O que significa o génio? O filósofo alemão Arthur Schopenhauer definiu um génio desta maneira:
“Um génio é um homem em cuja mente o mundo, como representação, atinge um grau de maior clareza e ressalta com a marca de uma maior nitidez; e, tal como as visões mais importantes e profundas, provém, não de uma observação cuidada dos pormenores, mas apenas através da intensidade com que se assimila o todo, de tal modo que a Humanidade pode ser instruída por ele.(…) Ver sempre o universal no particular constitui precisamente a característica fundamental do génio.”
Não é por acaso que esta citação surge no muito interessante livro Einstein e Oppenheimer. O significado do génio (Bizâncio, 2010), do historiador de ciência norte-americano Silvan S. Schweber. Einstein e Oppenheimer são justamente considerados dois dos grandes génios do século XX. Einstein, para além de ter sido pioneiro da teoria quântica, desenvolveu quase sozinho a teoria da relatividade, em particular, esse verdadeiro monumento do pensamento humano que é a teoria da relatividade geral que permite uma visão do ”todo” que é o Universo, incluindo a sua estrutura e a sua dinâmica. E Oppenheimer, bastante mais novo, para além de contribuições notáveis para a teoria quântica (aproximação de Born-Oppenheimer) e para a teoria da relatividade geral (proposta de buracos negros, que Einstein erradamente recusou), revelou a sua genialidade na direcção científica do projecto Manhattan, que conduziu à primeira bomba atómica.
Os dois génios, que aparecem juntos na fotografia da capa, conheceram-se bem – trabalharam os dois no Instituto de Estudos Avançados de Princeton. Tinham em comum a sua origem judaica, embora não fossem judeus praticantes, confirmando a ideia comum de que alguns dos maiores génios são judeus. E tinham em comum o seu americanismo, embora tivessem sido considerados esquerdistas no tempo da guerra fria. E ainda um apurado sentido de humanidade.
Os dois reconheceram o génio um do outro. Sobre o génio de Einstein muito tem sido dito, mas este livro ilumina alguns aspectos como a sua relação com as armas nucleares (“Fui eu que carreguei no botão”) e o seu papel na fundação da Universidade Brandeis, uma instituição judaica. Oppenheimer sabia bem, como os outros seus colegas, da superioridade de Einstein; afirmou mesmo numa resposta a um jornalista lhe perguntou que só lamentava na sua vida “escusado será dizê-lo, não ter sido o jovem Einstein”. Admirava profundamente a capacidade revelada por Einstein nos anos da sua juventude, mas já não compreendia a solitária fixação de Einstein numa teoria unificada na maior parte da sua vida. Se Einstein foi um génio solitário, Oppenheimer foi um génio social, um homem capaz de liderar equipas ganhadoras. O livro de Schweber informa-nos que, quando em 1938 o jovem Oppenheimer chega a Princeton, escreveu numa carta ao seu irmão: “Princeton é uma casa de doidos: as suas luminárias solipsistas brilham em desolação isolada e desamparada. O Einstein está completamente chanfrado”. Esta posição, expressa em privado, evoluiu para formas bem mais veneradoras quando, em 1955, escreveu no obituário de Einstein: “um dos maiores vultos de todos os tempos.”
É curioso que Einstein se revisse em Schopenhauer, que gostava dos antigos escritos védicos e budistas, os mesmos que tanto inspiraram Oppenheimer. Os génios tocam-se!
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1 comentário:
Parcimônia estética:ética de rédeas.
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