segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Biblioteca Joanina desvenda novos segredos
Com a devida vénia, transcrevo, com pequenos pormenores editados, o texto da jornalista Patrícia Cruz Almeida publicado no jornal "As Beiras", no passado dia 1 de Novembro, quando abriu pela primeira vez ao público a totalidade dos pisos da Biblioteca Joanina:
"Pela primeira vez, a totalidade do edifício da Biblioteca Joanina abre para visitas. Com a abertura do piso intermédio, os turistas passam a ter acesso por inteiro ao “ex-libris” do Paço das Escolas.
A visita vale bem a pena, seja pela sumptuosidade do monumento, seja pela enorme riqueza patrimonial que alberga. Os livros, esses, não podem ser folheados. Mas há tanto por onde o olhar se perde, ainda que num enlevo quase platónico. A Biblioteca Joanina foi construída de raiz no século XVIII sobre uma prisão medieval, mais tarde transformada em cárcere académico. “Não era um regime muito rigoroso porque os guardas deixavam os estudantes subir e aceder à biblioteca para ler”, conta Carlos Fiolhais, diretor da Biblioteca Geral. A este propósito, o catedrático salienta que construir a biblioteca por cima de uma prisão evoca uma "metáfora de libertação”. “A imaginação torna possível a evasão para os mundos que encontramos nos livros. Através dos livros somos mais livres”, lembra Fiolhais, enquanto desfolha uma secular bíblia poliglota.
Mais do que qualquer simbolismo, a Biblioteca Joanina é o casamento perfeito entre a sabedoria e a arte. “Toda ela brilha como ouro”, diz o diretor. E vale ouro. O edifício mandado construir por D. João V para albergar a nova “Casa da Livraria” da Universidade guarda “um precioso acervo bibliográfico" constituído por mais de 60 mil volumes de obras impressas nos séculos XVI a XIX que podem ser requisitadas e consultadas no edifício principal da Biblioteca Geral.
No piso intermédio, a luz natural entra pelas janelas que rasgam as paredes com 2,10 metros de espessura. Do lado de lá, vislumbram-se as escadas de Minerva, a Deusa da Sabedoria. Aquele espaço, que ficou aberto ao público a partir de 1 de Novembro, vai acolher exposições periódicas mostrando, por exemplo, algumas publicações do rico espólio da Universidade.
No dia 15 de novembro vai ser inaugurada uma mostra documental sobre os sócios portugueses da Royal Society de Londres, que este ano comemora 350 anos. A exposição sobre essa Sociedade Real (a academia científica mais antiga do mundo ainda em funcionamento) vai permitir conhecer os 25 membros nacionais desta instituição. O original dos estatutos da Universidade de Coimbra na reformulação do Marquês de Pombal, sócio da Royal Society, vai estar também exposto na mostra, em que vão ser focados, entre outros, aspetos da vida de Jacinto de Magalhães, outro português membro da Royal Society de Londres, que patrocinou um prémio científico ainda hoje atribuído por uma sociedade americana. A partir de agora, o visitante pode apreciar o piso nobre da Biblioteca, seguir pelo piso intermédio e, depois, visitar a Prisão Académica. Como as Escadas de Minerva continuam em obras, Fiolhais lembra que, durante os próximos meses, o visitante poderá sair pelo novo Auditório de Direito, o edifício de Fernando Távora, ou seguir e fazer o percurso da Alta rumo à Sé Velha. Qualquer um valerá a pena...
PATRIMÓNIO EUROPEU
A Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, mercê do seu património imóvel e móvel de relevância europeia, é um dos três monumentos portugueses aos quais foi atribuída pela Comissão Europeia a “Marca do Património Europeu” (European Heritage Label), por proposta do governo português logo desde o início do Programa, em 2007. A biblioteca é um dos bens patrimoniais, juntamente com o Convento de Jesus, em Setúbal, e a Sé de Braga. Junta-se como bem imaterial a abolição da pena de morte.
MORCEGOS CONSERVAM OBRAS
Alguns morcegos vigiam diariamente duas das mais antigas bibliotecas de Portugal: a Biblioteca Joanina na Universidade de Coimbra e a Biblioteca do Palácio de Mafra. É a sua habilidade para capturar insetos que ajuda na preservação dos livros. Em Coimbra, quando a biblioteca fecha, as mesas são cobertas com toalhas de pele para as proteger dos excrementos dos morcegos.
BIBLIOTECA DIGITAL
À distância de um clique é possível encontrar tesouros como a Bíblia Sacra Latina, numa das primeiras impressões, datada de 1462, ou ainda romances de Almeida Garrett. Através da Alma Mater a Biblioteca Digital de Fundo Antigo da Universidade de Coimbra, qualquer pessoa com ligação à Internet poderá pesquisar globalmente os documentos digitais existentes em várias bibliotecas da universidade.
SOS LIVRO ANTIGO
O projeto “SOS Livro Antigo” permite a empresas ou instituições o uso adequado do espaço nobre em troca de uma contribuição para o restauro de obras raras. As organizações que pretendam associar-se a esta iniciativa gozam de vários benefícios como, por exemplo, a possibilidade de utilização do espaço da Biblioteca Joanina para a realização de eventos ou a oferta de bilhetes para o circuito turístico."
Patrícia Cruz Almeida
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2 comentários:
Uma boa notícia, nos dias que correm ensombrados com o orçamento. A Biblioteca Joanina é muito bela.
Tive a oportunidade de conhecê-la e mais que isso, foi a realização de um sonho.
Vida longa à bela Joanina!
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