sexta-feira, 23 de julho de 2010

Uma carta de Eugénio Lisboa enviada à direcção da "ÁRVORE"

Devidamente autorizado pelo seu autor, publico uma polémica carta, de fino recorte literário, do académico e ensaísta Eugénio Lisboa, com a data de 21 de Julho de 2010, dirigida à direcção da ÁRVORE (Cooperativa de Actividade Artística CRL), por esta instituição se mostrar indignada por a Autarquia da Cidade Invicta se ter recusado a atribuir o nome de José Saramago a uma das sua ruas. É este o teor da referida carta:

"Exmo. Sr., ocorre-me perguntar que outras grandes figuras nacionais - e não só escritores - não tiveram, até agora, direito ao seu nome dado a uma rua do Porto. Porque será tão imperativo e urgente dar o nome de José Saramago a uma rua do Porto? Ele não foi já suficientemente homenageado? Acrescento: tenho a tendência a ver no Porto a cidade que simboliza a Liberdade. E tenho bons motivos para isso. E tenho igual tendência para ver em Saramago o homem que, em 1975, personificou a perseguição à liberdade de pensamento. Estas coisas não são para esquecer. E não há Prémio Nobel que as lave. O embasbacamento nacional com um prémio que tem contemplado hordas de medíocres e deixado de fora inúmeros gigantes (Tolstoi, Ibsen, Valéry, Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Eugénio de Andrade, Tennessee Williams, Virginia Woolf, D. H. Lawrence, Paul Claudel, Jorge Luis Borges, René Char,etc, etc.) apenas ilustra o nosso provincianismo cultural. A mim, confesso que me não afecta de maior a recusa da Câmara do Porto. Ou antes, incomodar-me-ia muito ver a cidade da Liberdade homenagear quem tão abominavelmente a traíu. Nessa altura, pessoas como Vergílio Ferreira, Natália Correia ou Eduardo Lourenço souberam resistir à força avassaladora dos opressores, entre os quais se encontrava proeminentemente, Saramago.
Agradecia desse a estas minhas palavras a divulgação que pretendem dar aos que apoiam a vossa moção.
Com os melhores cumprimentos,
Eugénio Lisboa"

16 comentários:

jp disse...

Como é que um académico e ensaísta pode escrever uma carta tão ressabiada como esta. Por mais fino recorte literário, estas palavras, em últimos recurso, seguem pelo mesmo diapasão do que pretende criticar.
Cada vez mais triste este cantinho à beira-mar plantado.

joão boaventura disse...

A este propósito, e com os mesmos objectivos, tomei a liberdade de enviar, à Câmara Municipal do Porto, o artigo “José Saramago, o visionário da tangibilidade”, da autoria de Mia Couto, publicado no jornal da Galiza Diário da Liberdade, de 02.07.2010.

Os objectivos que esclareci, na mensagem, conjugavam-se com a necessidade de esquecer a simpatia e antipatia que digladiavam entre os apoiantes à atribuição do nome do Nobel a uma rua, e seus opositores, mas pedia desculpa por me intrometer em assunto e matéria que diziam mais respeito à autarquia do que à minha pessoa.

Mas não tenho a veleidade de considerar que o escrito de Mia Couto ou do estimado Eugénio Lisboa, possam pesar sobre a decisão autárquica.

O tempo, como dizia o nosso Vieira, tudo resolve.
Para um lado, ou para o outro. Para o sim ou para o não.

Anónimo disse...

Transcrevo: "... souberam resistir à força avassaladora dos opressores, entre os quais se encontrava proeminentemente, Saramago". Fugiu-lhe a boca para a verdade? JCN

Paulo Maurício disse...

É correcto que o Prémio Nobel não premeia muitos dos maiores na literatura, na Física e, certamente, em todas as outras áreas. A enumeração de Eugénio Lisboa serve para constatar isto mesmo, mas não para afirmar, sem mais, que Saramago está entre as "hordas de medíocres", afirmação que não fez, mas sugeriu.
Admito a existência de mediocridade entre os nobeis, mas não será Saramago um deles. O trabalho de Saramago, encantou milhões de leitores em todo o mundo e enriqueceu o património artístico nacional como só alguns de entre os melhores o fizeram.
Além do mais não existe tal coisa de "suficientemente homenageado." O 25 de Abril de 74 continua todos os anos a ser celebrado e homenageado, nunca o sendo suficientemente. Camões continua a ser todos os anos recordado, nunca o sendo suficientemente.
Não existirá no seu texto elementos de provincianismo - ao não conseguir discernir o gigante de entre o homem - e de distorção histórica, ao não a ler a Revolução como uma revolução?

Paisano disse...

Finalmente vamos acabando com a paranóia de certos tiques de esquerda.

Sendo gente que se diz ateia não se entende que queiram criar santos e divindades que não se enquadram com os princípios do que dizem defender.

Quanto a certos "esquecimentos", tão típicos de certos movimentos já nem nos admiramos. São tanto do dia a dia!!!

Por enquanto a prova do ALGODON não engana.

É que os prémios Nobel não são propriamente nenhum detergente.

Rui Baptista disse...

Numa perspectiva holística, não é possível separar o homem em cérebro e coração. Assim, a obra literária de Saramago (sem discutir, sequer, o seu valor) não deve ser divorciada dos seus deveres de cidadão e, com isso, de humanidade para com o seu semelhante, embora haja quem defenda esse divórcio. Daqui esta acalorada controvérsia que se deve centrar, essencialmente, sobre a liberdade de expressão atacada por Saramago quando dirigente destacado de um jornal e exaltada nos versos de Bertold Brecht:

“O vosso tanque, general, é um carro forte.
Derruba uma floresta, esmaga cem
Homens,
Mas tem um defeito
- Precisa de um motorista

O vosso bombardeiro, general,
É poderoso:
Voa mais depressa que a tempestade
E transporta mais carga que um elefante
Mas tem um defeito
- Precisa de um piloto.

O homem, meu general, é muito útil:
Sabe voar, e sabe matar
Mas tem um defeito
- Sabe pensar".

Anónimo disse...

Não tem grandeza nenhuma quem quer criticar agora o homem que foi Saramago , sem ter o Homem Saramago para lhe responder. Pode ter fino ou grosso corte literário , mas em Português corrente é falta de civismo e muito má educação.
Não importa muito que José Saramago não tenha uma Rua no Porto. Talvez num futuro próximo tenha o seu nome em Ruas ou Praças de Madrid, Barcelona, Havana , São Paulo ou Buenos Aires.
Os grandes escritores vão ter sempre o reconhecimento que merecem por quem tem um pouco de interesse pela cultura dos povos.
Deixemos as novas Ruas da nobre e invicta cidade do Porto para os grandes defensores das liberdades dos Portugueses como esse professor Eugénio Lisboa.
Embora eu pessoalmente não lhe conheça nenhum tipo de empenhamento político nem cívico. Mas deve ter sido enorme. Deve ter paticipado na "Fonte Luminosa", e nos comicios do Mário Soares e nos do Sá Carneiro.
Deêm lá o nome a uma rua do Porto ao homem que o sr. Lisboa decerto que vai transbordar de felicidade.
Luis Neves

Anónimo disse...

Vossemecê, sr. Luís Neves, escreveu isto... para a gente se divertir? JCN

Paisano disse...

É engraçado que todos os que têm o complexo de "esquerda" se sintam muito incomodados.

Para eles os outros que já tenham existido e que já há muito deviam ter tido o seu reconhecimento não existem.

O importante é o recém arcano da sua cor agora falecido, que deve ter já todo o reconhecimento tácito em qualquer alegre aldeia, vila ou cidade deste país.

Estou mesmo a ver a mais recondita aldeia de meia duzia de casas do mais profundo interior deste país, aonde nenhum dos grandes "defensores" de agora tenha jamais por lá passado e que apenas é conhecido por ser o "largo" da povoação faça imediatamente as demarches para apelidar o espaço entre meia duzia de casas de "Avenida Saramago".

Haja decência e deixemos o pó da história assentar.

Decerto que no Porto, existem dezenas de filhos do burgo que já há anos deviam ter sido reconhecidos pela edilidade local e ainda aguardam a sua vez.

É bom termos a humildade de aguardar a nossa vez no reconhecimento público.

Bem basta os que diariamente no campo da política se querem pôr em bicos dos pés.

Anónimo disse...

Ó Eugénio, este post é completamente ridículo.
A inveja nota-se ao longe.
Se fosse pela personalidade, havia muitas pessoas que nunca iriam ser homenageadas, incluindo gente como o Newton, que foi um filho da puta. Mas há muitos mais exemplos, nem me parece que o Saramago fosse nada dos piores.
Nem gosto dos livros do Saramago mas tem que se respeitar a importância que a sua obra atingiu.
Claro que se sabe que o Nobel tem sido para gajos fracos e às vezes se esquecem os bons, mas dizer que ele não tem prestígio... que burrada! Ou inveja, acho que é inveja, é o mesmo que se passa com o Lobo Antunes.
É evidente que não há pessoas perfeitas nem prémios perfeitos e com listas de premiados perfeitos, nem muito menos bloguers no de rerum que sejam perfeitos, mas este post é tão pobre que dá pena.
Ruas e ruelas há muitas e o Saramago não precisa nada de ter o nome num beco qualquer do Porto. Isso de dar importância a ter o nome numa rua é para quem tem pouco, como o Eugénio.
luis

Anónimo disse...

Mas quem é esse de Eugénio de Lisboa? Bem, se é de Lisboa não pode gramar o Porto, claro, por isso não que o Saramago numa rua do Porto.

Anónimo disse...

"a obra literária de Saramago (sem discutir, sequer, o seu valor) não deve ser divorciada dos seus deveres de cidadão" diz alguém acima. Mas já se deve divorciar no caso de José Hermano Saraiva que merece todas as homenagens por ser um bom comunicador!! Vá a gente entender a mente humana.

Rui Baptista disse...

Anónimo (25 de Julho, 15:59):

Acabo de publicar um post, "José Hermano Saraiva 'versus' José Saramago", onde tento fazer com que a minha mente seja entendida sem o recurso a ser obrigado a sujeitar-me a sessões de psicanálise.

Cordiais cumprimentos.

Anónimo disse...

Muito bem caro anónimo das 15:24. Você demonstra que há comentadores de blogues (raros...) com alguma inteligência.

Anónimo disse...

O Eugénio que não desanime. Lá na aldeia dele ainda alguém se vai lembrar de pôr o nome a um beco assim: Beco Eugénio Lisboa. E eu, para ser sincero e a coberto do anonimato, cheio de inveja (como ele do Saramago).

Cláudia S. Tomazi disse...

A intensidade das acçãos por vezes, mascara a liberdade.
Isto implica que verdadeiramente o ser livre, e por livre se assim o estiver, de direito e de facto, deve estar isento de contradições; os distintivos assumem também, formas de impor bandeiras e qualquer bandeira de provocação inibe a força dos valores, pois agregar é resultado de não controverso poder ao que seja sujeito do ser natural por e para a dignidade humana. Como pode ser livre o que sujeita-se a julgamentos?! No entanto é lamentável que a virtude esteja confundir-se entre o fiel e a balança. Ora, se um for fiel a Portugal, não é fiel aos homens, quando Portugal só é feito de homens, onde andarão seus iguais valores...

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