terça-feira, 14 de junho de 2011

Mais de 1100 cientistas temem cortes no investimento

Reproduzo aqui a notícia do Expresso de sexta-feira passada sobre o Manifesto para a Ciência portuguesa, já assinado por mais de 1100 cientistas:

Manifesto pela Ciência em Portugal é um movimento inédito que alerta para o papel central da investigação

Começou a circular precisamente há uma semana, e na hora de fecho desta edição mais de 1100 cientistas, empresários e gestores ligados ao sector já tinham assinado o Manifesto pela Ciência em Portugal, incluindo cerca de 200 cientistas com cargos de direção e chefia nos centros de investigação onde trabalham, em Portugal ou no estrangeiro.

Os mais influentes investigadores portugueses, muitos com carreiras internacionais brilhantes e vencedores de prémios de grande prestígio, defendem que a investigação científica "é um motor de inovação indispensável para ultrapassar a atual crise económica" e que a ciência portuguesa, "por ser potenciadora de mais-valias praticamente inesgotáveis, deve constituir um desígnio nacional suprapartidário e uma área de investimento prioritário baseado numa estratégia claramente definida a longo prazo".

A iniciativa deste numeroso grupo surge numa altura em que pairam ameaças sérias de cortes no investimento público e privado em infraestruturas científicas e recursos humanos, por causa da crise e das dificuldades orçamentais. Está é uma das principais preocupações. "Ao longo de sucessivos governos, Portugal investiu na criação de uma comunidade científica internacionalmente reconhecida e competitiva", recorda o manifesto. Este investimento permitiu a criação de empresas de base tecnológica e científica "que geraram emprego, exportaram conhecimento, estão representadas em vários países e atraíram substancial investimento internacional".

Cientistas de todas as áreas do conhecimento Mónica Bettencourt Dias, investigadora principal do Instituto Gulbenkian da Ciência (IGC), e uma das porta-vozes do manifesto, sublinha que este "surgiu, antes das eleições legislativas, de um movimento espontâneo, com cientistas de todas as tendências políticas, áreas do conhecimento e gerações, de norte a sul do país e do estrangeiro". E José Pereira Leal, também investigador principal do IGC, explica que "não se planeia ciência em ciclos de quatro anos" como os ciclos eleitorais, porque há investimentos "que só têm retorno depois de 10 a 20 anos". Por isso, "uma estratégia de longo prazo é fundamental".

O presidente e fundador da empresa farmacêutica Alfama, Nuno Arantes Oliveira, que é também um dos promotores do manifesto, assinala que "é difícil encontrar noutro sector da sociedade portuguesa um movimento tão consensual como este, que envolve não apenas cientistas mas pessoas ligadas à ciência". O empresário reconhece que a ciência feita em Portugal já alcançou bons resultados, mas insiste que "ainda há muito que fazer", sendo necessário o apoio continuado a um sector "que tem um papel central na competitividade do país".

Mónica Bettencourt Dias
Investigadora principal do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) e porta-voz do Manifesto pela Ciência

- Que impacto esperam deste manifesto e da sua divulgação?

- Esperamos que haja uma mobilização da sociedade em volta desta causa, que é muito importante para o progresso do país, e esperamos começar um movimento de diálogo com os governantes no sentido de valorizar e de pôr em prática soluções de sustentabilidade para a ciência portuguesa.

- Se houvesse um recuo no investimento em infraestruturas científicas e na formação de recursos humanos, o que poderia acontecer em Portugal?

- A melhor analogia é um avião a descolar, que é a situação em que a ciência portuguesa se encontra. Ela desenvolveu-se imenso nos últimos anos porque houve um investimento muito grande, conseguiu atrair pessoas que podiam estar a trabalhar em qualquer parte do mundo mas que querem fazer ciência em Portugal. E há que garantir que este avião descola, para a ciência ter um impacto positivo na sociedade portuguesa, se não o avião pode cair. Mas temos confiança que quem vai governar o nosso país, em conjunto com a comunidade científica, consiga encontrar uma solução que garanta a sustentabilidade da ciência nacional.

- Como avaliam a sensibilidade dos decisores portugueses para a importância estratégica da ciência?

- Em geral, a ciência tem sido uma prioridade para Portugal, tanto que tem havido um investimento grande e desenvolveu-se muito nos últimos anos. Por isso, acreditamos que a maior parte dos governantes achará que vale a pena manter esta aposta.

VIRGÍLIO AZEVEDO

2 comentários:

Anónimo disse...

Vossemecê também é dos que embirram com a "minha" poesia? JCN

Fartinho da Silva disse...

A investigação é importante? É. A saúde é importante? É. A educação é importante? É. A segurança é importante? É. E podia aqui continuar.

Enquanto tivermos a filosofia que temos que fazer sacrifícios desde que eu não os faça, não vamos a lado nenhum. Parece-me que ainda há muita gente que, e apesar das suas qualificações académicas, ainda não percebeu o que aí vem. Custa-me ver, ler e ouvir pessoas com elevadas qualificações demonstrarem ainda não terem percebido que estamos nas mãos dos credores.

O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA

A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...