Não podendo, obviamente, deixar de reconhecer a necessidade absoluta de se tomarem todas as medidas que estão ao nosso alcance para se defender o ambiente, também não posso deixar de assinalar que nem todos os meios justificam este fim. Ainda que por cá não tenhamos chegado a manifestos exageros como o que revela um pequeno filme que deu brado em Inglaterra, temos outros que eu apelidaria de… bastante antipáticos.
Ficou, com certeza, na memória de muita gente um anúncio que passou durante algum tempo na televisão e cujo objectivo era sensibilizar o público para a separação do lixo caseiro. A cena era simples: num ambiente de laboratório, sujeitos de bata branca, quais cientistas, treinavam um macaco nessa tarefa. Rapidamente “o aprendiz” a executava exemplarmente… ao contrário dos humanos. O slogan reforçava o que se deduzia das imagens e do texto.
É certo devemos separar o lixo, mas neste anúncio, ao contrário de se envolverem as pessoas, depreciavam-se, amesquinhavam-se… Justificar-se-á?
Passa, agora, também na televisão, um programa intitulado Desafio Verde cujo objectivo é mais vasto: educar a população para preservar o nosso planeta. Propósito nobre, mas, mais uma vez, a estratégia é lamentável: a jovem apresentadora questiona, com um ar entre o inquisidor e o reprovador, crianças, jovens e adultos (alguns dos quais com idade para serem pais ou avós) sobre as suas criminosas faltas ambientais.
E que faltas são essas? Uma dona de casa que toma banho de imersão "quentinho" e que nos fins-de-semana assa febras em carvão para o almoço de família, e uma outra que usa a máquina de secar roupa mesmo quando está bom tempo, uma criança que deixa a torneira aberta enquanto lava os dentes… A mensagem é simples: “todos somos eco-criminosos".
É certo que devemos poupar água e energia, mas este programa, ao contrário de envolver as pessoas, aponta-lhe as faltas sem qualquer cerimónia, melhor: acusa-as de prática de crimes. Isso mesmo: crimes. Justificar-se-á?
Não... Assim não se vai lá!
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
"A escola pública está em apuros"
Por Isaltina Martins e Maria Helena Damião Cristiana Gaspar, Professora de História no sistema de ensino público e doutoranda em educação,...
-
Perguntaram-me da revista Visão Júnior: "Porque é que o lume é azul? Gostava mesmo de saber porque, quando a minha mãe está a cozinh...
-
Usa-se muitas vezes a expressão «argumento de autoridade» como sinónimo de «mau argumento de autoridade». Todavia, nem todos os argumentos d...
-
Cap. 43 do livro "Bibliotecas. Uma maratona de pessoas e livros", de Abílio Guimarães, publicado pela Entrefolhos , que vou apr...
4 comentários:
Acho que esta escalada na tentativa de condicionar as pessoas a certos comportamentos demonstra que há já incapacidade de convencer por meios racionais.
Acontece que os comportamentos prescritos por essas pessoas seriam supostamente baseados em análises racionais e científicas.
A facilidade com que perdem a razão e partem para a tentativa de imposição sugere que realmente não sabem bem ao que andam.
Completamente de acordo. Mas repare que nas escolas o programinha é muito apreciado. De resto iniciativas já institucionalizadas nas escolas ( como as famigeradas "olimpiadas do ambiente") em nada são melhores. A postura das ONG's de referência tb não diverge desta atitude incriminatória e respectivas soluções doutrinais. E os congressos de "educação ambiental" que por aí proliferam tão pouco. Na realidade a maioria da dita EA que por aí se vai fazendo é desfocada, dogmática e doutrinal. Infelizmente.
A mensagem é simples: “todos somos eco-criminosos"
Afinal todos nascemos com o pecado original.
Acho que esta escalada na tentativa de condicionar as pessoas a certos comportamentos demonstra que há já incapacidade de convencer por meios racionais.
A generalidade dos humanos e completamente indiferente (quando nao abertamente hostil) a argumentos racionais.
Este tipo de abordagem e muito mais eficaz.
Para além da inadequação outro motivo a que deve dar-se atenção é o que respeita ao enorme consumo de energia e produção de resíduos (poluição) de muitas acções, algumas de propaganda, em suposto favor do ambiente.
Assiste-se por vezes a uma quase "gritaria" maçadora por causa do ambiente. Mas depois, cada um proceder em conformidade, é muito mais difícil...
Já nem falo de personalidades como Al Gore que se deslocam "poluidoramente" pelo mundo, para nos dizerem o que qualquer pessoa medianamente atenta e informada está farta de saber...
Enviar um comentário