sexta-feira, 3 de junho de 2011

Os loucos (de PORTUGAL)



Sabem, abro os jornais, vejo a televisão, vou no carro com a TSF, ouço alguns sound bites com as novidades sobre esta campanha eleitoral e penso que estou louco. Ou sou eu, ou são eles. Algo está errado. Tudo neste país louco, de imagens e de espetáculo, empurra para o populismo e para a gritaria, ao ponto de parecer um suicídio, até antipatriótico, ser sério, coerente, ponderado e responsável. Numa altura em que deveríamos estar serenos para decidir em consciência, promovem-se os comportamentos esquizofrénicos e enganosos de quem ainda não percebeu (Oh! Meu deus como é possível?) que tudo isto mudou radicalmente e que o país e o mundo estão de pernas para o ar. Esta campanha tem sido feita por uma esmagadora maioria de políticos do passado, que pensam que podem governar tendo por base uma campanha de intrigas, de desinformação, de promessas irrealistas e de mentira. É um cenário de loucura, que baralha tudo e todos e nos retira as referências. Ser honesto, sério, trabalhador, humilde e actuar por missão, é, neste país louco, ser um grande idiota que não sabe viver. Um país louco e falido, entretido com vacuidades, que não perde um único segundo a pensar no futuro, a planear a vida, a analisar opções, a desenhar estratégias, a pensar como será Portugal daqui a 10 ou 20 anos.

E ficam as imagens e as frases dessa loucura colectiva:
  1. Ser líder é ter a certeza absoluta de tudo e nunca se enganar. Quem admite corrigir, melhorar, adoptar outros pontos de vista, colaborar ou até partilhar, é logo apontado como fraco, mole, sem carisma e com pouca experiência. Um verdadeiro líder, para a comunicação social e para os fazedores de opinião, é um verdadeiro déspota que é incapaz de debater, de ouvir e de apreciar as opiniões dos outros. Como estão enganados e como fazem mal a este país;
  2. Olhar nos olhos num debate, ser firme, sem gritar ou ser mal educado, não mentir, ser frontal e honesto, sorrir e estar bem disposto, não falar por sound bites (frases curtas e bem estudadas) e ter um raciocínio com princípio, meio e fim, são tudo coisas negativas neste país de loucos. Quem actua assim não é levado a sério, não é um verdadeiro chefe. Quem manda fala muito alto (grita!) e chama nomes. Não dialoga, não se impõe pela razão das coisas ou pelo seu exemplo, não fala nas dificuldades e na forma como podemos enfrentá-las, mas ao invés, é populista e diz o que todos querem ouvir, fala em facilidades, de como empurrar com a barriga, mente, usa o futebol e as paixões clubísticas para animar a “malta”, e promete “defender Portugal” entre gritos patrióticos e músicas que apelam ao sentimento. Esses é que são os verdadeiros líderes fortes, os machos alfa, mesmo que populistas, mentirosos e incompetentes. E os comícios e arruadas são isso, na sua esmagadora maioria, um concurso de gritaria, vozes altas e inanidades populistas. Nada de sério que mereça um segundo de reflexão;
  3. Colocar em primeiro lugar o país e as pessoas, depois a democracia, e só depois, lá longe, tão longe que são necessários binóculos para os ver, os partidos, é, neste país de loucos, um suicídio. Porque “estes são os nossos”, e os outros são “uns bandidos e é um fartar de vilanagem”. Porque, de facto, para quem decide, Portugal conta pouco; as pessoas contam pouco. O que conta é um circo interminável de vaidades e alheamento que adia o futuro. Só que meus amigos isso acabou, e é inacreditável que ainda não tenham percebido. Quer queiram, quer não queiram, isso felizmente acabou. Nunca como hoje estivemos perante o nosso futuro de forma tão determinante. Estados maníaco-depressivos não são recomendados pois não conduzem a bons resultados, como se vê aliás.

Adaptando da famosa canção, superiormente interpretada pelos “Ala dos Namorados”: são os loucos de Portugal, que me fazem duvidar, que a terra gira ao contrário e os rios nascem no mar.

Sonho com um país de pessoas que vivem a sua liberdade individual, são conscientes e pensam pela sua cabeça, que participam na vida do seu país, são exigentes e capazes de discernir. É essa a melhor forma de defender a democracia, a liberdade e de garantir o futuro. Só nessa altura “seremos algo de asseado”. PIM.

J. Norberto Pires
(Diário As Beiras, 3 de Junho de 2011)

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