privilegiando a Física ou a Química, ainda dá margem para uma formação, na área científica respectiva, suficiente para os fins em vista.

Já existem licenciaturas em Ensino da Física e da Química, englobando ambas as componentes científicas, de modo a formar professores para esta dupla necessidade. Designarei estas licenciaturas como "licenciaturas 3 em 1", mais uma vez sem nenhum sentido pejorativo, querendo apenas significar "Física + Química + componente pedagógica". Neste caso, para atender às necessidades da formação em Física e em Química, a formação em cada uma das componentes científicas é ainda mais empobrecida: incluir suficiente formação em Química tem de implicar dar menos Física, e vice-versa (e ainda tem de haver "espaço" para as indispensáveis disciplinas da área da Matemática, a que nenhum físico nem nenhum químico pode eximir-se). Algumas destas licenciaturas "3 em 1" começam logo no primeiro ano a incorporar disciplinas psico-pedagógicas, o que pode empobrecer o seu conteúdo científico, e nalguns casos até incluem uma língua estrangeira nesse ano. E, como é óbvio, o "espaço" para as componentes científicas é o que sobra depois de descontadas as disciplinas das áreas psicopedagógicas, didácticas, metodológicas e outras. Em suma, as licenciaturas em Ensino, na modalidade "2 em 1", podem produzir professores com a formação científica suficiente para ensinar as respectivas disciplinas no ensino secundário: disciplina de Física ou disciplina de Química. Mas não se deverá esperar que ensinem com igual qualidade a componente contrária (no ensino básico, a pequena formação inicial na componente contrária poderá ser suficiente). Por outro lado, as licenciaturas em Ensino da Física e da Química (licenciaturas "3 em 1") proporcionam formação científica (em cada componente) necessariamente mais diluída que as licenciaturas "2 em 1". Faz-se formação inicial em ambas as componentes, o que faz escassear tempo e oportunidade para aprofundar uma e outra.

Não creio que seja possível, com acções de formação pontual em Química, "transformar" um licenciado em Ensino da Física num professor devidamente preparado para o ensino da Física e da Química com igual e adequada competência e sensibilidade em ambas as ciências. O mesmo se aplica aos licenciados em Ensino da Química, que não ganharão a necessária sensibilidade para a Física com acções de formação pontuais e avulsas de Física.

ENSINAR A OUTRA COMPONENTE CIENTÍFICA

Alguns dirão que um licenciado digno desse nome tem uma formação de base com elasticidade suficiente para se lançar em novos desafios: pode consultar, estudar, preparar-se para ensinar Química (se for de Física), ou vice-versa. Haverá quem diga isto com convicção. Porém, isso não basta no ensino secundário. O aluno (mesmo o mau aluno) consegue ver se o professor tem a sensibilidade própria de quem fez, preparou, mediu e sente aquilo de que fala, ou se apenas estudou num livro; se está à vontade ou se se está a "ajeitar" a dar Química sendo físico (ou vice-versa); se o seu discurso e gestos são seguros e experientes ou desajeitados e titubeantes. O aluno descodifica as atitudes do professor, mesmo nos momentos de
silêncio: a linguagem corporal não mente.

Continuar a aceitar que isto aconteça não é bom, nem para o estudante, que tem direito a ser ensinado por um professor bem preparado, nem para o professor, que se vê forçado a caminhar em piso escorregadio, arriscando-se ao ridículo, a ensinar o que não sabe com a devida profundidade ou o que não sente com a necessária paixão. Há quem disfarce melhor e quem disfarce pior, mas, no fundo, como diz a velha história, o rei vai nu.

Apesar de nunca ter caçado, posso ler vários livros sobre este tema, documentar-me e preparar-me, de modo a apre s e n t a r uma palestra/acção de formação sobre a caça à perdiz. Po r é m , o auditor atento, sobretudo o que já caçou ou viu caçar, aperceber-se-á imediatamente do meus conhecimentos meramente livrescos na matéria e dirá: "este fulano está aqui a falar, mas, pelo que ouço e pela forma como o diz, é evidente que nunca esteve numa coutada e nunca pegou numa arma de caça!"

UMA POSSÍVEL SOLUÇÃO

Pelas razões anteriormente referidas, não creio que as licenciaturas "3 em 1" resolvam o problema do ensino das Ciências Físico-Químicas. Para ultrapassar o problema têm-se procurado soluções que passam pelo ensino das duas componentes desta disciplina por professores licenciados nas respectivas áreas. No 12.º ano o problema está resolvido, sob a forma de disciplinas independentes, como sabemos. Alguém já propôs que se fizesse, no 10.º ano e no 11.º ano, o mesmo que no 12.º ano. No entanto, isso implicaria um aumento do número de disciplinas, o que é de evitar. O ensino por meio de um par pedagógico (professor de Física+professor de Química, a exemplo do que sucede na disciplina de Educação Visual e Tecnológica) é outra opção em aberto. Outros ainda propuseram que se dividisse o ano lectivo a meio, de tal modo que umas turmas do ensino secundário começariam pela Física (ensinada por físicos) e outras começariam pela Química (ensinada por químicos). A meio do ano os professores trocariam de turmas. Esta solução implicaria que os professores mudassem de horário em Fevereiro, o que desagradaria a alguns deles (e haveria também o problema dos alunos que fossem transferidos de escola a meio do ano lectivo). A recente ideia de dividir o ano lectivo em dois semestres, proporcionando a avaliação e a passagem (ou não) de ano independentes para a Física e para a Química (10.º e 11.º anos) poderia facilitar esta solução, mas persiste a mudança de horário dos professores a meio do ano, o que pode criar complicações.

Proponho um sistema diferente. Seguindo a minha sugestão, no 10.º ano só se leccionaria Química (Química do 10.º ano+Química do 11.ºano); e no 11.º ano só se ensinaria Física (Física do 10.º ano+Física do 11.º ano). Proponho a Química primeiro porque, ao nível do ensino secundário, exige menos pré-requisitos de Matemática do que a Física. É claro que a Química "10/11" do 10.º ano seria preferencialmente leccionada por um professor com formação académica em Química. Do mesmo modo, a Física "10/11" do 11.º ano seria leccionada por um licenciado em Física.

Quando me perguntam a profissão, digo sempre que sou professor de Física (nunca disse "de Química", nem sequer de "Física e Química"). Sou professor de Física, por gosto e vocação, mas também de Química, por uma anacrónica obrigação.

GUILHERME DE ALMEIDA

10 comentários:

Anónimo disse...

Prosa métrica:

Que é que existe em Portugal que fóssil não constitua? Isto não é dizer mal; é a verdade nua e crua! JCN

Fartinho da Silva disse...

Caro Guilherme de Almeida,

Acho que se deixou ultrapassar. No mundo pós-moderno saber muito de algo é do tempo da outra senhora, hoje deve saber-se quase nada dos mais diversos assuntos! E ensinar física? Nem pensar! O técnico de educação (professor é um conceito ultrapassado) deve orientar (ensinar é autoritarismo) os aprendentes (aluno é uma palavra descontextualizada) no seu processo de aprendizagem...

Agora mais a sério. Sempre condenei as licenciaturas "via ensino", porque as considerava uma armadilha para quem as tirava. Se o licenciado percebesse mais tarde que não era aquela a profissão mais adequada o que poderia fazer? Se aparecesse uma Maria de Lurdes a governar o Ministério da Educação como poderiam estes licenciados mudar de profissão?

Sempre considerei que um licenciado em Física, se assim o entendesse, poderia concorrer a um estágio numa escola - tal como em qualquer outra actividade - e se gostasse e se a escola também, poderia decidir ficar ou não. Simples! Podem dizer, mas falta formação em eduquês. E eu respondo, os resultados dessa formação estão à vista de todos...

Anónimo disse...

Sou professor de Física e Química, com licenciatura em Ensino de Química, e não vejo qualquer razão para a separação das duas componentes. Nunca me apercebi de que fosse um problema.

Julgo que o grande problema da formação de professores, e eu defendo-a, é quem o faz confundir duas coisas distintas: um professor não é um investigador em ciência, embora possa fazê-lo. Antes de se elaborar um currículo de formação de professores, deveria haver o cuidado de ler o currículo dos ensino básico e secundário (será que alguém o faz ou alguma vez o fez?). Talvez assim se formassem professores com melhores competências e conhecimentos científicos daquilo que DE FACTO vai leccionar.

Compreendo que isto vá mexer com os feudos de alguns doutores que por aí vão formado professores, mas creio ser um dos (vários) passos a dar para melhorar a qualidade do ensino em portugal.

Emanuel Mendonça

ELS disse...

Sou formada em licenciatura e bacharelado em química, mas não sou de Portugal. Sou brasileira. Li o artigo e certos pontos se assemelham aos problemas rotineiros ocorridos no Brasil, embora, tenho certeza de que aqui os mesmos ocorram com muito mais intensidade.

Já lecionei, mas me afastei da sala de aula para cursar um mestrado (também em química)...

Aqui, a licenciatura em ciências já foi extinta há muito tempo... o que não significa que na falta de um professor de física, o professor de química não seja o próximo na fila pra substituí-lo, e vice-versa.

Não sei como as disciplinas são divididas em Portugal, mas posso contar como são aqui. Mas antes tenho que explicar como as séries são divididas aqui. Na realidade, o ensino básico engloba 3 ciclos: 1º) 1º ao 5º ano do ensino fundamental; 2º) 6º ao 9º ano do ensino fundamental e; 3°) 1ª à 3ª série do ensino médio. O aluno inicia o 1º ciclo com 6-7 anos e um aluno, sem repetência, termina com 17-18 anos. Acredito que isso seja o que corresponde a formação básica aí!

No sistema público, ciências devem ser ensinadas desde o primeiro ano do ciclo 1 até o fim do ciclo 2. No ciclo 1, ciências são bem superficiais e lecionadas por professores de formação pedagógica. No segundo ciclo, ciências são lecionadas por professores de formação específicas, mas principalmente por professores de biologia, uma por haver muito mais professores de biologia no país do que de física e química e outra pelo próprio conteúdo ser muito voltado pra biologia. Apenas no ensino médio (3º ciclo) os alunos entram realmente em contato com química e física. Aqui, nesses três anos, os alunos têm ambas as disciplinas, ao longo de todo o ano letivo.
Já em algumas escolas particulares, como a que lecionava, o ensino de ciências já é dividido em física, química e biologia já no segundo ciclo.
Teoricamente, a elaboração do projeto pedagógico brasileiro, é lindo! Se ele realmente funcionasse, seria perfeito! Mas perfeição está longe de nossa realidade...
Diversos problemas tem retalhado o ensino aqui! Professores mal pagos, poucos incentivos, escolas sucateadas e um sistema corrupto que só intensifica todos esses problemas... Ainda bem que ainda existem os que acreditam em uma melhoria no ensino e lutam por isso... mas a situação é bem difícil e bem mais complexa do que os noticiários relatam e os políticos afirmam.
Nosso maior problema é o próprio sistema, que denigre a imagem do professor, que não é respeitado nem pelos alunos, nem pelos pais, nem pelos dirigentes das escolas, nem pelo governo e nem pela sociedade... Muitos pais não participam da formação de seus filhos e pra muitos, a escola é apenas um local pra onde eles podem mandar seus filhos e ficarem "livres" pelo menos por algumas horas, ou pra evitar a cadeia, já que aqui pais que não "propiciam meios para seus filhos estudarem" (traduzindo, se não os enviam à escola).

Bom, acho que já me estendi por demais... Contudo, acho válido ter sim as disciplinas de química e física dividias, mas andando de forma conjunta (o que não ocorre aqui) e lecionadas por professores de formação específicas...

Sou química, e embora goste muito de física, e esteja inclusive cursando um mestrado que envolve muita física, não me sentiria a vontade lecionando física, ou matemática (como tbém posso)...

abç,

Érica de Liandra Salvador

José Batista da Ascenção disse...

Caro Guilherme de Almeida:

Só agora li este seu artigo. E, sendo licenciado (originalmente) em Biologia, pela Universidade de Coimbra, também eu digo sempre que sou professor de Biologia. E, naturalmente, lecciono com paixão todos os assuntos de biologia, não obstante o carácter abstruso dos actuais programas em todos os anos do ensino secundário. Paixão que não consigo quando se trata de ensinar geologia... E verifico, com terror, que muitos dos meus alunos me dizem com frequência que "não gostam de geologia"...
Partilho, portanto, do que escreveu. Mas, para a biologia e geologia, no ensino secundário (que não até ao nono ano) proponho algo diferente: o que deve haver são disciplinas distintas, de biologia e de geologia. E caberia aos alunos escolherem o seu currículo, em função do que as universidades exigissem para a frequência dos seus cursos. Assim, os professores com formação original em biologia leccionariam preferencialmente geologia, os que têm formação de base em geologia leccionariam preferencialmente geologia, e os que têm licenciaturas mistas leccionariam indistintamente uma ou outra das disciplinas, consoante a sua vontade ou a conveniência de serviço da escola. E para os alunos que no final do secundário quisessem eventualmente acrescentar ao seu currículo alguma das disciplinas que não tivessem frequentado, simplesmente, preparavam-se e apresentavam-se a exame.
Isto seria muito útil, julgo, e responsabilizaria mais os alunos e os encarregados de educação. E era, antes do mais, uma prova de respeito por uns e por outros.
É que já me têm perguntado que sentido faz alguém que quer seguir cursos de saúde ter que dedicar horas e horas de estudo a assuntos como dobras e falhas nos terrenos ou rochas metamórficas... Outros são mais drásticos e assumem que só se sujeitam a estudar aprofundadamente as rochas porque querem (muito) ser... médicos.
Parece-me que lhes assiste alguma razão.
E penso como é triste o caso daqueles alunos que, sendo por vezes filhos de geólogos, e querendo seguir geologia, ficam sujeitos a umas barrelas superficiais e deturpadas sobre conteúdos para que têm sensibilidade, e de que o país, seguramente, precisa...
Mas, que se há-de fazer?

José Batista da Ascenção disse...

No comentário que fiz anteriormente, onde ficou escrito "Assim, os professores com formação original em biologia leccionariam preferencialmente geologia" queria, obviamente, dizer que os professores com formação original em biologia leccionariam preferencialmente biologia...

Botelho disse...

Sou professor de Física e Química. Licenciado em 2005 pela universidade do Algarve, onde atualmente o curso se encontra extinto.
O meu curso seguiu o "modelo" das licenciaturas em Física ou em Química do Ramo Educacional (anos 70 e 80), mesmo sendo em pleno século XXI.
Sempre se diminuiu quem saía da universidade do Algarve, por ser em terras de mouros, por só se pensar em sol e por mais tantos motivos que não vale a pena mencionar. No entanto, quando cheguei ao "mercado", ao mundo da labuta, percebi que a formação que recebi é boa, e que os conhecimento que recebi ao longo do curso permitem-nos saber das matérias lecionadas, das que apareceram entretanto nos novos programas (12º ano) e superiores, em grau de profundidade, ao lecionado no ensino secundário (como deve ser, obviamente). Apercebi-me que muitos outros colegas, que já se encontravam no ensino há largos anos (eng. e outros que tais) não tinham a mesma capacidade de resposta em termos de conhecimento. Por isso digo, que o curso está muito bem estruturado.

Só para ter uma noção do plano de formação do curso que frequentei, fica aqui:

1º ano
Química Geral I e II
Física Geral I e II
Álgebra linear e geometria analítica
Inglês
História e Filosofia das Ciências
Análise matemática I e II
Introdução à computação (Pascal)

2º ano
Química orgânica I e II
Química analítica I e II
Análise matemática III
Probabilidades e Estatística
Eletromagnetismo
Mecânica
Termodinâmica
Introdução à física quântica e à relatividade

3º ano
Química Física I e II
Química inorgânica
Métodos instrumentais de análise
Física atómica e nuclear
Física do Estado sólido
introdução à eletrónica
Óptica e Acústica
Bioquímica
Geofísica

4º ano
Metodologia do ensino das ciências
Psicologia educacional
Desenvolvimento curricular e modelos de ensino
Química do ambiente
Métodos experimentais da física
Gestão e organização escolar
Química dos novos materiais
Didática da física
Didática da química
Astronomia e astrofísica

5º ano
Planeamento e avaliação da prática educativa
Estágio pedagógico

Como se pode verificar, pedagogias e orientação para o ensino só mesmo no quarto ano, sempre acompanhado de conteúdos científicos de interesse e de referência a nível educacional.

Mas verdade seja dita, tinha professores que também diziam que um curso de física e química era do tempo da "pré-história". Ou se estudava física ou se estudava química.

Botelho disse...

No que diz respeito ao professor de física e química, é de referir que, nas antigas designações dos grupos, haviam os professores do grupo 4A (professores com formação em física e química) e os do grupo 4B (professores com formação nas eng. químicas e outros que tais). Em tempos idos das quimicotecnias e componentes laboratoriais.

Botelho disse...

Parece-me interessante dividir a física e a química em duas disciplinas (uma a ser lecionada no 10º ano e a outra no 11º ano). No entanto há certos conteúdos que se tornam pouco compreensíveis nesses termos. A nível da química, a compreensão do pH envolve um conhecimento da função logarítmica de base 10. É verdade que o aluno pode, simplesmente utilizar a expressão, mas será ele capaz de compreender que um aumento de 1 valor no pH corresponderá a aumentos de concentração de 10x

Um sistema de créditos poderia ser aplicado no secundário, com a especificidade das disciplinas da área de estudos. Exemplo. Área cinetífica teria num primeiro ano as bases da química e física (tal como acontece até ao 9º ano) e depois seria escolha específica no 11º e 12º ano, como acontece apenas no 12º ano.

Os exames a nível universitário (para acesso ao ensino superior) seriam bem aceites, tendo em vista o aluno que se pretende receber na instituição. Deixariam de haver exames nacionais. Apenas exames de admissão à universidade. Deste modo, o aluno não poderia enveredar pelo facilitismo no secundário, escolhendo as disciplinas menos trabalhosas.

Muitas ideias para grandes mudanças. Pouca concórdia.

Anónimo disse...

Este artigo não se mantém actual porque a formação já é completamente diferente. Mas ninguém parece ter reparado. Que pena!

O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA

A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...